O Primeiro Arcano escrita por Enki


Capítulo 7
Capítulo 07




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Karen estava linda. Seus captores a haviam levado a uma casa de beleza de uma cidade próxima. Com um tratamento sofisticado, a menina foi cuidada. Banhada com ervas e óleos para amaciar sua pele, perfumada com essências de canela, mirra e hortelã, maquiada e adornada com finas joias, em dois dias não havia nem sombra da garota selvagem que fora encontrada na floresta. Se quando se escondia, ela já atraia olhares dos homens, naquele momento ela ficara irresistível.  Sua juventude ainda muito acentuada apenas a tornavam mais desejada, como uma moça jamais tomada.

Ela não gostou daquilo no início e sempre tentava resistir aos comandos de seus captores, mas o chicote deles sempre a lembrava da chibata que as irmãs do orfanato usavam contra ela. Assim, no fim ela acabava cedendo as ordens dadas. Durante um mês ela viajou com os mercadores de escravos. Eles a ensinaram como agir e se comportar em sociedade, tentando reprimir ao máximo o jeito feroz da jovem e conseguiram com algum tempo e muitas chicotadas. Mas a atitude indomável dela permaneceu em sua essência e, por mais que reclamassem, eles gostavam dela daquele jeito. A ferocidade a deixava ainda atiçavam sua imaginação e, com certeza, seus compradores a veriam com os mesmos olhos. Só não queriam que a garota tentasse matar alguém ou fugir quando a estivessem vendendo, por isso faziam questão de fazê-la temer a dor.

Durante aquele mês, ela foi conduzida por terras áridas, tento que se sujeitar novamente as regras da sociedade. Fingia não entender o que eles falavam e conhecer muito pouco a língua humana, mas ela ainda se lembrava. Como uma memória distante, anos na floresta não puderam jamais apagar seu passado e se havia uma coisa que as irmãs haviam lhe ensinado bem era a se comportar.

Enfim eles chegaram aos territórios de Dirai Kasham, uma terra onde os ventos eram fortes e empoeirados, as casas pareciam blocos feitos com mistura de barro e areia e o calor era exaustivamente insuportável. Nas vilas aos arredores do palácio de Dirai Kasham, Karen foi vendida por 220 moedas de ouro e ninguém menos que o próprio Xá de Dirai a comprou.

Karen entrou para o harén como a peça mais desejada do rei. Por mais que quisesse possuir a menina, a majestade não tinha pressa para tal ato, havia mais cinquenta mulheres para satisfaze-la, uma a cada noite. Em verdade, ele preferia esperar que a menina sangrasse pela primeira vez, de forma que nesse momento ele teria certeza da sua aptidão para o serviço. Por isso, acreditando que a menina jamais tivera experiências parecidas, ele pediu que as outras odaliscas preparassem e ensinassem a garota. Em seu primeiro beijo, Karen se sentiu totalmente estranha. A mulher a sua frente era bela e experiente. Fora algo natural sim e era provocante, a garota não podia negar, mas era diferente, uma sensação que nunca tinha sentido antes e, no princípio, isso a incomodou. A moça, agora sua amiga intima, treinou-a nas artes da dança e da sedução. Karen aprendeu a provocar uma pessoa com um simples toque dos lábios, sendo gentil, apaixonada e excitante ao mesmo tempo, mas também aprendeu a ser fervorosa e se aproveitar ao máximo de sua beleza ardente. A menina ganhou enfim seu próprio quarto e presentes valiosos, resultado apenas suas apresentações de dança do ventre, sem uma única vez ir para a cama com o rei.

Se já ao chegar ao palácio como dama do Xá ela conquistou tanto seu proprietário, o avanço de aprendizado rápido da garota, entretanto, obviamente não agradou a primeira esposa. Na mesma noite em que a menina foi levada aos seus aposentos, a primeira esposa apareceu no quarto com um chicote.

“Escute bem, menina, eu sou a primeira esposa, você está me entendendo?  Abaixe sua cabeça! Não permiti que olhasse para mim, permiti?! Isso. Assim. Ouça, eu tenho um filho do Rei e, algum dia, ele morrerá e meu filho herdará o Reino. Nessa hora eu serei a senhora dessa casa e você não vai arrancar a herança de mim. Não ache que que pode porque você jamais poderá oferecer a ele o que eu ofereço, me entende? Com sorte, você será nova o suficiente quando meu filho ascender ao trono e ainda poderá ser sua concubina. Fique feliz por isso porque é o melhor que você ganhará em sua vida ordinária.”

“O grande Xá escolhe suas mulheres. Se ele me quiser, você não pode impedir.” Karen a essa altura já havia reaprendido a falar. Cerrou os olhos. Mesmo com a cabeça baixa sua voz saía decidida.  “Qualquer violência que a primeira esposa fizer contra mim, ficará marcado, senhora. Agora, me escuta bem você.  Se a senhora ousar encostar essa sua mão imunda em mim, eu darei ao seu homem a melhor noite da vida dele assim que ele quiser. Depois, no momento em que tudo acabar, eu pedirei a ele a cabeça da primeira dama servida num prato e ele, extasiado e satisfeito como nunca, realizará meu desejo. A primeira dama pode ter força e pose, pode controlar a casa e as outras amantes, mas eu irei controlar seu homem como eu bem quiser e, no fim, a palavra dele é a que prevalece por aqui.”

A mulher a encarou surpresa. Depois sua expressão mudou para uma mistura de irá e algum tipo de confusão. Enfim, sem pronunciar mais nada, se retirou do quarto batendo a porta. A menina enfim se levantou. Sorria. Podia não conhecer muita coisa de sua vida sempre isolada da comunidade, antes no convento, depois na floresta e enfim no palácio. Mas o sentimento na face da primeira esposa, emoção aquela que nem ela compreendeu direito, Karen reconheceu muito bem. Medo. A moça havia experimentado essa sensação demais e agora a reconhecia mesmo que mascarada pela ira.


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