Zodíaco escrita por Ágatha


Capítulo 15
Passando por certos sufocos


Notas iniciais do capítulo

Eric narrando novamente. :(



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Acordo vagaroso, sabendo de uma movimentação incomum no quarto. Diana não parece muito feliz também, está deitada escondendo-se totalmente entre as cobertas.

Busco meu celular sob as cobertas. Dez horas. Um travesseiro me atinge.

Levanto-me e olho o atacante. Vitor está em pé na cama, com as mãos nos bolsos da calça, recém colocadas.

– Acorde Erica – ele diz – as roupas chegaram.

– Que roupas? – pergunto, jogando o travesseiro de lado.

– As roupas para a formatura ué. – ele dá de ombros – já esqueceu?

– Hoje não é o conclave? – pergunto, confuso. Alice disse que seria amanhã... Só que ela disse isso na madrugada de hoje. Certo, só estava perdido. Hoje seria a festa de formatura de Lucas, não muito longe daqui. Apesar de ser um lugar remoto, alguns centros de eventos são bem próximos, talvez pela localização ser próxima ao mar, sendo bom para casamentos, festas, formaturas.

É claro que todo o acampamento iria, podendo entrar ou não. Várias encomendas foram feitas por isso.

Um travesseiro atinge Diana.

– Vamos bichinho – Vitor diz, descendo da cama e indo cutucá-la. – você era mais legal antes, viu?

Ela tira as cobertas da cabeça, revelando um cabelo bagunçado e o rosto meio vermelho, irritada. Devolve o travesseiro em Vitor com força. Vitor devolve a ”travesseirada” e então me sinto com doze anos. Juan também entra na suposta guerra de travesseiros, e logo menos tem penas voando por tudo, assim como travesseiros, assim como pessoas. Alec é enrolado nas cobertas por Amanda e Lisa, e não posso evitar de rir.

A porta é chutada, escancarando-se e revelando a autora do chute: Claire.

– EI, VOCÊS NÃO VÃO...

Puff. Atingida por outro travesseiro. Ela expressa a maior incredulidade possível e sai correndo.

Segundos depois outro grupo entra no quarto, cheio de travesseiros, e então não entendo mais nada. Diana ainda briga com Vitor, saltando de uma cama para outra. Ela cai em uma das camas, sendo focada instantaneamente, acabando por sendo enrolada em um dos cobertores.

Levo algumas travesseiradas e me levanto também, quase perdendo o equilíbrio. Lisa atinge-me com um travesseiro tão forte que as penas explodem em mim. Vou em direção à sacada, apesar de não conseguir evitar de pegar um travesseiro e revidar alguns ataques.

Rir é algo engraçado para mim, diferente. Sinto-me outra pessoa, livre de preocupações, principalmente com Lisa volta e meia me atacando e sorrindo.

Distancio-me do grupo, porque o quarto realmente está ficando cheio. Sinto-me feliz olhando-os assim. Diana conseguiu se desfazer das cobertas e agora salta sobre Juan, perdendo ambos o equilíbrio sobre a cama.

Então alguém não muito feliz se destaca em minha direção. Ele bate o travesseiro com tanta força em minha cabeça que acabo batendo-a na parede, sentindo-me até idiota. Antes de conseguir recobrar o equilíbrio, o garoto segura-me pelo pescoço, afundando-nos na parede, e no breu.

Saímos no bosque, e acabo batendo minhas costas em uma árvore. Ele continua com as mãos em meu pescoço, e me sufoca. É loiro, com olhos verdes, olhos que eu já vira em algum lugar. Ele me encara, e seguro suas mãos com força. Estou sufocando, sufocando.

– Não deixem que me matem, Eric Jones. – ele diz, largando um pouco a mão, mas ainda segurando-me. - não seja tolo também. Cofres sempre possuem segredos.

Ele me larga, correndo e desaparecendo entre as árvores. Não chego a cair, mas perco um pouco o equilíbrio.

Não precisava de nenhuma confirmação para saber quem se tratava essa pessoa. Seus olhos disseram tudo, assim como suas palavras.

Cofres sempre possuem segredos.

Não há sentido em ele pedir proteção. Ele provavelmente não será condenado à morte se decidir falar o que tem que falar, voltando à forma humana. Se permanecer como um gato durante o julgamento, aí sim ele estará em apuros.

‘Liana’ havia dito que não havia segredo no cofre na noite em que ela supostamente fora lá. Ela disse que Hayle havia aberto para ela. E se há um segredo no cofre como ele diz ter, ele está contrariando o que Liana diz. Isso, somado ao fato de que ele havia ajudado Diana na noite anterior...de certo modo ele se mostrava aliado de Hayle, e eu não sabia dizer se isso era bom o ruim.

[...]

Abro a cabana abandonada, onde Liana lê um livro, deitada no sofá, com as mesmas roupas de antes. Não posso deixar de pensar que é um péssimo lugar para deixá-la, mas ela não parece querer fugir de qualquer jeito. Logo será revelada também, no julgamento.

– Vou ficar muito tempo aqui? – sua voz me assusta por um momento, muito semelhante à de Hayle. Essa mudança de nomes tem confundido minha cabeça mais que qualquer coisa. Olho para ela. Seus cabelos estão bem bagunçados. Ela usa franja, e se não fosse por isso, seria mais semelhante ainda.

– Não sei – digo, procurando entre os armários um espelho. – tem algum espelho aqui?

Ela aponta em direção à mesa. Um pequeno espelho quebrado. Nem sequer tinha o visto, considerando que ela botou várias coisas em cima da mesa nos últimos tempos.

Observo meu pescoço. Algumas marcas ficaram vermelhas e logo ficariam roxas, para minha grande sorte.

Crio um teleporte na parede, mas ela me interrompe antes de eu passá-lo.

– Não acredito que você não acredita em mim – ela diz, encarando-me nos olhos.

– Diga algo em que eu possa acreditar. – digo. Não sei mesmo no que acreditar, na verdade. O julgamento poderá abrir novos horizontes acerca disso.

Ela hesita um pouco.

– Você e Vitor no orfanato – ela diz, por fim.

Sim, fomos no orfanato dela há muitos anos. Nossos pais queriam adotar uma menina. Pequena, tímida, porém abria-se fácil a partir do momento em que começara a falar. Tanto meus pais quanto eu e Vitor gostamos dela, mas meus pais não eram tolos. Não a adotaram dando desculpas horríveis, que mais tarde descobri tratar-se do fato que Diana também tinha características mágicas. Eles queriam adotar uma criança normal, que pudesse passar mais tempo com eles, porque tanto eu como Vitor iríamos embora na adolescência, enquanto uma criança normal partiria com vinte anos ou mais, na melhor das hipóteses para eles.

Eles não a adotaram, optando por pegar uma criança mais nova que eu, Malu. A que eu menos simpatizei, apesar de que com os anos aprendi a gostar dela. Infelizmente Malu ficou muito triste quando tanto eu quanto Vitor partimos, e essa solidão afetou nossos pais.

Passado.

– Isso não prova nada – digo, mergulhando no breu.

Apesar de tal lembrança ter me incomodado, não provava algo de fato. A história de Diana e Liana Luné envolve memórias, memórias que podem ter sido clonadas, roubadas.

Saio no pátio principal. O dia está meio nublado, apesar de estar chovendo fraco quase todo dia, o sol insiste em esconder-se.

Sacolas e sacolas são carregadas de ambos os carros para todos os lados. Roupas.

– Ei Eric – Juan chama, sorrindo de orelha a orelha. – nós somos os segundos a escolher, vem logo.

Subimos as escadas. Acompanho ele na medida do possível, porque várias garotas sobem e descem a escada compulsivamente.

Entro no quarto e a bagunça está espetacular. Penas para todos os lados, roupas para os outros. Alec e Vitor já estão vestindo camisas sociais de cores diferentes. Vitor joga uma azul clara para mim.

Depois do ocorrido, era de se esperar que Alec saísse da inteligência também, mas evitei pensar nisso. Ele nem sequer olhava-me mais. Evitava ao máximo. Lucas também encontrava-se conosco, terminando de vestir seu traje, um smoking preto. Sua expressão parecia radiante.

Troco-me ali mesmo, aderindo à mesma camisa social seguida de um blazer preto. Roupas assim me incomodavam um pouco, no costume de usar jeans e camiseta. Pareciam muito macias. Não sabia o que era pior: usar camisa social com ou sem gravata. Acabo optando por uma camisa social (leia optando por quase matando Juan para conseguir) em que a gola não parecia absurdamente grande ou estúpida, e ficou por assim mesmo.

Saio no corredor onde há tantos vestidos e coisas brilhando que sinto-me em um carnaval. Volto para o quarto na mesma hora.

– Corredor interditado – digo.

– Ahh cara – Juan parece muito entusiasmado – esperei tanto por hoje.

– Viu Diana por ai? – pergunto.

– Deve estar na Libra – ele diz, tentando endireitar a gravata borboleta.

Teleporto até o quarto da libra com as roupas da festa mesmo. Algumas garotas gritam e um sapato me acerta no braço.

– SAI DAQUI – elas gritam.

– Ah, calma – digo, quando elas continuam jogando coisas. – e essa agressividade?

Vejo que uma garota se escondeu atrás das cortinas.

– Quarto feminino? – Lisa diz, aparecendo ao meu lado. Está com as roupas normais, mas ajeita um dos vestidos em um cabide.

– Só queria falar com Diana – digo. Lisa fecha o olhar.

– Ela não está aqui. – ela diz secamente.

Saio do quarto sentindo-me meio culpado por tratar Lisa assim. Logo pedirei desculpas, mas não tenho tido muita cabeça para pensar nesses assuntos, infelizmente.

– Saiu faz alguns minutos Eric – Ana diz antes que eu saia do quarto.

Agradeço ela rapidamente enquanto saio do quarto. Entro no espiritual para procurá-la e logo a encontro caminhando em direção ao bosque do Zodíaco, que interliga a praia sul com a Casa Leste.

Teleporto ao seu lado. Ela se assusta.

– Sério, isso não se faz – ela diz.

– Onde está indo? – pergunto.

– Falar com Elisa e Julius – ela diz – quero ver se eles vão hoje também.

– Pois então – digo, acompanhando-a – você já escolheu uma roupa?

– Sim – ela não me olha, perde o olhar no ambiente, fitando o alto algumas vezes. – só não sei onde é.

– Ótimo, esteja no quarto às oito horas. – digo, parando de acompanhá-la, tornando-me invisível. Ela olha perdida ao redor, e então sorri. Não consigo deixar de sorrir também.


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