Concentrada. É a palavra que me define agora.

Minha avó devia querer que eu achasse isso, mas nunca nem mencionou durante os sonhos.

Algumas das anotações são antigas... Outras bem atuais.

Tem uma que parece uma carta... Mas que nunca foi entregue por alguma razão. Outras apenas são anotações. Curiosa como sou eu leio as anotações primeiro.

Fala sobre uma história.

‘’Havia um lugar lindo onde tinha seres mágicos de todos os tipos. Lugar esse afastado dos humanos. Onde esses seres não precisariam se esconder ou temer o mal... Pelo menos até certo dia. Quando um ser mau ameaçou destruir o lugar mágico e todos ficaram amedrontados.

Até que o governante desse lugar mágico resolveu pedir ajuda a alguns seres superiores a ele. Eles o chamavam de ‘Os Semelhantes’. Eram quatro e cada um regia uma força. Um deles era responsável pela natureza. O outro responsável pela vida. O outro era responsável por distribuir dons. E o último era responsável por manter o equilíbrio do mundo mágico.

O governante angustiado implorou para Os Semelhantes que o ajudassem. E pensando em como o governante estava aflito. Prometeu que ajudaria... ’’

Estou procurando entre as anotações o restante da história e quando acho começo a ler.

‘‘... Enquanto o governante dormia... Os Semelhantes enviaram uma estrela até o lugar mágico. Quando a estrela caiu no chão eles a transformaram em uma mulher... Os Semelhantes a abençoaram com vários dons e lhe deram o nome de Hope. A sua principal missão era salvar o lugar mágico do ser mau que havia lhe ameaçado... ‘’

Procuro outro pedaço coerente... Encontro e começo a ler novamente.

‘‘... Quando enfim chega o dia da ameaça se concretizar, Hope juntou toda força que tinha e toda aquela que ela nem sabia existir e lutou contra o ser terrível que tentava destruir o lugar...

Hope havia descoberto seus dons de habilidade e magia e então lutou jogando sua mágica contra o ser. Até que uma explosão ocorreu e a ordem fora restaurada, mas alguém já não estava mais ali... ’’

O papel corroído com o tempo... Acabou fazendo com que uma parte da história fosse perdida.

E o final? Como vou saber o final?

Procuro entre as outras anotações e não vejo mais sinal da história.

Onde será que foi parar esse pedaço que parece ter sido perdido, mas também pode ter sido rasgado... E difícil saber.

Resolvo então ler à quase carta...

"Querida Clarissa, há tantas coisas para ser ditas. Provavelmente você estará lendo isso depois de eu ter partido.

Existem coisas que você não vai entender agora, mas com o tempo irá se acertar... Quero pedir que confie cegamente em Julian, ele irá te proteger e guiar. A essa altura você deve saber que está predestinada... Só quero que saiba que sua história é você que escreve. O fim de tudo só você poderá escolher. Só lembre-se: Você será tão boa quanto Hope.

Te amo...

Sua avó."

Serei tão boa quanto Hope? Porque parece que ainda nada se encaixa?

Ouço batidas na porta... Rapidamente junto tudo e coloco na gaveta.

— Entre - Digo alto.

Julian entra... Ele está com a feição um pouco abatida.

— Julian, está tudo bem? - Digo preocupada me aproximando e verificando sua testa.

— Estou sim, só um pouco indisposto. - Ele diz tirando minhas mãos dele.

— Porque não vai para o quarto... Descanse. Não quero que você fique doente. - Digo um pouco envergonhada por seu ato.

— Não tudo bem, eu vim para ler um pouco. - Ele diz desconversando.

— Ah tudo bem então... - Digo e me volto para meu livro que mal toquei.

Ele se sentou em uma das poltronas, e ficou me olhando. Por longos minutos sem falar nada.

— Está bem, está bem... Pode parar. Você está tão estranho. O que houve? - Digo fechando o livro e me levantando.

— O que? Não houve nada... Está tudo bem. - Ele diz tentando parecer verdadeiro.

— Julian, você sumiu desde manhã... Fiquei preocupada. E agora você chega estranho e depois fica me olhando... - Digo e sinto meus olhos marejados.

— Hey, hey... Calma está tudo bem! - Ele disse vindo até mim e me dando um abraço.

Devagar ele me solta e seca algumas lágrimas que ainda estão ali e me conduz até o sofá da biblioteca.

— Não gosto de ver você chorar... - Ele diz enquanto acaricia meu rosto.

Com seu toque em meu rosto, fecho meus olhos.

Sinto seus lábios sobre os meus... Um beijo doce e calmo. Quando nos falta o ar somos obrigados a parar.

Abro meus olhos e encontro seu olhar cheio de promessas e palavras não ditas.

Depois sua expressão muda, para um rosto triste e um olhar distraído. Ele se levanta rápido e diz:

— É... Isso não devia ter acontecido! Desculpe-me... É... Não fiz por mal. - Ele diz andando de um lado para o outro - Tenho que ir. Desculpe. - Ele completa e sai.

Fico sem entender... Resolvo voltar a ler... Tento na verdade. Porém, toda a minha concentração foi levada com Julian.

Resolvo ir para o quarto me trocar para o jantar. Sim, fiquei a tarde toda na biblioteca.

Deixo meu livro em cima da escrivaninha e me jogo na cama.

Automaticamente meus pensamentos retornam para o beijo. Seu olhar parecia dizer a mesma coisa que sinto.

Batidas na porta me tira do devaneio.

— Princesa, seu amigo me pediu para entregar-lhe isso. - Lilian diz e me aponta a carta.

— Obrigada Lilian... - Pego a carta de sua mão e começo a abrir.

— Ele pediu para que abra mais tarde... - Ela diz e eu paro.

— Ah sim... Obrigada Lilian. - Digo enquanto guardo a carta dentro do livro.

— De nada senhorita! - Ela diz e sai.

Arrumo-me e desço... Como sempre já encontro todos a mesa. Exceto Julian.

Fico o jantar inteiro pensando em quantos motivos diferentes ele pode ter para não ter vindo jantar.

Termino o jantar e vou para o jardim.

Vou direto para a árvore e me sento em baixo dela.

Começo a me lembrar de hoje... Das anotações... Do beijo.

Estou novamente com a mente embaralhada, nada coerente.

Só não tinha certeza de uma coisa e acabei confirmando hoje...

Eu estou perdidamente apaixonada por Julian!