Estrela da Babilônia escrita por Nidhoggr


Capítulo 1
Capítulo 1 - O filho da Sacerdotisa


Notas iniciais do capítulo

Olá! Fico feliz que está lendo esse conto! É minha primeira vez escrevendo um conto em primeira pessoa, então eu ficaria muito feliz se dessem suas opiniões!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/661055/chapter/1

É um ditado antigo aquele que diz que o Oriente engole homens e jamais cospe seus ossos. Isso de fato é verdade, seja pelo seu deserto que não perdoa os fracos e covardes, seja pela paixão que os ocidentais nutrem ao alcançá-lo a ponto de nunca retornarem às suas casas ou até mesmo o que é mais terrível: povos que simplesmente engolem outros povos através de dominações.

Sinto que pouco tempo me resta e decidi que minha história precisava ser contada, mas onde vivo sou o único homem letrado e isso me obriga a usar todas as minhas forças para fazer a cunha arranhar as placas de argila enquanto essas não secam com o calor deste local que agora resido.

Eu, Bagadata, o escriba da Babilônia, nem sempre fui chamado assim, mas esse é o único nome que todos conhecem hoje em dia. Me lembro da época em que meu nome era Hilmushen (Hili Mushen) de Ur e vivia com minha mãe que se chamava Hilgahaan (Hili Gashan) de Ur.

Tal como seu nome dizia, me lembro que minha mãe era uma bela dama senão a mais bela do Zigurate de Inanna, mas para uma criança de até quatro anos a própria mãe é sempre a mais bonita, a mais gentil e a mais divertida até o momento em que ela se zanga. Ela era uma mulher livre quando nasci, pois o que pode fazer uma sacerdotisa de Inanna com uma criança de colo que simplesmente a impede de realizar os ritos sexuais? Ainda mais eu, um garoto que poderia ser filho de qualquer um dos homens daquela cidade? É claro que ela foi destituída de seu cargo por eu ter nascido em seu útero. Por outro lado eu não deixei de conhecer as colegas que ela costumava ter, considerando que eu, modéstia a parte, era como se fosse um filho do próprio deus Enlil ou do vento oeste Pazuzu pelo tanto que eu corria para subir aquelas longas escadas e descê-las só pelo simples prazer de fazê-lo para fugir das lições de escrita que minha mãe tentava me dar. Hoje eu até sinto vergonha de dizer que um dia eu não dei à escrita seu devido valor.

Naquela época o filho do nosso Patesi, rei e sacerdote aos que não cresceram em meu meio, cujo nome não posso citar e nem mesmo quero fazê-lo, estava completando seus sete anos e deve ter se cansado de ser uma criança solitária e resolveu escolher um garoto sem futuro para ser seu “fiel amigo”. “Cão” é uma palavra apropriada também. Quis “o sem futuro” porque provavelmente o Patesi deve ter dito que “acolher de bom grado um garoto sem futuro” o faria grato eternamente, coisa que eu entendo por “comprar alguém que não fará muita falta lá fora do palácio”. É claro que o menino sem pai foi o escolhido, pois no fim nenhuma troca precisou ser feita: bastava que me pegassem pelo braço e pronto. Por um lado minha mãe e eu estávamos tristes por nos separarmos, por outro eu teria uma educação digna da que ela queria que eu tivesse e que ela sozinha não poderia me dar. Principalmente porque acabei aprendendo que metade das palavras que eu sabia desenhar eu escrevia de forma errada. Totalmente errada!

Segundo o Patesi, nossa cidade já foi algo além de uma cidade abandonada após um conjunto de guerras e catástrofes e que ele estava tentando reviver essa cultura, assim como Nabucodonosor tentou fazer na Babilônia antes da chegada dos Medos e dos Persas, tudo pela glória da época de Hamurabi que acabou por causa dos Assírios. Eu não o considerava um idiota por isso, mas mentalmente eu me perguntava o motivo daquilo tudo e no dia que externei minha dúvida ele me respondeu com um discurso enorme sobre a cultura divina e etc e etc e tal. Nada importante em minha opinião, pois que cidade era a nossa senão uma cidade fantasma que ninguém sabia que existia e, se sabia, tinha certeza que estava desabitada? Estávamos tão isolados do mundo que eu não tinha certeza se a língua que falávamos era a nossa própria ou uma variação dos povos que vieram antes de nós. Nesse ponto eu admito que nunca me importei e ainda hoje dou ombros para quem me fala sobre tradições mortas, mesmo que no fundo eu acredite que elas tem lá sua importância.

Minha relação com o Patesi era mais como a de um professor e um aluno: neutra e amigável até o instante que ele começava a dizer que descendia dos deuses, assim como as primeiras dinastias do nosso império perdido, momento em que eu desrespeitosamente perguntava se existia algum outro Patesi como ele nas outras cidades abandonadas como Unug (popularmente conhecida como Uruk) Eridu, Larsa e Kutallu. É claro que a resposta vinha com tapas, dizendo que aparentemente eu só entendia a linguagem dos ignorantes.

Se acham que minha relação com ele era ruim é porque não fazem idéia de como eu era “adorado” pela Rainha e pelo Príncipe. A Rainha me tratava como se eu fosse feito de fezes, sempre evitando estar no mesmo cômodo que eu e sempre lavando as mãos toda vez que por acidente tocava em mim ou em algo que eu tocava antes dela. O príncipe por outro lado adorava me tocar, principalmente puxar meus cabelos que eu fui obrigado a deixar crescer. Eu era fraco, sem treino nenhum e ele ainda me forçava a erguer pesados paus de madeira e lutar contra ele e é óbvio que ele sempre vencia. Não, não pensem que eu o deixava vencer porque caso contrário minha cabeça rolaria, o fato é que eu sempre fui um fracote, baixo, magricelo e até um pouco mais claro que a maioria das pessoas dali. Enquanto a maioria possuía a cor da argila seca, tijolo ou barro claro, eu fazia parte de uma minoria de pessoas com a cor da areia grossa que, em minha opinião, é a cor do ouro.

O príncipe me chamava por apelidos nada bons, isso quando ele não fingia ser Gilgamesh derrotando o Grande Boi que era eu andando como um quadrúpede qualquer. Em contrapartida as criadas do palácio me tratavam bem, principalmente as mais religiosas que acreditavam que meu nascimento era milagre. Me lembro que a mais velha delas ás vezes dizia que eu era um semideus ou coisa parecida, mas se eu fosse um semideus o Patesi já teria me matado ou eu seria Patesi por direito. Penteavam meus cabelos negros, ás vezes os trançavam com contas de granada e lápis-lazúli com folhas douradas, banhavam-me em leite e depois lavavam meu corpo com água fresca antes de pintarem meus olhos com carvão, já que a pintura de chumbo não servia para um escravo, mesmo que esse fosse o escravo do príncipe que só vestia o melhor linho e que comia cinco vezes ao dia, ainda por cima um escravo que recebia aulas de leitura e escrita. E essa foi minha rotina até meus dez anos de idade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Isso está mais pra um prólogo, mas eu quis deixar como capítulo, já que isso de fato é crucial.Bom, pra não deixar ninguém confuso: Zigurate é um templo similar a uma pirâmide, as sacerdotisas de Inanna eram prostitutas e se escondessem fugitivos no zigurate ou engravidassem automaticamente deixavam de serem sacerdotisas, o que significava sair do luxo e ir para o lixo. E sim, era algo muito difícil de uma sacerdotisa desse templo ter um filho. Por último, segundo os sumérios, todos os seus reis que eram sacerdotes também eram semideuses. Oh! Tem uma coisa que seria interessante esclarecer: não há referência da cor de pele dos sumérios, mas por esse conto de passar depois dos dois impérios sumérios e depois de tantas invasões, eu acredito que existia uma variação entre tons de areia e terra.As palavras entre parêntesis não são explicações minhas, mas sim do personagem, principalmente na parte dos nomes da mãe e de seu nome original, já que o idioma dele é originalmente aglutinado.Bom, nesse conto eu tô empenhadíssima! Então é bem provável que tenha um capítulo por semana! Por favor, lembrem-se de deixar um comentário!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Estrela da Babilônia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.