A prometida do rei escrita por Vindalf


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Um acidente acontece e um segredo é revelado



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Bena mal podia conter sua animação sobre a visita às cozinhas. Sua paixão por cozinhar rivalizava com a paixão de qualquer hobbit por comida, e Bena podia dizer que aquela era a primeira vez que ela realmente estava animada com uma visita em Erebor por outra razão que não ficar ao lado do rei.

Ela não se decepcionou. Ajudou o fato de que o anão encarregado das cozinhas era um dos 13 da jornada. O nome dele era Bombur, e ele era um sujeito alegre e redondo de cabelos vermelhos muito vivos que era muito amigo de Bilbo. Ele parecia extremamente feliz em mostrar as cozinhas, e como tudo funcionava por lá. Na opinião dele, embora anões gostassem de comida, nem todos de seu povo apreciavam a arte requintada de cozinhar. Não como hobbits, garantiu.

Na verdade, os únicos hobbits animados com as cozinhas eram Bilbo e Bena. Lobélia, de braços dados com o rei, tentava prestar atenção às orientações da Lady Dís sobre suas futuras responsabilidades. Bena reparou nos esforços da prima para dar uma boa impressão a seus futuros súditos, mas a verdade era que ela gostava mais de joias e modas do que cozinha.

Lady Dís estava obviamente entretida com alguma coisa, algo que Bena não conseguiu perceber. Rei Thorin estava se deliciando com o deleite de Bilbo e Bena com o passeio. Eventualmente Dís ignorou Lobélia e virou-se apenas para Bena e Bilbo para mostrar as cozinhas. Fíli e Kíli tentavam roubar doces, e Dwalin parecia pensar... Bem, quem poderia saber o que o anão estava pensando? Ele só tinha cara de estar furioso o tempo todo!...

Ao fim da visita, o grupo se dividiu: Bilbo continuou falando com Bombur, o rei e Lady Dís voltaram ao trabalho, Fíli e Kíli convidaram a prometida do rei para vê-los treinar com Dwalin, e Bena foi à biblioteca buscar alguns livros sobre culinária anã.

Ori ficou animadíssimo em ter pedidos, e Bena levou alguns livros para os aposentos. Então Bena se deu conta que ela nunca vira antes o tipo de neve que Erebor tinha no momento. Por isso, ela resolveu ir até lá fora — só que desta vez ela foi com o casaco de Lobélia, aquele que o rei dera de presente, pois era mais apropriado para aquele clima.

Bena estava ficando cada vez melhor em se mexer pela montanha. Ao caminhar rumo ao portão principal, ela ouviu pessoas fofocando sobre “a garota-hobbit de Sua Majestade”, e o lindo casal que eles seriam no casamento. Ninguém deu atenção a Bena: era como se ela fosse invisível. Assim, ela podia ouvir a real animação do povo com o casamento de seu rei.

Quando Bena ultrapassou o portão principal, seus sentidos captaram várias coisas ao mesmo tempo. A primeira foi o vento frio, tão gelado que ela optou por levantar o capuz do casaco de Lobélia. A segunda foi a brancura da vasta imensidão à sua frente, misturada ao tom cinzento do céu. A terceira coisa que encontrou seus sentidos foi um sentimento que o frio e o cinza passariam a fazer parte da sua vida, qualquer que fosse a estação. Ela jamais poderia agir a respeito de seus sentimentos sobre o rei; e se ela fosse realmente esperta, ela não teria sentimentos por ele, em primeiro lugar. Mas, infelizmente, seu coração se recusava a ser governado.

Ainda assim, Bena estava contente. Ela conseguiu ficar algum tempo com o rei, e ele parecia feliz. Tudo que Bena podia desejar era que Lobélia o fizesse feliz. Até onde Bena observara, ele certamente parecia assim quando estava perto de sua linda prometida. E isso era uma grande fonte de dor para Bena.

A moça não percebeu quando as lágrimas começaram a cair. Mas havia dor, dor física, também. Seu peito estava apertado, o ar estava rarefeito, de sua boca saíam nuvens de vapor enquanto ela chorava.

Como ela podia ser tão jovem se tinha sentimentos tão antigos? Bena era uma garota jovem mas madura, e naquele momento ela se sentia ainda mais velha que o centenário rei anão, arrastando a pesada carga de um amor não correspondido.

Poderia ela amar de novo algum dia? De algum jeito, ela duvidava que sim, porque a dor a fazia se sentir quebrada para sempre, incapaz de algum dia se sentir inteira de novo. Por que os Valar seriam são cruéis ao ponto de despertar nela um desejo tão feroz que jamais poderia se arrefecer?

Quando tio Bilbo contara as histórias da jornada, Bena imaginou o rei anão como um sujeito altivo, velho e rabugento, extremamente consciente de sua própria importância. Ao chegar a Erebor, ela imaginava que ele fosse um velho entediante. Não que fosse um anão majestoso de traços físicos atraentes, cabelo imponente e uma voz poderosa e aveludada para combinar com os olhos impossivelmente azuis e sorriso charmoso que fazia seu estômago se alvoroçar como se um milhão de borboletas vivessem dentro dele e seu sangue ferver ao ponto de suas faces se tornarem vermelho carmim.

E outras partes de seu corpo também reagiam ao rei. Era vergonhoso e embaraçoso, totalmente impróprio e indigno de respeito. Oh, se seu tio soubesse de seus pensamentos pecaminosos, ele ficaria tão envergonhado! Mas Tio Bilbo jamais saberia, ela pensou, porque ela não cometeria nenhum desses pecados a não ser com o Rei Thorin. Portanto, era uma causa perdida.

Nem todo hobbit acreditava em ter um Único, a alma gêmea, aquela pessoa especial capaz de completar todas as lacunas da alma de uma pessoa. Bena não acreditava naquilo, mas ela acreditava no amor. Na verdade, ela acreditava num amor tão profundo e devastador que era capaz de deixar marcas permanentes na alma de uma pessoa, marcas tão profundas que aquela pessoa jamais seria capaz de amar novamente. Ela acreditava que seu amor por Thorin fosse desse tipo de amor. Portanto, logicamente, Bena estava destinada a jamais encontrar alguém para si.

Uma das coisas que mais doía em Bena era a solidão que ela sentia. Enquanto crescia, ela tinha o hábito de dividir tudo com seu tio, até mesmo coisas sobre rapazes. Todas as alegrias, todas as preocupações, todas as suas dúvidas e problemas – Bena sempre contava com Bilbo e sabia que ele estaria a seu lado, como um pai verdadeiro. Ela o amava muito por isso.

Mas a dor agridoce do amor que ela sentia pelo rei era um segredo que ela teria que disfarçar por toda a sua existência. Se Bilbo descobrisse os sentimentos de Bena, isso o magoaria, e isso a magoaria. A tragédia era que não havia nada que qualquer um deles pudesse fazer. Bena teria que seguir com sua vida, incapaz de dizer a uma única alma sobre a grande mágoa em seu coração.

Bena sentia total desespero. A situação toda estava mergulhada em política, e também havia os sentimentos de Lobélia a se considerar. Claro que Lobélia não estava apaixonada pelo Rei Thorin, mas ela concordara em se casar com ele e fora a escolhida para consolidar a aliança política entre Erebor e o Shire.

Se ao menos Bena conseguisse secar suas lágrimas...

Bom, ela ia ter uma vida toda para conseguir.

Devia haver algum jeito de deter aqueles pensamentos tão depressivos, pensou Bena. Talvez ela devesse pensar que as coisas poderiam ser piores. Pior que isso, por exemplo, seria se ela concordasse em se casar com algum rapaz Brandybuck achando que aquele sentimento era amor. Não, aquilo não chegava nem perto do que ela sentia pelo rei. Chamar aquilo de amor seria chamar um caldo leve de banquete. E ela jamais teria conhecido amor verdadeiro, daqueles capazes de mudar uma vida inteira.

Perdida nos exatos pensamentos que tentava evitar, Bena não percebeu a chegada do soldado. Ouviu a voz fina.

— Senhorita hobbit?

Bena ficou surpresa ao ver uma jovem vestida num uniforme militar. Ela se dirigiu à outra timidamente.

— Sim?

— Deve se dirigir o quanto antes à enfermaria, senhora. Houve um acidente com alguém de sua família.

O coração de Bena quase parou ao ouvir aquilo. Ela indagou:

— Quem? O que...?

— Desculpe, minha senhora, eu não sei. Eles esperam a senhora.

A cabeça dela fervia de possibilidades enquanto ela corria pela montanha. Instintivamente Bena foi aos aposentos que dividia com Bilbo e Lobélia. Ela abriu a porta tão rapidamente que nem tinha tirado o casaco pesado, com capuz e tudo, ao inspecionar o local. O quarto de Lobélia estava vazio, o de Bilbo também. Bena não sabia se isso era bom ou ruim.

Bena estava tão assustada que tremia de cima a baixo. Ela lembrava que a moça-soldado dissera que eles a esperavam na enfermaria. Foi nesse momento que Bena foi surpreendida quando um anão alto invadiu o local, exigindo:

— Lobélia...! Onde ela está? Por favor, Mahal, por favor, que ela esteja intocada!

Era o Rei Thorin, e ele parecia atordoado como Bens jamais o vira. Ele a ignorou totalmente e foi para os quartos. Inspecionou todos e só então se virou para a moça. Ele estava prestes a dizer algo quando seus olhos deram de cara com Bena. Ele pareceu surpreso ao vê-la, como se esperasse ver outra pessoa. Será que ele vira o casaco e imaginara que aquela era Lobélia?

Os olhos do rei percorreram o corpo dela de cima a baixo, como se o inspecionasse. Ele suspirou baixinho e explicou:

— Eu pensei... Disseram que houve um acidente...

Bena tirou o casaco, trêmula, explicando:

— Só o que eu sei é que um hobbit se feriu... Sabe quem?

— Não... — Ele parecia bem confuso. — Pensei... Achei que talvez...

Bena estava tão angustiada que mal prestou atenção ao rei:

— Disseram-me para ir até a enfermaria. Mas não sei onde fica...

Só então o Rei Thorin pareceu dispersar sua confusão mental, oferecendo:

— Por favor, venha comigo.

A enfermaria não era tão perto dos aposentos, então Bena seguiu Sua Majestade até o local. Lá dentro ela viu Bilbo, sentado numa cadeira, olhos presos a uma pessoa desacordada numa cama.

Era Lobélia.

Bilbo parecia pálido e abatido, a mão na testa da moça adormecida. Bena correu a abraçá-lo, aliviada:

— Oh, titio...! Você está bem!

O hobbit sorriu:

— Estou ótimo, minha menina. Sua prima é que precisa de ajuda.

— Mas o que aconteceu?

Uma voz diferente disse:

— A culpa é nossa! Desculpe! Sentimos muito!

Foi quando Bena notou Kíli e Fíli parados de pé, ambos pálidos e angustiados. Bena pediu:

— Digam-me o que aconteceu.

Fíli respondeu:

— Estávamos lutando, e a Srta. Lobélia finalmente concordou em se juntar a nós. Ficamos tão animados!

Kíli acrescentou:

— Tudo ia muito bem, mas então ela caiu e rolou para o paredão de pedra. Ela bateu a cabeça e não acordou mais.

Bena estava horrorizada:

— Pelo amor da Verde Senhora!... E como está ela? Ela não está... está?

Bilbo apressou-se em garantir:

— Oh, não, querida, claro que não. Óin a examinou e disse que ela ficará bem. Só temos que monitorá-la por causa do risco de febre. Mas fora isso ela está fora de perigo.

Uma onda de alívio inundou Bena, tão profunda que ela abraçou o tio e tentou em vão evitar as lágrimas, exclamando:

— Graças a Eru...!

Bilbo deu tapinhas nas costas de Bena para acalmá-la, como se ela ainda fosse uma garotinha. Então se ouviu a voz baixa do Rei Thorin, uma que fez Bena tremer de medo:

— Não é só a Srta. Verbena que deve estar agradecendo aos deuses.

Bena levou um susto ao ouvir a voz do rei soar tão furiosa e ameaçadora. Ela estava tão desesperada por causa de Lobélia que se esquecera completamente da presença dele.

A raiva dele era dirigida aos príncipes. Ambos estavam envergonhados e tremiam a cada palavra de seu tio. E ele não estava disposto a economizar palavras:

— Como vocês puderam deixar algo assim acontecer? Essa é a prima de Bilbo! Ele é nosso hóspede ilustre e um herói, sem mencionar que ele é nosso amigo! E a Srta. Lobélia é minha prometida!

Fíli tentou dizer:

— Thorin, desculpe, sentimos mui...

Ele interrompeu seu herdeiro com um rosnado:

— É melhor mesmo estarem arrependidos, mas estarão bem mais quando sua mãe souber disso. — Por mais incrível que parecesse, Bena viu os dois príncipes empalidecerem ainda mais. — Se vocês agirem como crianças irresponsáveis, serão tratados de acordo!

Kíli prometeu, quase em lágrimas:

— Ficaremos aqui com nossa futura tia! Dia e noite! Não sairemos do lado dela! Sentimos tanto! Por favor, nos perdoem! Todos vocês, por favor, perdão!

Rei Thorin ainda estava espumando, e Bena lembrou-se do que Bilbo contava sobre os momentos de ira do rei. Ela calculou que o rei continuaria sua bronca, mas Bilbo se dirigiu a ele:

— Thorin, é óbvio que os rapazes estão arrependidos pelo que aconteceu, mesmo que tenha sido um acidente e, por consequência, sem culpados.

Rei Thorin insistiu:

— Eles precisam se responsabilizar.

— Se eles visitarem Lobélia enquanto eu tomo conta dela, estará tudo bem.

Fíli concordou:

— Sim, sim, claro.

Kíli garantiu:

— Nós viremos!

Thorin lembrou:

— E não tentem dispensar os outros deveres.

Bilbo sorriu, dizendo:

— Então está decidido.

— Só tem um detalhe — disse Bena. — Eu é que vou tomar conta dela, titio. Eu não vou sair do lado dela.

Bilbo tentou argumentar:

— Minha querida menina, eu sou perfeitamente capaz de -

Ela interrompeu:

— É claro que o senhor é capaz, titio querido. Mas eu acho que Lobélia ficará bem mais confortável se for cuidada por outra senhora, se é que o senhor me entende.

Todos os homens ficaram visivelmente desconfortáveis, e Bena sabia que seu argumento os tinha convencido.

Thorin indagou polidamente:

— Srta. Verbena, a senhorita ficaria incomodada se eu ficasse um pouco com sua prima?

A gentileza e cuidado na voz do rei foram um tapa de amor não correspondido no rosto de Bena. Ela reuniu toda gentileza que pôde para responder, com sinceridade:

— Claro que não incomoda, Majestade. Esteja à vontade para ficar o quanto quiser.

Assim ficou resolvido. Uma cama extra foi levada para lá, mas Bena praticamente não a usava. Ela estava sempre ao lado de Lobélia, cuidando da prima ou ajudando Óin a cuidar dela. Às vezes o rei estava na enfermaria, essas vezes eram tantas que Balin improvisou uma escrivaninha para que ele pudesse acompanhar a papelada. Bena descobriu que era difícil se concentrar em Lobélia quando o rei estava tão perto dela, no quarto, trabalhando

Dois dias inteiros se passaram sem melhora visível na saúde de Lobélia. Os hobbits começaram a ficar inquietos. Angustiada, Bena indagou a Mestre Óin:

— Por que ela não acorda?

— Ela bateu a cabeça na pedra — explicou o velho curador. — O corpo dela precisa de tempo para absorver o trauma. O corpo de um anão faria isso sem complicações, mas hobbits são mais frágeis.

— Tem certeza de que ela está bem?

— Acho que sim, mocinha. Mas só saberemos com certeza quando ela acordar. Talvez não demore, né?

O velho anão pegou o braço dela em solidariedade e saiu, deixando-a com a paciente acamada e com o rei, que estava do outro lado do quarto, claramente absorvido em seu trabalho.

Os nervos de Bena estavam em frangalhos. Ela tinha que aparentar bom humor na frente de tio Bilbo, mas a verdade era que toda aquela espera a desgastava por dentro.

Ela reassumiu sua posição ao lado de Lobélia, mas agora ela tremia. Bena estava cansada, estava com medo, ela se sentia sozinha e ela tinha tantas saudades do Shire!...O que eles faziam tão longe de casa? Por que ela chorava por um amor que nunca se concretizaria?

Lágrimas caíram em silêncio de seus olhos, o peito contraído de medo, dúvidas e frustração. Bena não conseguia conter suas emoções naquele momento, então resolveu apenas chorar em silêncio.

— Não se preocupe, por favor. — Bena ouviu a preocupação na voz do rei. — Srta. Lobélia vai ficar ótima, pode acreditar.

Um sentimento irado, avermelhado, emergiu de repente do peito de Bena, e ela respondeu, quase rosnando:

— Bem, é melhor mesmo o senhor esperar que ela fique boa, Majestade, já que tudo isso é sua culpa!...

O monarca quase deu um pulo de tão surpreso com a reação da moça. Na verdade, a própria Bena também estava surpresa com a raiva pura concentrada na própria voz. Os olhos azuis majestosos do rei estavam arregalados, e ele repetiu, admirado:

Minha culpa...?

Bena sibilou, o rosto crispado pela ira:

— Nada disso teria acontecido se o senhor não tivesse desejado uma noiva do Shire. O Thain jamais teria nos mandado, Lobélia nunca teria vindo a Erebor e ela nunca teria caído e machucado a cabeça!

O rosto do rei se fechou como se fosse o céu antes de uma tempestade e ele lembrou, cerrando os dentes:

— Eu não mandei ninguém vir até Erebor.

— Vossa Majestade deve estar trancado nesta sua Montanha Solitária tempo demais se acredita que a oferta de um rei é interpretada como outra coisa que não uma ordem. Recusar a ordem de um rei geralmente resulta em guerra, morte e destruição!

— Eu jamais faria imposições sobre isso.

— E quem seria tolo para desafiar os desejos de um rei?

O rosto de Thorin estava ainda mais fechado. Ele rosnou:

— A senhorita fala como se eu tivesse alguma opção nesse assunto, como se alguma coisa disso está acontecendo meramente por meu capricho.

— E como pode não ser por seu capricho?

O rei pausou de repente, encarando-a com intensidade. Então, desfazendo-se de sua ira instantaneamente, ele se deu conta e comentou, admirado:

— Você não sabe. Bilbo não contou a você... Ninguém lhe disse...!

— Ninguém me disse o quê?

Ele suspirou e explicou, com um ar cansado:

— Este acordo de comércio é nossa melhor chance de sobrevivência. Você viu como nossos invernos aqui no norte são rigorosos e inclementes. O solo ainda sofre com o estrago feito pelo dragão. Sem comida suficiente, sofremos, muitos caem doentes, especialmente os idosos e as crianças. E no último inverno... perdemos alguns do nosso povo. Eram crianças.

O coração de Bena se afligiu por aquele homem, tão importante, tão poderoso, mas ainda assim incapaz de salvar sua gente da fome. Em segundos, a situação toda entrou em outra perspectiva.

O rei prosseguiu, agora parecendo fraco e abatido, a voz imponente reduzida a uma súplica:

— Esse acordo é de extrema importância, entende. Precisava ser selado com um contrato de compromisso mais que permanente. Nada é mais permanente que um casamento. E pela sua importância, teria que ser eu, ninguém mais serviria. Eu... Não havia escolha. Não para mim.

Fez-se uma pausa, enquanto Bena tentava absorver todas aquelas informações e seus desdobramentos. Distraidamente, ela começou a dizer:

— Eu... Eu não sabia...

Bena o encarou, seu coração cheio de dó pelo poderoso rei, tão desesperado para salvar seu povo que iria sacrificar sua vida pessoal. Só naquele momento Bena pôde apreciar por completo a sinceridade em suas palavras semanas atrás, quando o rei agradeceu a moça por levar seus sentimentos em consideração. Ele jamais esperara tamanha consideração de estranhos. O Rei Thorin deu um sorriso triste e continuou:

— Eu deveria saber que Bilbo a pouparia deste conhecimento terrível. Mestre Baggins é muito cuidadoso.

Bena se sentia horrível e envergonhada. Ela suplicou:

— Por favor, me desculpe, Majestade. Eu só...

Ele a interrompeu, abanando uma mão na direção dela de maneira compreensiva.

— Só está preocupada com sua prima, eu entendo.

Bena esclareceu:

— Eu quis dizer que sinto muito por não ter escolha. As pessoas devem ter direito de decidir como querem seu próprio casamento, não acha?

Rei Thorin deu de ombros, dizendo:

— Talvez num mundo ideal. Ou talvez seja uma dessas coisas sobre as quais os reis não tenham poder.

Bena confessou:

— Eu realmente gostaria de poder ajudar.

— Na verdade, você já ajudou — ele garantiu. — Seu povo salvou o meu. Quando vocês vieram, trouxeram comida e produtos que ajudaram toda a montanha. Neste inverno, ninguém passará fome.


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Notas finais do capítulo

A SEGUIR: E um outro segredo é revelado



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