Alto Jequitibá, Zona da Mata mineira.

Corri como se não houvesse ninguém atrás de mim, com fosse fosse uma garota livre.

Mas eu não era.

Meus pais nunca revelaram nada sobre meu passado, mas eu sabia quem eu era. Como eu sabia? Bem, é uma longa história, mas uma "amiga" acabou me contando tudo o que eu precisava saber.

E essa amiga, infelizmente, tornou-se uma inimiga.

É uma longa história que tenho enfrentar, mas é necessário.

O meu nome é Lara, e vocês já devem ter ouvido sobre mim, senão, vão ouvir.

*

Tropecei na Vila das Pedrinhas — chamada assim pelo chão feito de pequenas pedras. — e caí de cara no chão. Eu não podia ter feito aquele deslize, agora ela iria me derrotar. Ela tem que me derrotar, só assim a profecia irá se cumprir.

Uma garota enorme, com quase dois metros de altura, parruda, rosto másculo, pele mais clara que a neve, camiseta negra e olhos sangrentos veio em minha direção. Claro que eu tentei desviar.

Não consegui.

Senti um forte sobre meu rosto, e sabia que não iria durar muito tempo. Tive certeza quando ela começou a falar.

— Você não pertence à esse mundo! — ela disse. — Você tem que ser eliminada.

Outro soco.

As pessoas em volta começaram a nos encarar, mas não fizeram nada para impedir. Era como se elas estivessem... hipnotizadas.

— Você... — mais um soco. — vai... — outro. — morrer! — então ela levantou a mão o mais alto que pôde.

Por alguns milésimos e penosos segundos, lembrei do que minha mãe, jaz falecida, me disse.

Você não pode deixar os outros te machucarem, seja verbalmente ou fisicamente. Você é forte, Lara! Ela dizia. Mais do que imagina. Você pode!

Eu levantei os olhos. Você pode!

Uma grande vulto branco saiu de mim. Não sabia como, mas vi um algo quase transparente empurrar ela para trás.

Tentei, me levantar. Não consegui, permaneci no chão.

Logo o monstro se transformou em um de verdade. Sua pele, de clara ficou escura, pelos brancos cresceram e seus dois dentes da frente quebraram sua boca, fazendo ela parecer um vampiro-lobo-deformado.

Ela se levantou e, com a boca sangrando, disse de uma forma extremamente ameaçadora:

— VOCÊ PEDIU!

Ela avançou contra mim, e senti meu rosto ensaguentado.

O tempo parou por um segundo. Tudo parou.

Olhei em volta, crianças choravam e dezenas de pessoas corriam.

Limpei o suor misturado ao sangue com as mãos e apertei as mãos.

Você pode!

O tempo voltou, e senti um peso nas minhas mãos.

Eu a parei.

A rua já estava vazia, e ela tinha caído com o impulso que dei. Olhei para as minhas mãos, elas tinham ganhado uma cor alaranjada.

Em um toque de segundos, a monstra acordou novamente e veio em minha direção mais uma vez.

Agora, com coragem, segurei sua cara e a soquei bem forte.

Ela desviou e tentou em chutar.

Eu caí.

Meus olhos latejaram, e depois de alguns segundos estava totalmente sarada.

Quando ela veio me bater mais uma vez, desviei e a chutei. Ela caiu.

Tentei levantar.

— Você não conseguir. — ameaçou-me. — Você vai morrer, está escrito! Você não pode mudar a profecia!

Pisquei.

— Profecias foram feitas pra serem cumpridas. —levantei. — Mas minha vida não é uma delas!

A criatura se levantou e deu um grito apavorante. Foi pra cima de mim.

Quando ela deu todo seu impulso, eu desviei. Atrás dela, segurei seu pescoço.

— Já acabou, Jéssica?

Ela gritou mais uma vez, e eu a apertei até cair desmaiada.

Suspirei, finalmente eu tinha derrotado.

Virei para os lados, e alguns polícias apontavam armas para mim.

Eu sabia o que tinha que fazer.