Alguns dias depois...

Pedro foi levado para casa a fim de ter uma melhora mais significativa do seu quadro. Assim que conseguiu ser instalado em seu quarto, todos fizeram um grande círculo em volta do doente e fizeram uma prece de cura. Usaram todas as lembranças lindas e sentimentos para ajudar em sua recuperação.

Havia lágrimas escorrendo dos olhos de Lívia durante a prece, estava ainda se sentindo culpada, estava se martirizando por tudo que havia dito e feito ao longo dos anos com seu amigo , não queria que nada tivesse acontecido daquele jeito.

Ela acabou –se lembrando de um conselho de sua avó Vitória.

—“ Pense muito antes de praticar qualquer ato , antes de dizer qualquer palavra porque tudo volta. E uma hora a gente paga cada centavo, Lívia.”

E o preço foi pago com a vida de seu amigo.

O médico fez algumas recomendações e logo se foi. Letícia ofereceu ficar cuidando da casa de bolos. Felipe segurou em seu ombro e perguntou:

—Tem certeza?

A moça acenou com a cabeça.

—Sim, é melhor a sua esposa cuidar dele. Ela me disse que precisa conversar com o Pedro.

 E o rapaz suspirou fundo e soltou o braço dela.

Com o coração pesado, Letícia deixou seu amado. Precisou juntar todas as suas forças para sair e encarar a realidade que esperava-a.

Alguns dias antes a polícia havia ligado em seu celular avisando que haviam encontrado sua avó falecida no chão de sua casa. Vítima de um ataque cardíaco. E que sua prima Melissa havia sido atropelada por um motorista embriagado.

Sua avó e sua prima Melissa foram enterradas juntas no cemitério. E Letícia não foi visitar elas. Não sentia emoção alguma. E enquanto saia da mansão, relembrou tudo o que ocorrera para chegar até ali.  Descendo os últimos degraus da escada e abrindo o portão de ferro mecanicamente, Letícia sentiu um forte pressentimento de que o pior já havia passado e que Pedro iria voltar a acordar do coma.

Um suspiro de alivio expressou sua alegria e a bela mulher correu em direção a casa de bolos para dar um pouco de doçura as pessoas da pequena cidade de Bela Rosa.

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Horas depois, quando Lívia se encontrou a sós com seu amigo Pedro, ela se sentou numa poltrona próxima a cama, pegou na mão fria dele entre as suas e começou a falar:

—Pedro, você precisa melhorar logo. A Letícia te ama muito e está ansiosa para você acordar. Todos nós queremos que você acorde. E eu preciso para que me perdoe por tudo que fiz.

Lívia sentiu as lágrimas começarem a cair de seus olhos enquanto se lembrava das inúmeras vezes em que havia tratado mal o irmão de Felipe. Ele era dedicado e os ajudava sempre nas horas difíceis. E Pedro não comentava nada com Felipe, aceitava o tratamento de Lívia por mais grosseiro que fosse.

Ela abriu o " Evangelho segundo o Espiritismo" e tentou ler um capitulo do livro, mas não conseguia abrir a boca e pronunciar as palavras que seus olhos liam. A cena em que Pedro acabou tomando um tiro em seu lugar não saia de sua cabeça.

"Por que me deixei levar pelas palavras da Melissa?", pensou.

Ela tinha que aceitar a situação que seu ódio havia colocado todas as pessoas que mais importava. Principalmente ele. Pedro.

—Pedro, me perdoe, por favor! - e ficou repetindo várias vezes aquelas palavras. Aquelas libertadoras palavras para ele.

Juntou suas mãos em volta da mão gelada dele e começou a orar. Ficou insistindo a Deus para que o trouxesse de volta ao mundo dos encarnados. Pediu perdão por ter feito tanto mal a ele. Rezou, rezou e rezou o dia inteiro até mergulhar no sono.

 Havia escurecido quando de repente, Lívia sentiu a mão de Pedro apertar fortemente as suas mãos. Surpresa e sem perceber que foi o seu pedido de perdão que havia tirado – o daquele coma.

—Eu te perdoo, Lívia. – sussurrou fraco.

Pedro estava exibindo um suave sorriso, como se um peso houvesse saído de suas costas.

Lívia suspirou forte. Um peso havia saído das suas também.

Ele disse mais uma vez seu nome.

—Estou aqui, meu querido. – disse, com lágrimas nos olhos.

E os dois se entregaram num abraço afetuoso de reconciliação. Chorando nos braços um do outro. E Lívia deu um beijo de gratidão em sua cabeça.

—Me perdoe... – exclamou, comovida pelo ato impensado dele levar um tiro por ela.

—Lívia, seu perdão me faz tão bem. E agradeço do fundo do meu coração. Mas, vamos esquecer tudo o que passou. Será que podemos recomeçar de novo?

— Sim! - ela disse em meio as lágrimas.

Lívia pegou um copo cheio de água e entregou ao Pedro. Ele segurou firme e bebeu o conteúdo lentamente.

—Estou vivo mesmo?!

—Sim, e está em casa. Logo poderá voltar a andar e fazer bolos como antigamente. Mas, precisa se recuperar.

—Eu me sinto tão grato a Deus e aos enfermeiros que me socorreram. Tão feliz por estar de volta ao meu lar....

— Mas sente falta de Letícia, não é?!

— É tão obvio assim?!

Ela acenou, concordando.

— Não se preocupe, Pedro. Ela vai vir aqui de tarde.