Há uma semana estávamos nos despedindo. Há uma semana tudo tinha acabado e ainda está um pouco difícil de assimilar tudo que tem acontecido.

Estou sentada no sofá enquanto um noticiário passa na TV. Mas não faço ideia do que esteja passando. Meus pensamentos sempre acabam me levando a última vez em que o vi. "Vê se não some", ele disse antes de me beijar. Como se isso fosse possível. Acho que nem se eu quisesse conseguiria esse feito.

Se bem que aquilo foi apenas um lembrete do que ele sempre me dizia. Algum dia nossa rotina iria mudar e sei que é assim que estamos agora.

Ele quer que eu vá ao 12. Quer que eu vá visitá-lo, mas ainda acho cedo demais para isso. Tudo está muito recente para que eu apareça por lá, mesmo que seja rápido.

Ouço a campainha tocar e sou retirada dos meus devaneios. Passo a mão nos meus cabelos apenas para me certificar de que estão no lugar enquanto me encaminho até a porta. Não lembro de estar esperando alguma visita hoje.

É quando me surpreendo ao abrir a porta e dar de cara com o homem de cabelos loiros em quem estava pensando há pouco. Ele ri ao me ver surpresa, divertindo-se com a situação. Mas não posso esconder que não estava esperando por isso.

- Ei – foi o que eu consegui dizer.

- Surpresa? - indaga ainda com o sorriso nos lábios.

- Eu não... esperava – gaguejo.

- Estava esperando outra pessoa? - ele brinca, mas noto um pouco de receio no seu tom de voz.

- Não, claro que não - me adianto a responder. - Entra.

Ele passa por mim e fecho a porta. Ajudo-o a retirar o seu casaco e o penduro no cabide próximo a porta. Logo sinto suas mãos contornando-me pela cintura num abraço. Seus lábios encontram a curva do meu pescoço e ele deposita um leve beijo ali antes de afrouxar o abraço, permitindo-me que me vire de frente para ele. Contorno seu pescoço com os meus braços e o trago até mim, grudando os nossos lábios. Haymitch volta a me abraçar e aprofunda o beijo, deixando que nossas línguas saboreiem uma a outra. Ele me segura firmemente até interrompermos o beijo.

- Como descobriu o meu endereço? - pergunto e Haymitch reprime uma risada.

- Tenho os meus contatos – ele diz. Percebendo que ainda não considerei sua resposta, prossegue: - Plutarch me falou.

Arqueio as sobrancelhas e assinto com a cabeça.

Haymitch se afasta e caminha até a cozinha.

- Você tem café?

Franzo o cenho.

- Café? - repito. - Você quer café?

- Algum problema?

Sorrio e mordo o canto do lábio. Aponto para uma garrafa térmica em cima da mesa e ele se serve. Cruzo os braços e o observo enquanto toma seu café.

- O que foi? - ele pergunta.

- É estranho não ver você enchendo a cara de álcool - comento e isso o faz rir um pouco.

- Uma hora isso ia acabar acontecendo.

- Ia mesmo? - indago, desconfiada.

- Claro – ele diz. - Você sempre odiou isso.

- E com razão, admita – digo e Haymitch revira os olhos. Ele termina o café e leva a xícara até a pia. - Haymitch – chamo-o. - Não quero parecer grossa, mas... acho que não foi uma boa ideia você ter vindo justo hoje.

Haymitch termina de lavar a xícara e se vira para me fitar, parecendo confuso.

- Por quê?

- É que Peeta vai ser liberado em poucos dias – explico. - Ele vai ser mandado de volta ao Doze e seria melhor que você estivesse lá, como eu pedi, lembra?

- É, eu lembro, eu lembro – diz Haymitch, se aproximando de mim. - Eu estive cuidado da Katniss esses dias e ela está bem. Às vezes fica um pouco aérea, diz que ainda tem pesadelos, mas isso até eu tenho hoje em dia.

- Ainda?

- Os pesadelos não vão embora, Effie – responde. - Mas como ficou sabendo que ele já vai ser liberado?

- Estou acompanhando a recuperação dele – digo. - Foi a forma mais fácil que encontrei de me sentir um pouco "próxima" de vocês.

Haymitch sorri e se aproxima ainda mais. Suas mãos voltam a se acomodar na minha cintura.

- Eu conheço uma forma bem melhor de aproximação, sabia? - murmura no meu ouvido. Ele mordisca a minha orelha e distribui alguns beijos pelo meu pescoço até chegar ao ombro. Então me guia até o sofá, onde sentamos e ele prossegue com os beijos.

- Haymitch – sussurro e ele murmura um "hm" antes de parar. - Como é que vão ficar as coisas agora? Entre... nós - pergunto quando ele volta a me fitar. Seu olhar abaixa e sua mão acaricia a minha perna.

- Daremos um jeito – ele diz. Quando abro a boca para retrucar, prossegue: - Olha, eu posso ficar até quando Peeta for liberado, então eu volto com ele para você não ficar agoniada com o bem-estar deles, tudo bem? Podemos pensar numa solução.

Nossos olhares se encontram e sou tomada pelo medo de nunca mais voltar a vê-lo. Talvez seja tolice da minha parte pensar nisso, já que ele acabou de dizer que pensará numa solução para este problema. Mas continuo com esse receio.

Suspiro e assinto com a cabeça. Então Haymitch se inclina para me beijar. Sua mão alcança o meu rosto e ele inclina um pouco mais seu corpo, deitando-se sobre mim. Acomodo minha cabeça sobre uma almofada e deixo-o encaixar-se entre as minhas pernas. O peso do corpo de Haymitch chega a ser reconfortante e o calor que emana dele me aquece. É como se estivéssemos novamente no prédio dos tributos, no décimo segundo andar, enquanto os garotos treinavam. Tínhamos aquele tempo e espaço apenas para nós, como agora. Mas desta vez não estamos nos escondendo de ninguém. Estamos apenas aproveitando da melhor forma que pudermos.

E bem ali, nos braços de Haymitch, percebo que nunca houve um fim. Nunca houve uma "despedida" de fato. Estamos apenas reorganizando nossas vidas. Mas, desta vez, do jeito certo.