December 24th escrita por Enoaies


Capítulo 1
Whiskey , cigars and music


Notas iniciais do capítulo

Outra fic de capitulo único. Me desculpem! Mas enfim, espero que gostem e não se importem com a festa parada do sindicato!



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24 de dezembro. – 1962.

Cambridge – Inglaterra.

Faltavam duas horas antes da reunião do sindicato começar. Oliver Wright caminhava pelas escadas, subindo e descendo a procura de sua tão estimada gravata azul. Os sapatos recém engraxados se enchiam com a poeira da escada, e as mangas de sua camisa social branca já enrugavam por conta do suor quente de suas mãos que escorria pelos pulsos trêmulos.

A casa estava vazia, como sempre, mas aquilo não lhe incomodava. De certo que não era tão agradável, mas as coisas pareciam mais fáceis quando se parava para pensar. A quantidade de comida, as contas a serem pagas e a quantidade de peças de roupa que se amontoavam por cima de uma maldita gravata azul.

-Mas que porcaria. – puxou a gravata de um buraco desenhado no meio de casacos grossos e alguns cachecóis. – como isso foi acontecer? – esfregava de maneira cuidadosa a mancha de molho em sua gravata. – preciso fazer algo. Rápido. – caminhou rápido com seus pés tortos até a cozinha, onde tentou esfregar a gravata com um pano e um pouco de sabão. Sem resultado. – droga. – praguejou. Deu uma rápida olhada no relógio antes de correr de volta a seu quarto.

Sobre a cama estava seu colete acinzentado com botões de ferro barato, sobre ele sua carteirinha de membro do sindicato, manchada com café. Puxou o colete de maneira brusca, e colocou-o abotoando de maneira que na primeira vez os botões ficaram completamente tortos. Ele era um desastre naquilo, mas em poucos minutos conseguira se aprontar.

Buscou a carteira encima da estante e as chaves no bolso de seu casaco. Do lado de fora, o vento soprava um tanto revolto, o que fez três botões subirem até o peito de Oliver, para amenizar o frio. O carro dkw vemag estava junto do meio fio. As janelas estavam embaçadas e folhas secas caídas por cima do teto gasto. Oliver adentrou o veiculo, e tirou-o da frente da casa antes que estivesse atrasado.

***

O salão estava cheio. Vários homens estavam sentados as cadeiras distribuídas no salão, enquanto outros se serviam de bebidas alcoólicas e charutos. Oliver Wright parecia perdido ali no meio, no meio da musica alegre natalina, e as conversações variadas. Serviu-se então de um pouco de ponche com alguma coisa que lhe queimava a garganta, sentou-se em uma cadeira de plástico no canto do salão e ficou a escutar a musica.

De fato era muito engraçado ver homens tão viris e durões, em uma comemoração tão doce e amigável. Aquilo fazia Oliver pensar em como homens podiam ser um enigma quando queriam.

-Posso me sentar? – indagou Thomas Hughes, o homem mais inconveniente naquela festa.

-Claro. – Oliver fez um sinal revirando os olhos.

-Obrigado. – sorriu com seu copo de ponche alcoólico. – é como um daqueles bailes, não? – continuou encarando a multidão cheirando a colônia pós-barba e gel para cabelo.

-Como? – franziu o cenho.

-Tudo isso, é como um daqueles bailes dos colégios, não acha? – repetiu. – quer dizer, todas as garotas foram trocadas por homens que sobrevivem com um salário insignificante, e tem de sustentar uma família, mas tirando esse detalhe, é como um baile. – sorriu de canto. Sua boca era um pouco torta, e era sobre isso pelo que ele era conhecido. Não pela boca torta em si, mas o sorriso que dava uma pequena entortada “charmosa” em seus lábios finos.

-Acho que tem razão. – deu de ombros, segurando o copo de ponche com as duas mãos. – é como no colégio. – sorriu sem graça. Oliver Wright por outro lado era conhecido por aquilo. Momentos embaraçosos. Sim, Todos em Cambridge sabiam que para conversar com Mr.Wright você teria de ter duas coisas. (1) Um grande leque de assuntos, que variasse desde o clima até a economia do país. (2) Uma grande cara de pau, que fosse resistente a longos minutos formados por um silencio. INFINITO. E Thomas Hughes era alguém que tinha aquelas duas coisas, e sabia como usá-las.

-O que está achando do ponche? – indagou.

-Ótimo. – comprimiu os lábios. – um tanto acido, eu diria.

-É o uísque. – argumentou. Oliver aproximou o nariz da borda do copo, sentindo de fato o cheiro da bebida alcoólica.

-É a primeira vez que eles colocam isso. – seus olhos estavam lacrimejando, e suas narinas ardendo. – passaram os últimos três anos colocando vodka. – limpou uma pequena gota no canto dos olhos. – e mudam justo no momento em que estou me acostumando. – bufou.

-Mais ainda sim, o gosto está bom. – deu um gole rápido no ponche. – forte, mas bom. – sentiu a garganta queimar. Neste instante a musica mudou. O som do trompete de Louis Armstrong soava estridente e romântico pelas paredes do salão. – gosto desta musica. – sorriu, vendo um grupo de homens gritarem ao ouvir um agudo do instrumento. – e acho que eles também. –sorriu.

-Parece que sim – continuava indiferente a conversa.

-É, parece que sim. – repetiu inaudível. Encheu o peito com o ar cheio de uísque e fumaça de charuto, e então o soltou em um suspiro que levou vários segundos da musica. – está mesmo muito bravo, não está? – passou a mão pela nuca.

-O que está dizendo? – franziu o cenho. – estou bem, apenas me acostumando com o gosto deste uísque. – balançou bebida em um movimento circular.

-Ah sim, posso ver. – fez um sinal de mão a um homem que passava com uma caixa de madeira silvestre. Nela havia vários charutos postos em fileira, um do lado do outro, um em cima do outro. – obrigado. – fez um gesto de cabeça em agradecimento. – um minuto. – indicou a Oliver.

-Claro. – Oliver o esperou acender o charuto que pendia em sua boca, e logo queimava dispersando uma fumaça densa no ar. Enquanto dava pequenas tragadas a fim de aquecer o charuto, sua boca dava pequenas puxadas para o lado, mostrando uma linhazinha que Wright nunca havia reparado.

-Só o que estou dizendo é que parece chateado. – assoprou a fumaça para longe.

-Mas não estou. – deu um gole na bebida, que subiu tão rápido quanto desceu, mas de algum modo conseguira ficar em sua boca. Engoliu-a por fim, dando em seguida algumas tossidas.

-Entendo. - deu mais uma tragada no charuto. A voz de Frank Sinatra soou do radio vitrola, e todos pareceram se acalmar. – o que acha de dançarmos? – Hughes continuava a olhar o salão.

-Acho que não é uma boa idéia. – deu um ultimo gole na bebida.

-Sei que está chateado.

-Não, eu já disse que não estou.

-Então dance comigo. – a fumaça escapava por seus lábios.

-Tudo bem. – suspirou. Oliver se levantou acompanhando Hughes até um canto do salão. Seus sapatos estavam tão sujos quanto os de Hughes, que devia ter estacionado do lado lamacento da rua. Thomas parou próximo do radio. Estendeu a mão para Oliver, que olhava de soslaio para os cantos.

-Oliver? – procurou seus olhos distantes. Wright segurou sua mão de maneira leve, de modo que Hughes se aproximou. Seu queixo estava próximo do ombro de Oliver, e seus dedos, entrelaçados aos dele.

-Não acho que devíamos fazer isso. – sussurrou, vendo por cima do ombro alto de Thomas os olhos surpresos dos demais membros do sindicato. – quer dizer, estão todos olhando. – seus dedos apertaram os do homem colado a seu corpo.

-Não se preocupe com eles. – seus corpos se moviam lentos junto da musica. Os pés de Thomas iam firmes de um lado a outro, e os de Oliver eram tão inseguros, mas ainda sim ritmados. – quero me desculpar com você. – subia as mãos até as costas do parceiro de dança.

-Se desculpar pelo que? – seus olhos caminharam pelos ombros altos, dando um salto até pingarem no piso. – não há nada com o que se preocupar. Nada pelo que se desculpar. – suspirou.

-Deixe disso. – movia os dedos de maneira lenta. – sabe do que estou falando. – suspirou. Seu hálito era de uísque, charuto e bala de canela. Tão agradável. – sei que fui muito idiota deixando você naquele restaurante. Me esperando.

-Não se desculpe. – passou seus olhos rapidamente pelos do “dançarino”. – a policia acabou aparecendo e prendendo um dos cozinheiros. Mason. Acho que esse era seu nome. – Hughes o girou como em um carrossel. – foi bom não ter aparecido, do contrario teríamos feito companhia para Mason no carro da policia.

-Entendo. – assentiu com a cabeça. – mas ainda sim, o que fiz não foi certo.

-Não, não foi. – sorriu de canto.

-O que foi isso? Um sorriso? – indagou.

-Não, não foi. – comprimia os lábios.

-Acho que sim. – abriu um sorriso torto. – tenho certeza.

-Fique quieto e concentre-se em dançar, antes que acabe pisando em um dos meus pés.

-Não irei, acredite. – girou-o.

-Eu acredito. – olhou-o nos olhos.

-Quer ir para casa quando terminarmos de dançar? – indagou Hughes. – posso cozinhar algo para você. – fitou Oliver gentilmente. – assar um frango, talvez. – sorriu. Mr.Wright colocou a cabeça próxima da bochecha de Thomas, enquanto uma de suas mãos apoiava-se na cintura do homem.

-Seria adorável. – sorriu tímido.

-Ótimo. – Mr.Hughes abriu um sorriso. – teremos frango para o jantar esta noite. – gracejou. E de repente tudo parecia sorrir.


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Notas finais do capítulo

E esta foi a fic! Quero aproveitar para explicar que ando meio nervoso com uma certa mudança de tema, e por isso dei uma parada com as fics "gays". Espero não ter lhes decepcionado, e que tenham gostado. Digam o que acharam no review. E até!



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