Escritora anônima escrita por KorineChan


Capítulo 1
1.


Notas iniciais do capítulo

As vezes nos sentimos solitários, mas não mostramos para ninguém. Talvez por medo de se abrir e precisar da pessoa pro resto da vida... Ou talvez porque ninguém liga.
A verdade é que todos nós precisamos de alguém que precise de nós. Afinal lá dentro, sempre tem alguém a quem nos ligamos.
By: Escritora anônima



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Você já reparou que existem numeradamente dois tipos de garotas na escola? Sim, isso mesmo.

Existem garotas do tipo 1: são aquelas que vivem arrumadas, são lindas e chamam a atenção por onde quer que passem. Essas garotas são tipo deusas bonitonas pros garotos. Maioria detestável. Podemos ver que elas são bem reparadas na hora da saída do colégio. E por fim existem garotas do tipo 2: que são aquelas que podem ser consideradas normais. Elas não são tão feias, mas também não são bonitas.

Eu acho que me encaixo na segunda opção. Se bem que não consideraria o fato de ser diferente.

Me chamo Lizzie e tenho 16 anos. Por tempos, sempre tive uma ideia discreta de como era o ensino médio. Seria perfeito como em filmes. Pena. Nada era o que eu imaginava.

Primeiro porque minha melhor amiga - Lexie, destruiu todo e qualquer tipo de plano que passamos a vida criando.

Ela começou com um garoto, depois outro e outro. Assim, seu status se espalhou por toda a escola. Tentei acompanha-la, mas vi que nossos caminhos não eram mais os mesmos. Ela acabou por se tornar uma menina tipo 1, mesmo sendo "idêntica" a mim.

E qual foi o resultado? Ela se tornou popular, pegadora e linda. E assim como toda a amizade que passa, esqueceu de mim também. Bom, eu não pude falar nada, afinal todo me viam como uma pessoa ignorante.

Os garotos? Bem, não tem um sequer na minha listinha. Só caras como Dylan O'Brien e o filho do David Beckham. Impossível né? Tirando eles, nenhum.

Parte por mim, que não daria nem a lasca da unha pelos meninos da sala. Parte pela Lexie, que claro conquista todos que quiser. Eu não a culpo. Sou ignorante e tão diferente dela como uma pêra é diferente de uma maçã.

Então eu continuei como eu mesma. Preferi não mudar, não que isso fosse impressionante para alguém. A verdade é que me tornei invisível. Nas poucas horas legais, alguém vinha falar comigo, mas infelizmente me pediam para fazer coisas tipo contar um podre da Lexie, etc.

Desde então eu fiquei sozinha.

Ela me deixou sozinha.

Sabe quando nos filmes temos a garota boazinha que deixa todo mundo maltrata-la, como se nada fosse acontecer? Então, um dia ela conhece um garoto, gosta do garoto e de repente todos gostam dela também. Pois é... Nada disso acontece na vida real.

Minha escola é uma versão atualizada de todas as outras, apesar de ser a melhor do país.

No comecinho, achei todos muito legais. Ótimo! Só que Lexie me deixou sozinha e foi curtir os novos amigos sem nem apresentar-los para mim. E tinha os garotos também. Ela vivia rodeada deles. Depois ela mudou e se distanciou. Tanto que nem em casa nos falamos mais.

Acha que estou exagerando? Pra você ter ideia, um dia qualquer desses eu estava sentada na sala anotando as lições, quando algumas garotas provocaram a garota mais nerd da sala. Foi a primeira vez que Lexie fizera isso. Ela estava no meio e achava tudo muito engraçado, como se estivesse em um circo.

Pensei em falar alguma coisa, mas todos estavam se divertindo com a humilhação da pobre coitada.

Voltando a minha breve citação sobre a ilusão dos filmes: quando a protagonista decide proteger alguém, ninguém faz nada e aparece um príncipe para protege-la de tudo e todos.

Bom, então eu acho que seria uma protagonista de merda. Achei errado a injustiça com a aluna, mas não fiz nada. Passei a ser parte da paisagem, e na mente da garota nerd, eu etava rindo junto com todo mundo.

Não pense errado de mim, por favor! Eu não queria acabar com um olho roxo, e no final da diversão das garotas, elas nem bateram nela. É melhor deixar quieto, não é mesmo?

Também não pense que tenho inveja de minha ex amiga. De uns tempos pra cá, simplesmente deixei que o universo tomasse conta dela. Afinal, quando tentava opinar sobre algum assunto (como os garotos, por exemplo), ela ficava irritada e me chamava de careta e invejosa.

Poderia ser. Mas foi graças a pressão e a solidão que decidi não guardar só pra mim.

Enquanto Lexie curtia sua nova vida sem mim, resolvi que faria algo escondido dela pela primeira vez. Não conseguiria mais um minuto sem me abrir com alguém.

Foi com esse acontecimento que decidi criar um lugar que todos os alunos, - não só da minha escola, mas todos em geral - conseguissem se abrir e falar qualquer besteira sobre qualquer pessoa.

Claro, eu não usaria meu nome! Iriam me perseguir, me sequestrar e me matar se eu falasse das patricinhas da sala, e de como minha ex melhor amiga e ex confidente - estava sendo uma idiota.

Então resolvi que não seria eu a falar. Criei a Escritora anônima sem nenhuma foto ou status conhecidos de mim. Seria perfeito.

No começo, ninguém lia o que eu escrevia. Óbvio, ninguém dava a mínima ou este ninguém estava com muito medo de se mostrar identificado comigo. Mas algo dentro de mim se sentiu liberto pela primeira vez. Eu tinha uma amiga, e pela irônia era a internet.

Depois de alguns dias, a Anônima fez muito sucesso. Fui as nuvens e voltei. Mas, infelizmente não podia mostrar quem eu era, porque muitos pais não concordaram com minha ideia.

Bom, pelo menos algumas pessoas se comunicavam comigo. Todas com nomes anônimos também. Eram meus fãs.

A única coisa que eu queria fazer depois era contar tudo a Lexie, mas infelizmente sempre que eu tentava falar com ela, já devem imaginar. Nunca tinha tempo.

Nós crescemos juntas e ela, a única que conseguia enxergar minha alma não tinha tempo. Porque? Meninos, popularidade e amigas.

Eu não estava mais na vida dela como ela na minha. Então guardei o segredo em sete chaves. A única pessoa que pode me entender sou eu mesma no fim das contas.

*

Sabiam que este foi o primeiro assunto que abordei? Solidão, esquecimento.

Acho que todas as pessoas tem um medo relacionado. Algumas tem medo de serem esquecidas. É Aquele medinho que dá de morrer e ninguém sentir falta, ou aquela pergunta que dizemos pros amigos mais chegados: "Quando eu morrer, você vai sentir minha falta?" ou "Se eu morrer amanhã, você vai chorar no meu velório?"

O segundo medo é a solidão. Nem o dicionário consegue traduzir o sentimento de se sentir sozinho. A solidão está para com o esquecimento assim como o esquecimento está para a solidão.

Vou usar um exemplo muito fácil: Pessoas que não conseguem ficar com uma só. Já reparou que normalmente essas estão sozinhas?

Tem outro também! Solidão no caso do abandono. Amigos que mudam completamente e desaparecem da sua vida do mesmo jeito que apareceram. Este é o pior na minha opinião. Meu medo mais medroso. Ainda mais quando você ama a pessoa como eu amo a Lexie.

Mas já não importa.

Pessoas sozinhas tendem a não se importar com mais ninguém. E, sinceramente? Se importar com alguém só vai te levar aos prantos algum dia desses.

Por fim, você se acostuma em estar sozinho. Mesmo que seu coração esteja machucado.

Anônima me fez um favor muito grande. Me mostrou que eu não precisava ter amigos para desabafar, eu só necessitava de mim mesma e um computador.

Eu mesma e comida.

Eu mesma e um livro.

Eu mesma e eu.

Muitas opções diferentes, não é mesmo?

Pois então, este fragmento de meus complexos pensamentos não fazem parte da história toda. A história verdadeira, não da anônima. A minha história.

Começa em uma sala do ensino médio, óbvio. Uma sala que, mesmo com 28 alunos era super barulhenta.

Eu me encontrava na penúltima fileira do fundão, lendo meu livro preferido.

Engraçado que normalmente, digo nas salas de todo o mundo - inclusive nos filmes ilusórios - os alunos do fundo são terríveis e os da frente querem algo da vida. Por incrível que pareça, na minha sala apenas eu e mais 3 alunos sentados no fundo não conversavam. Acho que queremos algo da vida, por assim dizer.

O legal da aula vaga era que eu podia me perder em pensamentos sobre a Anônima. Sobre o que poderia escrever e como usar as palavras de um jeito que não atingiria ninguém.

Enquanto eu me perdia em uma palavra do livro, Edu tomou-o da minha mão, em seguida leu a página que eu estava em voz alta.

- Você não se cansa? - Ele perguntou rindo.

Era visível em seu rosto que não queria saber, de fato o que eu lia ou o que fazia. Edu ansiava por algo que eu provavelmente poderia dar. Eu tive toda certeza quando vi o livro didático de inglês de baixo de seu braço.

Claro, não era de se esperar que ele pedisse outra coisa. Se ele me pedisse uma bala, eu ficaria surpresa.

Achei até que poderia ter ganhado uma medalha de escoteiro por ajudar cada pessoa daquela sala. Lizzie Donovan, a garota que todos falavam quando precisavam de algo e apenas isso.

- O que você quer? - Perguntei para ele, tomando o meu livro de volta.

- Estudar. Você nem fala mais sobre o grupo de estudos... - Edu parecia tão cara de pau quanto é todos os dias desde que eu o conhecera.

Ajuda-lo a estudar era meio que inegável para mim.

Mais uma novidade: Eu não sei dizer não.

Porém, antes de eu conseguir dizer o que queria, eis que Lexie aparece como uma lâmpada quando é acesa. Está tudo escuro, e em um piscar de olhos, você já consegue ver tudo.

Ela se sentou no braço da minha mesa e pegou o livro didático do Edu. Fez uma cara de interessada e então começou a falar:

- Você quer estudar comigo?

Edu olhou pra ela e olhou pra mim sucessivamente.

- Mas a Liz...

- Vai lá - Eu falo, tentando sorrir e parecer simpática ao mesmo tempo.

Só que eu sei que no momento em que ele sair, vai falar pra todo mundo que eu fui super ignorante com ele. Porque é isso que todos daqui fazem.

E outra, Lexie encarou de um jeito que implorasse para eu não ajudar pelo menos uma vez. Adivinha? Eu adivinhei de primeira. Ela queria ficar com ele. Assim que funciona seu radar.

Então eu fiquei no meu cantinho como sempre. Achando, mais uma vez que ela estava errada em ser assim. Mas o fato é que ela era assim.

Eu não podia de jeito nenhum me deixar levar sobre Lexie. Um dia ela mudaria? Não sei. Mas com toda a certeza eu ficaria doente se continuasse pensando em curas para a completa idiotice dela.

Ou talvez não fosse uma doença. Fosse só ela começando a se mostrar.

Enquanto ela ria com Edu, esbanjando seu cabelo e maquiagem, me lembrei dos tempos de igreja.

Éramos obrigadas pelos nossos pais em ir todo domingo de manhã para a igreja. De começo era chato, mas não podíamos dizer nada. Apenas obedecer.

Logo depois de sair daquela igreja, procuramos várias outras juntas. Achamos. Só que Lexie parou de ir.

Mais um ponto para a solidão.

Lizzie Solidão Esquecimento
0. 1000. 100000

Procuro algo melhor a fazer. E droga, é triste pensar em algo que você não quer pensar. Somente seu cérebro sabe, e justo ele que resolve te lembrar.

Corro os olhos no livro. Cada palavra parece traduzir o que eu sinto. Começo tudo de novo só para ter um gostinho de me imaginar como a personagem principal que acha o verdadeiro amor e sabe diferenciar os amigos de verdade.

Este é de longe meu livro preferido. O nome dele é Gentilezas á parte. Conta a história da Angélica, uma garota como eu (Com a única diferença: Ela não da a mínima pro que pensam dela) que acha uma varinha mágica e de repente sua sorte muda. Inclusive, ela consegue um garoto que a ajuda com a magia.

Sim, eles se apaixonam. Sim, eles se casam.

Mas o livro não é sobre a magia em si. O livro é sobre ela e sua repentina mudança e como ela lida com tudo em sua volta.

Eu me considero uma Angélica. Bem, uma versão desatualizada da Angélica.

Quem me dera achar uma varinha mágica como ela. Seria tudo mais fácil.

- Alunos! - A professora de geografia chegou na sala e eu nem percebi.

Ela pega sua régua e bate na mesa como se estivesse degolando alguém com ela.

Os alunos todos param com o barulho, finalmente. A professora se endireita e arruma o jaleco branco. Ela parece uma cientista, não uma mulher que fala sobre geografia.

- Atenção, estamos recebendo novos alunos a todo o momento! - Ela anuncia com alegria - E hoje não seria diferente. Primeiramente, quero pedir que todos falem com o aluno novo, ele é meio tímido.

"Ah, ótimo", penso "Pelo menos ele não irá conversar muito ".

A professora se direciona para a porta e abre.

Neste momento um garoto entra na sala, e de começo achei que ele falaria algo ou se apresentaria. Claro, sua aparência deixou todas as garotas trocando olhares e comentando.

Ele não fala nada.

- Qual seu nome? - Uma das garotas grita no fundo e todas as outras soltam um sorrisinho.

O garoto é mais estranho do que pensei. Ele revira os olhos e o ouço bufar bem baixinho. A má vontade dele de se apresentar até que me fez soltar um sorrisinho.

Ele corre a visão por toda a sala até que repara que há um lugar sobrando. Este se encontra ao meu lado. Mas ainda sim não se move.

- Cameron Brooke - Ele diz quando a professora coloca uma mão em seu ombro.

As meninas suspiram em uníssono. Inclusive Lexie.

Algo em seu rosto me parece familiar. Talvez seja o nariz agudo ou a sobrancelha levemente grossa. Ou o cabelo perfeitamente arrumado em um topete estiloso.

Rapidamente me vem na cabeça o rosto da professora. Sim, ele era filho da professora.

Sorte dele. O único da sala a ganhar nota azul por ser filho da professora.

O garoto parece perceber meus olhares observadores. Mas, ao contrário das expressões rebeldes, ele me encara de volta com uma sobrancelha arqueada.

Depois, seu radar desce até meu pé. Sim, meu pé. Só então que percebi que nossas botas são idênticas.

Qual a probabilidade dele perceber que as minhas são masculinas também? Por fim, ele solta um suspiro e eu escondo meus pés dentro da carteira.

- Cameron, pode se sentar - A mãe fala e ele obedece.

Mais suspiros femininos enquanto ele anda.

Resolvo não olhar muito em volta, se não vão achar que estou interessada no material.

Pelo menos é a primeira vez que eu acho alguém bonitinho.

Cameron Brooke senta-se na cadeira e abre sua mochila, colocando tudo sob a mesa. inclusive um bonequinho do Dath Vader.

Fã de star wars...

Sempre me chamou atenção este estilo nerd. Quando eu e Lexie assistíamos, procurávamos decorar as partes do filme. Porém, agora não faz mais sentido assistir sem ela.

Sabe, faz parte das coisas que fazemos em grupo. Quando estamos sozinhos, a graça de fazer acaba.

Ele olha para mim.

- Ops... - Digo baixinho e me viro, olhando para a lousa e esperando que ele não tenha percebido nada.

Ouço uma risadinha vindo dele.

Não olho. Não posso, certo? Fazer amizade com ele seria uma 3° guerra mundial. Eu receberia ameaças todo dia das garotas, mesmo que o objetivo seja apena amizade.

Apenas amizade.

Expulso todo aquele pensamento crítico e pego Gentilezas á parte para recomeçar novamente.

Quando estou na página 59, antes de passar para a próxima, uma voz chama minha atenção.

É Cameron, jogando bolinhas pequenas de papel em mim.

Olho ao redor, para certificar de que ele esta falando comigo.

- Eu? - Pergunto baixinho.

- O Jade - Ele começa - Ele morre no final.

O que ele falou me deixou realmente surpresa. Ele havia lido o mesmo livro que eu? Afinal, o Jade é o gatão da história.

Mesmas botas, mesmo livro. O que virá desta vez?

- É... Eu sei - Digo, franzindo o cenho.

- Quantas vezes você já leu?

- Cinco - Respondo na lata e sorrio para ele.

A professora o adverte por estar conversando Durante o horário de aula. Ele, em seguida se vira. Mas antes que ela perceba, ele sussurrou para mim:

- Seis.


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Notas finais do capítulo

O que acharam deste capítulo? *-*



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