A prometida do rei escrita por Vindalf


Capítulo 17
Capítulo 17




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Lobélia estava cheia de razão, pois Bena estava tão agitada com a chegada do seu presente que mal conseguiu dormir naquela noite. De manhã, a caravana chegou, causando grande comoção em toda montanha.

Bilbo foi buscar o rei e Balin. Quando Thorin chegou ao portão principal, ficou muito surpreso ao ver um total de duas dúzias de carroças abarrotadas de comida.

— O que é isso, meu amor? — ele indagou. — Está preocupada que possa faltar comida no nosso casamento?

Bena mal podia se conter ao responder:

— Meu noivo, estou confiante que a comida para nosso casamento está assegurada em quantidade suficiente. Mas pelo que pude entender, em grandes ocasiões, reis oferecem grandes presentes a seus súditos. Ouvi falar que uma moeda comemorativa está sendo cunhada para a ocasião.

— Aye, isso é verdade.

— E embora eu tenha certeza de que seus súditos vão gostar do dinheiro, também tenho certeza de que vão gostar mais de encher as barrigas. Então pedi a tio Bilbo para me ajudar, e aqui está: comida bastante para dar a cada família meio bezerro, um barril de cerveja e uma arroba de farinha. É um presente por ocasião do casamento de seu rei. Na verdade, meu amor, este é o terceiro presente de noivado para você. O presente deve representar você ou aquilo que preza, e o que vejo em você, Thorin, é um rei para quem nada é mais importante que seu povo, e isso é o que eu acho que traria grande alegria a você, meu noivo, porque você é tão bom para seu povo e eu hmmmmm-

Bena não pôde terminar a frase, porque Thorin de repente tomou-a em seus braços e beijou-a profundamente, enquanto o povo gritava e aplaudia, e Kíli e Fíli trocavam sorrisos de admiração. Bilbo e Balin trocaram olhares.

— A ideia foi sua, Bilbo?

— Juro por Eru que foi tudo ideia de Bena.

— Aye — O velho anão sorriu. — Nossa futura rainha promete muitas surpresas.

Quando os lábios de Thorin deixaram os de Bena, a moça indagou, com um sorriso:

— Então você gostou do meu presente?

Os olhos dele brilhavam quando a fitou.

— Não apenas adorei, mas também suspeito que você seja capaz de me ler bem demais.

— E você não se importa mesmo que eu não tenha lhe dado nada pessoal, como uma espada ou machado?

— É claro que não me importo. Não consigo imaginar você me presenteando com uma arma.

— Eu jamais faria isso. Não quero você indo para a guerra ou declarando guerra. Não vou criar nossos filhos sozinha!

Com uma gargalhada ruidosa, Thorin ergueu-a para o alto e rodopiou o corpo leve da noiva, fazendo a moça soltar um gritinho alto de prazer. Em seguida, os dois se enroscaram num beijo apaixonado, causando aplausos dos curiosos que se aglomeraram perto da caravana.

Balin cochichou para Bilbo:

— Acho que esses dois estão longe. É melhor nós dois organizarmos isso.

Bilbo assentiu.

— De acordo. Sugiro chamar Lady Dís. Não teremos nenhuma ajuda desses dois tão cedo. — Bilbo tinha um sorriso imenso e suspirou. — Pela Senhora Verdejante, não vejo Bena feliz assim desde que era uma garotinha.

— E eu posso jurar que nunca vi Thorin tão feliz em toda sua vida. Os príncipes estão espantados com ele. Os dois dizem nunca terem acreditado que Thorin tinha senso de humor. Sua garotinha trouxe alegria a um rei anão rabugento. Se isso não for uma combinação abençoada pelos Valar, eu não sei o que é.

Pareciam palavras verdadeiras, porque o casamento real não foi menos que mágico. Havia uma coleção virtual de reis e mandatários variados, khazâd ou não, e durante uma semana houve celebrações, banquetes, festas e eventos de todos os tipos.

Tudo começou com a coroação de Bena. A futura rainha de Erebor recebeu o título de Arzud (aquela que brilha), mas o povo a chamava de Galkhûna, que significava Senhora Gentil. A montanha inteira sabia que ela tinha sido a inspiração por trás da generosa doação de comida às famílias ereboreanas. A cerimônia foi praticamente íntima, pois foi presidida por Thorin.

Quando a manhã chegou, a nova rainha casou-se com o Rei Thorin numa cerimônia suntuosa. Fíli, Kíli e Dís usavam suas coroas reais, Bilbo estava com seu melhor traje e Lobélia parecia adorável em seu vestido bordado. Todo tipo de nobreza e realeza reuniu-se para testemunhar as núpcias do rei sob a montanha. E se alguém achava estranho que ele tivesse escolhido uma noiva do Oeste, nem uma única voz mencionou o fato, pois todos sabiam que a jovem era filha do heroico hobbit que participou da retomada de Erebor do malvado dragão Smaug. Aos olhos de todos, Bena era uma dama de linhagem nobre.

Tudo isso pouco importava aos recém-casados, envolvidos que estavam em sua própria felicidade. Foi uma surpresa para muitos ver o rei geralmente mal-humorado tornar-se um anfitrião gentil, e houve quem jurasse que a nova rainha era capaz de fazer milagres. Até mesmo o altivo rei de Mirkwood, Thranduil, falava com elogios e gentilezas sobre a nova Rainha Sob a Montanha.

O povo estava maravilhado. Canções sobre uma nova era em Erebor ecoavam por toda montanha. O baile para os comuns foi um grande sucesso, e Bena proclamou que seu novo povo era muito parecido com o do Shire em termos de comida, bebida, dança e festejos.

A única tristeza em meio a tanta alegria, pensou Bena, era que seu tio deveria voltar em breve para o Shire. Ela nunca tinha imaginado a vida sem seu querido Bilbo, e isso a deixava triste. A caravana que levaria ele e Lobélia para casa chegaria em quinze dias, mas Bena sabia como o tempo passava rápido quando se queria que ele demorasse.

— Tio querido, que farei eu sem você? E quem vai fazer seu chá de maçã para a refeição da noite?

— Não se preocupe com seu velho tio.

— Mas você ficará sozinho em Bag End. Conheço você, tio. Vai ficar perdido nos seus livros e seus mapas. Convide Lobélia para vir tomar chá vez ou outra, por favor.

— Pela Senhora Yavanna, vou sentir tanta falta de você, minha garota. — Bilbo beijou sua testa. — E, por favor, me avise imediatamente sobre qualquer chance de netos!

Bena quis saber:

— Acha que é possível, tio? Será que Thorin e eu poderemos ser pais? Seria um sonho realizado...

— Não vejo por que vocês não possam ter filhos. A Senhora Yavanna não negaria filhos a um casal que se ama tanto.

Nos dias imediatamente após o casamento, Thorin e Bena dedicaram-se a visitar toda a montanha e a ouvir seus súditos. A nova rainha tinha o dever de proteger as famílias e apresentar seus pedidos ao rei. Muitos foram vê-la de pura curiosidade, já que jamais viram um hobbit de perto. Mas Bena logo descobriu que havia outros motivos para a rainha ter tamanho sucesso.

Entre o povo, a escolhida do rei era considerada uma espécie de portadora de boa sorte, então todos corriam para ver a ela e o monarca. Balin atribuía muito dessa crença à comida na mesa de todos.

Os ânimos estavam altos, o tempo estava se firmando, e a vida no geral ia de vento em popa para os recém-casados. Bilbo e Lobélia estavam atarefados com os preparativos para sua partida iminente, então quando o corvo chegou, todos pensaram que eram notícias da caravana.

Não eram.

Bilbo mandou chamar Bena, e a nova rainha foi vê-lo, sem saber das notícias terríveis. Mas ela deduziu que algo horrível tinha acontecido assim que ela viu Bilbo: ele estava pálido e trêmulo. Lobélia não estava com ele.

— O que houve, tio?

— Oh, minha menina, fatos terríveis, terríveis. Recebi um recado do Shire. Uma tragédia se passou.

Bena sentiu como se seu coração tivesse parado. O que poderia ter acontecido? Bilbo nem a deixou perguntar:

— Nosso primo Drogo levou a família para passear de barco num dia de sol. O barco afundou, eles se afogaram.

Bena sentiu o sangue drenando de seu rosto.

— Oh, minha Senhora Verdejante! E eles... todos...?

Bilbo respondeu:

— O pequeno Frodo se salvou. Mas Drogo e Prímula... — Ele abanou a cabeça negativamente.

O rosto de Bena se contraiu de dor quando ela se lembrou da meiguice de Prímula e da alegria de Drogo. Formavam uma família tão feliz. Lágrimas caíram de seus olhos, e Bilbo a abraçou. Ela soluçou.

— Oh, titio...

Ele disse:

— Lobélia precisou ver Óin para tomar ervas calmantes. Gostaria de um pouco também?

Ela fungou e respondeu:

— Não, acho que não será necessário. Oh, minha Yavanna... E sabe como está o pequeno Frodo?

— Fortinbrás disse que ele está com tia Belba. Mas ela é velha demais para cuidar do pequerrucho.

— Pobre criança. O que será dele?

Bilbo disse:

— Eu vou lhe dizer o que será dele. Eu vou ficar com ele.

Os olhos de Bena se arregalaram.

— Tem certeza, tio?

— Bem, eu criei você, não foi? Por que não posso fazer o mesmo por Frodo? Sei que já não sou mais tão jovem, mas acho que posso dar conta de um menino. Além disso, Frodo não é nenhum bebê: ele é apenas uns poucos anos mais velho do que você era quando foi para Bag End.

— Mas ele pode ser trabalhoso. Eu me lembro de suas travessuras com Pippin. E Meri também!

— Aqueles dois pestinhas...! Por isso acho que fará muito bem a ele brincar um pouco com o filho do meu bom amigo Hamfast Gamgee. O menino dele, Samwise, parece bem-ajustado. Fará bem a Frodo.

Bena enxugou as lágrimas e sorriu:

— O senhor fará bem a ele, tio Bilbo. Tenho certeza de que Frodo vai crescer e se tornar um bom homem.

— Bem, eu tive algum treino com você, não foi? E sendo um rapaz, vai me poupar alguns episódios bem constrangedores para explicar as diferenças entre garotos e garotas.

A moça riu-se e comentou:

— Eu me lembro de ser mandada para tia Araminta toda vez que fazia uma pergunta. Achava que você não sabia nada sobre meninas.

Ambos se riram alto, e depois Bena disse:

— Bem. Há um lado bom nisso tudo para você, tio. Não vai precisar voltar para uma casa vazia. Bag End terá uma criança de novo. Tenho certeza de que criar Frodo fará muito bem a você.

— Sim, pode ter razão. Ele é um menino tão doce.

— Mas ele estará de luto. Por favor, lembre-se disso. Pessoas que perderam entes queridos às vezes têm maneiras estranhas de lidar com a tristeza. Oh, que tragédia...!

— Não se preocupe, minha menina. Tudo vai dar certo.

Então, havia um sentimento de urgência quando a caravana chegou. A morte dos pais de Frodo atingiu Bilbo em cheio.

Thorin e toda família real foi até o portão principal dar adeus a Bilbo e Lobélia. Bena pediu, de olhos vermelhos:

— Por favor, escreva-me assim que chegar.

Thorin garantiu:

— Mandarei um corvo em algumas semanas. Dwalin conversou com o chefe da caravana, e ele prometeu fazer o que puder para acelerar a viagem.

Lobélia abraçou Bena.

— Prima, lembre-se do que ensinei: uma rainha é sempre graciosa, amável e encantadora. Mas acho que você vai se dar bem mesmo assim.

As duas se riram da piada, e Bena lembrou:

— Titio estará ocupado demais com Frodo para vir aqui, prima, mas se quiser visitar Erebor, será bem-vinda.

Bilbo recomendou a Bena:

— Ficarei de olho em viajantes de Ered Luin para mandar seus livros.

Lobélia se aproximou do rei e da família real:

— Majestade, espero que não haja ressentimentos. Você também, Kíli.

O rei garantiu, com um sorriso:

— Não há nenhum. É bem-vinda para visitar quando quiser. — Virou-se para Bilbo. — Assim que entregar os papéis do tratado de comércio para seu Thain, sua participação no negócio estará encerrada, meu amigo. Nem tenho palavras para agradecer tudo que fez.

Bilbo fez cara de contrariado:

— Thorin, por que fala comigo como se fôssemos meros amigos? Agora você é da família, Majestade. E se fizer minha garotinha chorar, vai se ver comigo, rei ou não rei! Ela é uma Baggins, lembre-se disso.

Todos sorriram, e Thorin o abraçou de maneira afetuosa.

— Que sua jornada seja segura, Bilbo Baggins. Os portões de Erebor estão sempre abertos para você.

O líder da caravana veio até Thorin e curvou-se, anunciando:

— Majestade, estamos prontos para partir.

— Então ponha-se a caminho, bom homem — urgiu o rei sob a montanha. — Que as bênçãos de Mahal acompanhem todos durante a viagem.

Com lágrimas nos olhos, Bena deu adeus e observou os pôneis e carroças deixarem a Montanha Solitária rumo ao oeste. Seu coração era pequeno e doía ao seguir o grupo com os olhos, sentindo uma solidão que ela sabia a acompanharia pelo resto da vida. A única família que ela conhecera estava partindo, e era muito improvável que ela visse seu tio Bilbo de novo. Muito provavelmente Bena viveria toda sua vida longe de sua gente, com um povo que não era o seu.

Uma lágrima solitária caiu por suas bochechas. Ela não tentou enxugá-la.

A caravana foi se tornando cada vez menor com a distância. Quando ela sumiu por completo, Bena suspirou. Ela se sentia tão só que lhe causava dor física.

Foi quando uma mão tocou seu ombro, e Bena olhou para cima. Seu marido sorria para ela, mas seus olhos eram muito mais eloquentes. Eles falavam de amor, de união e aceitação.

Ela sorriu de volta para ele.

Sua antiga família tinha ido embora, mas ela tinha uma nova família para construir.

The End


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Notas finais do capítulo

Assim termina nossa história. Agradeço muito os comentários e sugestões. Obrigada!



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