A conversa não se estendeu muito mais que isto, por sorte logo a comida chegou e Lorenzo achou muito mais interessante a comida que uma namorada. Senti-me aliviada por isto.

– Você é muito ciumenta. – Gil concluiu.

– Sou mesmo. Ou você acha que Julia aos sete anos também já está pronta para namorar?

– Eu vou namorar o papai. – Disse Julia em seu tom infantil.

– Isso mesmo princesa, vai namorar o papai. – Ele depositou um beijo nas bochechas dela e então voltou a fitar-me. – Eu apenas estou ensinando o menino a ser um cavalheiro, e não como boa parte dos homens que não presta atenção nas necessidades básicas de uma mulher, que é o carinho e a educação.

Neste ponto ele não estava totalmente errado. Era difícil hoje em dia um pai não buscar no filho um garanhão, geralmente queriam que fosse o pegador, e se de todos os males este fosse o menor, eu estava satisfeita em ver Gil ensinando ele a tratar mulheres de modo delicado e decente.

Antes que pudesse responder, chamaram nosso voo para o embarque. Literalmente salva pelo gongo.

Julia insistiu em querer meu colo ao invés do de Gil, então eu que embarquei com ela no avião. Esta não era sua primeira viagem e levei isto com toda naturalidade, mas percebi Lorenzo ficar tenso quando o avião decolou.

Que tipo de mãe eu era? Era obvio que Lorenzo nunca havia viajado de avião.

– Está tudo bem filho?

Ele assentiu com a cabeça, mas seu olhar dizia completamente o contrário. Os acentos eram de três em três, mas como Julia era pequena, ela ia no colo. Eu estava com ela no colo ao lado da janela, Gil do meu lado, e Lorenzo na ponta.

Depois do susto da decolagem, sugeri que Gil e Lorenzo trocassem de lugar, ele ficara então no meio. Sem mais problemas, e sem muitas nuvens, podia se ver toda a cidade lá em baixo.

– Quer ver filho?

Ele fez que não com a cabeça.

– Estou com medo.

– Não precisa ter. – Alcancei Julia para Gil. – Venha cá no meu colo um pouco, e olhe lá para baixo, parece até de brincadeira, tudo tão pequeno, como formiguinhas.

Não demorei a convencer Lorenzo, e logo ele estava em meu colo olhando pela janela. Um instantâneo sorriso abriu em sua boca.

– Nunca vi as nuvens tão de perto. Elas realmente parecem algodõezinhos. – Ele sorriu.

O resto da viagem transcorreu tranquilamente, exceto o pouso. Vi Lorenzo ficar branco na hora do pouso. Logo estávamos com nossas bagagens e uma multidão nos esperando do lado de fora do desembarque.

– Não se assuste filho. – Sussurrei para Lorenzo. – Eles são loucos, mas todos são gente boa.