O outro lado da história escrita por Hamélia


Capítulo 4
Bônus| Amélia.


Notas iniciais do capítulo

Resolvi fazer um bônus com um P.O.V da Amélia. Claro, isso não será considerado um capítulo, então...
P.S: Desculpe o atraso >



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Mais uma vez eu me pegava a pensar no Charlie. Na opinião de algumas pessoas, apaixonar-se pelo melhor amigo é algo tão comum quanto respirar. Mas, pra mim, isso é algo horrível.
Conheci Charlie aos oito anos e foi praticamente amor a primeira vista. Claro, mulheres tendem a se apaixonarem mais rápidos já que elas vivem confundindo gentileza com amor, e foi justamente isso que aconteceu. Eu nunca fui de brincar com bonecas, sempre gostei mais de eletrônicos, patins, etc. Um dia quando eu estava brincando de frente de casa, acabei caindo do patins. Charlie me ajudou a levantar e me levou até a casa dele, mesmo eu insistindo que poderia pedir a minha mãe para fazer um curativo. Lá, conheci a mãe dele, Sra.Rounstlen, ou tia Rose como prefere que eu a chame.
Depois disso, todos os dias Charlie vinha até minha casa me convidar para brincar. No começo eu até achava que ele era gay, mas depois acabei descobrindo que ele era apenas muito carinhoso. Após alguns meses eu acabei admitindo que realmente estava apaixonada pelo Charlie. Claro, mesmo sendo tímida eu sempre tentava demonstrar o que sentia ou admitir que era apaixonada por ele mas nunca dava certo.
Teve até uma vez em que estava chovendo e ambos estávamos encharcados tentando atravessar a rua. Charlie pegou na minha mão, e ficou alguns segundos me encarando eu achei que seria o momento perfeito para contar a ele, mas ele me interrompeu e disse "Acho melhor segurar sua mão pra você são ser atropelada, do jeito que você é distraída." e logo após sorriu. Claro, eu deveria ter disfarçado e lançado um sorriso também, mas com 10 anos eu ainda não raciocinava direito. Eu bati nele com minha mochila e o xinguei, indo embora logo em seguida.
Hoje em dia eu nem penso mais em me declarar para Charlie. Claro, depois de tantas tentativas falhas o melhor a se fazer seria isso.
–Olha só! Mais uma vez a Sra está perdida no mundo da lua - Charlie fala dando um meio sorriso enquanto coloca ambas as mãos nos bolsos de sua calça - Gostaria muito de saber o que se passa nessa cabecinha.
–Estou planejando um jeito de te matar enquanto você dorme - Respondo com um sorriso tentando passar medo, mas acabei falhando fazendo Charlie rir mais de mim - Por que você nunca leva a sério o que eu falo?
–Por que não tem como te levar a sério. Essa sua expressão de doida acaba fazendo com que tudo que você diga seja engraçado, sabe? - Respondeu enquanto vinha sentar-se ao meu lado.
–Aah, minha tia vai há uma festa de casamento. Ela disse que eu poderia te chamar... Claro, só que teríamos que ir acompanhados... - Estava muito na cara que eu estava tentando chamar o Charlie para me acompanhar. Estou torcendo para que meu tom de voz não pareça desesperado.
–Serio? - Ele parecia feliz de mais com tudo isso. Será que ele estava pensando em me convidar ou...? Logo ele fez aquela velha expressão que sempre fez quando tinha uma ideia - Essa é a minha chance!
–...Chance? - Questionei um pouco confusa.
–Sim! Podemos levar acompanhantes e quem sabe se eu mencionar o fato de sua tia ser rica, Carinna aceite ir comigo - Charlie respondeu com um enorme sorriso no rosto. Eu detestava isso. Toda vez que ele falava da Carinna era impossível ele não sorrir, fora o jeito que seus olhos brilhavam. Por que ele não podia sentir isso por mim? Sabe, sempre estive ao lado dele a vida toda, sempre estive escutando seus desabafos assim como ele sempre esteve escutando os meus, então por que ele simplesmente não poderia notar tudo isso?!
–Você só pode estar brincando - Sussurrei para mim mesma enquanto dava um sorriso amargo. Eu deveria deixar claro logo o que eu sentia. Talvez, quando éramos crianças, Charlie fosse imaturo de mais para entender o que eu sentia. Talvez ele pudesse notar agora, só talvez. Abri minha boca para falar mas fui interrompida quando escutei a música Drag Me Down, que era o toque do celular do Charlie.
–Com licença, Amélia - Charlie falou e logo atendeu a chamada. Depois de uns 5 segundos, ele me passou o celular - É o seu pai.
–Meu pai? - Perguntei e Charlie assentiu. Peguei o celular e logo pude ouvir a voz desesperada do meu pai - Pai, o que houve?
–Filha? Graças a Deus que você está bem! Estou te ligando à horas, onde está?
–Estou aqui de frente à escola com Charlie. O que houve?
–Sua mãe sentiu algumas dores hoje no trabalho, ela achou que não fosse nada muito importante. Horas depois as dores ficaram mais fortes. Alguns colegas de trabalho à levaram para o hospital e eu fui logo em seguida. Quando cheguei lá fiquei ao lado dela na sala do Dr e ele disse que essas dores já eram previstas para acontecer, já que ela resolveu não fazer o tratamento. Ela lhe falou algo sobre a doença? - Ele parou um pouco e aproveitei para responder.
–D-doença? Como assim, que doença? Ela não me falou nada! - Ele não respondeu então perguntei - Pai, que doença?! Responde logo!
–Câncer, ela está com câncer. Foi diagnosticada com câncer a uns 2 meses, os médicos disseram que ainda estava no começo então ela imaginou que fosse apenas um alarme falso. Sabe como sua mãe é teimosa - Pude o escutar dando uma risada que não durou muito. Então era por isso que ela sentia tantas dores - Ele falou que não tem mais cura. Ele havia avisado a sua mãe que ela deveria logo fazer o tratamento mas ela não ligou alegando que já havia vivido tempo de mais.
–Mas ela só tem 42 anos! - Exclamei um pouco exaltado. Ela não havia me contado nada. Não que eu tivesse uma relação muito boa com a minha mãe, mas ela sempre se recusava a contar seus problemas para mim. Era sempre a mesma coisa.
–Eu sei, sabe como sua mãe é complicada...- Escutei ele fungando e logo em seguida voltou e falar - O médico disse que no máximo ela tem 2 semanas de vida. Se ela houvesse contado antes ou tivesse feito o tratamento até poderia haver um jeito, mas... Ela nós enganou direitinho, não foi? Com essa história de 'gripe' e 'virose'.
–Duas semanas? - Não queria ter que falar isso. Claro, eu não deveria, mas o ódio dentro de mim era maior. Minha mãe nunca confiou em mim para contar as coisas, mesmo que sempre eu tentasse ela nunca contava - Isso ainda é muito. Ela deveria morrer logo.
E assim, desliguei o celular. Eu sabia que mais tarde sentiria o peso das palavras. Que sentiria o gosto amargo delas, mas não importava, nada importava no momento.
Lancei o celular de Charlie contra o chão e logo pude ver sua expressão surpresa.
–Você está louca?! - Charlie gritou mas logo que me olhou sua expressão amenizou um pouco. Não entendi direito o porque, ele deveria estar gritando comigo, mas assim que coloquei a mão em minha bochecha pude entender o por que. Eu estava chorando. Por dentro eu não estava sentindo mais nada, o ódio havia ido embora, mas por fora litros de lágrimas saiam dos meus olhos - Ammy, o que houve?
–Nada, deixa pra lá. Eu te dou meu celular em troca, desculpa por ter feito isso. Droga, já devo estar atrasada pra aula.
–Eu não tenho aula hoje, não lembra? A apresentação - Quase todos da sala de Charlie faziam teatro, menos ele -Posso ficar com você hoje. Vamos pra casa, lá você me conta o que foi e...
–Não, Charlie, eu tenho que ir pra sala. E você tem coisas mais importantes pra fazer. Tipo convidar a Carinna pro casamento, tenho certeza que ela vai adorar te fazer companhia - respondi enxugando fortemente as lágrimas que ainda caiam dos meus olhos e fui embora correndo antes que Charlie respondesse. Não queria preocupá-lo, ele já tinha o casamento pra se preocupar.
Corri pelos corredores da escola e assim que estava perto da sala senti as lágrimas vindo novamente. Abaixei o roto e enxuguei-as com a blusa só que assim que levantei o rosto bati contra Henry. Eu não queria me explicar pra ele, não queria dizer o por que de estar chorando ou o que havia acontecido. Só queria acordar de tudo isso e perceber que essa droga toda não passou de um simples pesadelo.


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Notas finais do capítulo

Até domingo ^-^