Zodíaco escrita por Ágatha


Capítulo 11
A pequena Virgo tem a pior mãe do mundo


Notas iniciais do capítulo

Eric narrando. ♥ o próximo é da Diana, não se preocupem. :(



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A primeira coisa que fiz, apesar de Scorpio ter teoricamente me ajudado a fugir da morte, foi me afastar dele e de todos. Apesar de ser falta de respeito também.

Entro no quarto que está vazio, abro a gaveta de Juan e pego uma pedra vermelha. Sinto imediatamente o seu poder entrando em mim. Como fora enganado por tanto tempo por uma pedra falsa? Nem sequer falsa, mas modificada, feita para me matar, para me enfraquecer? E que quase conseguira, de fato, me levar?

Entro no espiritual com a maior facilidade do mundo. Alice está no quarto da virgem, sentada, sendo ajudada por Lisa. Faz tanto tempo que não via Lisa que pouco pensava nela desde o momento em que a deixamos na casa de Diana. Seus cabelos rosados estavam bem bagunçados, mas ela não parecia ligar. Maga do fogo, ela é uma das poucas que possuem a habilidade de cura tão bem desenvolvida. Alice e ela sempre mantiveram uma relação bem unida, pois chegaram juntas também, com o término da última guerra, há sete anos.

Alice parece estar com raiva. Isso é algo incomum, deixando-me com certo medo.

— Me encontre na antiga cabana dos conclaves – digo a ela espiritualmente. Lisa acaba não me percebendo, focada em curar as queimaduras que marcara o corpo de Alice.

Ela assente rapidamente, e saio.

Há outros problemas para cuidar, infelizmente.

Encontro Diana no quarto do aquário, vinte e dois, com Juan. Ela, apesar de ser muito vaidosa normalmente, ainda não tomara banho, como todos nós. A abraço de qualquer jeito, desconfortável. Nunca fui acostumado ao toque de carinho com ninguém, mesmo que seja Diana. Ela me abraça com muita força.

— Você está bem? – ela pergunta, preocupada, ainda abraçando-me.

— Sim – digo baixinho. Juan me encara. Ele provavelmente sabe o que aconteceu exatamente comigo. – e com você, tudo bem?

— Na medida do possível – ela diz – Juan...

— Já saí – Juan sorri, indo em direção à varanda e saltando. Diana revira os olhos.

— Ando meio perdida. Não que eu esteja cobrando sua atenção – ela diz, se afastando. – mas é sério, muita coisa já aconteceu em tipo, dois dias. Queria explicações.

— Eu também – digo, indo até o armário e trocando de camiseta. Alec queimara a que eu estava nas pontas, assim como meus braços, mas não parei para checá-los melhor ainda. Ardia, mas acabei colocando uma camiseta de mangas maiores para Diana não ver também.

— Hayle – digo.

— Eu realmente estou me acostumando com Diana. – ela me interrompe.

—Certo. Diana – a encaro, pela primeira vez desde que fora envenenada. Seu rosto está visivelmente mais fraco, sua pele um tanto translúcida. O veneno a enfraquecera, mas ao menos não a mataria. – eu sei que não tem sido nenhum conto de fadas. Mas eu realmente tenho que cuidar de algumas coisas.

— Falaram que vai ter um conclave – ela diz, sentando-se na cama mais próxima. Ironicamente é a de Alec. – às quinze horas. O que eu faço até lá?

— Vai ser agora provavelmente – digo, lembrando que tenho que resolver o delicado problema da garota na cabana antes e SE nenhum ancião aparecer lá antes. – Scorpio é um dos anciões, e se ele está aqui o conclave será apressado. – verifico o relógio. Onze horas.

— Então devo ficar aqui até as...

— Treze horas eu volto. Prometo. – Pego alguns livros relacionados à magia que encontro nas estantes e a entrego, dando um beijo em seu rosto e os largando ao seu lado.

Paro uma última vez para olhá-la antes de sair. Ela revira os olhos e começa a mexer nos livros.

Teleporto no corredor. Saio em uma árvore, ao lado da cabana. Nem ao menos me sinto cansado. A pedra em meu bolso é realmente verdadeira.

Alice sai de trás da cabana, com os braços cruzados. Veste um vestido simples azul escuro, que combina com seu tom de pele e seus cabelos. Chuto a porta da cabana com força suficiente só para abri-la, não quebrá-la.

A garota está sentada na mesa, olhando para a porta, para nós, com uma expressão entediada, como se já esperasse por isso totalmente.

— Pensei que nunca iam entrar – ela diz.

Está mais viva, por assim dizer. Sua pele brilha um pouco mais e não há tanto sangue em suas mãos ou em seu corpo, exceto em sua roupa, que permaneceu ensangüentada. Alice permanece na porta, encarando-a.

Olho para Alice. Ela me olha rapidamente, e em seguida volta a encarar a garota.

— Quem é você? – ela pergunta.

— Pensei que me reconheceria Alice – ela diz – Sou Diana.

Apesar das semelhanças, os cabelos eram claramente diferentes de tamanho e um pouco da cor. Até o jeito era diferente. E Alice é bem esperta para perceber essas diferenças.

— Explique-se. – digo, sentando-me na cadeira, de frente para a garota.

Novamente o sentimento de “a conheço” volta, mas ordeno minha mente focar em suas palavras.

“Liana e eu fomos separadas quando crianças. Você sabe que fui adotada, Eric. Liana fora adotada por eles. Eu pude dizer que tive mais sorte por ter uma família. Entretanto, acabei vindo para cá de qualquer jeito. O que aconteceu, entretanto, na noite em que pensei que poderia salvar o acampamento, mudou tudo. Não havia segredo no cofre, uma mentira. Liana, entretanto, guardava o cofre. Quando ela me viu, não soube o que pensar. Disse que ela poderia vir comigo, que nossas Casas a acolheria. Ela concordou, claro. Um engano de minha parte. No momento em que abriu o cofre, clonou todas minhas memórias, era infinitamente mais forte que eu, treinara a vida toda. Levou todo o Poder para vocês, mas me trancou lá dentro. Queria espionar nossa Casa, não juntar-se à nós. E assim se fez, até vocês decidirem que ela devia partir. Jogaram feitiços de memória nela, e tudo se foi, tanto as que ela viu em mim quanto as suas reais. A camuflaram no mundo e nunca a recuperamos, assim como eu nunca conseguira fugir. Até agora.”

Encaro-a.

Sinto... algo. Algo como um fio, telepático. Não. Ah, não. Não com ela. Claro que se trata de uma mentira. Eu conhecia a verdadeira Diana, e tratava-se de uma garota única, ágil, boa. Uma pessoa boa, daquelas que você vê, no fundo de sua alma, que há algo bom ali, algo humano.

Diana? Hayle?— tento uma comunicação com Diana, a que está na Casa, a verdadeira, por assim dizer.

Levanto-me e vou até a porta, mas Alice segura meu braço.

— Eric. – ela diz, apenas.

— Não quero ficar aqui – digo, soltando meu braço – preciso ir ao conclave.

Alice força meu braço novamente.

Você vai contar? - Ela pergunta em minha mente.

Não.

Tire-a daqui se alguém aparecer – digo a Alice. Ela não pretendia ficar com a garota pela expressão que fez. – por favor.

Ela assente, e eu saio.

Eric? – uma voz, como um fraco sino, ecoa em minha mente. Não sei se é real. É tão baixa.

ERIC? Meu deus, como sou idiota. – a voz repete.

Diana? Estou aqui. – respondo.

Ah, ainda bem, porque você me chamou.

Não consigo conter o sorriso. Olho para o céu. Uma fraca, porém constante chuva começa a cair. Preciso me lembrar disso. Diana, Hayle. Ela é imprevisível. Não conseguiria imaginar sua resposta. Fora uma telepatia real.

Transformo-me em uma águia e lanço vôo. Procuro maior movimentação nas casas menores, porém nada encontro. Algo passa por minha cabeça vagamente, apenas uma ideia. Sigo para a Casa Oeste.

Apagada tanto do mapa quando espiritualmente, demoro a achá-la. Passo a ir a pé, porque fora tão bem camuflada que poucos resquícios foram deixados. Encontro uma trilha que sei que leva até ela. Faz muitos anos que não encontro ou piso na Casa Oeste, apesar de tão perto do muro ela estar. Acredito que me acostumara com sua segregação.

E não estava errado.

A estrutura ergue-se em três andares, porém árvores muito mais altas a escondem de tudo. É totalmente rústica. Sua entrada envolve pedras e madeira. Sigo até sua porta, onde uma menina loira, pequena, talvez uns dez anos de idade, aguarda com a porta aberta. Ela sorri para mim. Veste trajes rosas e leves, assim como os da garota que me ajudara no escudo. São muito parecidas, por assim dizer também. Os olhos da garotinha são de um tom esverdeado lindo. Possui certa luz púrpura.

— Pequena Virgo – digo, e ela sorri.

— Prefiro Margo – ela diz numa voz fina e delicada, ainda sorrindo.

Ela me deixa entrar, e encontro-me em uma pequena sala. Há duas portas pesadas diante de mim, as quais a abro, encontrando muitos conhecidos.

Cinco anciões se dispõem em cadeiras maiores. Os demais separam-se entre sofás e cadeiras.

— Você deverá manter silêncio, Eric Jones – Virgo, a mãe, diz. Seus cabelos são loiros, como os da filha, entretanto muito curtos, mais que os meus. Utiliza uma coroa de flores roxas acompanhada de um vestido comprido branco. Assemelha-se a uma deusa grega. Seria uma visão linda, os cinco anciões juntos, se cada um não se vestisse diferente dos demais.

Leo era o mais jovem, pois aparentava ter vinte anos. Mantinha seu espírito jovem fundido com seu corpo de setenta, mas como ele mudava sua forma humana ninguém sabia. Não duvido que os outros também fizessem o mesmo.

Gemini era a mais bela. Aparentava vinte e nove anos. Tinha seus cabelos crespos e compridos, uma pele mulata, porém olhos tristes. Olhos castanhos claros e tristes. Vestia uma mistura de azul com púrpura.

Taurus era o único que não mentia sua idade: setenta anos. Parecia brabo, sério. Entretanto encarava-nos de cabeça erguida.

Scorpio tem suas vestes sofisticadas, e sua aparência não é tão velha, nem tão nova. Tem olhos atentos. Acredito que apesar de conseguirem mudar suas aparências humanas, essas se tratam de suas reais aparências, anos atrás.

— Margozinha, tranque a casa – Leo diz.

— Não gostaria de enrolar nisso – Virgo diz – então espero que tenham números, líderes.

Mirian, a líder da inteligência da Casa do Sul, é a primeira a se manifestar.

— Três mortes, a grande maioria ferida... – Mirian não é muito de falar. Parece abalada com algo, como se custasse para falar isso. – alguns danos, nada fora roubado.

— Nada? – Leo parece surpreso, depois sorri. – humildes.

— Nomes – Scorpio pede.

Mirian deixa uma lágrima cair.

— Alexandra, Erica e Joana – uma garota ao lado de Lisa responde, abraçando-a.

— Vinícius. – Virgo continua, ríspida.

Vini levanta-se. Está sem o típico moletom, seus braços estão muito arranhados, assim como seu relógio.

— Nenhuma morte, perda total da plantação, vários feridos – ele diz, sem emoção, sem ao menos encará-los.

— Vocês costumavam demonstrar mais respeito por nós – Virgo diz, sua expressão tomada pela cólera.

— A partir do momento em que você destrói parte da vida deles, isso tende a diminuir, Virgo – Gemini interrompe, sua expressão incrédula, encarando Virgo.

— Cale-te, ridícula. – Virgo diz rispidamente. – Alec?

— Duas mortes, muitos feridos, um prisioneiro. – Alec diz, encarando os anciões.

— Dois prisioneiros, na verdade – Scorpio o interrompe. Olho para ele. – O outro está na posse de Eric Jones.

“Posse”. Claro.

Alec manda um olhar para mim como se quisesse destruir minha alma.

— Não pense, Alec – Scorpio diz – que ficará impune por suas ações contra Eric hoje. Você perderá a liderança da inteligência a partir de hoje, sendo substituído por Vítor.

Vitor não estava sequer aqui. O líder deve ser acompanhado por uma única outra pessoa da inteligência, e pelo fato de eu ter entrado antes que Vitor, essa pessoa tratava-se de mim. Eu era o sucessor de Alec.

Olho para Scorpio. Está rindo. Alec nada diz. Claro que nada diz. Ele já sabia que isso iria acontecer e provavelmente sua raiva já havia passado. O que brilhava em seu rosto era algo como um sorriso. Havia ganhado mesmo quando saia perdendo.

— Expresse sua raiva, Eric Jones. – Scorpio diz. Taurus ri também.

Claro que estou com raiva, mas apenas rio também.

— Vocês são ótimos mesmo – digo.

Sinto uma pequena planta envolver meu braço ao da cadeira. Ela cresce lentamente. Não paro de sorrir.

— Respeite-nos, mago. – Virgo diz.

Apenas continuo sorrindo.

— Por que não contou a seu líder a respeito de Liana? – Scorpio torna a falar, mexendo em sua gravata borboleta vermelha.

Por quê? — repito, retoricamente, infelizmente em um tom mais alto. As plantas em meu braço se apertam.

Vinicius ergue a mão e sinto o calor da planta incinerando-se em meu braço. A dor incomoda, mas não a deixo transparecer. Vinicius sorri para Virgo, sarcástico.

— Acho que eu estava muito ocupado cuidando dos problemas que vocês nos causaram – continuo – ou talvez sendo atacado pelo meu próprio líder – encaro Alec. Ele estreita o olhar, começando a ficar irritado.

— Não causamos isso, meu querido – Virgo sorri, engolindo todos os desaforos. – nada indica que causamos isso.

— Claro que não – Vinicius intervém – eu apenas enterrei o filho de Pisces hoje porque eu quis. Por que eu esbarrei nele e disse “opa, você não devia estar aqui” e o matei.

— Vocês irão – Leo levanta-se, indo até a mesa central e enchendo uma taça de vinho. – abrir um julgamento para ambos os prisioneiros. Não entraremos mais em seus assuntos.

— Já estamos em guerra – Mirian diz, baixinho.

— Felizmente não estamos, Mirian – Gemini responde. – não ainda.

— Temos um espião também, não temos? – Virgo volta a se manifestar.

— Aparentemente – Taurus resmunga.

— Descubra quem se trata. – Virgo ordena, como se fosse fácil.

— Acho que esqueceram de algo – intervim.

— Ownnnnnnn – Alec diz, fazendo beicinho e sorrindo em seguida.

— Já está decidido, Eric Jones – Gemini responde, dura, apesar de seus olhos serem tristes e doces.

Rio, incrédulo.

— Sou um entre dois que transmutam um dragão no mundo. Estou dentro dos dez magos desse lugar que entram no estado da invisibilidade, e isso inclui vocês cinco. Aí vocês vão ignorar isso e colocar meu irmão porque bem querem.

Levanto-me e vou em direção as portas, onde a pequena Virgo está de plantão. Ela me olha triste.

— Fazemos o certo porque é o certo, Eric Jones – Gemini diz, às minhas costas. – não por ser justo.

— Margo, por favor. – digo baixinho. A garota segura minha mão rapidamente e abre a porta.

Volto para o quarto do aquário, encontrando Vitor conversando com Diana e Juan.

— Parabéns – digo à meu irmão mais velho – você é o novo líder. – Volto dez minutos – digo à Diana, e saio.


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