Três Formas de Amar escrita por Mi Freire


Capítulo 2
Aquele que me conhece como ninguém.


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi. Obrigada pelos comentários no primeiro capítulo.



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TEMPOS ATUAIS

As pessoas têm o hábito de me perguntar o que eu faço da vida. E por muito tempo eu odiei essa pergunta. Tanto pela intromissão tanto quanto pela falta de resposta. Eu sempre fui uma garota muito confusa. E demorou muito tempo para eu descobrir o que eu realmente queria para mim.

− O que você faz da vida?

− Eu sou blogueira.

− Tá, mas o que você faz pra se sustentar?

− Eu sou blogueira!

Até quando as pessoas não vão entender que blogueira também é profissão? Sabe, os tempos mudaram. Muita coisa evoluiu. A maior parte das profissões envolvem tecnologia. Principalmente a minha que exige que eu esteja conecta a maior parte do meu tempo, exercendo meu trabalho.

Eu fiz o blog aos quinze anos. Cinco anos atrás. Na época eu ainda não sabia o que queria. Fiz mais por diversão. E também porque eu nunca fui muito boa em fazer amizades, conversar com as pessoas, interagir, me abrir. Não cara a cara. A ideia foi do Lucas. Que achou que ao fazer um blog sobre um assunto que eu entendia e gostava, me ajudaria nessa questão. E não é que ele tinha razão?

O blog foi crescendo pouco a pouco e de uma outra para outra eu tinha mais de mil leitoras. Todas muito interessadas nos assuntos que eu abordava. No início eu falava mais sobre pensamentos do cotidiano, filmes, livros, revistas, séries. Depois de muito estudo e pesquisas comecei a falar sobre moda, maquiagem, esses tipos de coisa que interessa a maioria das mulheres vaidosas assim como eu.

Quando terminei o ensino médio, eu soube exatamente o que queria fazer: Moda. E assim eu poderia abordar o assunto com mais profundidade. É o que venho fazendo nos últimos doze meses desde que ingressei na faculdade.

Mas não é só isso. Se você pensa que é fácil ganhar dinheiro só fazendo posts, saiba que não é Eu criei um canal no Youtube também. Ele é mais recente. Tem só dois aninhos. E já está bombando, crescendo cada vez mais com novos seguidores. E por incrível que parece é com isso que eu me sustento hoje em dia.

Claro que foi um longo percurso. Não é fácil para ninguém no começo. Basta um pouquinho de paciência e investimento. Ah, sem contar o apoio que tive da minha família. Principalmente do Lucas que me ajudou e me ajuda muito.

− Mas você consegue ganhar dinheiro com isso?

− É, consigo. Se eu tiver um bom conteúdo e seguidores.

Mesmo assim as pessoas não parecem acreditar que essa seja minha profissão e que eu ganhe algo com isso.

Mas eu ganho. Ganho mais do que se pode imaginar. E não estou falando só do dinheiro. Estou falando das pessoas que conheci, das coisas que elas me disseram. O apoio, o carinho, o incentivo. E os produtos das marcas que eu divulgo tanto quanto no canal ou no blog.

Esse é um ponto importante: parcerias.

− Manu – Lucas bateu na porta do meu quarto. Ela estava sempre aberta. – Já terminou aí? O jantar está pronto.

Lucas é como um anjo na minha vida. Ele é um ano mais velho. Portanto entrou primeiro na faculdade. Veio morar sozinho aqui no interior da cidade. Em um prédio simples próximo do campus. Eu vim logo em seguida.

Hoje em dia estamos dividindo o mesmo apartamento. Não é enorme, mas é o bastante para nós dois. E tem dois quartos. Lucas não admite, mas é como se ele já tivesse pensado em mim assim que o alugou.

É perfeito!

Demoro mais dez minutos para terminar de editar o vídeo que eu vou disponibilizar em poucos minutos para ao canal. No vídeo eu falei sobre cinco produtos que eu estou amando no momento. As leitoras, sendo a maioria mulheres, adoram quando eu dou dicas e as minhas opiniões sobre as marcas.

Deixo meu notebook ligado enquanto ele carrega o vídeo para o Youtube e vou até a cozinha, onde me sirvo com o pouco da macarronada com queijo que o Lucas preparou para a gente.

Ele é tão bom cozinheiro quanto meu pai. Eu por outro lado sou péssima na cozinha. Por isso nem me arrisco. Deixo isso por conta dele. Lucas não se importa. Uma de suas maiores paixões é cozinha, além de desenhar, é claro.

− Como foi seu dia hoje no trabalho? – Pergunto assim que me sento com ele na bancada na cozinha, onde geralmente fazemos nossas refeições juntos.

− Normal como sempre. – Diz ele, dando de ombros. – E como foi o seu dia aqui em casa? Muito produtivo?

− Sim, como sempre. Gravei um vídeo, fiz alguns posts no blog e respondi alguns comentários de leitoras.

Eu trabalho em casa. Esse é lado bom da profissão que eu escolhi para mim. Só preciso do meu notebook, meu celular, minha câmera e uma internet rápida. Já o Lucas trabalha em um escritório de designs. Ele é estagiário por lá a alguns meses. E só trabalha seis horas por dia. O que é muito bom para ele poder conciliar com os estudos.

Eu faço Moda. E ele faz Artes Plásticas. Estudamos na mesma faculdade que fica muito perto daqui. Vamos juntos caminhando todas as manhãs.

Depois de ajuda-lo com a louça, nós nos jogamos no sofá e nos preparamos para assistir mais um episódio de Masterchef. Nosso programa na TV aberta favorito.

Filmo alguns Snaps antes de apagar a luz para o ambiente ficar mais agradável. É como eu disse. Eu estou conectada o tempo todo. No Youtube, no Facebook, no Snap, no Instagram. Meus leitores e seguidores gostam de saber o que estou fazendo todo o tempo. É como se de alguma forma eles pudessem estar mais ligados a mim, mais íntimos.

Lucas já se acostumou a isso. Ele não se importa. Na verdade, ele faz questão de aparecer algumas vezes para mandar beijos para algumas leitoras que são loucas por ele desde que souberam que a gente divide o apartamento e somos como irmãos. Muitas delas fazem uma centena de perguntas todos os dias. Querendo saber se somos namorados ou amigos com benefícios. Lucas e eu rimos muitos com os comentários.

Ah, sem contar que elas já até inventaram nosso shipper. São diversos. Mas o mais usado é ManuLu. Que para quem não sabe é a junção de Manu de Manuela e Lu de Lucas.

Deixo o celular de lado por um momento. As vezes eu também preciso me desconectar por algumas horas. Descansar. E deito minha cabeça no colo do Lucas enquanto ele brincado com meus cabelos longos, ondulados e pretos.

O Lucas é o garoto que toda garota sonha ter ao lado.

Exceto eu.

Afinal, somos irmãos!

Ele é branquinho, mediano, nem magro, nem gordo. Tem o cabelo castanho que ele sempre corta mais curtinho nas laterais, deixando em cima mais cheio e bagunçado. Ele faz a barba sempre que precisa, deixando o rosto lisinho e macio. Seus olhos são cor de caramelo cobertos pelos óculos de grau de armação preta e quadrada. Os traços do seu rosto são delicados. Ele anda sempre bem vestido e está sempre cheiroso.

− Esse cara tem que sair. – Lucas comenta, me tirando do meu transe.

− É verdade. – Volto a olhar para a televisão. – Ele é insuportável. Seria um péssimo chef de cozinha.

Lucas concorda.

Geralmente temos opiniões muito parecidas.

− Ei, porque você está me olhando assim? – Ele pergunta, quando mais uma vez desvio meus olhos da televisão e paro para analisar o rosto dele.

− Ah, não é nada. Eu só estou distraída! – Tento disfarçar meu embaraço. – Talvez eu só esteja com muito sono.

− Acho que você tem razão.

É como eu disse. Em questão de minutos eu apago completamente. Durmo ali mesmo, com a cabeça no colo do Lucas. Pouco tempo depois ele me acorda com cutucões.

− Hora de ir para a cama, mocinha.

Sorrio. Mesmo sendo acordada, coisa que eu detesto. Mas sendo acordada pelo Lucas é algo completamente diferente. Ele sabe como me acordar. Ele é delicado e cuidadoso. E me conhece como ninguém.

Juntos escovamos os dentes no pequeno banheiro. Nessas horas nós sempre brincamos em frente ao espelho, mesmo estando os dois caídos de sono.

Vendo de fora, de fato, nós parecemos um casal. Estamos cansados de ouvir isso e cansados de explicar que somos amigos, apenas melhores amigos que têm muito intimidade e anos de convivência.

− Boa noite, Manu. – Diz ele, quando paramos em frente aos nossos quartos que ficam de frente um para o outro.

− Boa noite, Lucas. – Fecho os olhos quando sinto seus lábios pousarem em minha testa por alguns segundos.

Não gosto de dormir de porta fechada. Gosto de saber que em algum momento, se eu ficar com medo ou assustada, o Lucas vai estar ali em frente com a porta do seu quarto também aberta e irá me socorrer mesmo no meio da noite.

Às vezes eu me assusto com o tanto que sou dependente dele.

Caio no sono profundo e só acordo no outro dia as seis da manhã e já aproveito para fazer alguns Snaps, mesmo de cara amassada. Eu não me importo de expor a minha intimidade. Sei que isso faz parte do meu trabalho.

Depois que o Lucas saí do banho é a minha vez de entrar no banheiro e tomar uma ducha rapidinha. Antes de me trocar, coloco o rosto para fora da janela e vejo como está o tempo. Nublado. Nem frio nem calor. Opto então por um macaquinho escuro e uma jaquetinha jeans. Para os pés sapatilhas.

Um fato importante sobre mim é que eu raramente fico sem maquiagem. Não é como se eu precisasse de um reboco o tempo todo. Mas é coisa minha. Mania talvez. Só não consigo sair de casa sem maquiagem. Ou pelo menos uma base e um batom. Sou extremamente vaidosa.

Depois de pronta pego minhas coisas e me arrasto até a cozinha, onde o Lucas já está tomando seu café na bancada com aquela carinha fofa de sono. Beijo sua bochecha e me sirvo de suco e alguns biscoitinhos.

Chegamos na faculdade faltando dez minutos para as sete. Lucas vai para um lado e eu para o outro. Nós só nos encontramos um bom tempo depois no intervalo. Onde nos sentamos no refeitório nos dias de chuva ou no jardim nos dias de calor e comemos alguma coisa enquanto conversamos sobre nossas aulas.

Uma hora depois nos encontramos novamente perto da saída. Lucas vai direto para o trabalho e eu volto para casa sozinha. Mas antes passo na farmácia e compro remédio para cólica. Esses meus dias estão chegando e é sempre uma tortura.

Como já era de se esperar, sinto as primeiras dores assim que me jogo na cama de barriga para cima. Tomo o remédio antes que piore. Mas não adianta muito.

A dor me sufoca.

Passo o resto do dia ali encolhida, mexendo no celular para ver se me distraio. Mas não ajuda muito. Decido compartilhar isso no Twitter e não demora muito para algumas leitoras me mandarem recadinhos fofos.

Eu me sinto muito mais amiga delas do que muitas outras pessoas que eu conheço no mundo “real”. Para ser sincera, eu não tenho muitos amigos. Ou nenhum. Fora o Lucas. Eu sou um pouco tímida para essas coisas e quando elas raramente acontecem eu não sei levar a coisa a adiante.

Por isso é tão fácil para mim falar sozinha diante de uma câmera. Porque ali estou sozinha, só eu e a câmera. E não me assusta ter que postar depois esse vídeo para milhares de pessoas. Porque sei que muitas delas me admiram.

Houve um tempo em que eu não lidava muito bem com críticas ou comentários maldosos. Eu chorei muito por conta disso. Mas o Lucas sempre estava ali me dando força e com o incentivo dele eu nunca desisti de continuar.

No comecinho da noite Lucas chega do trabalho. Ele chama por mim e eu solto alguns resmungos por ainda sentir muita dor. Então ele entra no meu quarto e me vê naquela situação. Ele sorri não muito surpreso. Volta para a sala e depois volta para o meu quarto segurando algo.

− Trouxe isso para você.

Era sorvete. Ele sempre me dava sorvete na TPM.

− Peraí... Como você sabia?

Ele senta-se comigo na cama, abre o pote de sorvete com facilidade e com uma colherzinha ele mergulha no sorvete. O meu sabor preferido: flocos.

Lucas sempre sabe de tudo.

− Eu sempre sei. – ele olha pra mim com um sorriso, depois olha para o grande calendário que eu tenho pregado em uma das paredes onde eu sempre anoto tudo.

Principalmente isso.

− Você é muito espertinho, sabia disso?

− Não, não sou. Sou apenas observador.

− E o melhor irmão do mundo.

− E melhor amigo do mundo também.

− É, isso também.

− Tá... E o que mais?

− Peraí... Você já está exagerando, senhor Lucas.

− Não. Eu só gosto quando você me enche de elogios.

− Mas eu faço isso quase sempre!

− E eu gosto de todas as vezes que você faz.

Sorrimos ao mesmo tempo.

Já disse que ele é adorável e incrível?

Enquanto ele me conta do seu dia produtivo no escritório e eu pouco falo sobre o meu dia nada produtivo, nós devoramos o sorvete em pouco tempo o pote está vazio.

− Eu soube que temos novos vizinhos.

− É mesmo? – Perguntei. – Eu não sabia.

− Nem eu! Só ouvi dizer.

− Bom só espero que eles não sejam encrenqueiros.

− Nem eu! E mesmo se forem, eu, o Super Lucas, estarei sempre aqui para te proteger.

Caio na gargalhada com a sua performance de super-herói.

− É, eu sei disso. Ainda bem que tenho você. – Digo por fim, muito séria. Pois falo de coração e ele sabe disso.

Lucas se inclina e me dá um beijinho na testa.

− Se sente melhor?

− Agora? Me sinto totalmente curada.

Com ele ali me distraindo com suas palhaçadas e todo seu carinho eu realmente tinha me esquecido de qualquer dorzinha.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do Lucas? E da Manu?
Me contem tudo! Qualquer dúvida, é só perguntar.