Três Formas de Amar escrita por Mi Freire


Capítulo 35
O doloroso adeus.


Notas iniciais do capítulo

Gente, que tristeza. Minhas aulas voltam essa semana. Bem no meio da semana!



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Acordei mais cedo do que de costume para fazer uma caminhada matinal com Yuri e Scott.

Primeiro nós fomos a um café comer alguma coisa antes. Todos olhavam assustados para Scott e passavam o mais longe possível dele por ele esse tão enorme. Eu entendia a reação das pessoas e tentava reprimir o riso.

Minha primeira impressão dele foi terrível também, eu achei que ele era um monstro devorador de humanos, mas com o tempo aprendi a ama-lo e percebei que ele era muito carinhoso e esperto, apesar de um pouco atrapalhado.

− E o que eles disseram? – Perguntou Yuri assim que saímos do tal café de mãos dadas.

− Eles adoraram os primeiros esboços! Mas pediram para eu continuar fazendo mais e continuar enviando.

− E eles te deram alguma previsão de quando a coleção vai sair?

− Não, mas parece um pouco cedo para prever isso. É um longo processo, Yuri. Primeiro eles aprovam meus desenhos e escolhem os melhores, depois começam a fazer as roupas em grandes quantidades e por fim eles as vendem. Claro que depois de muita divulgação e toda essa coisa.

− Bom, pode ter certeza que eu vou ser o primeiro a estar com você no dia do grande lançamento.

Ele parou e me deu um rápido beijinho.

Nós estávamos passando por uma fase muito incrível ultimamente, onde tudo era amor e carinho. E eu esperava que continuasse assim por um bom e longo tempo.

Quando cheguei em casa eu fui direto para o meu quarto, ansiosa para começar a desenhar de novo, pois muitas ideias novas brotaram na minha mente nas últimas semanas.

Mas assim que passei para o meu quarto, dei uma rápida olhada no quarto do Lucas que estava com a porta escancarada e me surpreendi com o que vi.

Lucas estava fazendo as malas.

− Lucas... Você vai viajar? – Pensei seriamente em deixar para lá. Ele tinha todo o direito de resolver seus próprios problemas sozinho, mas a curiosidade falou mais alto.

− Não, Manu. Eu estou indo embora. – Disse ele friamente, ainda de costas, pegando coisas no seu guarda-roupa e colocando cuidadosamente dentro da mala aberta sobre a sua cama.

− Embora? Como assim? Mas e o seu trabalho? E a faculdade?

− Sim, embora. Eu pedi um afastamento do trabalho e a faculdade só começa daqui dois meses. Então eu tenho bastante tempo.

− Mas...

Não, ele não podia estar falando sério.

Isso só podia ser algum tipo de brincadeira.

− Lucas, para um pouco e olha para mim. Do que é que você está falando? Para onde você vai?

− Eu não sei ainda. Mas provavelmente para um lugar bem longe daqui. – Eu tentava a todo custo fazer com que ele olhasse para mim, mas ele não estava colaborando. – Não vou poder levar minhas todas as coisas agora, então, quem sabe um dia eu volte para buscar o resto. Tudo bem?

− Não. Não! Não! Não! Lucas.... Você ficou maluco? Você não vai embora! Você não pode ir. Não assim.

− E o que você espera que eu faça aqui, Manuela? – Finalmente ele se virou de frente para mim, me encarando com seus olhos muito sombrios. – Se eu não posso te ter agora e nem nunca, não faz nenhum sentido eu continuar aqui atrapalhando a sua vida!

− Mas você não está atrapalhando nada, Lucas!

− É, mas não é como eu me sinto. Eu me sinto péssimo de te ver todo dia com aquele cara! Toda feliz e sorridente. Ele parece realmente gostar de você e você dele, pois já a ouvi dizer que o ama algumas vezes. Então, por favor, não torne isso mais difícil para mim do que já está sendo.

Ele se afastou e se aproximou de sua parede repleta de desenhos, muito cuidadosamente ele foi tirando um por um e fazendo uma pilha com eles em sua mão livre.

− Por favor, não vai embora. Fica!

E mais uma vez a Manuela chorona estava de volta.

Era inacreditável!

Será que essas lágrimas nunca iriam acabar?

− Você não tem o direito de me pedir isso! – Ele se virou para me olhar e estava furioso. – Não depois de todas as merdas que você me disse. Sabe, Manuela, eu também mereço encontrar a minha felicidade. Mesmo que parece improvável de ela existir longe de você. Eu não posso ficar. Não me peça para ficar. Eu já tomei minha decisão também.

Depois de recolher todos os desenhos da parede, ele os guardou dentro de uma pasta e colocou na bolsa.

− Você é tão egoísta, sabia? Você me machuca e ainda pede para eu ficar aqui parado chupando o dedo enquanto te vejo viver sua vida por aí com outro cara? Você já parou para se ouvir, Manuela? Já parou para pensar que por mais que eu te ame eu não vou permitir que você continue me ferindo assim? Sabe, uma hora cansa. E não está dando mais pra mim.

Ele tinha razão, mais uma vez.

Eu era mesmo muito egoísta e estupida. Depois de todas as coisas que eu disse, depois de tudo que ouvi ele dizer, depois de tudo que fizemos, eu ainda pedia para ele ficar? Que tipo de monstro eu sou? O que tem prazer de ferir as pessoas? O que tem prazer em ver a infelicidade delas?

Não é justo. Não com o Lucas. Não com o cara incrível que ele é. Inteligente, bonito, divertido, romântico, apaixonante, doce, carinhoso, respeitador, amigo, irmão, fofo. Se não sou eu a pessoa digna de estar ao seu lado – pois ele é bom demais para mim – deve existir uma outra garota por aí a sua espera.

E ele tem que encontrá-la e não vai ser aqui, sofrendo por mim, que ele vai conseguir isso.

Observei de longe enquanto tentava conter minhas lágrimas o Lucas terminar de fazer as malas e carrega-las em direção a porta.

− Você pode ficar com o apartamento e com o carro. Eu não me importo. – Ele deixou as malas no chão depois de abrir a porta. – Se cuida, ta? Não deixe de ser feliz por mim. E não se sinta culpada por nada disso, eu que sou o único babaca aqui.

Ele fechou os olhos por alguns segundos e quando voltou a abri-los vi que estava tentando conter a emoção.

Triste por ter que deixar tudo para trás por minha causa ou alegria por estar finalmente se dando uma segunda chance?

− Adeus, Manu.

Ele se abaixou de novo e pegou as duas malas, uma em cada mão e saiu pela porta, mas antes que ele alcançasse o primeiro degrau da escada eu gritei seu nome.

− Espera!

Corri até ele e lhe dei um último abraço demorado, sem conseguir evitar de molhar toda sua camiseta com minhas lágrimas.

Lucas não pôde corresponder ao meu gesto por estar ocupado segurando suas coisas, mas não me importei. Eu só queria senti-lo pela última vez, pois não sabia quando voltaríamos a nos reencontrar de novo, se é que nos reencontraríamos de novo algum dia.

Lucas se foi e naquele momento eu senti que meu coração inteiro foi com ele. Cada pedacinho foi com ele.

Quando voltei para dentro do apartamento e fechei a porta, senti que não era capaz de dar mais nenhum passo. Eu simplesmente escorreguei pela madeira fria da porta até sentir o meu bumbum tocar no piso. 

Abracei meus joelhos com força e chorei com coração doendo por causa do vazio. Houve um momento em que eu não sabia se era capaz de parar. Os soluços vinham um atrás do outro. E só me lembro de ter chorado assim uma vez, quando pequena e meu pai me deu a primeira bronca da minha vida.

Eu era pequena para entender o que eu tinha feito de errado para merecer aquilo. Mas agora eu já era adulta e sabia exatamente o que tinha feito para merecer isso.

Eu errei em todos os sentidos.

Errei no momento em que permitir que o Lucas se aproximasse naquele acampamento e prometesse que estaria sempre ao meu lado. Pois bem, ele não estaria. Ele esteve, mas não estaria mais. Ele se foi. E tudo teria sido tão mais fácil se eu tivesse apenas o odiado para sempre.

Tudo que um dia vivemos juntos passou pela minha mente naqueles instantes.

Nossas brincadeiras no quintal ou em seu quarto, as risadas de piadinhas que só nós dois entendíamos, a troca de olhares quando só nós dois sabíamos de algo, os sorrisos cúmplices quando aprontávamos alguma coisa terrível, as desculpas que inventamos aos nossos pais para não levarmos uma bronca, as noites em que eu fui dormir no quarto dele por estar com medo de algum barulho estranho, todas as vezes em que ele me abraços quando eu chorava, todas as noites em claro que passamos enquanto ele tentava me ajudar nos estudos, todas as vezes que ele pegou na minha mão para provar que continuava ali ao meu lado,  todas as vezes em que ele enxugou minhas lágrimas, todas as vezes que ele brigou comigo por eu ter feito algo errado, todas as vezes que ele me protegeu de pessoas impiedosas, todas as vezes que ele me surpreendeu e me arrancou um sorriso, todas as vezes que ele me presenteou mesmo quando não era o meu aniversário, todas as vezes que ele segurou a barra por mim, todas as vezes em que ele me acordou para eu não me atrasar, todas as vezes em que quase me matou de rir com seu jeitinho especial e engraçado, todas as vezes que ele cuidou de mim quando eu estava doente...

Todas essas coisas acontecerem de modo tão simples e inocente. Quando as coisas não eram tão complicas e dolorosas. Antes mesmo de sabermos o que sentíamos um pelo outro. Antes mesmo de tudo mudar e virar nossos mundos de cabeça pra baixo.

O Lucas esteve ali em todos os momentos da minha vida desde os meus onze anos de idade mesmo quando ele nem era tão bem-vindo assim. Como quando eu menstruei pela primeira vez e ele achou que eu tinha me ferido gravemente e saiu gritando pela casa desesperado por ajuda. Ou quando eu tive minha primeira vez com o Kevin e ele acabou descobrindo sozinho sem eu nunca te dito absolutamente nada a ele.

Nem sempre eu precisava dizer algo, pois ele logo adivinhava. Era como se tivesse um radar ou pudesse ler a minha mente. Ele sabia exatamente o que se passava dentro de mim. Quando eu estava triste ou feliz, brava ou decepcionada. Ele também conhecia meus gostos como ninguém. O que eu gostava de comer ou o que eu não comia de jeito nenhum. O tipo de roupa que eu gostava de vestir, meus acessórios prediletos. Coisas mínimas como minha cor preferida, meu sabor de sorvete predileto, minha estação do ano favorita. Entre muitas outras coisas que ninguém fazia ideia, mas que ele simplesmente sabia.

Mas e agora, o que eu ia fazer ali sem ele? Quem iria preparar minhas refeições? Quem iria me lembrar de escovar os dentes antes de dormir? Quem iria me encher o saco até eu lavar a louça toda? Quem iria me acordar quando eu não escutasse o despertador? Quem iria me ajudar no blog ou no canal? Quem iria me derrubar do sofá de tanto rir? Quem iria brigar comigo por eu te esquecido coisas espalhadas pela casa? Quem iria brincar comigo na hora de escovar os dentes? Quem iria pegar minha toalha e colocar para secar?

Sei que parece exagero, que vendo por esse lado ele até parece um pai para mim e que talvez eu dependa demais dele e das pessoas porque eu sou imatura demais para cuidar de mim mesma mesmo aos dezenove anos de idade.

Mas isso não é cem por cento verdade. Eu sei me virar muito bem sozinha. Já provei isso diversas vezes. É claro que eu ainda tenho muito que aprender nessa vida. Só que é muito diferente quando você tem uma pessoa especial do lado para cuidar de você em todos os momentos. Uma pessoa que realmente se importa. Te ama e não te engana. Te protege e nunca te esquece. Aquela pessoa amiga com quem você pode contar para tudo. Todo mundo deveria ter uma pessoa assim e se não tem, eu tenho certeza que gostaria de ter.

Não importa o quanto você tente convencer a si mesmo e a todo mundo do quanto você é dependente. No fundo, em algum momento da sua vida, você vai preferir olhar para o lado e encontrar um alguém especial com que você possa contar. Você vai se cansar do vazio, do silencio e vai desejar desesperadamente uma pessoa que te preencha, te transborde, te motive, te inspire e que te transforme.

Não é errado se sentir dependente de alguém. Não é errado desejar tanto uma pessoa. Errado é você deixar de confiar nas pessoas porque algumas delas já te magoaram na minha vida. Errado é você perder fé na humanidade pelas coisas ruins que você vê diariamente pelas ruas e na TV. Errado é não ter segurança nas pessoas porque algumas delas já abusaram muito de você. Errado é achar que todo mundo é igual e que você não merece amar e ser amado também. 

Eu sei que você vai sofrer muito ainda diversas vezes, mesmo estando ao lado daquela pessoa que você acreditou ser perfeita. Mas ela não é e nunca será. Ela é apenas humana, assim como você e também comete muito erros e aprende com eles. Só não deixe de confiar, acreditar. Não desista facilmente, mesmo quando você acha que não tem mais forças.

A minha história é a prova de que certas coisas realmente existem e que quando você menos espera você pode perde-las. Mas não é o fim. Pode ser apenas um recomeço. Talvez o que eu precise agora é apenas enxergar os momentos bons e deixar as coisas ruins de lado, levantar a cabeça e seguir em frente por mais doloroso que seja.

Vai ver o Lucas não partiu para sempre. Não tem como saber e não acredito que isso possa ser possível, não depois que ele me provou ser o melhor amigo que eu poderia ter.

Talvez não sejamos o tipo de pessoa que nasceram para ficar juntos. Talvez apenas devemos nos conformar que temos que ser apenas amigos. Nada mais do que isso. Mesmo que as coisas jamais voltem a ser como antes. Foi um risco que escolhemos correr e certas escolhas não podem ser desfeitas.

Pode ser que amanhã ele volte ou amanhã eu o procure. Eu não sei! Nesse momento eu não sei de nada. Apenas sei que dói muito. Dói mais que bater o dedinho do pé na quina do sofá. Dói mais que se queimar com a prancha de cabelo. Mas eu quero me permitir sentir essas coisas. E talvez só assim eu perceba que errei muito e tenho muito a ser melhorado ainda.

− O que aconteceu com você? – Yuri foi logo entrando. Já tinham se passado muitas horas desde que Lucas deixou esse apartamento. – Eu te liguei várias vezes e te mandei várias mensagens. Mas você não retornou.

− O Lucas foi embora. – Foi tudo que fui capaz dizer naquele momento. Eu já tinha chorado tanto, mas parecia não ser o bastante, pois só de tocar no assunto eu já sentia vontade de desabar outra vez. – Ele foi embora.

Yuri veio até mim e me puxou para os seus braços.

− Eu sinto muito, Japonesa.

− Não. Espera. – Eu me afastei. – Tem algumas coisas que eu preciso te dizer.

Eu estava cansada de carregar todos esses segredos comigo e naquele momento eu quis coloca-los para fora.

Yuri e eu nos sentamos no sofá e eu comecei a contar tudo a ele, desde o começo, sem deixar nada de fora.

Exceto, é claro, a noite em que eu o traí, pois estava tão envolvida nos encantos daquele momento que tinha esquecido completamente de sua existência. Não foi proposital, mas isso também não é justificativa.

E também, aquilo nunca mais ia iria voltar acontecer.

Contei a ele sobre as declarações do Lucas e as poucas vezes em que ficamos juntos.

Contei a ele sobre todas as brigas e desentendimentos. Sendo a maioria deles por sua causa.

Yuri merecia a verdade. Mesmo eu não sendo capaz de contar ela toda. Pois já tinha perdido o bastante por hoje e não queria perde-lo também por pequenas falhas minha.

− Na verdade, nada disso é novidade para mim. Ele sempre te protegia demais, sentia muito ciúmes e me olhava com muito ódio quando eu estava por perto, mesmo no começo, quando ainda não tínhamos nos envolvido. E eu já desconfiava. 

− Então você não está bravo e nem decepcionado comigo por ter escondido tantas coisas de você?

− Não, Japonesa. Eu só estava esperando você se sentir preparada para compartilhar essas coisas comigo. Sabe, eu sou um cara bastante paciente e compreensivo.

Ele sorriu, me fazendo sorrir também.

− E quer saber? Porque eu ficaria bravo ou decepcionado se você escolheu ficar comigo ao invés de ficar com ele?

Nossa, essa doeu bem no fundo da alma.

Aliás, ele não sabia exatamente de tudo.

Mas isso não importava. Não mais. Não agora que o Lucas tinha saído de nossas vidas dando total liberdade para vivermos nosso romance sem mais complicações.

− Você me deixa morar aqui com você agora? – Yuri brincou. – Sinceramente? Eu estou cansado das rabugices da Helena.


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Notas finais do capítulo

Triste, não é? Bom, pelo menos a história está chegando ao fim. Para infelicidade de muitos ou pela felicidade de alguns. Faltam uns três capítulos ou quatro. Não estou muito certa sobre isso ainda. Enfim, vamos torcer para que tudo dê certo. Sendo perfeito ou não. Posto o próximo capitulo ainda essa semana. Beijos!