Desonestidade não se compra, se adquire escrita por Lostanny


Capítulo 1
Na boca de um desonesto, verdades são mentiras


Notas iniciais do capítulo

O título do capítulo tem como base a fábula de Esopo de nome O Garoto Pastor e o Lobo (http://sitededicas.ne10.uol.com.br/garoto_pastor.htm)

Informações para quem não é do fandom:

Sakata Gintoki: Protagonista da série, cabelos brancos, olhos castanhos/vermelhos, trabalha como faz tudo (yorozuya).

Okita Sougo: Cabelos castanhos, olhos vermelhos(anime)/azuis(mangá), capitão da primeira divisão do Shinsengumi (polícia de Edo). Junto com Gintoki formam a dupla sádica do anime (informação canon q). Chama Gintoki de Danna = chefe por Gintoki liderar (?) o Yorozuya.

Hijikata Toushirou: cabelos negros, olhos azul-escuros(anime)/vermelho(mangá), vice-comandante do Shinsengumi, é o superior de Okita, mas se conhecem desde antes de entrarem na polícia. Difícil dizer se ele e o Okita se dão bem. Ama maionese (k).

Okita Mitsuba (mencionada): irmã mais velha de Sougo, cabelos castanhos, olhos castanhos.

Shimura Shinpachi: cabelos negros, olhos castanhos, usa óculos, trabalha com Gintoki no Yorozuya junto com Kagura.

Há spoiler dos episódios 86-87 do anime, só para avisar. q



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Quanto mais se cresce, mais se sente a necessidade de ser desonesto consigo mesmo. O vício fluía em suas veias, estava impregnado em sua pele. Todavia, não procurava fazer algo para evitar. E ainda, para completar seu quadro, tinha se envolvido demais com aquele garoto. Aconteceria cedo ou tarde, considerando os mil e um esbarrões que acabavam por ter por aí.

Não obstante, quando Okita Sougo veio pessoalmente pedir para que fingissem ser melhores amigos, as coisas sofreram uma reviravolta inesperada.

Quando Gintoki o conheceu nada pensou em particular além do fato de que Sougo pareceu se divertir enquanto que ele tirava Hijikata do sério com um senso de humor único, fingindo confundi-lo com um Oogushi-kun que não existia. Porém, agora se encontrava no terceiro mês que estava saindo com o rapaz. Aconteceu depois de Okita perder a irmã para a doença que a afligia.

Fora por causa de Okita Mitsuba que Sougo tentou manter sua maior farsa, e que fora o condutor para aquele tipo de relacionamento. Errado ou não, o tempo fugia de seus dedos enquanto estava ao lado daquele garoto. Irônico ou não, nenhum dos dois tratou de mudar o jeito como interagiam nesse tempo.

Sougo vinha a sua casa sem ser convidado enquanto Gintoki mantinha sua distância. Contudo, a quem queria enganar? Definitivamente algo havia mudado, pois Gintoki iria corresponde-lo. Já Okita, não dava para sondar em absoluto, era isso ou sua mente lhe pregava peças pelo medo. Não seria a primeira vez. Custava-lhe admitir, mas não conseguia confiar no outro apenas pela sua forma de agir.

Precisava ouvir também, pois, para Gintoki, as palavras eram necessárias. Entretanto, também eram como bolhas de sabão, portanto, poderiam cometer equívocos. Ele era quase como que a encarnação da leviandade, por isso não arriscaria. Desse modo, a verdade se ocultava. Por não ser manifesta, a verdade tinha chance de se tornar uma mentira.

O ciclo de dúvida, receio e conformidade continuava, e o que era para ser uma relação agradável parecia faltar alguma coisa. Sem que fosse completamente honesto com o outro o desconforto crescia. Se não era característico de Gintoki mostrar preocupação, não era característico de Okita mostrar um lado vulnerável. O rapaz não era direto, no entanto, seus olhos, de vez em quando, davam margem de que algo estava errado.

Gintoki não respondia. Ah, com certeza não seriam seus amigos que ficariam no caminho de sua felicidade, contudo, ele mesmo. Bagunçou de leve os cabelos de Sougo quando se acomodaram em seu futon. Os cabelos do rapaz eram macios e lisos de fazer inveja para alguém tão complexado com o cabelo como ele, fazendo com que Gintoki quisesse bagunça-los toda hora.

Ousou abraça-lo com um dos braços livres, o aproximando mais de si, de forma que não dificultasse tanto o sono deles no decorrer daquela madrugada. A sensação era similar à de mergulhar em um lago profundo sem chance de voltar para a superfície. Contudo, acabava por Gintoki ser sempre o último a corresponder, o primeiro a se separar, e nada de chorar.

Era injusto, desonesto até.

Não foi uma surpresa o que aconteceu depois. O rompimento, o despedaçamento de uma realidade insustentável, de um sonho estranho. Em algum ponto, ficou sozinho. Como do nada havia começado, havia terminado, e ele nada poderia segurar, porque mesmo as flores mais resistentes do deserto precisavam de uma afirmação para estarem ali ou definhariam.

[...]

Okita disse palavras que, de tão ensaiadas que foram, acabaram escapando e acabando com um sonho. Estava acostumado a ser odiado. Contudo, a possibilidade de Gintoki haver lhe aceitado por saber de sua história lhe atormentava. Por isso, havia ensaiado, para que quando sorrisse na despedida ele não mostrasse qualquer fraqueza.

A verdade era que ele era sozinho, carente por atenção desde criança, portanto, não era algo que se consertaria com alguns beijos por mais doces que eles fossem. Esse vazio pesava, mais do que nunca, depois de Mitsuba ter morrido. As palavras lhe afetavam mais do que gostaria. Ele não estava bem, todavia, Sougo mudaria o possível e o impossível se houvesse escutado alguma coisa. Algo que não veio.

Um bom tempo se passou depois de sua última visita ao Yorozuya. Fazia sua patrulha, comia seus dangos, aquele bolinho feito com farinha de arroz, dormia, recebia bronca de Hijikata por dormir em serviço, e fazia uma piada ou duas sobre o colega e sua amada maionese. Ele suportava como podia, todavia, quando teve de visitar o cemitério em que estava enterrada sua irmã, um sorriso mais sincero se apresentava em seu rosto.

Okita Mitsuba sempre seria uma exceção as suas regras. Era o dia em que ela havia falecido, e suas pernas o levaram quase que no automático pelo caminho. Desculpou-se por não levar flores. Então, Sougo notou que haviam flores frescas encostadas na pedra em que constava o nome da irmã. Olhou ao seu redor, entretanto, não havia ninguém. Okita acabou por acender o incenso que tinha para a ocasião e juntou as palmas das mãos.

Rezou, algo que não faria normalmente mesmo que sob ameaça. Não entregaria as flores que comprou, pois as tinha esquecido em seu local de trabalho. O motivo para isso foi dito depois de sua reza, afinal, não havia ninguém ali para ouvi-lo.

“Não estava bem, mas, a pessoa para quem queria dizer isso era um idiota. ”

Okita se surpreendeu quando viu Gintoki ao lado dele rezando. Um pacote de biscoito apimentado, que era o sabor favorito de Mitsuba, estava junto as flores. Após a reza, não havia nenhuma expressão no rosto dele além de um sorriso mínimo. Okita correspondeu ao sorriso, só que um mais sarcástico.

Gintoki bagunçou os cabelos e olhou para o lado oposto em que se encontrava Okita. Isso antes de pedir desculpas de um jeito adorável, que tinha a proeza de fazer de vez em quando, com as bochechas vermelhas e a voz hesitante.  Sougo suspirou e fez com que Gintoki levantasse, eles estavam de joelhos até então. Depois, apoiou a cabeça no ombro dele, fechando os olhos.

[...]

Okita ficou mortalmente em silêncio por um tempo. Maus hábitos eram difíceis de mudar, então ele estava se controlando muito para que não cedesse ao seu lado sádico. Todavia, não iria perder para sua irritação, mesmo que Gintoki tivesse precisado da ajuda de um terceiro para chegar a uma conclusão como aquela. O faria compensar por isso.

O namorado conseguiu alcança-lo e tentava fazê-lo se acalmar. Encontraram Shinpachi, e o garoto pareceu assustado com o olhar que Okita lhe dirigiu. Contudo, contrariando as expectativas dos outros dois, fez um ângulo de noventa graus com a coluna, e disse antes que se arrependesse:

“... agradeço. O Danna vai começar a ficar mais ocupado, daqui em diante, então conto com seu apoio. ”

Ambos pareceram chocados com sua declaração. Okita, como suspeitava, não conseguiu ficar imune a isso e sentiu suas bochechas esquentarem um pouco. Com isso, seu trabalho do dia estava feito, pelo menos um pouco. Honestidade não se compra, se adquire.


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Notas finais do capítulo

Agradecimentos para quem leu até aqui ♥

Favor opinar sobre a revisão se for de seu interesse :333
*ficou bem menor que o texto anterior nem sei como consigo*

Tchau ♥ (Atualizada no dia 02/04/16)