Três Formas de Amar escrita por Mi Freire


Capítulo 24
Problemas com a namorada.


Notas iniciais do capítulo

Ultimo capítulo do ano de 2015 e boas festas de fim de ano a vocês ♥



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A chuva enfim tinha dado uma trégua nessa noite. Mas um frio muito gelado tomou conta da cidade. Tive que resgatar meus casacos e toucas do fundo do guarda-roupa para me proteger durante minha caminhada noturna com Yuri e Scott.

Scott, apesar do frio, estava muito animado. Yuri muito calado desde que praticamente se declarou para mim. Algumas vezes ele ficava sorrindo para mim, como se quisesse dizer alguma coisa, mas não tivesse as palavras certas. Eu também não sabia o que dizer quanto a isso. Só queria estar com ele. Então eu apenas sorria de volta.

Antes de voltar para casa paramos em uma lanchonete simples dessas de esquina e pedimos lanches, batatas-fritas e refrigerante. Subimos para o seu apartamento, escolhemos um filme e ficamos comendo de baixo das cobertas.

Um programa simples, mas muito proveitoso.

− Preciso ir no banheiro. – Diz ele depressa, tirando a coberta de cima do corpo seminu. Yuri aproveitou para pegar o resto de embalagens vazias e levar para o lixo.

Fiquei esperando por ele com o filme pausado.

Enquanto isso fiquei olhando em volta, para o quarto com a nova decoração e vi o quanto tinha mudado para melhor. Nem parecia o mesmo lixão de antes. Estava muito mais agradável agora com tudo novinho e diferente.

Um celular começou a tocar, dando-me um susto. Mas não era o meu. Era o do Yuri sobre a mesinha do computador.

− Japonesa, atende para mim, por favor. - Ele gritou.

Eu nunca tinha atendido o celular dele antes. Era como invadir uma propriedade desconhecida.

Pelo visto as coisas entre nós estavam mesmo evoluindo. Era preciso confiar muito em uma pessoa para deixar seu celular em outras mãos.

− Alô? – Digo quando enfim resolvo atender.

− Oi. Posso falar com o.... Yuri? – Era uma mulher. – Antes que você pergunte, eu sou Pamela, a ex-mulher.

Mas que cara de pau!

Como ela ousa ligar assim no meio da noite e tem a audácia de dizer que é ex-mulher na maior tranquilamente? E se eu fosse a atual? Uma atual bem ciumenta?

− Yuri está ocupado. – Digo, sem precisar mentir. Ele nem voltou do banheiro ainda! – Mas quer saber? Não ligue outra vez, por favor. Yuri e eu estamos muito bem. Não precisamos de ninguém tentando atrapalhar nosso romance.

E desliguei.

Talvez eu tenha ido longe demais. Eu não tenho nada a ver com os problemas dele com a ex-mulher. E talvez tenha sido um pouquinho cruel demais também. Mas não o bastante. Não como ela merecia por ficar ligando para ele sem parar mesmo depois de ele ter me dito que terminar foi uma decisão tomada pelos dois e que ele ainda não conseguia entender o que ela queria depois de tudo ter chegado ao fim.

− Quem era? – Perguntou ele assim que voltou para de baixo das cobertas e me deu um rápido selinho.

− Sua ex-mulher. – Digo sem nem cogitar a possibilidade de mentir. Mentir não ia dar em nada.

− Minha ex-mulher? – Pergunta ele parece bastante surpreso. – O que essa louca queria? Eu pensei que ela tinha desistindo de tentar falar comigo.

− Ela queria falar com você. Mas eu a mandei parar de ligar. Desculpe.... Eu não deveria...

Eu estava tão envergonhada de mim mesma agora!

− Japonesa. – Ele riu, tocando no meu rosto e me fazendo olhar para ele. – Não precisa sentir vergonha do que você fez. Sabe, eu até que gostei. Talvez assim ela perceba que eu enfim superei e desista de tentar ligar de novo.

− Sério? Você não está bravo comigo?

− É claro que não! – Sorrindo, ele me puxou para cima dele e afastou meus cabelos soltos dos olhos. – Eu jamais ficaria bravo com você por uma coisa dessas.

Um sorriso se formou em meus lábios.

Incline-me para beija-lo.

− Que bom! Assim, se ela voltar a insistir em te ligar eu posso afugentar ela de novo.

Pelo sorriso que ele deu ele pareceu gostar muito da ideia e com a mão na minha nuca me puxou para mais perto.

Como era sexta-feira eu resolvi que ia dormir ali aquela noite para passarmos um tempo a mais juntinhos. Como se não fizéssemos isso todas as noites durante a semana.

A verdade é que eu estava muito envolvida com ele. Sentia que estávamos cada vez mais conectados. Mas isso não me assustava. Muito pelo contrário. No fundo eu sentia que algo muito melhor do que já tínhamos estava por vir e isso me dava a esperança de que finalmente eu tinha encontrado a pessoa certa.

Mas por agora era difícil saber.

Acordei mais cedo do que o Yuri na manhã seguinte. Vesti uma camiseta dele e saí de fininho do quarto. Primeiro fui no banheiro e fiz toda minha higiene matinal. Depois fui até a cozinha e tentei preparar algo para a gente comer.

Eu sabia que não era muito boa nessas coisas, mas as vezes valia a pena arriscar para agradar uma pessoa.

Enquanto esperava tudo ficar pronto, percebi que Helena também não estava em casa. Ela nunca estava quando eu estava. Será que ela e o Lucas estava enfim dormindo juntos? Era difícil para mim pensar nesse tipo de coisas. Mas eu não era boba nem nada. Sabia que isso seria só uma questão de tempo. A maioria dos casais não esperam muito.

Pela primeira vez tive curiosidade de dar uma olhada no quarto dela. A porta estava apenas encostada. Quando a abri me surpreendi com a organização e o bom gosto.

As paredes eram lilás e os moveis branco. Uma cama de solteiro perto da janela com cortina clara, um guarda-roupa com espelho, uma escrivaninha com um notebook desligado em cima, um tapete fofinho, uma prateleira com ursinhos de pelúcia, uma pequena TV e um lustre bem bonito no teto.

Decidi sair dali antes que fosse pega em flagrante xeretando as coisas dos outros e voltei para a cozinha.

Não demorou nem cinco minutos Yuri apareceu só de samba-canção e me abraçou por trás, envolvendo-me com seus braços enormes e musculosos. Depois ele me virou de frente para ele, apoiando minhas costas da pia, enterrou seus dedos nos meus cabelos e encaixou sua boca na minha.

Por mim eu permitiria que ele me beijasse assim o dia todo, mas não tínhamos todo o tempo do mundo. Então tive que me afastar para terminar nosso café da manhã.

Quando voltei para casa já com minhas roupas no corpo no comecinho daquela tarde, encontrei Helena largada no sofá trocando os canais da TV e Lucas na cozinha preparando o almoço.

− Onde você estava? – Perguntou ele baixinho quando me aproximei para beber um pouco de água.

Lucas parecia bem preocupado.

− Saí com uns amigos. – Eu menti. Não podia simplesmente dizer a ele que mais uma vez tinha passado a noite inteira com o nosso vizinho gostosão.

− Que amigos? Não sabia que você tinha feito novas amizades.

Ai caramba! Era verdade, não era como se eu fosse a pessoa que mais tem amigos no mundo.

− Uns colegas da faculdade, apenas. Estávamos comemorando essas últimas semanas antes das férias.

Parece que minha pequena mentirinha tinha finalmente o convencido ou ele simplesmente desistiu de me interrogar.

Depois que bebi minha água fui tomar um banho e lavei meu cabelo que estava começando a ficar um pouco oleoso.

Assim que saí do quarto trocada e com a toalha na cabeça, Lucas me convidou para ir almoçar com ele e Helena. Não tive muitas escolhas a não ser aceitar.

Depois do almoço tive a casa só para mim durante o resto do dia. Lucas e Helena saíram para fazer um programa de casal e eu fiquei em casa gravando vários vídeos, pois não tinha um super programa para fazer sábado à noite.

Acabei pegando no sono cedo demais enquanto editava alguns vídeos. Acordei apenas quando Lucas e Helena chegaram e começaram a discutir. Acho que eles não perceberem que eu estava ali no meu quarto, encolhidinha de baixo das minhas cobertas quentinhas apenas escutando.

− Eu não consigo entender qual é o seu problema! – Disse ela, parecia muito brava e fora de si. Coitado do Lucas. − Porque você nunca consegue? Você nem tenta! Sempre sou eu que tenho que tomar a iniciativa de tudo.

− Você não entende, Lena...

− O que eu não entendo? Que você está sempre com a cabeça nas nuvens? Olha, Lucas.... Eu tentei ignorar isso por muito tempo, mas não está dando mais.

− Então você vai terminar comigo?

Ali do meu quarto escuro eu não sabia ao certo o que o Lucas estava sentindo com tudo aquilo. Mas parecia algo muito perto de medo e aflição.

− Não! É claro que não! Eu só queria que você se esforçasse mais um pouquinho, Lucas. Que você me dessa mais atenção, ouvisse o que eu tenho para dizer, me olhasse mais nos olhos, me tocasse como uma namorada deseja ser tocada. E não ficasse viajando por aí. Você nem se quer me conta o que se passa na sua cabeça! Você não está com algum problema ou está?

− Não! Eu não estou com problema nenhum. Eu só estou... Um pouco cansado. Com o trabalho e com as coisas na faculdade. Na verdade, eu não sei bem o que está acontecendo comigo. E te peço desculpas se não tenho sido o namorado perfeito. Eu só preciso que você entenda e me dê um tempo. Eu sei que vou melhorar...

O jeito como o Lucas estava falando, como se aquilo lhe doesse muito, estava me deixando com o coração apertado. Será que essa garota não percebia que ele estava com algum problema e só não sabia como dizer isso a ela?

Tive vontade de me levantar e ir lá dizer poucas e boas para ela. Não era justo ela tratar meu irmão assim. Ele era simplesmente uma das melhores pessoas que eu já conheci. Lucas não tinha nenhum defeito fora do normal. Então porque era tão difícil ela enxergar ou perceber isso?

Mas, claro, não fui o que eu fiz. Eu continue ali fingindo que não estava presença e eles continuaram discutindo.

− Lucas, por favor, só me conta o que está acontecendo! Por acaso o problema sou eu? Eu fiz alguma coisa errada?

− Não, Lena. Você é maravilhosa comigo! O problema sou eu. Eu só não sei como dizer isso. Pelo menos não ainda.

− Talvez funcionasse se você apenas se abrisse comigo como você faz com a Manuela. De amigo para amigo. Esquece que eu sou sua namorada. Esquece tudo. Apenas se abra comigo e diz o que se passa pela sua cabeça!

Que vaca maluca!

Porque ela tinha que me meter na conversa?

Será que ela não percebia que as coisas não funcionam assim do jeito dela?

Que tudo leva um tempo e tem todo um processo?

− Eu não consigo. Simplesmente não consigo! Tudo isso é muito difícil para mim. Entenda! Não era assim que eu queria que as coisas fossem. Não entre nós.

Helena suspirou, pude ouvir.

− Tudo bem então. Se é assim que você quer não vai ser eu que vou ficar aqui insistindo. Mas não pense que eu vou esperar para sempre, Lucas. Apenas pense nisso.

Houve uma pausa e depois o batido da porta.

Pelo visto ela se foi.

E foi tarde.

Eu quis muito me levantar correndo e ir abraçar o Lucas e dizer a ele que ia ficar tudo bem, que ele não precisava dar ouvidos a essa vaca maluca. Mas eu tive medo que ele ficasse envergonhada por eu ter ouvido tudo ou até mesmo bravo.

Continue ali deitada, agora sem saber o que fazer. Esperei que ele entrasse no meu quarto e procurasse por mim para conversar, mesmo sem ter a certeza se eu estava ali ou não. Mas isso também não aconteceu.

Lucas acabou saindo de novo, acho que para ir atrás da maluca da Helena. E foi quando eu enfim tive a oportunidade de me levantar. Usei o banheiro e depois fui procurar por algo para comer e voltei a terminar de editar meus vídeos.

Choveu o domingo inteiro e pela carinha do Lucas ele e Helena não estava nada bem. Yuri e eu trocamos algumas mensagens, mas eu não tive coragem abandonar meu quarto quentinho e subir até lá para passar um tempo com ele. Ainda mais agora que Helena estava por lá.

− Sua cara diz que as coisas não estão nada bem. – Joguei-me ao seu lado no sofá mais tarde com um saco de balas de caramelo nas mãos.

− Helena e eu estamos brigados. – Admiti ele sem tirar os olhos da TV. – Mas não quero falar sobre isso agora.

− Talvez em um outro dia? – Sugiro, oferecendo algumas balas a ele só para não dizerem que eu sou má.

− Outro dia. Em um outro momento. – Ele sorri para mim enfiando as mãos no meu saco de balas. – Obrigado.

Ficamos calados, apenas assistindo TV no escuro.

− O que você vai querer para o jantar? – Pergunta ele um tempo depois, arrancando o saco de balas das minhas mãos. – Chega por hoje. Você já comeu doce demais!

− Ei. Não é justo! – Apesar de tudo não estou chateada e solto um riso. – Não quero nada para o jantar. Estou bastante satisfeita.

− Ah, que pena. Só porque cozinhar me anima. – Lucas fez uma careta. – Estou precisando fazer alguma coisa.

− Sair está fora de cogitação. Está tarde, frio e chovendo. Então que tal você me ensinar a jogar alguma coisa? – Digo olhando para o videogame parado em nossa frente.

Já disse que eu sou péssima nessas coisas?

Tenho uma coordenação motora das piores.

− Está mesmo falando sério? – Lucas abre um sorriso. – Mas você nunca teve interesse nessas coisas.

− Ué, mas tudo tem uma primeira vez, não é? Bom, pelo menos é o que dizem. Mas aí, vai me ensinar ou não?

Lucas solta uma gargalhada animadora.

− Só se for agora.


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Notas finais do capítulo

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