A prometida do rei escrita por Vindalf


Capítulo 10
Capítulo 10




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A rápida recuperação de Lobélia foi comemorada com um almoço discreto nos aposentos da Lady Dís, só para a família. Bena ficou extremamente emocionada ao ver toda a atenção dispensada à prima. Lobélia jurou estar completamente recuperada sem nenhuma sequela sequer, exceto pela falta de memória do acidente. Ela disse só se lembrar de estar treinando com os rapazes.

— Você deveria saber que não devia pegar uma espada — censurou Bilbo. — Hobbits não são guerreiros.

Rei Thorin observou:

— Vai me desculpar, Mestre Baggins. Mas se hobbits não são guerreiros, poderia ter me enganado durante nossa Jornada.

Kíli acrescentou:

— Meu tio está certo, Bilbo. Você lutou contra orcs, wargs e goblins como se fosse um guerreiro experiente.

Bilbo estava envergonhado e disse:

— Não foi bem assim.

— Sem mencionar — lembrou o Rei Thorin — que arriscou sua vida para salvar a minha. Não menospreze suas façanhas. Eu tive a honra de esclarecer tudo com sua protegida, a Srta. Verbena.

Bilbo virou-se para Bena:

— Nunca mencione nada disso lá no Shire. Vão pensar que sou uma pessoa perigosa!

Todos riram, mas Bena garantiu:

— Tenho orgulho de você, tio. Não importa o que digam.

Bilbo sorriu para ela e apertou-lhe a mão em afeição. A família real (inclusive a prometida real) se emocionou com os dois hobbits. Foi uma demonstração de afeto, as características de uma família de verdade.

E foi nesse exato momento que a porta se abriu. Dwalin marchou no aposento, parecendo sério — ou furioso, Bena não conseguia ver a diferença.

— Thorin — disse ele —, posso falar com você?

O rei franziu o cenho e advertiu:

— É melhor isso valer a pena.

— Vale.

Rei Thorin se desculpou e deixou a mesa do jantar para se juntar ao seu melhor guerreiro num canto da sala. Nem foi preciso dizer que todos ficaram alarmados. Kíli perguntou ao irmão:

— Irmão, o que é?

Fíli fechou a cara:

— Não faço ideia.

Bilbo tentou aliviar a tensão, dizendo:

— Seja o que for, esperemos que não seja sério.

— Sim — concordou Dís. — E não devemos interromper nossa refeição. Gostaria de mais um pouco de assado, Srta. Verbena?

Antes que Bena pudesse responder, o Rei Thorin chamou, de longe:

— Bilbo! Por favor, venha cá.

Algo no estômago de Bena se torceu de medo, mas ela não sabia o motivo. Bilbo foi até os dois soldados, e a expressão no rosto dele revelou que a situação era mesmo séria. Depois de uns poucos minutos, Dwalin saiu correndo da sala, e Thorin voltou para o jantar, Bilbo logo atrás. O rei anunciou:

— Os batedores localizaram um grupo de orcs que se refugiou numa das cavernas abandonadas da face norte.

Kíli e Fíli ficaram de pé imediatamente, como se o inimigo estivesse bem ali. Bena perdeu a cor. Ela repetiu:

Orcs...!?

Fíli indagou:

— Por que vieram para cá? Não tem muitos orcs por estas bandas.

Bilbo sugeriu:

— O inverno rigoroso deve ter diminuído o suprimento de comida e eles vieram caçar em outros campos.

— Isso quer dizer que estão com fome — disse Kíli, sombrio. — Orcs famintos são duas vezes mais perigosos e muito mais ferozes.

Bena tremia, olhos arregalados. Thorin continuou:

— Os batedores disseram que não são mais do que 50. Atacaremos durante a noite. Vocês não precisam se preocupar: nenhum mal cairá sobre vocês. Mas, para sua segurança, peço que passem esta noite nos aposentos de minha irmã. Pedirei a Kíli para proteger todos vocês, e Bilbo estará armado também.

Kíli protestou:

— Thorin, eu posso lutar! Eu posso-

Na sua voz profunda, Thorin assegurou:

— É claro que pode. Você sempre me deu muito orgulho. É por isso que não pediria a nenhum outro para proteger minha própria noiva e sua família. — Ele pôs a mão no ombro do jovem anão. — Isso é importante para mim, e eu só confio em você para fazer isso.

Kíli assentiu e disse:

— Farei isso, Thorin.

Lady Dís interveio:

— Bom, então vamos preparar tudo. Senhoras, devem trazer tudo que precisam para passar a noite: roupas, livros, costuras, talvez lanchinhos. Vou improvisar locais para dormir. Vamos lá, vamos dar início a tudo.

Todos se lançaram aos preparativos. Parecia que a notícia se espalhara feito fogo em mata selvagem. Um bando de orcs famintos não era brincadeira, e Bena tentou se distrair assando quitutes. Alguns biscoitinhos de canela dariam conta do recado. Ela ficou muito tempo nas cozinhas com o alegre Bombur e seu primo brincalhão Bofur. Ele foi uma distração bem-vinda. A equipe da cozinha perguntou sobre a saúde da prometida do rei e Bena respondeu que ela estava se recuperando bem rapidamente.

No fim do dia, Bena voltou a seu quarto para arrumar suas coisas antes de ir aos aposentos de Lady Dís. Bilbo, que fazia o mesmo, perguntou a ela, enquanto ajeitava uma mochila de couro:

— Sabe se os homens já foram?

— Os homens?

— Thorin, Fíli e os guerreiros — respondeu ele, agora pondo Sting na bainha. — Oh, é claro: devem estar no arsenal.

— A realeza...? Quero dizer, Fíli e o rei… Eles são parte do exército de ataque?

— Claro que são, Bena. Como rei, espera-se que Thorin lidere o ataque.

O rosto de Bena deve ter deixado claro seu terror, pois Bilbo imediatamente acrescentou:

— Não precisa se preocupar: Thorin é um excelente guerreiro. Bena!

Num impulso incontrolável, a jovenzinha hobbit correu para fora rumo ao arsenal, sem dar ouvidos ao chamado do tio. Mas ela não sabia onde ficava o depósito de armas. Ela teve que perguntar, e finalmente achou o local onde dezenas de soldados se armavam de lanças, machados, espadas e escudos. Havia uma agitação frenética, soldados apressados em preparativos de batalha, e nunca antes, em toda sua vida, Bena se sentira tão pequena e assustada. Mas Thorin estava indo à guerra, e ela estava com tanto medo, tanto medo...

— Srta. Verbena?

Ela se virou e quase não reconheceu o anão louro vestido de metal reluzente da cabeça aos pés. Ela o saudou:

— Mestre Fíli...!

Ele não pôde conter sua surpresa:

— O que está fazendo aqui?

Foi quando ela perdeu a coragem e gaguejou:

— E-eu… Eu… Eu tinha que vir…

Enquanto Bena tentava inventar uma desculpa para estar naquele lugar, seus pensamentos foram interrompidos por uma voz conhecida:

— O que faz aqui? — Rei Thorin, vestido em sua armadura de ouro, estava furioso com ela. — Você deveria estar segura!

— Eu tinha que vir... — Era tudo que ela conseguia dizer, e de repente indagou de supetão: — Você... Você tem mesmo que ir? É o rei. Não pode ficar?

Ela deveria ser uma figura lamentável, fraca e chorona, mas ela não se importava. O rei estava arriscando sua própria vida! Oh, pela Dama Verde, ele podia morrer!

Aparentemente, porém, tal possibilidade não perturbava Sua Majestade. Ele chegou perto de Bena e explicou, os olhos azuis brilhando de preocupação:

— Srta. Verbena: se não permanecer nos aposentos de minha irmã, não estará segura. Isso é inaceitável. Precisa voltar e ficar em segurança. Por favor, faça o que digo. Dís e Kíli vão proteger vocês, mas eles não poderão fazer isso se ficar longe deles. Por favor, vá agora.

Bena não queria ir. Ela não queria pensar que ele poderia não voltar, que ela não queria que ele fosse, que ela o queria vivo.

Mas só o que ela conseguiu pensar em dizer foi:

— Boa sorte, Majestade...

E então ela correu. Porque se ela ficasse mais tempo, ela iria chorar (como aconteceu enquanto ela corria). E se ela ficasse muito mais tempo, então ela teria caído em seus braços e nunca mais teria largado dele, e as consequências que se danassem.

Bena se sentia louca o suficiente para fazer exatamente isso.

Levou um tempo até ela se acalmar e se recompor. Ela não podia aparecer nos aposentos da princesa toda descabelada e desgrenhada. Só depois ela foi aos aposentos de Lady Dís.

Bilbo estava tão agitado que a esperava no corredor.

— Homessa, menina! Por onde esteve?

— Eu tive que procurar meu livro, tio. — A desculpa estava pronta. — Desculpe, mas este livro é ótimo, muito envolvente, por isso eu não vou pensar em... você sabe.

Ele suspirou, sacudindo a cabeça:

— Ah, você ainda vai matar seu velho tio!... Venha, vamos para dentro: Lobélia já entrou.

Lady Dís tinha rearrumado o local: havia almofadas macias nas grandes poltronas e também foram espalhados tapetes grossos no chão perto do fogo, além de cobertores para espantar o frio.

A própria senhora sentou-se perto da lareira, enquanto Lobélia conversava com Kíli em tom baixo. Não era o ambiente festivo ou animado de horas atrás; agora estava tenso e nervoso.

Foi servido chá, e os hobbits adoraram. Os biscoitinhos de Bena foram um sucesso, e eles tiveram um visitante: Ori, o bibliotecário gentil, que não era lá grande guerreiro, recebera ordens diretas do rei para proteger as moças hobbits.

"O rei deve estar mesmo muito apaixonado por Lobélia, a ponto de mandar um guarda extra", pensou Bena, sentindo seu coração se despedaçar em centenas de pedacinhos.

Ela pegou um livro para o qual não tinha a menor cabeça para ler enquanto os demais se espalharam pela saleta, ajeitando-se para dormir. Dís sentou-se ao lado dela e indagou:

— Como você está, querida?

— Vou tentar ler um pouco — ela respondeu. — Para me distrair.

A dama assentiu:

— Às vezes ajuda.

— Mas nem sempre?

— Não, nem sempre.

Bena suspirou e perguntou a ela:

— Então é assim que é?

— O que quer dizer?

— É sempre assim? A espera, a tensão...

— Oh, sim. Temo que essa seja a vida da esposa de um guerreiro. Não é uma vida fácil. Nem a vida da mãe de um guerreiro.

Bena então se lembrou de que ela também se preocupava por Fíli. Bena se sentia tão culpada, como se não tivesse direito de temer pela vida do rei. Ela comentou:

— Nem posso imaginar como se sentiu durante a Jornada.

Dís respondeu:

— Eu poderia tentar dizer, mas não faria justiça à realidade. Foi um ano inteiro até ouvirmos que o dragão tinha morrido. Depois disso, foram mais algumas semanas até alguém confirmar que minha família sobrevivera à batalha. Foram dias muito difíceis.

— Oh, milady... — O coração de Bena se apertou em solidariedade àquela mulher admirável. — Eu sinto tanto.

Elas sorriram uma para a outra, em companheirismo agradável.

Poucas horas mais tarde, Lobélia e Bilbo dormiam nas grandes almofadas, e Kíli cochilava com sua espada nos braços, sua cabeça pendendo para frente de tal forma que o queixo encostava-se ao peito. Bena se sentava perto da lareira, seus pés peludos recolhidos debaixo das pernas, a cabeça apoiada na outra poltrona — a mesma onde o rei se sentara na outra noite e contara as histórias da Jornada. Ela realmente tentava distrair a cabeça de tudo que acontecia no lado de fora, mas seu coração não era tão fácil de ser controlado.

Na mente de Bena, a alvorada deveria estar próxima. Então barulhos altos vieram do lado de fora. Bena ergueu a cabeça e viu Kíli de pé, espada em punho, encarando a porta fechada. Atrás dele, Ori segurava uma macha, pronto para o ataque. Alarmada, ela viu Lady Dís também segurando uma espada ampla, bem como seu tio, que já estava com Sting na mão. Lobélia dormia a sono solto.

Ninguém disse uma palavra. Os ruídos do lado de fora da porta ficaram ainda mais altos, havia gritos. Kíli ergueu sua espada, assim como Dís. Bilbo se adiantou e pôs-se na frente de Bena, protegendo-a com seu próprio corpo.

Então a porta se abriu comum grande estrondo. Fíli adentrou o recinto, rosto coberto de suor, sujeira e poeira, anunciando com um largo sorriso:

— Vencemos!

Gritos irromperam do lado de fora e de dentro, e o corredor estava cheio de celebrantes ruidosos que saudavam os guerreiros vitoriosos. Fíli recebeu abraços do irmão e da mãe, assim como de Bilbo. Bena permaneceu na ponta dos seus pés de hobbit, tentando ver se mais alguém vinha para lá.

Ninguém veio.

Seu tio indagou a Fíli:

— E quanto aos outros?

O príncipe respondeu:

— Tivemos poucos feridos, nenhuma morte. Dwalin foi ver Óin, pois ele tomou uma pancada perto da orelha. Thorin levou um arranhão na testa, mas acho que foi direto para o quarto. Ele não quer ir para o curador. Sabe como ele é.

Kíli quis saber:

— E quanto a você?

— Só um pequeno talho, irmão. — Fíli parecia completamente desapontado. — Provavelmente não vai nem deixar cicatriz.

Bena não conseguiu evitar se sentir aflita. Será que o rei estava muito ferido? Ele parecia ser alguém que só buscaria ajuda médica quando estivesse a ponto de desmaiar ou algo ainda pior. Foi isso que Fíli deixou implícito.

Bena desejou saber onde eram os aposentos dele, para poder ver por si mesma. Ela jurou à Senhora Yavanna que iria até o quarto ver como ele estava.

Sua angústia não passou despercebida, pois Lady Dís sussurrou em seu ouvido:

— Os aposentos reais ficam na terceira porta à esquerda.

Bena sorriu para ela, o coração disparado, assentiu e então não contou tempo para seguir as indicações, indo o mais rápido que seus pés permitiam. Ela achou bom que todos estivessem ou escutando o relato de Fíli sobre a aventura noturna ou comemorando a vitória. Assim ninguém prestou atenção nela.


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Notas finais do capítulo

A SEGUIR: O acidente mais catastrófico de todas as asneiras de toda a Terra Média



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