Histeria escrita por Helena


Capítulo 1
Mad, Mad Madness




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Droga, droga, droga.

Apressei o passo, por mais que minhas pernas bambas parecessem não querer obedecer. Todo o meu corpo tremia, e eu tinha a incômoda sensação de que meu coração iria sair pela minha boca a qualquer momento. Tudo por causa da minha estupidez.

A rua estava deserta, sem ao menos um carro solitário passando uma vez ou outra, mesmo sendo tão cedo – aproximadamente 21h, se meu relógio estivesse certo. Mas não era o horário que importava, não era nada disso. Gotham estava com medo. Eu era completamente idiota, ou totalmente louca, por pensar que encontraria mais alguém andando por aqui. Eu estava sozinha, indefesa, e deveria ter ficado em casa.

Batman? Era mais fácil ganhar na loteria do que encontrar com ele, e eu não era do tipo supersticiosa. O sinal estava no céu nublado como todas as noites, mas eu ainda me sentia mais sozinha do que nunca. O morcego não passava mais segurança para ninguém, o sentimento de pavor que agora denominava Gotham era forte demais para até ele amenizar. O que ele poderia fazer? Quantas pessoas já morreram e ele não pôde impedir?

Eu pensei em ligar para alguém, de preferência algum amigo meu que tenha um carro e possa me tirar dessa rua deserta aterrorizante, mas já havia desistido da ideia. A única coisa que podia ser ouvida em todo o local era o bater dos meus saltos contra o chão, até minha voz sussurrada pareceria um grito, e a última coisa que eu queria no mundo era chamar mais atenção. Assim como todos, eu também estava com medo. Quem não estaria?

O pior pesadelo de todos havia sido libertado, e não existia nada que pudéssemos fazer a não ser nos escondermos em nossas casas e rezarmos para não termos a infelicidade de fazer parte de mais uma das piadas dele. O Coringa havia escapado do Asilo Arkham, e ele estava com raiva. Dependíamos inteiramente do Batman, mas também sabíamos que ele não poderia salvar todos. Alguém iria morrer. E eu era extremamente imbecil por ter saído de casa em uma das noites mais hostis do ano. Eu era algum tipo de suicida?

O sentimento de medo parecia estar impregnado em cada canto da minha mente de uma forma que nunca achei ser possível, por mais que o motivo seja um pouco infantil. As chances de encontrá-lo eram mínimas, assim como as chances de encontrar o Batman, não eram? Não eram...? Mordi meu lábio inferior com força, mandando aos diabos a minha ideia de me encontrar com Robert. O que eu estava passando não valia o aumento, não compensava em absolutamente nada. Parei de andar. Eu voltaria para casa, ligaria para ele e remarcaria, ele com toda certeza entenderia. Ele faria a mesma coisa no meu lugar, qualquer um faria. De fato, ninguém gostaria de encontrar com o Coringa.

Dei meia volta e comecei a andar o mais rápido que podia, praticamente correr em direção a minha casa. Mas então eu ouvi. E minhas pernas não me obedeceram mais.

O silêncio imaculado fora quebrado por uma risada. Histérica, descontrolada, impossível de não reconhecer. O som ecoava por toda avenida vazia, parecendo estar vindo de todas as direções, brincando de modo excepcionalmente cruel com minha mente. Eu havia perdido todo o senso de direção, mal conseguia pensar direito, tudo me parecia tão... irreal.

Sabe, eu nunca pensei como eu gostaria de morrer, porque, na realidade, eu realmente não gostaria, assim como a maioria das pessoas. Eu gostava de viver, no final das contas, ou pelo menos me esforçava bastante pra isso. Mas de uma coisa eu tinha certeza: se eu morresse, gostaria de ser em algo grande. Eu não queria ser uma nota no final do jornal, eu queria a primeira página em letras garrafais. Um grande final, onde as cortinas se fecham e o público olha atônito para o palco sem saber ao certo como reagir. Eu não queria que tudo simplesmente acabasse, eu não podia aceitar que tudo simplesmente acabasse.

Mas quando eu senti meu corpo ser jogado contra a parede e a lâmina fria ser apertada contra o meu pescoço eu percebi, eu finalmente percebi. Nós vivemos sozinhos e morreremos assim também. Não existia um "grande final", nada que choque as pessoas, nada que faça com que alguém lembre seu nome. Apenas morte. Solitária, dolorosa e cruel.

Insana.

Naquele momento eu soube que ia morrer. Eu tinha total consciência de que apenas um milagre faria com que eu saísse dali viva, e eu não acreditava em milagres. Assim como eu também não acreditava na eficiência do Batman. E talvez tenha sido por causa desse gosto agridoce de morte em minha boca que eu tive coragem de olhar para ele, algo que eu nunca faria se estivesse sã. Ele sorria, aquele sorriso sarcástico e psicótico que faz com que você não consiga dormir por semanas, e ele olhava diretamente pra mim.

— Seu nome. — Ele perguntou, sorridente.

Um calafrio percorreu todo o meu corpo, fazendo-me tremer mais do que já tremia, se é que aquilo era possível. Seu olhar era diferente de tudo o que já havia visto, ele tinha algo a mais, algo escondido. Eu podia sentir a loucura escorrendo por sua pele de uma forma contagiosa, e a única coisa que eu queria naquele momento era estar em casa, longe de qualquer coisa envolvendo o Coringa, o Batman, o caralho a quatro.

Eu só queria estar viva no dia seguinte.

SEU NOME! — Ele gritou, engrossando a voz, fazendo com que lágrimas grossas escapassem dos meus olhos e escorressem pelo meu rosto assustado, quase me ferindo.

Ele não sorria mais, muito pelo contrário. Seus lábios estavam completamente curvados para baixo, as sobrancelhas quase se juntavam pela raiva e uma grande veia pulsava em sua testa. Seu olhar era feito do mais puro ódio, algo que eu nunca havia visto antes – e gostaria de ter passado o resto da minha vida não vendo. Engoli em seco, com medo de que ele conseguisse ouvir meu coração bater.

— M-Maddison. — Murmurei com a voz falhada.

— Ora... Mad, Mad, Mad. — Ele voltou a sorrir, mudando completamente o seu humor de alguns segundos atrás – Madness. Loucura. Deve ser um sinal.

Ele voltou a gargalhar de modo histérico novamente, apertando-me ainda mais contra a parede, de modo que a faca cortasse superficialmente meu pescoço, fazendo com que mais lágrimas escorressem dos meus olhos apavorados. Mordi o lábio inferior para abafar um gemido, sentindo minha boca ser inundada pelo gosto metalizado do meu próprio sangue.

— Mad, Mad, Mad... Sabe por que eu gosto de facas? — Perguntou, agarrando meu pescoço com força para garantir que eu não fugiria, passando a parte afiada da lâmina no meu rosto molhado pelo choro sem me cortar. Permaneci em silêncio, concentrando-me na árdua tarefa que agora era respirar — Presumo que não. Eu, minha querida, prefiro facas porque com elas se dá pra sentir. Armas são muito rápidas e superficiais, elas tiram toda a emoção da coisa, entende? Acabam com toda a graça. — Soltou uma risada breve, passando a lâmina com mais força em minha pele, cortando-me — Você não pode saborear as pequenas emoções. Sabe... em seus últimos momentos as pessoas mostram quem elas realmente são. E eu adoraria ver quem você realmente é, Madness.

Gritei. Com toda a força que meus pulmões me permitiam, soluçando alto de forma que chegava a ser dolorosa. Ele apertou a mão em volta do meu pescoço no mesmo segundo, fazendo minha voz sumir assim como o meu ar. Cada palavra que ele dizia fazia meu coração falhar, seu toque me queimava, eu não queria morrer. Eu não queria morrer, eu não queria morrer! Assim que ele percebeu que eu não aguentaria muito mais tempo sem respirar ele afrouxou razoavelmente o aperto, permitindo que o ar voltasse para os meus pulmões de forma bruta, me dando fôlego para continuar a chorar de forma audível.

— Por favor... — Murmurei, desesperada — Por favor, eu não quero morrer.

— Ah, Mad... Não leve a vida tão a sério, você não vai sair viva dela. — Ele gargalhou novamente, divertindo-se com o meu desespero. Seu olhar era indecifrável — A propósito, você quer saber como eu consegui minhas cicatrizes?

E então, subitamente, o sorriso dele foi a última coisa que eu vi.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! E, por favor, perdoem qualquer erro.