Zodíaco escrita por Ágatha


Capítulo 19
O gato de uma asa só


Notas iniciais do capítulo

Eric c:



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Não havia percebido, realmente. Diana tem essa incrível capacidade de sugar toda a minha atenção do ambiente, infelizmente.

Enrolei-a ainda mais quando ela começou a usar fogo para impedir o avanço das plantas. Imaginei que ela iria até queimar-se caso continuasse a usar, então apressei o processo. Só então ela saiu de sua invisibilidade.

– Não gosto de ser espionado – digo à Lisa, calmo. Não brigarei com ela outra vez, mesmo que ela tenha passado de alguns limites agora.

– Não estou espionando-o – ela diz, irritada. Está no chão e luta contra as plantas enroladas em suas pernas, arrancando-as com as mãos.

– Minta melhor – digo, aproximando-me dela.

Ela me encara, sorrindo.

– Estou vigiando ela. Ordens do irmão.

Ela queima algumas das plantas, levantando-se. Fecha os olhos por uns segundos, seu rosto bem vermelho, quase misturando-se à cor de seus cabelos.

– Caso você me ataque assim outra vez irá se arrepender, Eric Jones. – ela diz, queimando as últimas plantas enquanto sai da clareira a passos calmos.

– Ordens de quem? – Diana pergunta.

Sinto como se meu corpo fosse apenas uma casca fraca a qual o conteúdo interior é muito, muito mais pesado. Ela havia acabado de brigar comigo porque não tenho contado as coisas a ela, não que seja a coisa mais fácil a se fazer também. Há horas certas para contar as coisas, assim como essa não tratava-se da melhor hora para responder essa pergunta.

Como não estava com muita paciência, nada disso fazia diferença.

– Vinícius – digo, virando-me para ela, porém incapaz de encará-la – é seu irmão.

Ela me olha incrédula, deixando o queixo cair levemente.

– Mais algum parente meu por aqui? – ela ri, nervosa. – Isso é sério?

– Sim – digo. – ele é tipo uns cinco anos mais velho, e estava no mesmo orfanato que você, só que foi embora bem antes. Não sei se você percebeu que são a cara um do outro. Tem o mesmo sobrenome também, obviamente.

– Ok – ela diz, andando para todos os lados, nervosa – vocês estão me deixando louca. Vai dizer agora que nós dois somos primos ou algo assim?

– Acho que não – digo. Entretanto, sei que a história não é bem assim.

Os anciões eram os únicos que guardavam o conhecimento acerca da verdadeira árvore genealógica do clã inteiro. Existem muitos magos que carregam, uma hora ou outra, o nome de seus pais, como os anciões. Eu e Vitor somos filhos legítimos de Scorpio, porém não é a melhor relação do mundo, porque todos os anciões abandonam suas crianças em orfanatos ou deixam para o pai puramente humano cuidar. Nossa geração possui magos com os sobrenomes de todo o zodíaco, entretanto há alguns perdidos com o sobrenome de Sonne, os filhos do sol, ou Luné, filhos da lua. Dessas famílias, apenas os anciões sabem.

Sei que sou primo de Alec, por exemplo, sendo ele filho de Virgo, e Virgo irmã de Scorpio. Não que eu goste de espalhar isso por aí.

– Olhe Diana – digo, chamando sua atenção. – eu sei que é bastante coisa para absorver, mas eu preciso te ensinar magia em três ou quatro horas. Tudo bem?

Ela olha para o céu, encarando-o. Está nublado, e alguns segundos se passam até uma fraca chuva começar a nos banhar.

Invoco um escudo sobre nós. Ela ainda olha ao redor, aleatória, silenciosa. Não pergunto novamente, porque sei o que ela está fazendo. Apenas pensando, apenas aproveitando o momento, o ar, absorvendo coisas, fugindo da realidade sem de fato abandoná-la.

Sento-me na relva novamente, cruzando as pernas. Manter o escudo não é difícil. Deixo abrir uma falha, em cima de Diana, por alguns segundos. Ela sorri fracamente quando a chuva toca seu rosto, e então me olha.

Sentando-se em minha frente, começamos o árduo caminho da magia. Não há melhor jeito de ensiná-la, a principio, que não seja transmitindo meus sentimentos quando a utilizo. Toco ambos seus braços e deixo o mais tênue sentimento correr entre meus dedos até sua pele.

Passamos as primeiras horas apenas praticando o controle do próprio escudo que protegia-nos da chuva. Algumas horas ela falhava, entretanto conseguia ver sua leveza e facilidade em tratá-lo. A magia negra mostrou-se a mais difícil. Quase não parecia existir de tanto que ela tentara, mas por fim conseguira por a crescer um pequeno dente de leão em alguns segundos.

– Consigo fazer meu cabelo crescer? – ela perguntou.

A magia negra tratava-se de algo muito amplo, porém extremamente restrito quando se trata de legalidades. O uso dela em seres vivos quase não era permitido, imagine ensinado. Entretanto, a magia da luz era a mais abundante quando se tratava de batalhas. Sendo a magia mais conectada ao Poder, era a que geralmente todos aprendiam primeiro. Explodir coisas com luz, iluminar certos objetos, criar escudos, bloquear passagens, moldá-la a seu favor. Estava também relacionada com lembranças, sonhos, feitiços de memória, tudo. A luz não era possível de ser explicada: ela regia nosso mundo por completo.

Certa hora ensinei Diana a apagar alguém com a magia da luz, assim como acordar. Infelizmente ela só conseguiu me acordar vinte minutos depois.

À medida que escurecia, eu ficava mais preocupado. Não queria ter de ir ao julgamento. Passar a tarde com Diana dava a falsa impressão que os problemas sumiam. Infelizmente eles ainda estavam ali toda hora que eu olhava o céu escurecer mais um pouquinho.

– Você sabe por que aquele gato te curou? – pergunto, depois de muito tempo pensando a respeito.

Olho-a rapidamente, deitada sobre a grama, assim como eu, olhando para o céu, felizmente limpo, escurecendo.

– Eu fui lá e dei água para ele – ela diz – mas acho que é porque eu fiz Juan ajudá-lo.

Passam alguns segundos, então ela quebra o silêncio.

– Vitor me disse que você quase morreu quando Alec te atacou – ela diz.

Fecho os olhos.

– Minha pedra era adulterada – digo – estava sugando meu minha energia vital.

– Por que alguém iria querer te matar aqui? – ela pergunta, virando o rosto para mim. Nossos olhares se encontram. - Também queria saber – digo, voltando a fitar o céu.

Tratava-se de um assunto que eu evitava pensar a respeito porque eu sabia de quem era a pedra. Pegara-a de Alice há um bom tempo, aproximadamente seis meses como guardião de Diana. Alice deixara-me ficar com ela porque era semelhante a um rubi, enquanto as pedras predominam na coloração lilás ou azul.

Eu mesmo havia insistido em ficar com a pedra, apesar de Alice ter me mostrado. Não havia culpa dela nisso. Alice teria que explicar onde a encontrara, e não levaria a lugar nenhum, porque vivem trocando suas pedras nesse lugar.

Gostaria de dizer que fora um engano também, porém a pedra era de fato adulterada. Dessa forma, havia um espião, e eu talvez apenas sofri o azar de acabar com sua arma em mãos.

– Quando encontrei Liana, lutamos, e foi assim que consegui essas marcas – passo a mão pelo pescoço. Poderia tirá-las facilmente com alguma cura, se não fosse horrível ter que explicar onde conseguira isso. Mesmo Diana não ficou convencida, porque foram marcas que surgiram recentemente.

– O que acha que irá acontecer hoje? – ela pergunta, depois de um tempo.

– Impossível de prever – digo. Algumas estrelas iluminam o céu, muito mais que na cidade. Ironicamente esse se trata do momento mais tranqüilo de minha vida.

Entro no espiritual, muitas horas sem entrar, e viajo alguns segundos. Encontro Lisa cuidando da cabana onde Liana está.

– Vamos voltar, deve começar em duas horas.

Caminhamos em silêncio por um bom tempo. Quando vejo que estamos bem longe ainda, nos teleporto para perto do pátio.

No meio do pátio há uma pantera cinzenta adulta, andando nervosa para diversos lados, entretanto está amarrada por uma coleira grossa, cuja corrente deve ter um metro e meio no máximo, ficada no chão do pátio grosseiramente. Há algumas manchas de sangue no chão, assim como em seu pelo, próximo ao focinho e nas patas dianteiras. Entretanto, o pior dano encontra-se no olho direito: está fechado, manchado de sangue, e muito provavelmente cego. Uma gigante asa pende ao lado esquerdo de seu corpo, apenas uma.

Um escudo a envolve, de dois metros e meio de diâmetro. Vinicius está parado diante do escudo com os braços cruzados, no típico traje boné e moletom grande, encarando a fera, que algumas vezes o encara também.

Algumas pessoas estão ali também, mais que o normal, espalhadas em grupos pelos bancos do pátio ou sentadas em grupinhos no chão. Vou até Vinicius, com Diana seguindo-me.

Ele lança-me um olhar tenso.

– Acho que não temos muita escolha – ele diz, tirando o boné e ajeitando-o novamente. – já não come há dois dias. Nem sei como consegue transmutar algo tão grande.

Tenho certeza que não o machuquei durante nosso encontro, então a menos que ele tenha brigado com alguém...

– Não me pergunte como ele ficou assim – Vinicius diz novamente – o encontramos quase morrendo na enfermaria.

Não deixem que me matem, Eric Jones.

Liana.

– Temos quanto tempo ainda? – pergunto.

– Nenhum – Vinicius diz. A pantera deita-se no chão, respirando forte. – começamos agora.

Viro-me para Diana, a qual já dera a volta no escudo. Ela o toca levemente, e o escudo reage ao seu toque, tornando-se rosa por um segundo.

Ela parece estranhamente fascinada com o animal.

Eric – sua voz fraca chama em minha mente. Ela me olha. – ele só tem uma asa, outra vez.

Outra vez? – pergunto.

Sim – ela diz, ainda fitando o gato – eu e Juan o encontramos com apenas uma asa, e depois ela sumiu.

O que quer dizer com isso? – pergunto outra vez. Não consigo juntar os fatos.

Acho que ele quer me dizer que é, de alguma forma, neutro...Ou...

Inocente.


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