Perdas e escolhas escrita por Lana


Capítulo 1
Capítulo único




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Sentia tanta saudade dele. Tanta. Era impossível mensurar... Ao olhar para as crianças, Cathy, o Chis que era tão parecido com o pai, e os pequenos gêmeos sentia uma tristeza tremenda que não podia ser medida.

Christopher, dói tanto! Porque teve que me deixar?

Lembrava aquele dia como se fosse ontem. Tudo preparado, a festa de aniversário perfeita, assim como a vida que levavam. E de repente tudo se estraçalhou como se fosse de vidro, tão logo o policial entrou para dar a notícia da morte de seu amor. Sabia que iria fazer o necessário para sobreviver, não tinha dúvidas. Teria que voltar para a terrível mansão e conviver com o pai abusivo, a mãe fanática. Faria suas vontades por mais humilhantes que fossem.

Com o tempo as coisas começaram a mudar. Sentia um grande sentimento de culpa dentro de si, enquanto ela desfrutava de uma vida de luxo e festas seus filhos passavam a vida trancados num quarto pequeno e sótão. No início pensava que estava fazendo tudo por eles, assim que o pai morresse e ela se tornasse herdeira, seus bebês seriam os donos do mundo. Mais uma vez as coisas mudaram, os sentimentos não eram preto e branco, afinal.

Acabou se apaixonado novamente, mais rápido do que pensava ser capaz. Percebeu que o sentimento que sentiu por Christopher anteriormente era algo infantil comparado ao de agora, o tinha amado tanto apenas porque não havia conhecido nenhum outro homem além dele.

Sabia que estava sendo bastante egoísta, mas afinal, como já havia dito antes aos filhos, não era o dinheiro que movia o mundo? Conheceu coisas que jamais havia visto antes ao lado de Christopher, festas, teatros, viagens, compras... Uma parte de si se sentia culpada por ser feliz enquanto os filhos estavam trancados, mas a outra... A parte má, como ela costumava chamar, era mais egoísta. Era justo ela, jovem, rica e com um novo marido jovem e lindo, assim como ela, se arriscar perder tudo por causa de algumas crianças? Ela não teria o direito de viver de verdade? Percebeu que nunca havia vivido verdadeiramente. Quando pequena vivia sob a custódia dos pais, dois fanáticos religiosos. Eles que consideravam tudo como algo pecaminoso. Depois se casara com seu primeiro namorado, viveu anos felizes como esposa e mãe modelo. Nunca havia sido apenas ela, nunca tinha feito apenas sua vontade. Com um aperto no coração decidiu agir egoistamente mais uma vez.

Sabia que se descobrissem sobre seus filhos perderia tudo aquilo que passou a vida desejando, seu pai já havia deixado isso bem claro no testamento. Sabia que não podia acontecer. Conseguiu convencer a megera da mãe a colocar sempre bolachas para as crianças, afinal, disse ela, a vida delas era tão difícil e elas já eram privadas de tantos prazeres de uma infância normal, o que custava apenas esse favor? Doeu seu coração quando pela primeira vez colocou arsênico, um pó que seria imperceptível para eles. Dizia para si mesma que assim era melhor. Que vida poderiam ter trancafiados dentro de um quarto para sempre?

E assim seguiu em frente. Mal conseguia encara-los quando ia fazer sua visita, principalmente os gêmeos. Sabia que o que fazia era errado, mas como havia dito antes, era o dinheiro que movia o mundo. E também o prazer.

Passou a visita-los cada vez menos, chegando a ficar meses sem vê-los. Por mais que gostasse de sua vida de liberdade, uma parte de si ainda doía ao vê-los definhar, principalmente. Fez o que pode para guardar esse sentimento em um local bem escondido dentro de si.

Tudo ruiu de vez quando perdeu seu bebê. Naquele dia havia chegado de mais uma viagem com seu Bart e estava descansando em sua cama de cisne. Sua mãe a chamou com urgência e correram juntas para o quarto onde estavam escondidos seus quatro filhos. Sua filha do meio, Cathy como sempre a mais desconfiada e raivosa, gritava coisas terríveis. Num ataque de fúria golpeou a menina, que revidou. Se não fosse o filho mais velho elas teriam uma briga séria. Até tinha um pouco de pena do filho caçula, mas não queria levá- la ao médico, já havia chegado tão perto, já estava perto de se livrar do primeiro. Demonstrou o medo que sentia a respeito de uma aparição pública e os ameaçou novamente falando sobre o avô. Eles não recuaram, aparentemente se sentiam responsáveis pelo pequeno Cory. Quando sua mãe concordou que seria o melhor levá-lo ao hospital, não teve outra escolha. Durante a noite consiguiu levar o menino escondido até o hospital mais próximo, apenas para ouvir o médico dizer que não tinha mais jeito, a criança estava com uma pneumonia fortíssima e acabou falecendo. Arranjou o enterro e voltou para a mansão. Chorou na frente dos filhos e viu a tristeza deles. Virou as costas e saiu.

Decidiu que não ia passar mais tempo do que necessário naquela casa, e desde a aquele dia fazia planos para mudança. Tudo foi arranjado rapidamente. Se lembrava perfeitamente do momento que os viu pela última vez. Tinha ido no quarto deles se despedir. Disse que ia viajar, tinha que ir a uma festa em algum lugar distante e iria demorar. Eles não mostraram nenhuma reação além da fria cortesia que ultimamente marcava a conversa entre eles. Por mais que Cathy fizesse perguntas gentis sabia que ela a odiava. Carrie, sua filha mais nova estava mais muda do que nunca. E Chris, ah não conseguia olhar para ele. Sempre havia sido seu filho preferido, tão bonito e inteligente quanto o pai. O amava de verdade, apesar de tudo. Sentia dor por ter que deixa-lo, embora soubesse ser algo absolutamente necessário. Se pudesse levá-lo com ela... Já tinha imaginado que ele podia se passar por algum primo distante. Sabia que era um plano arriscado demais, se ele por algum momento segredasse alguém sua origem... E além do mais não ia concordar em se separar das irmãs. Olhou novamente para frente, não podia ficar se perdendo em pensamentos, não agora.

Se despediu e saiu. Sabia que era errado o que estava fazendo, em nenhum momento pensou o contrário. Respirou fundo e deu mais um passo. Decidiu não olhar para trás, eles eram seu passado agora. Partia para seu futuro, sem dores ou preocupações, sem crianças exigentes e preocupações financeiras. Agora sentia como de fosse dona do mundo, viveria apenas para si.


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