P.O.V Katniss

Peeta voltou.

É o primeiro pensamento que me invade assim que abro os olhos pela manhã, uma semana após sua volta. Involuntariamente um sorriso se abre meu rosto, mas logo se desfaz quando lembro de como o tratei, ele só queria fazer uma homenagem para minha irmã, mas, quando eu vi aquelas prímulas... Foi como se um filme de memórias tivesse atravessado a minha mente. Se ao menos pudesse ver Prim novamente... Me desculpar por não a ter salvo.

Se eu não tivesse corrido para dentro de casa, iria começar a chorar na frente de Peeta, e eu não queria que ele me visse daquele jeito. Eu não sei... Só não queria que ele me visse parecendo fraca. Ah quem eu quero enganar? Obviamente o que eu mais queria era me jogar em seus braços e chorar muito, mas como eu poderia fazer isso? Ele nem me ama mais, provavelmente iria me afastar de si e me chamar de bestante.

Isso machuca, pensar que o antigo Peeta nunca mais irá voltar, não posso evitar que um aperto me preencha, agora sei que o que sinto por Peeta é algo muito forte, está distante de qualquer coisa que já senti em relação a Gale.

Vou em direção ao banheiro na intenção de tomar um banho, não faço isso desde que voltei da Capital, me dispo e encaro meu reflexo no espelho, vejo os enxertos de pele que a Capital colocou em mim depois que fui atingida pelas bombas, eles estão vermelhos, obviamente pois não estou cuidando nenhum pouco de mim mesma, cicatrizes agora preenchem meu corpo, olheiras profundas e roxas preenchem o espaço abaixo de meus olhos, meus lábios estão secos e com uma coloração pálida, meus cabelos estão soltos e completamente inosados.

Decido ir logo para o banho antes eu me arrependa, ligo o chuveiro e entro, sufoco um grito de dor quando a água entra em contato com os enxertos de pele, me arrependo de não ter passado os cremes hidratantes que o Doutor Aurelius havia receitado. Com muita dificuldade passo o sabonete pela minha pele, sentindo lagrimas subindo pelos meus olhos, lavo meus cabelos com o shampoo e o condicionador que encontrei no banheiro. Quando saio me sinto aliviada.

Saio do banheiro e me enrolo na toalha, me seco e aos meus cabelos, depois tento desembaraça-los, fico uma hora tentando fazer isso até que consigo, logo faço minha costumeira trança, coloco uma legging preta encontrei, coloco minhas botas de calça e uma regata também preta, desço e vou na direção do cabideiro que fica perto da cozinha, pego a jaqueta de meu pai e a coloco, ouço a porta da frente se abrir e por ela entra Greasy Sae, quando me vê olha-me com cara de surpresa.

–Katniss! Que bom que decidiu sair do quarto!

–Acho que já estava na hora de eu tentar pelo menos sair da cama- Falo meio envergonhada.

–Mas que bom que levantou! Venha vamos tomar café.

Sento-me na mesa e Greasy começa a preparar o café, ele me fala sobre como anda a reforma do distrito e sobre sua neta, alguns minutos depois ouço a porta da frente se abrir em seguida bater, e logo Peeta entra em meu campo de visão, meu coração começa a bater acelerado e sinto borboletas no estômago.

–Bom dia Greasy- Fala ele- Bom dia Katniss.

–Olá Peeta! - Cumprimenta Greasy.

–Oi- Falo.

–Vim deixar alguns pães para o café- Fala ele colocando uma cesta com pães deliciosos, o cheiro deles e tão bom que sinto meu estômago roncar e minha boca salivar.

–Muito obrigada Peeta- Fala Greasy- Sente-se conosco para tomar café.

–Não quero incomodar- Fala ele meio envergonhado.

–Não vai- Digo isso antes que posso me conter.

Ele me encara com seus belos olhos azuis, por um instante posso ver o antigo Peeta, ele sorri.

–Então eu fico.

O café passa com Greasy e Peeta conversando sobre o distrito eu apenas escutava, quando terminei decidi ir até a floresta, faz muito tempo que não vou lá e acho que já está na hora ir visita-la.

Me levanto chamando a atenção dos dois.

–Eu já terminei, Greasy quer ajuda?

–Não tudo bem querida, eu vou aproveitar e limpar a casa.

–Está bem, eu vou dar uma passada na floresta- Me viro para Peeta- Me desculpe por semana passada, eu não devia ter... Agido daquele jeito.

Ele se levanta e vem até mim, sinto meu coração acelerar.

–Katniss não se desculpe, ainda é tudo muito recente, eu não devia ter feito aquilo.

Pelo canto do olho vejo Greasy sair da cozinha.

–Mas eu gostei da homenagem... Ela iria gostar.

–Ela iria mesmo.

–Eu tenho que ir- Falo e o encaro em seguida esqueço de tudo e o abraço, penso que ele vai me empurrar mas ele me abraça de volta, me sinto segura novamente como se nenhum mal pudesse me atingir enquanto Peeta me abraçasse, nos afastamos- Até mais tarde.

–Até.

Saio de casa sorrindo, posso não ter mais o amor de Peeta mas posso pelo menos ter sua amizade e por hora isso basta. Vou na direção da floresta, porém ainda não tenho coragem de passar pelo distrito, por isso pego outro caminho que contorna o doze. Depois de alguns minutos de caminhada chego a cerca, por puro habito checo-a para ver se estava ligada, obviamente não.

Ando pela floresta sentindo o cheiro dela, terra molhada, árvores e liberdade. Inspiro profundamente, como senti saudades daqui! Sempre considerei a floresta como minha casa, aqui eu conseguia ser eu mesma, longe da fome e do sofrimento que era o distrito. Vou até o tronco onde eu escondia o arco do meu pai, logo o acho, não o vejo há meses, mas está igualzinho, coloco a aljava em meus ombros e vou em busca de animais.

No fim consigo um peru selvagem, três esquilos e 2 coelhos, decido não voltar para casa, fiquei muito tempo trancada lá, acendo fogo e cozinho o coelho, acho maças e as como junto com o coelho, depois do almoço pego o resto de caça e decido ir até o lago em que eu frequentava com meu pai, depois de uma hora caminhada chego lá, ele está igual desde a última vez que estive ali, o lago brilhante, a relva verde ao redor dele, alguns insetos voando, tordos cantando ao fundo, e a cabana velha, parece que ali não houve revolução.

Tiro o casaco do meu pai pois está abafado ali, levo ele e caça para dentro da cabana, abro a porta e tusso devido a quantia de pó que há ali, faço uma nota mental de um dia vir limpar essa cabana, volto para fora e deito na relva, olho para cima e vislumbro um céu azul com nuvens, acho que a noite ira chover e se eu quiser chegar antes da chuva não posso demorar aqui.

Quando eu fixo meu olhar em uma das nuvens pude jurar que vi o desenho de um pão no céu, involuntariamente me lembro do Garoto do Pão, e penso o quanto senti a sua falta e quanto desejo que ele fique perto de mim, é mais do que nunca sei de que preciso de Peeta, mas a uma pergunta cutucando minha mente. Será que ele ainda me ama?

P.O.V Peeta

Fico encarando a porta por onde Katniss saiu, sem conseguir pensar e nem tirar o sorriso idiota que está no meu rosto. Ela me abraçou, e foi tão de surpresa que eu tive que acordar do meu pequeno transe quando ela me apertou mais contra si, meu coração bateu tão forte que eu pensei que ela rir da minha cara, parece uma coisa de idiota, mas eu não pude evitar, não quando se trata de Katniss.

–Não sabia que a porta era tão interessante assim- Fala Greasy me tirando de meus devaneios, me viro para ela que está segurando o riso.

–Me desculpe Greasy.

–Nem se esquente Peeta, mas eu acho que você deveria ir de atrás dela.

A encaro.

–Mas já entreguei os pães para ela- Falo tentando fugir do assunto.

–Não se faça de bobo Peeta, pois sei que você não é.

–É melhor não Greasy... Não quero atrapalha-la.

–Atrapalha-la? Peeta é a primeira vez em meses que Katniss sai do quarto! E além disso, a primeira vez que teve força e coragem para ir na floresta! E tudo por causa de você, desde que você chegou na semana passada, notei que ela começou a comer mais do que comia nos últimos meses.

Não sei o que falar, embora seja tentador em pensar que ela está tentando seguir em frente por causa de mim, não posso me iludir para mais tarde quebrar a cara, não posso deixar que isso aconteça de novo, e ainda tem o fato do telessequestro, não posso machucar Katniss novamente eu não me perdoaria se eu fizesse isso novamente.

–Vamos ver o que vai acontecer daqui para frente- Falo- Bom Greasy, tenho que resolver alguns assuntos agora, foi um prazer tomar café com você.

–Igualmente Peeta- Fala ela e em seguida segura minhas mãos- Lembre-se Peeta, não deixe o medo interferir em suas decisões.

–Não vou- Não sei como diabos vou fazer para cumprir isso- Tchau Greasy.

–Tchau Peeta.

Me encaminho para a saída da Vila dos Vitoriosos, decido ir até o cento do distrito, na antiga padaria da minha família mais especificamente, não sei por que quero ir lá, não faz nenhum sentindo, mas parece que eu preciso ver com meus próprios olhos que tudo foi destruído, confirmar o que não quero que se confirme.

Ando a passos lentos em direção ao centro, cumprimentando algumas pessoas pelo caminho, logo chego ao lugar onde ficava a padaria, como previsto ela está completamente destruída, respiro fundo e começo a escalar os destroços, vejo que onde ficava o balcão de atendimento há uma parede caída em cima do balcão, fico pensando se alguns dos meus irmãos estavam ali, já que eram normalmente eles que cuidavam de atender os clientes, mas logo trato de tirar esses pensamentos da minha cabeça.

E assim olho toda a padaria, começo a tentar tirar alguns destroços até que esbarro numa coisa, olho para ela e vejo que é uma caixa, tiro o pó e vejo que é uma caixa de fotos, ela não é muito grande, abro-a e vejo algumas fotos, mas decido de vê-las com calma em casa, fico mais um tempo ali até que vejo uma coisa brilhando no chão, vou até lá e pego essa coisa, noto que era o anel de casamento de meu pai, rapidamente lágrimas vem aos meus olhos, mas não me permito chorar.

Sinto uma dor de cabeça e prevejo o que vem depois, flashes, não, não posso ter um agora, decido ir embora para evitar um desastre, pego a caixa de fotos e o anel de meu pai e sigo em direção a minha casa, girando o anel de meu pai, pensando nele e em toda minha família desejando que estivessem aqui, mas é mais um desejo dentre milhares que não irá se realizar.