Zodíaco escrita por Ágatha


Capítulo 13
Viro a tia dos gatos


Notas iniciais do capítulo

Hayle narrando.



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Passo rapidamente no vestuário, onde volta e meia já reconheço alguns rostos sem nomes. O banheiro feminino é grande, apesar dos chuveiros terem cabines bem pequenas. Algumas garotas se trocam ali, apenas de roupas íntimas, conversando, secando os cabelos, etc.

Tiro as roupas dentro da cabine, tentando em vão virar para olhar minhas costas. Além de doer, não consigo ver perfeitamente, mas o pouco que consigo ver me leva a crer que fui espancada. Não estava sentindo as dores nos hematomas com tanta intensidade antes de Eric tocá-los, então fiz até certo esforço para acreditar que tratava-se de uma dor psicológica.

Algumas garotas viram o hematomas provavelmente quando saí do chuveiro de calcinha. Não há a mínima possibilidade de se trocar ali: suor, muito vapor, lugar apertado. Ninguém oferece ajuda ou demonstram mais preocupação do que seus olhares, os quais nem desviam. Sou uma sensação.

Volto ao quarto vinte e dois e não encontro Eric, mas há alguns garotos que não vira antes. Já fora informada que a únicas garotas do quarto eram Lisa e Amanda, sendo outros membros Juan, Vitor, Eric e... Alec.

– E aí Diana – ele diz. Alec é loiro e tem o corte meio moderno, naquele estilo “topete em cima e raspado dos lados”. Seus olhos são meio tensos, e por alguma razão não consigo acreditar no sorriso que ele direciona para mim.

Está sentado em uma cama com Vitor, o qual me cumprimenta com bons olhos. Vitor é consideravelmente mais alto que Eric, mas não parece desajeitado por isso. É magro e tem seus cabelos da mesma cor que os de Eric, só que muito maiores. Algumas vezes ele amarra, como agora, mas na maioria do tempo está solto por ai. Seus olhos são mais claros que os de Eric também, mas há uma certa semelhança entre eles, nos traços no nariz ou da boca. Os outros dois garotos não os vira até agora no acampamento.

– Oi – digo, seguindo para a cama destinada a mim. Há alguns livros sobre ela, assim como meu celular.

– Está feio esse hematoma aí – ele diz, dando as cartas. Olho para ele. Sinto raiva a principio, mas então percebo que ele olha rapidamente para baixo, como se escondesse os olhos. – uma das garotas do banheiro tem telepatia comigo. Foi mal.

– Foi mesmo – respondo, irritada. Já não bastam as dores.

– Isso acontece aqui Diana. – Vitor fala, calmo, virando-se para me olhar.

– Você vai aprender a ver quem te observa.

Não respondo nada.

– A maioria dos elos telepáticos é entre os dois sexos – Vitor continua, virando um pouco o corpo para não ficar tão de costas para mim. – Helena provavelmente nem teria contado se não estivesse tão feio. Posso procurar alguém se quiser.

– Não precisa – respondo de imediato. Vitor sorri. – tudo bem, sério.

Pego um dos livros, e os garotos voltam a jogar cartas. Meus olhos encontram os do Alec um momento, mas volto a atenção para os livros. Encontro um a respeito da “água e suas propriedades de cura”.

O livro é bem específico, apesar de que algumas partes parecem terem sido escritas por um adolescente, frases do tipo “você precisa acreditar que a cura será realizada”. Trata-se de uma tentativa de equilíbrio entre dois pontos de dois corpos, portanto o contato é necessário. A cura, assim como qualquer magia, cansa de uma maneira diferente. Você ainda pode correr, gritar, mas quando tentar algo de mágico, vai sentir-se esgotado caso tenha abusado do seu espírito recentemente.

Decido por em prática, mas não perto deles. Levanto com o livro em mãos e saio do quarto. A primeira idéia que tenho é ir para o banheiro. Já é noite, o bosque está escuro. Eric não apareceu até então.

Entro no banheiro femino dessa casa e imediatamente mudo de idéia. Está cheio. Saio de lá, descendo as escadas e passando para a casa lilás. Não paro para observar muito a sala principal. Apenas percebo, pelo canto do olho, que há algumas pessoas pelos sofás, e a televisão está ligada.

Subindo as escadas, avisto o banheiro, porém uma sala chama minha atenção, no final do corredor, à direita. A placa indica “enfermaria”. Toco sua maçaneta, checando o corredor. Ninguém.

Abro-a, sem ninguém dentro também, exceto um gato enjaulado. Está deitado, porém abre os olhos lentamente quando me vê. Fecho a porta atrás de mim. Talvez não seja um lugar ruim para treinar.

– Olá – digo a ele. Afinal, trata-se de uma pessoa.

Ele levanta-se vagarosamente, colocando a pequena cabeça entre as grades, em direção aos dois potinhos – ambos sujos, porém vazios. Ele retorna ao canto da jaula, deitando-se.

Puxo o pote mais limpo, que tem alguns resquícios de água, e o coloco em cima do frigobar, enquanto abro-o, puxando água. Encho o potinho e devolvo. A criatura levanta-se, indo em direção ao pote antes mesmo de eu devolve-lo. Ele toma água por um certo tempo, morrendo de sede.

Depois do banho acabei colocando um short para conseguir facilmente alcançar o hematoma da perna sem ter que tirar as calças. Deixo o livro em cima da mesa. O gato me observa atentamente. Abro na última página em que parara de ler, revisando algumas palavras, e então concentro-me, colocando a mão atravessando meu corpo, até as costas. Sinto a pontada de dor por mais leve que tenha sido meu toque. Concentro-me em espalhar a dor, tornando-a mais escassa, já não aguentava mais tamanha dor concentrada em um único ponto.

Quando paro, já estou cansada. Não consigo repetir o processo. Sento-me na cadeira ao meu lado e deixo meus braços caírem sobre a bancada, assim como minha cabeça. Agora todas minhas costas doem, e a dor diminuiu tão fracamente de intensidade que podia considerar o resultado nulo.

Levanto-me. O gato continua encarando-me, é um espectador nato. Abro alguns armários da enfermaria, à procura de remédios, qualquer coisa. Encontro uma caixinha com vários, mas nenhum que eu conheça para a dor. Sabia da existência de algum, pois Eric havia me dado comprimidos, mas não sabia dizer quais.

Volto a sentar-me na mesa, encarando o gato sem nenhum propósito em mente. Só espero que alguém entre e ofereça ajuda para curar minhas dores. O que não acontece, então pego o livro e saio.

Estou com bastante fome, mas a dor a cada passo que dou aumenta, então apenas volto para o quarto, agora vazio, deito nas frias cobertas e durmo, sentindo o corpo tão pesado que não há a menor dificuldade em adormecer.

Está escuro quando acordo, e minha visão está bem turva. Apesar disso, sinto algo deitado sobre minhas pernas, e imagino ser Alex. Levanto minha cabeça lentamente, com muita dificuldade, e enxergo não um gato, mas dois.
O primeiro está deitado ao lado de minha cama. Identifico Alex. A ultima vez que o vira fora quando estava conversando com Vitor e Juan. Alex adaptava-se incrivelmente bem ao novo lugar.

O segundo gato trata-se do mesmo ser alaranjado que deveria estar enjaulado bem longe daqui. Ele dorme entre minhas pernas, sobre as cobertas.
Sinto então meu corpo mais pesado ainda, e apesar do gato não dever, mas estar ali, não consigo resistir o impulso de fechar os olhos e cair no sono outra vez. A última visão que tenho é olhar a cama de Eric vazia.

Acordo novamente de madrugada. Nada de muito estranho, até aí. Costumo acordar várias vezes de madrugada, nunca entendendo o motivo. Nem sequer lembrava de meus sonhos. Felizmente costumo ter sono o suficiente para voltar a dormir cinco segundos depois. Já amanhecia um pouco, e a luz incomodava bastante. Não quis voltar a dormir, apenas ficar deitada fitando o teto.

Eric dorme na cama ao lado pacificamente. Lembro-me então de um estranho sonho, onde tanto Alex quando e o gato enjaulado dormiam em minha cama. Olho então para o lado. Alex ainda está ali, no mesmo lugar, apesar da posição ter mudado.

Levanto-me subitamente quando entendo o que acabara de acontecer. Levanto a blusa já sabendo que não encontrarei nenhum hematoma, porque não sinto dor alguma.

É tão incomum sentir dores que quase não me dou conta que não as sinto mais.


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