P.O.V Katniss

Coloco sorrateiramente a cabeça para fora da porta e espio os dois lados da Vila dos Vitoriosos, constato que Peeta não se encontra na rua, isso me proporciona certo alívio e também tristeza, não quero me encontrar com ele, ou melhor com eles.

Faz uma semana desde que Delly voltou para o distrito, faz uma semana que não falo com Peeta, faz uma semana que não sei o que é ter uma noite de sono tranquila. Parece que quanto menos convivo com ele, mais mal eu me sinto, sei agora o efeito que Peeta tem sobre mim.

Estou fugindo dele desde o dia em que encontrei ele e Delly abraçados, eu não sei exatamente o por que aquilo me deixou tão mal, só sei que tive vontade de dar uma flechada em Delly e que ela se afastasse o mais rapidamente possível, e queria gritar com Peeta por estar abraçado a ela. Mas as palavras fugiram da boca quando ele me olhou, eu não pude fazer nada a não ser virar as costas e correr para o único lugar em que me sinto bem. A floresta, e chorar por longas horas e voltar para casa, sem nenhuma caça e com os olhos vermelhos e inchados.

A quem eu quero enganar! Eu estou com raiva pois Peeta abraçou a Delly, e não eu.

Sei que estou com ciúmes, afinal, eu e Peeta não temos nada, mas Peeta e Delly se conhecem a muito tempo, e eles podem muito bem ter alguma coisa, e isso me deixa mal de modo que minha garganta fecha e meus olhos se enchem de água. Mas evito ao máximo pensar em Peeta, e no que ele e Delly poderiam estar fazendo, o que no caso não da certo.

–Katniss quanto tempo mais ira continuar com isso?

Dou um pulo quando Greasy fala comigo, me viro ficando de frente para a senhora que me fita com as sobrancelhas franzidas e com os braços cruzados.

–Não acha que está exagerando? - Fala ela.

–Eu não estou fazendo nada de mais! - Falo na defensiva- Só estou checando se o tempo está bom para eu ir caçar.

–Você acha que me engana Katniss? - Fala Greasy e eu engulo em seco- Eu lhe observo sair todo o dia, e você nunca antes de sair conferia o tempo.

–É que... Ouvi dizer que as tempestades estão mais frequentes devido á proximidade do verão... E eu não quero ter que encarar uma tempestade no meio da floresta.

–Devido à proximidade do verão?? Katniss nós entramos na primavera semana passada!

Fico em silêncio.

–Por acaso a tempestade que você evita encarar mora na frente da sua casa?

–E a amiguinha dele também- Sussurro.

–Então quer dizer que está evitado Peeta por causa da amiga dele que retornou ao distrito? - Ela me escutou, penso, droga.

–Sim é por isso! - Explodo- Por que não quero ter que encarar ela com aquele sorriso afetado e que sempre quer pular no pescoço do primeiro homem que passar na frente dela! E nem ver ela se jogando no colo de Peeta e ver ele a receber de bom grado! Mas eles que se danem!

–Katniss se acalma- Fala Greasy me segurando pelos ombros me fazendo ficar quieta, vejo que ela está segurando o riso- Você está com ciúmes do Peeta?

A olho em choque, por mais que seja verdade, eu me sinto vulnerável nesse estado.

–Não! Não! Claro que não Greasy! De onde você tirou essa ideia?-Falo na defensiva.

–De onde eu tirei a ideia? Das suas próprias palavras! Katniss, você está com ciúmes sim mas não que admitir.

–Eu não estou com ciúmes do Peeta! Só não acho correto ele e a amiguinha dele ficarem se agarrando por ai pelo distrito!

–Aham sei- Fala ela com um certo riso no rosto.

–Olha Greasy eu tenho que ir- Falo me dirigindo para a porta.

–Ei menina, espere- Fala Greasy pegando meu braço me fazendo encara-la- Não tenha medo de seus sentimentos, não fuja deles, você gosta de Peeta, só tem medo do que isso ira causar.

–Eu...

–Katniss, ele sempre vem aqui lhe procurar. Pare de fugir dele e de seus sentimentos. Não tenha medo de admitir o que sente, só os mais corajosos admitem o que sentem.

Saio de casa sem responder Greasy e sem conferir se Peeta estava na rua, vou na direção da floresta ainda pensando no que a senhora me disse, será que eu tenho medo dos meus sentimentos? Será que eu tenho medo do amor? Por que eu tenho tantos medos?

Eu nunca fui uma pessoa que se importava com sentimentos, somente me importava com a sobrevivência e segurança da minha família, sempre estive caçando e tentando sobreviver da melhor forma possível, sentimento era um assunto desnecessário para mim, eu nunca me preocupei realmente com eles.

Passo pela cerca e vou na direção do tronco onde fica o arco do meu pai e a aljava de flechas, resolvi deixa-los aqui, por que não fazia sentido leva-los para casa, e aqui eles estariam mais seguros, caminho pela floresta a procura de animais, no fim acabo caçando 2 coelhos, olho para o Sol e deve ser perto do meio dia, decido ir até o lago e ficar por lá.

Levo uma hora para chegar até lá, tiro o casaco do meu pai, minhas botas e meias, faço um fogo para assar um dos coelhos para eu almoçar e o outro deixo dentro de minha bolsa de caça, meia hora depois o coelho está pronto, não ficou lá as mil maravilhas mas serve.

Depois fico pensando em meus sentimentos, o que me resultou em uma bela dor de cabeça. Eu não sei exatamente o que sinto por Peeta, mas é algo forte, pelo efeito que ele tem sobre mim e pela minha vontade de estrangular Delly só pelo fato de ela estar perto do Peeta. A resposta está clara. Eu é que não a entendo. A minha cabeça é um quebra cabeça, onde as peças nunca se encaixam perfeitamente.

Com uma baita dor de cabeça e com a confusão dentro dela mais forte do que nunca, volto para casa.

*****

Desperto de outro pesadelo. Sento na cama ainda respirando pesadamente e tento me acalmar, sem sucesso, decido fazer uma coisa que ultimamente é rotina noturna para mim, desço as escadas e abro a porta da frente, caminho em direção ao jardim de Prímulas que Peeta plantou há algumas semanas atrás.

Ultimamente venho aqui depois de acordar dos pesadelos e não conseguir dormir novamente, venho aqui e me sento na frente das Prímulas e as fico observando, elas tem um perfume bom e tenho a sensação que minha irmãzinha está perto de mim, isso me traz um sentimento reconfortante.

Sento-me no meu costumeiro lugar e passo a observar as flores, que balançam suavemente conforme a brisa fresca passa, abraço meus joelhos sentindo um perfume inebriar meu nariz, fecho os olhos, porém logo percebo que esse perfume não é das flores. Com o coração acelerando, abro os olhos no instante que uma voz chama meu nome.

–Katniss?

P.O.V Peeta

Fiquei muito feliz com a volta de minha melhor amiga, estava com saudades dela, a conheço desde sempre e ela é muito importante para mim, é uma das únicas pessoas que conheço e que gosto que sobreviveram.

Porém, a volta de Delly, fez eu me afastar contra minha vontade de Katniss, desde aquele dia que encontrei minha melhor amiga, e que vi minha garota em chamas fitar-me com um olhar de dor não nos falamos, e isso me magoa.

Eu fui na sua casa, porém sempre era Greasy que me recebia e alegava que Katniss não estava em casa, eu voltava para casa com um olhar triste, e Delly sempre tentava me animar falando que Katniss poderia estar ocupada com alguma coisa, mas eu sabia o que a garota de olhos de tempestade estava fazendo. Me evitando.

Como antigamente, no início das manhãs eu a observava ir para a floreta, porém não sabia que horas ela voltava, pois eu ia para a padaria e voltava tarde, não tinha como eu ir na sua casa no horário e que eu chegava em minha casa, e com o cansaço em que eu me encontrava não teria como eu ir vê-la, mas como eu gostaria.

A padaria está funcionando como nunca, depois de retirarmos os destroços da antiga, começamos a construir a padaria, tenho cuidado das despesas, liguei para a Capital para fazer as encomendas de fornos e outros móveis, estou animado com a ideia de seguir os negócios da minha família, me pergunto se ficariam orgulhosos de mim.

Sei que Katniss anda tendo pesadelos, afinal escuto ela gritando do meu quarto, eu tento, mas é difícil resistir à tentação de ir até sua casa, subir até seu quarto e abraça-la e falar que está tudo bem, porém não posso invadir sua privacidade assim, eu nem sei como ela reagiria, se pedisse que eu ficasse como na época em que dormíamos juntos no Massacre Quaternário ou na Turnê dos Vitorioso ou se ela me expulsaria da sua casa.

Assim como ela, também tenho tido pesadelos, mas graças aos remédios que o Doutor Aurelius me receitou não tenho tido flashes, e isso é um alívio.

Depois de virar e revirar na cama me levanto e vou para meu ateliê, pinto uma garotinha, de cabelos pretos como os de Katniss, e os olhos azuis como os meus, nossa filha, sorrio, ainda sonho em ser pai, e a mãe de meus filhos ser a Katniss, penso se algum dia isso ira se realizar.

Vou para o meu quarto, olho para a cama ainda sem sono, decido ir até a janela e passo a observar a vila, meu olhar para no jardim de Prímulas que plantei, porém algo prende minha atenção, vejo que tem alguém sentado lá, logo descubro quem é. Desço as escadas com uma rapidez impressionante, só me dou conta do que fiz quando já estou atrás dela chamando seu nome.

–Katniss?

Observo ela prender a respiração, em seguida se vira e me encara.

–Oi Peeta.

Vejo que ela está nervosa.

–O que está fazendo aqui fora?

–Eu não consigo dormir... Então decidi vir aqui fora pegar um ar.

–Está tudo bem? - Vejo que ela desvia o olhar e fita as flores.

–Sim, por que não estaria?

–Eu não sei você não fala comigo a dias... E toda a vez que eu vou na sua casa te procurar você não está.

Ela me encara e vejo em seu olhar uma amargura desconhecida.

–Não queria incomodar você e a Delly.

A encaro confuso.

–Incomodar eu e a Delly?

–É parece que estão tão felizes realmente não gostaria de atrapalhar vocês dois.

Olho para Katniss que contém um olhar raivoso. Será que Katniss está com ciúmes? Isso de alguma forma me deixa feliz, em saber que ela gosta de mim ao ponto de sentir ciúmes, mas essa felicidade logo vai embora, ela não gosta de mim, pelo menos não do jeito que eu gostaria.

–Bem, você não incomodaria- Falo me sentando de frente para ela, que fixa seu olhar no meu- Delly e eu não estamos nos vendo, eu estou ocupado com a padaria.

–E como está a padaria?

–Está indo muito bem! Já retiramos o entulho, e agora já estamos construindo, acho que abriremos daqui a 2 meses.

–Que bom Peeta, tenho certeza que vai ficar incrível.

–Você deveria ir lá ver como está.

Vejo que ela desvia o olhar.

–Eu nem sei se é uma boa ideia... Eu não vou ao centro do distrito a tanto tempo... – Sei do que ela tem medo, das pessoas, como vai encara-las, ela ainda se culpa, e mais do que nunca.

–Eu posso ir com você- Falo e ela me olha e sorri, e concorda com a cabeça.

Ficamos conversando por um tempo, logo vejo Katniss se encolher no lugar quando uma brisa passa, vou até seu lado e coloco meus braços ao redor de seu corpo, ao invés de me afastar de si, como imaginei que ela faria, ela me abraça também, colocando os braços ao redor da minha cintura, ela coloca a cabeça na curva do meu pescoço e eu deito minha cabeça sobre a sua.

Ficamos abraçados por um tempo até que percebo que Katniss pegou no sono, pego ela no colo e a levo para sua casa, subo cautelosamente as escadas e a deito em sua cama, quando estou me afastando ela segura me braço.

–Peeta- Ela fala sonolenta- Fica comigo?

Sorrio e vou até sua cama, deito ao seu lado e ela coloca a cabeça em meu peito, e me abraça forte e eu retribuo, beijo sua testa.

–Sempre.

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