Depois de uma boa bronca em Lorenzo, minha dor de cabeça estava pior. Dobrei a quantidade de remédios, tranquei as janelas e liguei o ar condicionado. Não que acreditasse que ele fosse aprontar algo novamente, depois de um castigo Lorenzo sempre se acalmava, porém não estava disposta a mais problemas hoje. Só precisava que Gil chegasse e assumisse as crianças para que pudesse dormir um pouco.

Ao invés disso o interfone tocou. Bufei. Será que ninguém iria me deixar descansar um pouco?

Era o zelador, e me surgiu um frio na barriga, o que Lorenzo havia aprontado de novo? Dessa vez nada, mas ele falou que uma mulher, uma tal de Rafaela estava lá em baixo e queria falar comigo e insistia para isto.

Perguntei se ela estava sozinha, nunca deixaria um homem subir em meu apartamento estando sozinha, ainda mais com duas crianças. Disse que a deixasse subir, mas que deixasse um segurança de prontidão para qualquer problema, pois era uma estranha. O zelador avisou que a tinha deixado subir e eu mandei Julia e Lorenzo para o quarto.

– Crianças, fiquem aí, por favor. E só saiam quando eu deixar.

Olhei o relógio. Vinte minutos e Gil estaria em casa, isto se ele não se atrasasse, porém quando isso acontecia não era mais que cinco minutos e se fosse mais ele tinha o costume de ligar avisando.

A campainha tocou, e por um momento meu coração disparou diante de uma situação estranha. Nunca havia me ocorrido, e não entendia o porquê disto.

– Oi. – Disse ao atender a porta. – Rafaela?

– Sim sou eu. – Sorriu cordialmente. – Posso entrar?

– Claro. – Estendi o braço convidando-a para entrar, e sentar-se ao sofá.

Sentei-me a frente dela, na poltrona, assim que se posicionou no sofá maior. Ela parecia percorrer a casa com o olhar, como se estivesse procurando alguma coisa. O silêncio imperou, mas a situação não me era agradável, tinha de cortar esse silêncio e saber exatamente o que ela queria. E foi isto que eu fiz.

– Então, Rafaela. – Puxei o nome dela de minha memória. – O que devo a sua visita? Não me recordo de você, e não entendo o que há de tão importante a falar comigo.

– Bem Sara... – Ela parecia escolher as palavras, como se estivesse constrangida. – Você realmente não me conhece e nem eu te conhecia, pelo menos não pessoalmente, mas temos algo em comum e por isto tive de vir atrás de você. – Ela tentava ser direta, seus olhos estavam mareados, e parecia que havia medo de falar. – Eu há quase sete anos tive um menino lindo, e eu não pude criá-lo, não tinha condições de mantê-lo e não queria que ele morresse de fome. Então o entreguei a adoção, porém essa dor de separação me persegue desde quando entreguei-o no orfanato, e agora com condições de cuidá-lo e proporcionar uma vida melhor a ele, eu... Bem, eu... Eu queria poder reencontrá-lo. E eu sei que ele está com você.

– Como? – Disse incrédula. Aquilo não podia ser verdade. Não podia. Não era. – Como você tem certeza que eu estou com seu menino? Como pode ter certeza se é o mesmo? Esse tipo de coisa é sigiloso e você só pode estar enganada... – Senti-me perdida na possibilidade de perder meu filho, mas aqueles olhos azuis não mentiam, eram iguais ao de Lorenzo, e algumas expressões faciais também. Ela era a verdadeira mãe do menino, quer dizer, a biológica.