Dente-de-Leão escrita por Lady Mockingjay


Capítulo 1
Capítulo I - Uma visita no meio da madrugada


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem da fic!
Estarei aguardando pelos reviews.
Beijinhos s2



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Apesar de o inverno estar chegando ao fim, o frio intenso ainda feria a pele dos moradores dos Distrito 12. O local, já quase totalmente reconstruído sete semana após o fim da guerra graças ao pesado e tecnológico maquinário vindo da Capital, era destino de centenas de pessoas que retornavam aos seus lares. Afinal, pouco lhes importava se o que encontrariam seria completamente do distrito que conheciam. Eles haviam nascido alí. Haviam crescido alí. E muitos queriam passar o resto de suas vidas alí.

Na região mais periférica do Distrito 12, uma vila formada por casas dispostas dos dois lado de uma única e não muito comprida rua, estava uma dessas pessoas. Já passava da meia noite e, mesmo com as cobertas e com o aquecimento da casa ligado, Katniss Everdeen não se sentia confortável o suficiente para sequer tentar dormir. Cansada de girar em sua cama durante longas e intermináveis horas, ela se distraia assistindo à televisão enquanto prestava atenção no ronco quase inaudível de Buttercup, o gato alaranjado que dormia ao seu lado na cama.

Passar a noite acordada não era um grande problema para ela. Claro que ela sabia que, por não ter dormido, ela ficaria cansada muito mais rapidamente durante e o dia e que, antes do pôr-do-sol, sentiria uma dor de cabeça absurda. O problema, para Katniss, era que essa seria a segunda noite sem dormir: ela já estava cansada e já estava com dor de cabeça. Sabia que precisava descansar, mesmo que fosse por algumas horas. Começando a s sentir entendiada, a jovem olhou através da janela e viu que as luzes na casa de seu vizinho estavam acesas. Decidida a dormir por pelo menos algumas horas, ela se levantou, calçou suas pantufas e vestiu um grosso e longo casaco que lhe permitiria atravessar a rua coberta por uma fina camada de neve sem sentir muito frio.

Friccionando as mãos contra os braços sobre o casaco e a camisola em uma tentativa desesperada de aquecer sua pele enquanto atravessa a curta distância que a separava de seu destino, no outro lado da rua, Katniss caminhou de forma apressada e bateu três vezes com força contra a porta de madeira, esperando ser recebida logo ao mesmo tempo em que limpava a sola de suas pantufas no assoalho de madeira para não sujar o interior da casa com neve. Sentindo seu queixo começar a tremer involuntariamente por causa do frio e sem ser recepcionada, Katniss resolveu testar a porta. Ela não ficou surpresa ao descobrir que estava destrancada. Assim que adentrou a casa, a jovem viu seu dono cambaleando em direção a ela.

-Quem te deu permissão para entrar? – disse ele de uma forma grosseira.

-Você, Haymitch – ela disse enquanto retirava o casaco e o pendurava em um gancho na parede. – Na semana passada. Disse que eu poderia entrar sempre que quisesse. Eu ainda bati na porta por educação. Mas, aparentemente, a bebida te impediu de atender. Se tivesse esperado por você eu teria congelado lá fora.

O homem a olhou com um misto de frieza e surpresa.

-Também estava com saudades, senhorita estressadinha – ele disse com seu tom irônico habitual. – Seja bem vinda.

-Desculpe – Katniss disse, envergonhada. – Eu só estou cansada.

-E, pra sua informação, eu não estou bêbado, viu? – ele disse, dessa vez assumindo um tom de voz como se quisesse defender a própria honra. – Já fazem três dias que eu não coloco uma gota de álcool na boca.

-Verdade? – ela respondeu em tom de desafio. – Então por que está andando torto assim?

-Porque eu estou com sono e eu estava dormindo – ele disse, virando-se e caminhando até a sala. – Sabe, não é que eu não goste das suas visitas. Eu só não esperava que você fosse aparecer no meio da madrugada.

-Posso ir embora, se quiser.

Obviamente, Katniss dissera isso da boca para fora. Ela sabia que Haymitch Abernathy não a expulsaria de sua casa. Tanto sabia que, ao mesmo tempo em que dissera tais palavras, ela o seguia para o interior da casa. Ao chegar à sala, ela sentou-se no sofá ao lado da poltrona em que o homem estava dormindo (sabia disso porque o estofado estava amassado, indicando que alguém o estivera pressionando por horas).

-É uma pena que não esteja bebendo – ela disse. – Eu vim aqui justamente pra isso.

-Sério?

-Não estou conseguindo dormir – Katniss explicou. – É a minha segunda noite acordada.

-Isso explica o seu mau humor – disse Haymitch, levantando-se de sua poltrona e dirigindo-se à cozinha. – Felizmente, você veio ao lugar certo. Espere aqui.

Haymitch não deixo a garota sozinha por muito tempo. Bastaram apenas alguns segundos até que ele retornasse a sala, retirando o lacre de uma garrafa de uísque. Ele entregou-a à jovem antes de se sentar novamente em sua poltrona.

-Bons sonhos – ele disse com um sorriso sarcástico no rosto. – Mas vá com calma. Não quero ficar limpando vômito amanhã de manhã.

Katniss pareceu não ligar nem um pouco para o que ele dissera e, ao levar a garrafa à boca, bebeu um longo gole.

-Sabia que foi assim que eu comecei? – ele disse. – Muitos pesadelos... Não conseguia dormir... Bebia uma coisinha aqui e outra alí na hora de me deitar. E hoje eu me tornei esse ser humano deplorável que você tanto abomina. Nós dois somos mais parecidos um com o outro do que imaginamos, não é?

-Eu não vou virar uma bêbada porca feito você – rebateu Katniss antes de dar mais um gole, mantendo o olhar fixo na lareira. – E eu não te abomino. E gosto de você. Você sabe que te considero como um pai.

Surpreso, Haymitch olhou para ela e pegou a garrafa de suas mãos para beber um gole. Ele a devolveu enquanto dizia:

-Eu deveria agradecer por isso?

-Talvez – Katniss respondeu. – Mas de uma coisa você tem razão. Você é um ser humano deplorável.

***

Um único gole de qualquer bebida que fosse não era mais suficiente para deixar Haymitch Abernathy embriagado. Após anos em um relacionamento íntimo e perigoso com todo e qualquer forma de bebida alcoólica, ele havia desenvolvido uma tolerância absurda de forma que, quando acordou na manhã seguinte, ele não conseguia sentir nenhum dos efeitos da ressaca, uma velha conhecida.

Irritado por ter deixado a janela (o que permitiu que a claridade do novo dia que começava o acordasse), Hhaymitch se levantou da poltrona onde adormecera sentindo uma desconfortável dor na nuca que ele sabia ser decorrente da posição nada ergonômica na qual adormecera. Ele olhou para o sofá e viu Katniss deitada. O braço esquerdo da garota pendia para fora do estofado, chegando próximo ao chão onde uma garrafa de uísque pela metade se encontrava em pé. Ele riu antes de se dirigir para a cozinha e começar a preparar torradas e ovos mexidos para o café da manhã.

No momento em que a torradeira apitou, indicando que as duas primeiras torradas haviam ficado prontas, um som agudo ecoou pela casa. Sabendo do que se tratava, Haymitch correu até a sala de jantar e clicou o botão central do dispositivo em cima da mesa. Instantaneamente, o aparelho projetou uma imagem na tela. Era uma mulher alta, muito bonita e que usava uma peruca verde escura, ao mesmo tempo em que seu rosto estava branco, coberto por toneladas de pó de arroz. Seus cílios continham um brilho prateado e e seus lábios estavam cobertos por um batom rosa de uma tonalidade ofuscante.

-Oi, Effie.

-Oi, Haymitch – disse a mulher de forma muito séria.

Apesar de postura profissional, Haymitch sabia que ela estava feliz em vê-lo. Eram amigos há muitos anos e ele a conhecia muito bem para saber o que significava aquele olhar.

-Como vai? – ele perguntou.

-Bem – ela disse de forma seca, mas sem desmanchar aquele olhar que ele tanto conseguia interpretar. – Estou te ligando a pedido de Plutarch. Peeta será enviado hoje de volta para o Distrito 12.

-Já? – ele perguntou, achando que Effie poderia estar brincando. – Digo... Como ele está? Ele está bem? E a cabeça louca dele? Ele está melhor?

-Está – respondeu Effie. – Quero dizer, ele passou várias semanas aqui. O dr. Aurelius fez algumas maravilhas com ele. Em muitos aspectos, é até impossível dizer que ele sofreu tudo o que aconteceu na Capital. Está praticamente igual àquele Peeta que nós conhecemos. Mas ele ainda está tomando uma quantidade enorme de remédios e os implantes de pele artificial estão custando a se aderirem ao corpo dele. Mas ele está muito bem.

-E quando ele chega?

-O aerodeslizador dele sai agora de manhã – respondeu Effie. – Em duas ou três horas, eu acho. Se tudo ocorrer bem, ele deve chegar aí no começo da tarde. Plutarch quer que você vá se encontrar com ele no hangar em que ele pousar para recebê-lo.

Haymitch, por alguns instantes, achou o pedido estranho.

-Effie, nós dois sabemos que o Peeta já é bem grandinho e sabe andar sozinho pelo Distrito 12 – ele disse. – Eu não vejo problema nenhum em ir buscá-lo. Na verdade, faço isso com prazer. Mas, por quê? O que está acontecendo, Effie?

A mulher, então, engoliu em seco antes de continuar.

-Nessas últimas semanas, ele apresentou muitas melhoras em um espaço de tempo muito curto – ela respondeu. – O dr. Aurelius acha que ele está muito bem... e, de fato, ele está... mas não acredita que ele ainda deva voltar para casa por causa... por causa...

-Por causa da Katniss – Haymitch completou.

-Sim – disse Effie. – O dr. Aurelius não acha que ela pode correr algum perigo na presença dele mas ele teme que a convivência com a Katniss possa retardar um pouco o tratamento e não sabe o quão prejudicial isso pode ser para o tratamento. O dr. Aurelius queria manter ele no hospital por mais umas duas semanas mas, com as melhoras que o Peeta apresentou, não havia mais como segurar ele no hospital e o dr, Aurelius foi obrigado a lhe dar alta. O dr. Aurelius até ofereceu um emprego pro Peeta na Capital pra tentar mantê-lo aqui, mas ele recusou. Disse que quer voltar pra casa.

-Entendo – disse Haymitch. – E ele quer que eu fique de olho no garoto?

-Sim – Effie foi bem direta. – Ele quer que você reporte qualquer coisa que perceber de diferente. Pelo menos pelos próximos dois meses.

-Pode ficar tranquila, Effie – disse Haymitch. – Já estou vigiando a Katniss pra ele. Vigiar o Peeta não vai ser um problema. Na verdade, acho que, se eu pedir, um acaba me ajudando a vigiar o outro. Mas eu fico surpreso com a decisão dele. Sabe, depois de tudo o que aconteceu, se ele quisesse morar na Capital, ele teria um emprego garantido onde quisesse. Mas eu até entendo a decisão dele. Nesse momento, ele deve estar querendo ficar o mais longe possível dessa cidade.

-Fico grata que tenha concordado, Haymitch – ela disse. – Até logo...

-Ei! – ele gritou enquanto ela estava com a mão a meio caminho do botão que colocaria fim àquela conversa. A gente não troca um “oi” sequer faz quase sete semanas e você nem ao menos me pergunta como vão as coisas? Me fala o que está acontecendo com você. Você está bem?

Havia um certo espanto no rosto de Effie. Lentamente, ela recolheu a mão e olhou ao seu redor.

-Estou – ela respondeu, encabulada.

-Só isso? – Haymitch insistiu.

-Bem, eu estou trabalhando no palácio presidencial – disse ela. – Sou a secretária pessoal da presidente Paylor agora. E, como ela e Plutarch estão trabalhando muito juntos, eu acabo fazendo alguns serviços pra ele. Como te telefonar pra falar sobre o bem estar do Peeta.

-Interessante – ele disse. – Não sabia que tinha se tornado tão importante assim. Meus parabéns.

-Obrigada – ela respondeu. – E você? Como vai?

Haymitch deu de ombros.

-Bem – respondeu. – Estou parando de beber. Estava há três dias sem beber. Mas a Katniss veio aqui essa noite e eu bebi uns goles com ela.

-A Katniss? – Effie parecia preocupada. – Ela está bem? Quero dizer... Parabéns! Fico feliz por você mas... Como ela está?

-Só com um pouco de dificuldade pra dormir – ele respondeu. – Nada que uma hora ou outra na floresta não ajude. Sabe, faz um tempinho que ela não vai caçar e acho que ela está precisando se distrair. Vou sugerir isso.

Nesse momento, os dois se mantiveram em silêncio por alguns minutos.

-Eu quero te ver, Haymitch – disse Effie. – Estou com saudades.

-Eu também, Effie – ele respondeu, baixando a cabeça. – Eu também.

-Até logo, Haymitch – disse Effie.

E ele podia jurar que vira uma lágrima no rosto de Effie quando ela apertou o botão do seu dispositivo, colocando fim àquela conversa.


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Notas finais do capítulo

E?
Bom? Ruim?
O que acharam?
Espero voltar o mais rápido possível com o próximo capítulo.
Beijinhos! s2