Exame Final [Hiatus Eterno] escrita por O Marido


Capítulo 3
Ato I: O Programa.


Notas iniciais do capítulo

Olá, amigos. Como estão?
Bem, espero que estejam tranquilos e com vontade de ler mais um capítulo.
Ah, e não esqueçam: qualquer crítica, sugestão ou elogio, é só comentar! Será muito bem respondido.
Um abraço a todos e boa leitura!
=D



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Nove anos depois...

16 de novembro, 2015.

Deitado em sua cama como se fosse uma estátua, o jovem de cabelos castanho-médio e olhos verdes bem claros mantinha seu campo de visão fixado ao ventilador que girava preso ao teto do quarto. A luz do cômodo permanecia apagada, porém um pequeno brilho do corredor adentrava pela greta da porta e iluminava uma tira do rosto de Paul.

Pelo silêncio ali presente, qualquer um que passasse do lado de fora e olhasse de relance para a cama do garoto, iria supor que ele estivesse em seu terceiro sono. Mas não, na verdade, ele se encontrava bem acordado, imaginando etapa por etapa como seria o tão assustador alistamento militar que faria na manhã seguinte.

— Preciso esquecer isso... — Disse de repente, trocando de posição e ficando lateralmente inclinado para a esquerda, olhando a parede. Piscou os olhos algumas vezes e voltou aos seus devaneios.

“É só uma coisa boba, não preciso me preocupar... Milhares de meninos fazem isso por ano... e apenas 20 são sorteados! De mais de 50 mil salas de aula, apenas uma é escolhida para o Programa. As chances de eu ir são mínimas, praticamente nulas, ainda mais considerando morar em uma área rural, como Ambuera.”.

“É, eu não preciso me preocupar!”.

Paul deu um longo suspiro, ainda sentindo o papel quadriculado que portava em sua mão esquerda. Revirou brevemente o rosto e elevou o papel até a fita de luz que pairava sobre sua face, vendo por alguns instantes o documento que fazia muitos meninos beirarem à loucura, tornarem-se suicidas, malucos e, nos piores casos, até assassinos. Era seu certificado militar.

— Paul?

Ele ouviu a voz de sua mãe.

— Estou no quarto. — Respondeu, guardando o papel em uma gaveta próxima.

Logo, Paul levantou a cabeça e fitou a porta do quarto, esperando pela chegada da mãe coruja. Não demorou quase nada para que a mulher pálida empurrasse a porta lentamente e acendesse a luz do quarto.

— Já está deitado?

— É... Estou meio que... com sono.

— Tem certeza? Achei que poderíamos ver um daqueles filmes que você gosta tanto, o... como é mesmo o nome dele? Trans... transformes!

— Ah, mãe... Acho que não...

— Vamos... Já preparei a pipoca. Faz tempo que não passamos um tempo juntos, filho. Você já está com 16 anos, daqui a pouco estará se casando e tendo dois filhos, e eu ficarei para a vovó chata que mal vê os netos!

— Não exagera, senhora Alyson... — Paul falou sorrindo. — Eu nem tenho namorada ainda.

— Mas existem possíveis ocupantes para o cargo, não é? A Mabel... A Evelyn...

— Mãe! — Naquela altura, ele estava vermelho. — Pare com isso! Elas são apenas minhas amigas!

— Tudo bem, querido, não precisa ficar envergonhado. — Alyson então cessou seu riso por algum tempo, observando o adolescente com seriedade e reconhecendo o motivo de sua aparente aflição. — Não vai mesmo ver o filme?

— Desculpe, mas não... Estou com muito sono! — Paul fingiu um bocejo e se virou em direção contrária. — Durma bem, mãe...

A mulher continuou o olhando, estava visivelmente triste por saber exatamente o que se passava com o filho.

— Não fique pensando em amanhã, Paul. — Ele ficou atônito ao ouvir tais palavras. — Não é nada de mais, será simplesmente uma apresentação formal de trinta minutos e pronto, termina e você vem embora.

— Mas... — Paul se virou para a mãe, exibindo toda a sua tensão. — Mas e se a minha sala for a sorteada do ano?

— Não será! Todas as escolas do país estão no Exame, qualquer uma pode vir a ser eleita. E, provavelmente, será mais uma escola das grandes metrópoles novamente. Ambuera só tem um colégio, a chance de ele ser logo o escolhido é mínima!

— Ele já foi uma vez! — Exclamou, recordando-se momentaneamente do antigo amigo Chadd, que competiu e venceu o Programa em 2006. — Faz nove anos, nove anos que o Chadd e seus colegas batalharam até a morte naquela ilha e só ele voltou vivo, isso é, depois de matar friamente todos os...

— Paul, esqueça. — Interrompeu sua mãe, tocando levemente em seus ombros. — O que aconteceu com o Chadd foi azar, mas você é um garoto de sorte filho, não irá ser chamado. Além do mais, seus amigos do ano passado também estarão presentes, não é? E se lembra? Kristopher é engraçado e bobo, Nolan faz qualquer um perder a paciência com as suas besteiras... Com certeza, eles vão encher os oficiais de raiva e, praticamente, obrigá-los a mandarem vocês de volta para casa.

Paul refletiu um pouco nas recordações dos amigos de sala que não via pessoalmente há mais de um ano. Após a conclusão do terceiro-ano no fim de 2014, cada um seguiu seu rumo junto de sua família. Alguns mudaram de cidade, outros de estados e dois ou três saíram do país. Ele ainda mantinha contato com os “mais chegados” através das redes sociais, mas o papo não tinha o mesmo gosto de como costumava ter quando jogavam baralho no intervalo das aulas, no pátio da escola.

Realmente, vê-los seria bom. Alguns já deviam ter namoradas, barba grande e até...

— Trate de dormir, está bem? — Alyson tirou o filho de seus pensamentos repentinamente. — E não pense no Exame, eu tenho certeza que seus amigos não estão dando a mínima importância para o Alistamento, pois sabem que não serão escolhidos.

— Certo. — Ele concordou, dando um breve sorriso. — Obrigado, mãe! Eu realmente precisava tirar isso da cabeça. E até tinha me esquecido que reencontraria a turma amanhã...

— É uma pena que as meninas não irão, não é mesmo? Gostava tanto de quando ia em sua escola e via todos vocês unidos, brincando como grandes amigos.

— Eu não diria isso... — Paul deixou escapar uma notória alegria. — No último dia de aula, quando nos despedíamos, Mabel usou seu charme de “líder da sala” e conseguiu fazer com que todas as outras garotas aceitassem ir ao nosso alistamento, como uma espécie de “último reencontro”. Acredito que não virão todas, é claro, mas as que vierem já darão bastante apoio!

— Quando saírem de lá, após o Alistamento, vocês podiam ir à alguma pizzaria, não acha? Para festejarem o começo da vida adulta de cada um...

— Uma boa ideia! Irei comentar com eles, amanhã...

E Paul deu um bocejo longo e duradouro. Seus olhos começavam a ficar pesados.

— Está na hora de dormir! — Assentiu a cuidadora. — Precisa estar de pé às seis!

— Tá legal... Boa noite, de novo.

— Pra você também, filho.

Assim que o filho fechou os olhos e se aconchegou em sua coberta, Alyson respirou cansada e seguiu para o corredor. Havia tido um longo dia no escritório de advocacia onde trabalhava, perdera a conta de quantos papeis assinou e quantos documentos leu e despachou para seus respectivos donos. Estava bamba de sono.

Foi apressadamente apagando todas as luzes que encontrara, travando as portas e janelas e, finalmente, dirigiu-se para a cama também.

Ao passo disso, Paul suspirava levemente pelas narinas enquanto abria um sorriso admirador em seu rosto. “Nós não seremos escolhidos!”. E com esse pensamento, ele afundava de vez em um sono profundo.

O que o jovem rapaz não reparara - uma coisa boba da qual se esqueceu com o passar dos anos – era que grandes nuvens cinzas cobriam por completo a lua, naquela noite quente de verão.


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