— Mia, eu preciso da sua ajuda. — Grachi chegava exasperada como sempre, fazendo com que a colorida revirasse os olhos me desaprovação.

Se levantando da banca que estava sentada e com cara de poucos amigos, Mia encarou Grachi e a “pequena polegar” que ela chamava de amiga.

— Duas. — Levantou o dedo indicador. — Primeiro, por que eu te ajudaria? — As duas amigas que encaravam quase que em uma expectativa curiosa pelo que ela poderia dizer, logo Mia levantou o segundo dedo. — Segundo, o que eu ganho com isso?

— Qual é, Mia? Olha… Eu…

— Eu, eu. — Soou irritada, fazendo voz fina e exagerada para imitar a mais alta entre as três. — Deixa de ser tonta, fala de uma vez.

— Eu tenho que sair com o Daniel e tinha um aluno novo para mostrar o colégio. — Começou, sabia que essa não era a melhor das desculpas, e Mecha a encarava em julgamento, apenas confirmando isso, porém era o melhor que conseguia pensar em tão pouco tempo.

— Vamos ver… Você quer que eu mostre ao idiota novo essa bagunça de colégio, enquanto você está passeando com o Dani? — Puxou a mochila da cadeira, colocando-a em seu ombro, pronta para sair do local e ignorar qualquer opção além disso. — Me poupe.

Grachi rapidamente segura na alça da mochila de Mia, a parando e fazendo com que a outra garota quase tropeçasse pela força aleatória.

— Por favor, Mia. Eu te faço o dever de biologia! — Mecha exclama, buscando um plano alternativo para tentar ajudar a amiga.

— Mas é incrível as duas baratas tontas. Ok. Mas também vai fazer o trabalho de química. — As duas dão um pulinho segurando uma a mão da outra, fazendo com que mais uma vez Mia revire os olhos de desgosto, isso antes que Grachi corresse para tentar abraçar.

— Me solta. — Mia lança uma pequena corrente elétrica contra o corpo que a apartava, que se solta com o susto.

— Insensível. — Murmura Grachi, não que realmente fosse bom o sentimento de abraçar Mia, ao menos não para ela.

— E onde está o bobalhão novo? — Mia joga a mochila de volta a sala, pegando apenas o livro de matemática.

— Em frente aos armários. — Mecha se atreve a falar na frente, ambas estavam nervosas para ver se tudo que tinham planejado poderia funcionar.

— Ok. Pode deixar. — Com mais um feitiço, Mia desaparece e as duas amigas esperam que seja para encontrar o “garoto novo” e que ela não faça nada de tão assustador nesse “primeiro encontro”.

— Mech… Você acha que foi uma boa idéia?

— Olha,isso eu não sei, mas foi o conselho que decidiu. Mas vem cá… — Se aproximou mais, como se fosse contar o maior segredo do mundo. — Você acha que ela lembra uma coisa que aconteceu em outra vida?

— Eu não sei… Espero que sim, funcionou comigo uma vez, acho que é coisa de bruxa.

(...)

Mia reaparece em frente aos armários, olhando em volta para notar que ninguém tinha percebido a magia, porém focando em procurar o tal novato… Até que vê um cara relativamente forte, ombros largos, com uma jaqueta de couro, vans pretos e de costas para onde ela estava.

— Ei, Bem-vindo ao...

Ela não terminou. Ele se virou e a deixou sem palavras, cabelos longos cobrindo o pescoço, mas aquele olhar.. Aquele olhar? Por alguns segundos o mundo pareceu entrar em colapso e ela se questionou de onde vinham todos aqueles sentimentos confusos, repentinos e intensos. Tinha toda certeza que o conhecia de algum lugar, mesmo parecesse ter sido a tanto tempo. E ele se aproximou, era incrível como ela não tinha mudado nada, continuava linda. Bem, algo mudou um pouquinho, seu cabelo seu estilo, entretanto aquele olhar e aquele sorriso divertido que a garota tinha, isso nunca iria mudar.

Se assemelhava à uma memória vivida, seu coração se encheu de vida ao vê-lo, tinha que ser algo importante.

— Você deve ser a Mia. — Ele disse tentando disfarça, mas estava tão nervoso. Se aproximou, ela ainda estava estática. — Meu nome é Alex Ruiz. — Aquele nome.

“Eu te amo, Alex” era sua voz ecoando em sua cabeça, ela dizia que o amava tão profundamente que não tinha como dizer que era uma mentira, mas não sabia quem era ele.

Suas mãos estavam suando.

Ele estendeu a mão, hesitante ela segurou, e como uma corrente elétrica tudo percorreu o corpo de ambos, como quando lançava seus feitiços ou quando sentia a magia intensa ao seu redor... Uma onda a levou por um tão simples toque. Seus olhos se encheram de lágrimas de uma forma tão inesperada, tão inexplicável. O que era aquilo? Parecia ser tão forte. Uma certeza, era mais forte do que o que sentiu por Daniel, era mais forte que qualquer outra coisa que sentiu nessa vida.

— Eu… — Um soluço, foi o que cortou sua fala.

Ela sentiu a necessidade de tocá-lo ainda mais, então em seu impulso se jogou nos braços daquele que até então era desconhecido, agarrou-lhe o pescoço chorando, e ele a apertou pela cintura, quase como se tivesse feito isso milhares de vezes. Sentindo seu toque, seu cheiro… O calor do seu corpo de novo, como sentiu falta disso. A amava tanto quanto poderia, não queria solta-la. Apenas sabia que ela tinha outra vida aqui, e estava confusa.

— Ei.. Mia…

— Não. — Ela choramingou, apertando-o mais forte possível, naquele momento ela só queria senti-lo ainda mais. — Diga meu nome. — A voz tremula, não tinha explicação. Talvez não precisasse de uma.

— Mia, seu nome é Mia. — Ele tentava convencê-la, ainda que sentisse que já fosse tarde, ela se lembrava, não sua mente, suas memórias ainda estavam falhadas, mas seu coração gritava por ele, aquele estranho nunca visto na vida que viveu agora.

— Não. O meu nome, Alex. Eu senti tanto a falta de algo, esse algo era você. Mesmo que seja em outra vida, tudo mudou, e minha alma continua chamando pela sua... Por favor, só não me faça sofrer mais do que sofri até agora. — O choro ainda mais desesperado. Lágrimas que agora fluíam em sua própria vontade. Ela não tentava controlar.

— Eu senti ainda mais a sua falta, Isabella Pasquali. — Uma lágrima desceu pela bochecha dele. — Você não faz idéia do que eu passei para chegar aqui… Para lembrar. E eu nunca fui mais feliz por te ter de novo em meus braços.

— Você era o que faltava, tudo aqui estava tão errado. Nada de encaixava, mas é claro, minha outra metade estava faltando. — Ela sorriu, e em um feitiço os colares deles que estavam dentro da mochila de Alex, apareceram em seus devidos lugares, no pescoço dos dois. — Eu te amei, na outra vida, tanto… Tanto... E te juro juradinho que nessa te amarei ainda mais. — As expressões antigas fizeram os dois soltarem risos baixos, ainda que em meio ao choro.

— Você sempre foi o motivo. Eu te amo ainda mais, Isa! Te amo mais que ontem e te amarei amanhã mais que hoje. Te amei na vida passada, e te amarei ainda mais nessa. — Se separaram um pouco, porém apenas para Alex segurar o queixo dela e selarem os lábios em um selinho, era como se o tempo não tivesse passado, como se ainda fossem dois adolescentes em uma banda, mesmo quando tudo mudou. Agora eles poderiam reescrever ou fazer uma nova historia. O selinho mudou para um beijo mais forte, um beijo cheio de saudade, talvez medo pelo que viria, mas de uma coisa eles tinham certeza. Não a era medo do amor, pois este é o verdadeiro.

(...)

Grachi e mecha assistiam através de um espelho enfeitiçado os dois.

— Eles são tão bonitos juntos, uma conexão muito bonita. Como você e o Dani! — Mecha disse sorrindo para Grachi, que não parecia tão feliz com a menção.

— Quem dera que o nosso amor fosse tão forte como é o desses dois, as almas deles estão ligadas em um só Mecha, não tem nada mais forte. Nem mesmo o meu. — Ela sussurrou por último, quase para si mesma quando uma lágrima rolou de seus olhos.