1989-O outro lado da história escrita por Bad Blood212


Capítulo 4
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Segunda de manhã. Não quero ir para a escola. Todos nos grupos de WhatsApp e no Facebook estão me perguntando o que aconteceu.

Mas se não tenho nada a ver com isso, preciso provar. Não fui eu quem trocou os copos, não sou cúmplice do assassinato de Trina.

Eles precisam entender isso.

***

Meus amigos acreditam em mim e não me abandonaram. Todos estamos em círculo na quadra do colégio por uma prece para Trina. Na parede, está um grande cartaz com sua foto, seus cabelos com mechas coloridas e seus olhos cor de mel destacam-se no grande cartaz.

Donatella segura minha mão e me encara. Ela sabe que eu e Taylor brigamos, mas não questiona. Ele está do outro lado da roda, com os olhos fechados e a cabeça para baixo. Me rendo e faço o mesmo que os outros.

A prece termina e a diretora, de meia idade e cabelos grisalhos presos num coque, pede que os amigos façam uma declaração.

Eu, Donatella, Tristan e outras sete pessoas que não sabia que eram amigos de Trina entram numa fila e decido ficar por última.

Tristan fala primeiro.

Ele começa de quando ele e Trina se conheceram, e termina falando sobre a importância dela na vida de cada um de nós. Eu evito as lágrimas, mesmo sabendo que todos estão olhando para mim.

Todos querem saber o que eu vou falar.

Todos querem saber o que a assassina quer falar.

***

Seguro minha respiração quando chega minha vez de falar e eu subo as escadas do palco. Encaro os milhares de olhos concentrados em mim. Um por um.

Suspiro e acho que estou pronta.

–Trina era uma garota incrível. Ainda é. Nunca vou me esquecer que foi ela quem me apresentou boa parte dos meus amigos aqui, ela que me acolheu quando cheguei aqui. Vim de Londres, então me adaptar aos Estados Unidos não foi fácil. E agora, ela está morta.

As lágrimas lutam para cair e a garota frágil em mim se despertar, mas olho para cima e pisco os olhos para evitar que elas caiam. Respiro e coloco a mão no coração.

–O que aconteceu naquela noite foi...

Olho para todos e mordo os lábios com toda a força. Tristan, com seus olhos escuros e cabelos cacheados, acena com a cabeça em forma de apoio.

–Foi... uma armação para mim. Eu nunca faria uma coisa dessas com Trina. Nunca.

Respiro fundo e encaro todos. A diretora Megan coloca os óculos.

–Explique melhor, senhorita Anna.

–A verdade é que todas as provas apresentadas remetiam à um crime que eu não cometi-digo, não quero explicar. Não quero, não consigo.

–Senhorita, o que detalhadamente aconteceu?

Seguro o microfone e sinto que minhas mãos são muito fortes e resistentes. Mas meus joelhos, que me deixam com o pé no chão, com a cabeça na realidade, estão muito fracos.

–Eu derramei uma bebida na camisa de Trevor e fui ao banheiro pegar papel para ele. Voltei e entreguei. Um tempo depois ele apareceu no meio da festa, ele estava sujo de sangue e apontou para mim antes de desmaiar. As filmagens mostraram-no correndo de um assassino na floresta, e ele se contorcia de dor enquanto corria. A verdade, é que na minha bebida tinha uma toxina capaz de machucar seus órgãos, mas nada grava.

–As provas apontam tudo para mim, e os policiais acham que sou cúmplice do assassinato de Trina, que possivelmente aconteceu por ela ter sido uma testemunha do alvo principal, que era Trevor. Eu não fiz isso. Nunca faria isso. Obrigada.

Saio em prantos e quando me encontro com Donatella, eu a abraço e começo um choro incessante. A pior sensação da minha vida. Isso nunca aconteceu comigo.

***

Já é dez horas da noite. Passei a tarde com o pessoal, me colocaram num grupo com muitas pessoas da escola e elas acreditam em mim. É uma história totalmente comprada e arquitetada para mim. Fico feliz por isso.

Donatella veio dormir aqui em casa e ela já está na cama, assim como Amanda, mas estou na piscina. Sempre fui acostumada com piscinas. Desde os três anos faço natação, e eu tinha um sonho em ser nadadora profissional, mas veio se assoprando da minha mente ao longo dos anos.

Encosto na borda da piscina exatamente quando algo encosta nas minhas costas e eu grito. Me viro e vejo Taylor segurando a rede da piscina e rindo.

–Como entrou aqui?

–Esqueceu suas chaves comigo noite passada-ele diz.

Sento na borda da piscina e respiro fundo, ainda assustada. Olho para ele e me lembro de ontem à noite.

–Eu sei-ele diz-Me desculpe. Não deveria desconfiar de você.

Ele coloca os pés na piscina, molhando a barra da sua calça. Ele me encara e eu retribuo.

–Ok. Está perdoado, mas não deveria. Sabe que isso é sério.

Ele sorri e seus olhos sonhadores piscam.

Eu e Taylor já tivemos muitas brigas e discussões que resistimos. Muitas vezes passamos do limite um com o outro, mas sempre que nós estamos caindo, sempre que estamos prestes a desmoronar, nós voltamos toda hora.

–Se lembra de quando disse que eu parecia o James Dean?

–Sim-me lembro do dia que olhei para ele e pensei-É tão bonito quanto ele.

–Não consigo te imaginar com ninguém. Você é você mesma. Batom vermelho, clássico.

–Não me lembro do dia em que nos conhecemos-eu sorrio, envergonhada.

Ele se assusta e sorri.

–Quando nos conhecemos, eu sabia que você tinha aquela fé de garota boa. Usando uma saia curta.

Fico envergonhada e entro de novo na piscina. Ele tira o celular do bolso e entra de calça, sorrindo.

–Me desculpe, de novo. Não vai acontecer novamente.

–Vai sim. Você é a pessoa mais cabeça dura que eu conheço.

Ele me abraça e finalmente meus lábios encontram os dele e sinto que essa piscina é feita de vidro quebrado, nossos corpos mutilados e fracos não desistiram ainda.

Ele para e sorri.

–Tem roupa minha aqui, não é? Preciso me trocar. Tenho que estar em casa em dez minutos.

Ele sai as pressas da piscina e só quando ele entra na mansão eu vejo seu celular tocando. Me aproximo da borda e é um número restrito.

Ouço o barulho do elevador chegando no terceiro andar e atendo a ligação.

–Estou no fundo do supermercado, estou esperando tem vinte minutos!

A voz feminina encerra a ligação, esbravejando.

Desligo o celular.

Deixo um bilhete preso dentro do elevador e saio com o carro.

***

Engulo em seco quando entro entro na avenida principal, setenta quilômetros por hora, meus nervos estão elétricos. Não posso pensar assim.

Só tem um supermercado que Taylor sempre vai. O Walmart do ShellDown.

Aperto o volante com a maior força que consigo e percebo que acabei de passar por um radar, e que com certeza vou ser multada. Mas não importa. Posso paga essa mesma multa milhões de vezes. Posso comprar metade do estado só com o dinheiro da herança.

Quando passo com o carro na frente do supermercado iluminado em azul e branco, vejo uma garota de cabelos loiros sentada no bando em frente.

Ela tem um celular dourado.

Uma saia azul.

Uma tatuagem na clavícula.

E um sorriso de predador.

O amor de Taylor é uma coisa que não posso pagar. Mas ele também não pode me comprar.

Isso é um quebra-cabeça. Eu preciso juntar as peças.


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