Um peso, duas medidas escrita por Miaka


Capítulo 2
Perda


Notas iniciais do capítulo

Gente, muitissimo obrigada a todos que leram o primeiro capítulo! Fiquei muito feliz com as reviews, tudo! *o* Obrigada por acompanharem e espero que gostem!



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Um clima de inquietude pairava naquele lugar que costumava ser tão tranquilo. Após os gritos que foram ouvidos por toda a ala administrativa do palácio, a cena que quem estava do lado de fora aguardava era simplesmente inacreditável.

Durante todo aquele longo trajeto, Ja’far foi alvo dos olhares assustados dos servos que cochichavam simplesmente estarrecidos ao verem a maior autoridade daquele país, depois de seu rei, ser escoltada por dois generais.

Sharrkan e Masrur tinham uma expressão péssima ao passarem com o albino pelos corredores, cada um segurando um dos braços daquele que seguia o caminho com a cabeça abaixada. Ele encarava o chão extremamente constrangido sendo tratado como um criminoso perigoso.

– Ja’far-san!!! - uma voz chamou sua atenção.

O albino ergueu a cabeça e encarou Pipirika. Aquela que sempre esteve ao seu lado, que sempre trabalhou consigo e tanto o respeitava tinha os olhos azuis arregalados, sem ter ideia do que se passava.

Ele, por sua vez, apenas sorriu de forma melancólica na tentativa de acalmá-la. Era como um aviso para ela não questionar sobre o que estava acontecendo. Do jeito que tudo estava, não duvidava que Sinbad pudesse mandar mais alguém para a prisão naquele dia.

Mas alguém mais, que assistia a aquilo tudo, tinha planos maiores.

Ja’far viu quem estava atrás da moça tão alta. Aquela bela mulher de pele alva como a neve, os cabelos longos, negros e lisos repartidos ao meio e um sorriso simplesmente… aterrorizante. Seu coração falhou uma batida ao encará-la, mas ele não se abalou. Desviou o olhar e voltou a abaixar a cabeça. Era o melhor que podia fazer.

Mil coisas se passavam em sua mente. Será que tudo o que tinha vivido ao lado de Sinbad era apenas um sonho? Sentia como se seu mundo desmoronasse. Naquele momento lhe estava sendo arrancado seu amor, sua dignidade… tudo o que mais prezava.

– Sinbad-sama, se me permite, o que aconteceu? - a mulher perguntou ao se aproximar do rei daquele país.

– Não se preocupe, Hakuei-sama. - Sinbad sorriu, tentando desfazer a expressão carrancuda que carregava desde a briga com Ja’far na sala de reunião. - Apenas tivemos alguns problemas na nossa reunião…

– Problemas? - piscou uma ‘desentendida’ Hakuei. - Espero que… que não tenha sido por causa da minha chegada. - ela evitou encará-lo e simulou um princípio de choro indefectível.

Ao notar a tristeza na expressão da moça, Sinbad encontrou a deixa perfeita para dar um passo além. Tomou a mão da princesa e exibiu seu melhor sorriso.

– Como vossa agradável presença causaria algum problema, princesa?

Hakuei, melhor, Arba tinha de admitir que aquele homem era absurdamente encantador. E o poder de sedução dele devia ser sua melhor arma, certamente. Seus planos estavam parecendo cada vez mais prazerosos. Desejou se lançar nos braços dele, mas ainda era cedo demais para isso. Precisava se comportar não só como uma mulher recatada, mas como a honrosa filha que ela tanto estimava… ou não.

– M-me perdoe, Sinbad-sama, é que… - ela gaguejou. - eu realmente não quero trazer problemas. E… me desculpe a intromissão, mas Ja’far-san me parece uma pessoa tão calma e dedicada ao seu trabalho. Me pergunto o que houve… - pensativa ela concluiu.

– Apenas uma desobediência que não foi de meu agrado. - explicou Sinbad. - Não é algo do meu feitio, mas preciso tomar algumas atitudes enérgicas de vez em quando. - ele suspirou. - Ser rei não é fácil e vossa majestade deve compreender muito bem o quão dificil é governar...

– Ah, - ela abriu um sorriso. - claro que sim…

Xeque-mate.

Se havia alguma dúvida de que aquela bruxa habitava o corpo da primeira princesa de Kou, Sinbad tinha sanado naquele instante. Afinal, Arba sabia muito bem como era ser imperatriz de Kou e não uma mera princesa, e agora mesmo havia confirmado aquilo. Tão fácil cair na lábia daquele homem sem nem aquela astuta mulher perceber.

– Bem, - ele decidiu desconversar. - Já que temos alguns dias até irmos a Balbadd, que tal eu levá-la para conhecer Sindria hoje?

– C-claro. - ela gaguejou ainda se sentindo corar ao ver seus dedos entrelaçados nos daquele homem.

Um longo dia se passou. Ao menos para aquele que ficara enclausurado naquele lugar.

A única iluminação naquela cela adentrava por uma pequena abertura que ficava no alto de uma das paredes. O luar refletia no rosto entristecido daquele que passara o dia todo ali, naquele assento úmido feito de pedras, como tudo ao seu redor, exceto as barras de ferro que o isolavam da área externa e interna daquele palácio.

Suspirou pesado, abraçando a si mesmo quando ouviu passos ecoarem do final daquele enorme corredor que levava até sua cela. Claro que as outras celas se encontravam vazias, não havia prisioneiros em Sindria. Ja’far era o primeiro…

Olhou em direção às grades que davam para o corredor pouco iluminado e encontrou seu rei. Assim que o encarou, franziu o cenho. Já Sinbad, manteve a expressão calma e séria com a qual chegou ali acompanhado de dois guardas que o conduziram até onde seu general e conselheiro estava encarcerado.

– Podem ir. - disse o moreno, assim que a porta da cela lhe foi aberta.

– T-tem certeza, majestade? - um dos guardas questionou apreensivo.

– É claro. - ele esboçou um sorriso ao adentrar o lugar.

– Com licença.

Os dois se curvaram e então deixaram seu rei ali, sendo analisado por um par gélido de orbes verdes. Sinbad podia jurar que fazia quase 20 anos que não via aqueles olhos daquele jeito.

Olhou ao redor aquele lugar e encontrou um prato de comida intocado. Foi quando voltou a fitar o albino.

– Como me disseram, nem tocou em seu almoço. - Sinbad suspirou cruzando os braços. - Vim buscá-lo para o jantar.

Ja’far nada dizia. Apenas permaneceu a encará-lo quando seu rei se aproximou e ousou tentar lhe segurar para, em seguida, ter a mão espalmada pela de seu general, que se levantou para se afastar ainda mais.

– ESTÁ BRINCANDO COMIGO?! - rosnou o mais jovem.
Sinbad piscou atônito com a atitude violenta daquele que era muito mais do que seu braço direito.

– Qual o problema?! Estou vindo lhe buscar para jantar conosco!

– Não é possível! - Ja’far chegou a rir um tanto quanto atordoado, levando uma mão à cabeça e farfalhando os fios esbranquiçados. - Não, não é possível!

– Não se alimentou o dia inteiro. Vamos jantar. Todos estão preocupados com você. - o rei explicou de forma sucinta.

– Ah, por que será que eles estão preocupados? - Ja’far indagou retoricamente. - Será por que você me deixou trancado aqui como um animalzinho selvagem que se comportou mal?! E está me soltando agora por quê?! Ah, deve ser porque está chegando a hora de eu ter que me deitar com você!

– Você não entendeu nada, Ja’far! - foi a vez de Sinbad revidar. - Eu fiz isso porque queria que se acalmasse! Você estava fora de si!

– Então você me acalma me colocando em cárcere? É, sou mesmo seu animalzinho de estimação, Sinbad!

O moreno rangeu os dentes. Como odiava que Ja’far não o tratasse pelo costumeiro apelido. Pensava que Ja’far compreenderia. Por que estava sendo tudo tão difícil?

Ja’far, tudo o que lhe peço é que volte comigo para as dependências do palácio para jantar com nossos amigos e termos uma boa noite, ok?

– Pois eu me nego! Pode ir! Por favor, me deixe aqui!

– Eu não vou deixá-lo preso aqui, Ja’far!

– POR QUE NÃO? JÁ FEZ ANTES!

Não havia como evitar conter mais aquelas lágrimas. Era humilhação demais.

Depois de ter sido visto por todos os servos como um prisioneiro, de ter sido usado por Sinbad, de saber que seria trocado por uma vagabunda louca… ele estava à beira de um colapso.

Sinbad, por sua vez, não sabia como agir. Será que havia exagerado? Aproximou-se daquele que cobria o rosto com as mãos e soluçava e o abraçou, rápido o suficiente para que ele não pudesse reagir.

– Me solta, Sin… - Ja’far praticamente implorou tentando sair daqueles braços fortes.

– Shhh. Eu errei. Me desculpa. É que me tirou do sério hoje. - Sinbad afagou os fios alvos. - Se quiser, vamos jantar nos meus aposentos, só você e eu. - ele sussurrava.

– PRA QUÊ?! - Ja’far ergueu o rosto e tentou empurrá-lo. - Para me levar pra cama de novo, me usar e depois me humilhar?! Sin, você é o pior!

– Eu nunca faria isso, você sabe!

– Eu também achava que nunca me jogaria numa jaula feito um animal!
Tsc, - Sinbad perdia a paciência. - você deve estar faminto e exausto! Venha comigo!

– Já disse que não vou!

E com aquela última declaração, Ja’far conseguiu se soltar e voltou a se sentar naquele banco feito de pedras, para total desolação de Sinbad.

O moreno massageou as têmporas e pediu paciência a si mesmo.

– Vou ter que te arrancar daqui?! - o rei cruzou os braços.

– Tente e eu grito aos quatro ventos que pretende se casar com Ren Hakuei por interesse! - ameaçou o albino.

Os dois ficaram a se encarar por um tempo. Sinbad intimidado pela ameaça de Ja’far, ao mesmo tempo em que refletia sobre o que havia feito. Ja’far tinha razão de estar tão revoltado, mas não era possível que ele colocaria em risco tudo. Era seu cúmplice, seu amigo mais fiel, seu amante… Mas que ele havia jogado em uma cela. Suspirou angustiado.

– Olha, você pode fazer o que você quiser! A porta vai ficar aberta e na hora que quiser, você sai! - era tudo o que ele podia fazer naquele momento.
Sinbad deu meia-volta e seguiu para a porta de saída seguido por Ja’far, que por si próprio fez o favor de selar aquele cadeado.

– Vou permanecer aqui na jaula até meu dono voltar a me ver! - rosnou o albino.

O rei de Sindria o encarou com tristeza. Cerrou os punhos com força perguntando a si mesmo o que estava acontecendo com os dois. Estavam sempre tão bem juntos. Por que Ja’far não entendia seu objetivo? Mesmo que se casasse com Hakuei, jamais deixaria de amá-lo.

– Que seja! - o orgulho falou mais alto. - Deixarei instruções para os guardas o soltarem quando quiser!

Sinbad seguiu em passos firmes e evitando olhar para trás. Como queria arrancá-lo dali, nem que usasse Zeppar para levá-lo desacordado. Mas não. Não podia por em risco seus planos. Havia cometido uma falta grave com Ja’far e ele sabia que o mesmo podia pagar com a mesma moeda, estando ele movido pelo ciúme.

– EU TE ODEIO, SINBAD!

Ja’far gritou agarrado àquelas grades. Doía tanto vociferar aquela mentira que as lágrimas caíam. Seu peito se comprimia e ele urrou, tomado pela revolta e pela dor. Deixou os joelhos irem ao chão enquanto soluçava.

Pena que ele não podia ver seu rei derramando as mesmas lágrimas ao ouvir aquelas palavras tão duras. Ja’far o odiava?

Vendo-se só, o albino não hesitou em conter mais lágrimas. Precisava daquilo. Despejar tudo o que estava sentindo, aquela angústia que o corroía.

Mas aquela solidão não perdurou. Uma mão suave e gentil passou por entre as grades e tocou seu rosto. Um toque tão caloroso e maternal que trouxe uma sensação nostálgica a Ja’far, que manteve os olhos cerrados por um breve instante para desfrutar da maciez daquela pele que lhe lembrava alguém tão especial.

Mas foi apenas abrir os olhos que encontrou aquele par de orbes azuis daquela que continha um riso que virou uma gargalhada que ecoou por todo aquele imenso corredor onde as celas vazias ficavam.

Ja’far empalideceu ao ver aquela mulher ali, agora segurando firmemente seu queixo entre a mão, as unhas bem-feitas cravando no rosto fino do rapaz. Extremamente assustado ao ser surpreendido daquela forma, ele não conseguia ter uma reação adequada para se desvencilhar da bruxa.

– Pobrezinho… Era mais fácil o “Sin” - ela mimicou o jeito de falar dele. - ter levado você à força e você teria feito aquele escândalo todo que prometeu, não é? - a libidinosa mulher se aproximou o máximo que pôde das grades para sussurrar. - Que ele quer dar um golpe político se casando com Ren Hakuei?

Arregalou os olhos em choque. Ela tinha ouvido tudo? Como era possível?!

– S-sua bruxa… - ele rangeu os dentes e, rapidamente, se afastou.

Ainda trêmulo, Ja’far só pôde praticamente se arrastar para trás sem deixar de encará-la, temendo ser atacado por aquela que já não precisava mais se esconder. Não para ele.

– Sabe, eu tinha planos de acabar com você, por você ser o braço direito do Sinbad e poder se tornar uma pedra no meu sapato… - ela se levantou batendo as vestes róseas para tirar a poeira. - Mas olha só, parece que você mesmo já colaborou! Sinbad te trancou aqui enquanto me fará a rainha desse país. - ela gargalhava com maledicência. - E agora ficou tudo mais fácil porque… eu realmente quero me casar com ele, sabia? - Arba, agora no corpo de Hakuei, delineava de forma provocante os lábios com as pontas dos dedos indicador e médio. - Não vejo a hora de ir pra cama com ele. Será que pode me dar umas dicas do que ele gosta?

– Tsc, sua miserável! Todos sabemos que você é a Arba! Você não vai enganá-lo!

– Não se você me ajudar… - ela cantarolou com um belo sorriso. - O que você acha? Ou você vê o seu querido “Sin” casado comigo… ou eu posso matá-lo!


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Notas finais do capítulo

Uffa! Esse foi um capítulo bem tenso! Confesso estar ansiosa para o próximo!
Terrível como eu amo fazer o Ja'far sofrer, hein, gente? hahahah!
Espero que gostem! Beijos e até o próximo!



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