Devaneios de um coração em pedaços escrita por karoliveira


Capítulo 1
Fase 1: negação




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/660700/chapter/1

Eu havia chorado todas as minhas cotas de lágrimas e uma dor de cabeça dilacerava meu cérebro. Afundei-me no travesseiro e não sei ao certo quando caí no sono. Acordei horas mais tarde com minha mãe batendo à porta.
— Aurora? Vamos jantar filha, você passou o dia inteiro no quarto.
As luzes do quarto estavam apagadas, então pude ver a sua sombra por debaixo da porta. Eu não tinha forças para responder e simplesmente a ignorei. Ela esperou aproximadamente trinta segundos e saiu. Eu queria poupá-la de se preocupar calorosamente comigo e me poupar de ouví-la falar por horas a fio sobre como sabia que o relacionamento simplesmente não daria certo.
E doeu de novo. Ethan havia chegado em minha casa sem mandar uma mensagem ou ligar. Apenas tocou a campainha e disse que precisávamos conversar. Nosso relacionamento estava péssimo? No pior dos estados. Teria salvação? Provavelmente. Mas havia algo diferente, pude notar que ele estava cansado de tentar, já que estávamos nadando e apenas morrendo na praia. No instante em que seus olhos verdes marejados me encararam, senti uma dor de estômago vinda de outro mundo. Ele começou a falar, sobre o caos que estávamos e o quanto não dávamos certo. Não ouvi mais da metade do que ele disse. Não via mais o seu rosto na minha frente. Apenas o borrão que as lágrimas me permitiam ver. E o seu abraço foi o mais dolorido porque ao invés de juntar os meus pedaços, partiu meu coração que cheguei a pensar que nunca ficaria inteiro de novo. Ledo engano. Enquanto somos adolescentes tudo é tão intenso, não é mesmo?
Ethan foi embora e um pedaço dele ficou em mim, cravado. E eu queria mais do que tudo arrancar de mim. Após dez minutos acordada, a dor explodia dentro do meu coração e eu ficava sufocada. E então meu telefone tocou. Era Audrey.
— Você pode, por céus, me contar o que tá acontecendo? Ethan passou por mim derrubando o universo inteiro e disse que não queria conversar. Me con...
— Nós terminamos. — Respondi secamente, assim, cru mesmo. Pude sentir em como essa frase o atingiu, o silêncio do outro lado da linha era esmagador.
— Em dez minutos eu passo aí.
— OK.
Resolvi tomar uma boa ducha. Ao me olhar no espelho, tive dó de mim. Aparentava que eu não dormia havia um mês e que apanhei de um boxeador em cada olho.
Enquanto a água deslizava por meu corpo,senti vontade de sair de mim mesma e me lavar por dentro também. Limpar toda essa dor e tristeza e simplesmente seguir em frente.
Inconscientemente, ou conscientemente, vesti meu jeans e moletom pretos e desci correndo as escadas, batendo a porta do hall pra que ninguém falasse comigo. Audrey já estava lá fora, me esperando. Sem hesitar, corri para abraçá-lo enquanto mais lágrimas escorriam desesperadamente por meu rosto. E aquele abraço era como estar em casa: confortável.
— Desculpa não ter te ligado antes. Eu precisava de um tempo sozinha.
— Todo o tempo que você precisar. Vamos dar uma volta, entra no carro.
Entramos no carro e fomos até o chalé do seu pai na praia. Os pais de Audrey tinham uma hotelaria na praia, então sempre que queríamos, íamos pros chalés conversar, passar a noite e fazer festas. Audrey havia pedido na recepção dois capuccinos e fomos pra varanda. Era noite e a lua deslizava preguiçosamente sobre o mar. Audrey ficou todo o tempo calado, ouvindo minha dor silenciosa. E eu o admirava por me suportar nesses momentos em que tudo que mais queria era ficar longe de mim mesma.
— Eu não consigo ver como chegamos a esse ponto, como não pude ver que nos acomodaríamos e seria dolorido apenas amar. Sabe aquela frase: "só o amor não sustenta relacionamento"? Achei que fosse mito.
— Alguns mitos viram verdades pra nos assombrar. E você me conhece bem, não vou dizer uma única vez para não chorar. Quero mais que você chore e ponha pra fora toda essa dor. Isso não pertence à pequena Aurora que conheci. Você era feliz antes de conhecer Ethan, só precisa reaprender como é ser feliz sem ele ao seu lado.
Sorri de canto. Audrey tinha 22 anos, e era como o irmão mais velho que nunca tive. Por mais que eu quisesse dizer como toda boa teimosa adolescente: "não vou ser feliz sem ele", algo dentro de mim gritava que ele estava certo. E eu iria me reerguer, de degrau em degrau, até perceber que o meu mundo não gira em torno dele.
— Esmaga meu orgulho admitir que você tem razão. Mas é a verdade. Por mais que doa pensar e dizer isso, eu posso ser feliz sem o Ethan. Mas antes eu preciso sofrer, me desintoxicar dele.
Ficamos acordados quase a noite inteira na varanda, bebendo café e então fomos dar uma volta na orla da praia, por volta de cinco horas da manhã. Quando meu telefone toca e o meu coração dispara: era ele, Ethan.
— O que será que ele quer?
— Não sei, atenda.
Com as mãos tremendo, atendi.
— Alô?
— Desculpa te ligar essa hora, mas é que sua mãe me ligou procurando por você. Acredito que não tenha contato à ela, certo? Pelo visto deve ter aproveitado a noite.
Respirei fundo. Não acreditava que ele estava imaginando que passei a noite fora em festa só porque estava solteira.
— Aproveitando uns capuccinos e varada na orla da praia. Até parece que você não me conhece. Enfim, obrigada pelo recado. Eu ligo pra ela.
A linha ficou silenciosa do outro lado e percebi um soluço.
— Porque tem que ser assim, Ethan? — Perguntei, já imaginando a resposta.
— Porque relacionamento nenhum se sustenta só com amor. Precisava ser assim.
E desligou, me deixando com um vazio dolorido e o nascer do sol, naquele dia, não parecia tão bonito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Devaneios de um coração em pedaços" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.