These Four Walls escrita por Madu Oms


Capítulo 1
What if I had one more night for goodbye?


Notas iniciais do capítulo

Capítulo único. Espero que gostem ♥



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Eu ainda me lembro da primeira vez em que ele disse que me amava.

Foi numa tarde, nas férias de julho. Estávamos juntos fazia cinco meses e alguns dias – oito, se não me engano –, já completamente fora da fase de adaptação. Na verdade, parece que nunca passamos por ela. Sempre me pareceu que tínhamos sido feitos um para o outro.

De qualquer forma, estávamos juntos fazia cinco meses, mas nenhum eu te amo havia escapado. Nós dois éramos novos demais, e nossas histórias amorosas não eram as melhores. Não sabíamos a forma certa de dizer eu te amo, e evitávamos o momento a todo custo. “Adoro você”, “você é tudo”, “você é a melhor coisinha”... Frases que a gente repete e que, no final, significam a mesma coisa.

Julio tinha me convidado para passar a tarde na casa dele. Morávamos perto um do outro, de modo que eu poderia ir andando, se quisesse – mas não fui. Era julho, estava chuviscando e eu era muito preguiçosa. Sou. Não faz diferença.

Passamos a tarde vendo séries na Netflix e nos beijando de vez em quando. Ríamos, conversávamos... Estava tudo perfeito. Tudo sempre era perfeito quando estávamos juntos.

— Qual a primeira coisa que você faria se virasse vampira? – ele me perguntou depois que terminamos o terceiro episódio de The Vampire Diaries.

— Correria pelada pela praia.

— O quê?! – Julio começou a rir. Ele tinha a melhor risada do mundo.

— Vampiros sentem tudo mais intensamente e são muito rápidos, né? Acho que correr na praia pelada, com os nervos de vampiro e velocidade de vampiro, deve ser a melhor coisa.

— Renata, você é a pessoa mais esquisita que eu já conheci em toda a minha vida – ele falou, sério.

Dei uma risada e bati em seu braço.

— Ei! – protestei.

— E eu te amo por isso.

Assim. Naturalmente. Sem susto, sem gaguejar, sem travar. Simplesmente fluiu.

E nenhuma corrida nua conseguiria fazer eu me sentir tão bem quanto aquelas seis palavras fizeram.

Depois desse dia, foram milhares de “eu te amos”. Ao acordar espontaneamente de uma soneca, ao pedir um favor pelo whatsapp, ao resolver uma briga, enquanto acontecia uma briga. Tenho muita sorte de poder dizer que nunca deixei de dizer que o amava. Que o amo. Mesmo quando terminamos.

Sinto falta de poder dizer que o amo. Sinto falta dos abraços quando eu reclamava por ele ser tão lento. Sinto falta de como ele segurava meu rosto e se declarava olhando bem fundo nos meus olhos, cada vez que brigávamos. Até das brigas eu sinto falta – principalmente daquelas que acabavam na cama.

Não há um único dia em que eu não sinta falta dele.

E é seguindo essa linha de raciocínio que eu coloco o porta-retrato preto com nossa foto dentro da caixa, fechando-a logo em seguida. Todas as nossas lembranças estavam ali dentro. Por meio segundo, cogitei deixá-la na casa e seguir em frente. Seria bom poder continuar com a minha vida sem ter nenhuma memória me prendendo para trás.

Mas lembrei que o ursinho rosa que ele ganhou pra mim um ano antes estava ali dentro. E o moletom que ele me emprestou quando a gente saiu e eu esqueci o casaco em casa. E o caderno do Rei Leão – meu filme favorito – que ele me trouxe da Disney quando viajou para lá com a família. E nossa última lembrança, um ingresso para a estreia de um dos milhares de filmes de super-herói que ele gostava tanto.

Quem me via agora, chorando enquanto selava meu coração numa caixa de papelão, não fazia ideia de que aquele ingresso havia sido comprado pouco mais de um mês atrás.

O tempo segue andando. As pessoas seguem mudando. E a vida não faz uma pausa para que a gente respire e junte as forças necessárias para acompanhar tudo o que acontece.

Levantei minhas memórias e saí do quarto, me dirigindo ao carro que me esperava fora de casa. Fechei a porta com um suspiro, sentindo que havia deixado uma parte de meu coração ali dentro.

Queria poder dizer que eu saberia viver sem Julio. Que as coisas dariam certo para mim. Que, um dia, dali a não muito tempo, eu poderia olhar para nossa história sem sentir uma vontade gigante de explodir em choro.

Mas eu não era idiota a ponto de pensar que um dia conseguiria superá-lo.


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Notas finais do capítulo

Sim, Netflix é uma guria. Fiquei muito chocada quando descobri.O final fica aberto a interpretações. Se quiserem me mandar o que vocês acham que aconteceu, fiquem à vontade, mas eu não prometo que vou dizer a verdade. Quero deixar o suspense no ar.Um beijo!



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