Abri os olhos lentamente piscando algumas vezes para me acostumar com a falta de luz do ambiente que era dominado pelo som agudo do despertador. Afastei a coberta com os pés e ainda deita me espreguicei. Sentei na cama e desliguei o despertador que marcava seis e quarenta. Levantei e puxei a cortina revelando um tempo nublado.

Podia afirmar com toda certeza que eu não dormia um sono tão bom desses fazia um tempos, a maioria das vezes nem conseguia pregar os olhos ou então era acordada por um pesadelo e não voltava a dormir de jeito nenhum.

Peguei o celular e desbloqueei a tela, indo para o ícone de mensagem.

“Bom Dia, Mick.

Dormiu tão bem quanto eu?

Estou tão animada para o novo colégio que vou até usar um daqueles destruidores de pé que você e Maia tanto elogiam sorrindo.”

Enviei sorrindo, isso voltaria com a curiosidade de Michael a respeito do novo colégio e a coisa que mais queria agora era ele se mordendo pra saber. Larguei o aparelho no lugar que estava antes e andei até o banheiro que fica no meu quarto. Depois de um delicioso banho quente voltei correndo para o quarto enrolada na toalha. Abri o guarda-roupa passando as roupas sem muito interesse, meus mestres na arte da moda tinham dito que deveria “chegar chegando” na nova escola, o problema é que eu não gosto de chamar atenção… Quanto menos pessoas me olharem mais confortável fico, mas se queria levar a sério uma possível carreira de cantora teria que me acostumar com olhares, certo?

Resolvi investir no preto e vermelho, talvez ficassem conhecida pelo look escuro, uma calça preta com rasgados na horizontal, uma blusa vermelha acima do umbigo, jaqueta de couro preta, uma touca vermelha e uma sandália de salto. Passei um batom vermelho e rímel. Coloquei uma gargantilha preta. Peguei o celular para ver se Michael já tinha respondido. Nada.

Desci as escadas sem apressa ainda falta um tempo aceitável para o início da aula principalmente porque meu pai está insistindo em me levar e ainda bem porque não iria suportar andar de salto até o colégio que ficava longe comparado a Sweet Amoris, mesmo que pequeno, eu não tenho costume ou andava de All Star ou de sapatilha. Além de que também havia questão do tempo que levaria.

–Bom dia, pai. - Falei adentrando a cozinha.

–Bom dia, querida. - Sorriu. -Está muito bonita. -

–Obrigada, já tomou café? - Questionei abrindo a geladeira, atrás da massa de panqueca que tinha preparado ontem.

–Não, estava lendo o jornal. - Respondeu.

–Vou fazer panqueca, quer? - Ofereci, pegando a frigideira no armário.

– Você está mesmo me fazendo essa pergunta? - Questionou parecendo abismado, como se a pergunta fosse tosca demais para ser feita.

– Foi mal, esqueci que o senhor não recusa comida. - Falei na defensiva começando a fritar as panquecas, ele apenas riu.

Coloquei dois pratos com panquecas na mesa, um pro meu pai e outro no espaço afrente dele. Sentei e comemos em silêncio até meu celular apitar indicando uma mensagem. Pedi licença para meu pai e peguei o aparelho ansiosa por saber se a mensagem era de Michael.

“Que bicho te mordeu pra estar feliz ao acordar a uma hora dessa? E principalmente para você usar um SALTO feliz? O que está me escondendo mocinha?”

Mordi o lábio para reprimir uma risada e rapidamente teclei uma resposta.

“Você nem tem ideia de quantas coisas estou escondendo de você, Mick, por exemplo, eu estou pegando um garoto gostoso e também estou escondendo o nome do meu novo colégio”.

–Vamos, querida? - Papai questionou após colocar a louça na pia e assenti me levantando.

Durante o caminho fiquei trocando mensagens com Michael e provocando ele em relação a meu novo colégio, quando cheguei disse que tinha que ir à coordenação pegar meus horários e ele me disse que voltaria a dormir porque só viria mais tarde para colégio porque estava com muito sono, ri e mandei uma mensagem o chamando de preguiçoso.

Guardei o aparelho no bolso da jaqueta. Okay… Agora precisava de ajuda para chegar à coordenação. Passei pelo portão adentrando num lugar espaçoso, quase todo gramado tirando alguns lugares ocupados por algumas trilhas de cimento, era rodeado por árvores. Fui andando por uma das trilhas, a que levava até a porta do colégio, senti algo se chocar contra mim. Fechei os olhos já pensando no impacto. Cai com um peso sobre mim, abri apenas meu olho direito e notei um cabeleira cumprida castanha perto do meu rosto. A garota tirou o cabelo do rosto e sorri hesitante.

–Desculpinha? - Fez uma expressão de coitada.

–Está tudo bem. - Ri. - Mas agradeceria se saísse de cima de mim. -

– Ah, claro que posso fazer isso. - Saiu de cima de mim e se sentou ao meu lado no chão. - Eu sou Isadora. - Me estendeu a mão.

– Prazer, me chame de Ella. - Falei enquanto me sentava e apertei sua mão.

– Ella? - Franzi o cenho, pensativa. - Não me lembro de ter te visto antes ou ter ouvido seu nome… -

– É porque sou novata. - Ri

– Nossa, que boa impressão que estou passando. - Coçou a cabeça.

–Não precisa ficar assim, acontece. - Sorriu dócil. - Se me mandar licença eu preciso ir à coordenação pegar o horário e tal. -

Levantei e estendi a mão para ajuda-la ela segurou e se levantou.

–Venha, eu faço questão de te acompanhar para me redimir! - Começou a andar, ri e comecei a segui-la. Conforme passávamos por algumas salas suas utilidades eram-me explicadas, e sinceramente agradeci por isso porque não tinha decorado a localização de nada ontem, só tentei me focar onde ficavam a sala de música e a cantina. Na porta da coordenação me despedi de Isadora e combinamos de nós encontramos novamente na hora do intervalo. Quando recebi o horário não pude deixar de respirar aliviada ao constatar que a primeira aula era de História, tinha uma facilidade monstro com essa matéria junto gramatica, literatura e filosofia. Sai e caminhei lentamente na direção das salas, no caminho me informei qual era a sala de história.

Para minha surpresa assim que entrei na sala reconheci Maia sentada perto da janela encarando a paisagem lá fora. Sorri maldosa. Aproximei-me tomando cuidado de não ser notada e me inclinei bem próximo de seu ouvido.

–Pensando nos garotos sem camisa sua pervertida? - Questionei maliciosa. Ela deu um pulo da cadeira caindo da mesma. Ri maligna.

–Porra, sua va… - Começou a gritar irritada, mas paro ao perceber que era eu. - Aurora? - O que faz aqui? -

– Estudar, oras. - Desdenhei.

– Porque não me contou que ia vir pra cá sua piranha? - Praticamente rosnou a pergunta. Ri de novo.

– Queria ver a cara de trouxa de você e Michael quando dessem de cara comigo pelos corredores. - Dei de ombros. Sentei-me na carteira a sua frente.

– Você está se saindo bem. - Elogiou se levantando, estava se referindo a minha tentativa de mudar. Não queria que fosse uma simples mudança de aparência, mas sim algo mais profundo, queria amadurecer.

–Obrigada. - Sorri e olhei na direção da porta com a intenção de averiguar se o professor já estava chegando e me deparei com um garoto escorado na porta encarando a nós duas. Ele era loiro de olhos castanhos, usava jaqueta de couro, uma blusa cinza e uma calça jeans. Arqueei a sobrancelha de modo desafiador. Ele sorriu em resposta e se desencostou da porta segundo rumo ao fundo da sala.

– Não é uma boa ideia, diria que ele é um segundo Castiel, quer se envolver com esse tipo de gente de novo? - Maia chamou minha atenção. Balancei a cabeça em negativo. Uma versão loira do Castiel? Não muito obrigada já conhecia a história para saber como ela ia terminar. - Então fique longe do Zack, pergunte ao Michael depois ele vai te afirmar que é cilada. -

– Já entendi, nada de chegar perto do bonitão loiro. - Revirei os olhos, me virando para frente, afinal o professor tinha chegado e estava exigido silencio.

Quando fomos liberamos para o intervalo Maia veio me buscar na porta da sala para que não me perdesse e ria me contando que tinha tido uma aula com Michael, mas que não havia falado que estava lá e que ele tinha passado a aula inteira resmungando que eu estava escondendo alguma coisa deles. Sorri travessa.

–Como vamos enganar ele? - Questionei com falsa Inocência.

– Só chegue por trás e grite algo no ouvido dele ou você pode esperar por mais tarde quando ele vai fazer o teste para vocalista da banda. - Sugeriu.

– A segunda opção é perfeita! Não o deixe me ver vou me sentar com uma garota que conheci mais cedo, Isadora. -Falei enquanto entravamos na cantina.

– Boa sorte. - Desejou indo na direção aposta a minha procurei com o olhar Isadora e a encontrei numa mesa mais afastada com um grupo pequeno. Aproximei-me e fui apresentada aos amigos dela, eles foram bem simpáticos sempre tentando me colocar por dentro do assunto tratado.

No final da aula Maia me enviou uma mensagem dizendo onde deveria ir para o tal teste da banda do Michael que ainda não tinha um nome definido, pedi a a Isadora que me levasse até lá.

–Você vai fazer o teste?- Questionou.

– Na verdade não estou pensando muito na vaga e sim em fazer uma pequena surpresa pro meu amigo Michael. Ele não sabe que eu estou estudando aqui, mas bem que eu gostaria. - Ri.

– E porque não tenta? -

– Eu não sei que música cantar… E eu nem ensaiei. - Expliquei.

– Só escute seu coração tenho certeza que ele vai te mostra o caminho, uma música cantada com o coração vale mais do que uma ensaiada milhares de vezes. - Falou sorrindo dócil. Assenti, ela tinha razão e não custava tentar, certo?

Entrei na sala sendo encoberta por Isadora e fui para uma pequena fila. Não tive coragem de olhar para as outras pessoas que se apresentavam então fiquei encarando Isadora que sorria de forma a me encorajar. Escutei uma voz dizendo “próximo” e me coloquei a frente dos três garotos que estavam sentados em carteiras. Michael me olhando abismado como se não acreditasse no que estava vendo. O garoto do meio tomou a palavra.

–Qual o seu nome? - Questionou?

– Aurora Helena, mas prefiro que me chamem de Ella. - Respondi cerrando as mãos em punhos.

– É um prazer, Ella, eu sou Sebastian, o baterista. - Sorri. - Do meu lado esquerdo está James, o baixista e do outro Michael, o guitarrista. Não precisa ficar nervosa, ok? Pode começar quando se sentir confortável. - Falou num tom suave. Assenti, vi Maia aparecer e se instalar perto de Isadora. Respirei fundo e fechei os olhos. Uma música do coração, hein?

– Posso segurar meu fôlego

Posso morder minha língua

Posso ficar acordada por dias

Se isso é o que você quer

Ser a sua número um -

Cantava lentamente e de olhos fechados, eu me sentia o coração dor porque era isso tudo que fiz por Castiel e por meus amigos, ou pelos menos foi o que tentei fazer e era difícil colocar isso para fora. Eu tinha noção de que o ressentimento ainda ia demorar a ser superado. Eu só não queria mais ficar a mercê desse sentimento…

– Posso fingir um sorriso

Posso forçar uma risada

Posso dançar e interpretar o papel

Se é isso que você me pede

Te dar tudo que sou.-

Acho que essa era uma coisa que ninguém podia constatar eu tinha dado tudo de mim por eles, as pessoas que mais amava nesse mundo e tinha recebido uma reposta cruel a todo meu tempo de dedicação. Quantas vezes eu tinha sido magoada? Quantas vezes eu estava mal e fingi um sorriso só para não preocupa-los? Deixei muitas vezes a minha dor de lado para cuidar da deles.

– Posso fazer isso

Posso fazer isso

Posso fazer isso

Mas sou apenas humana

E eu sangro quando caio

Sou apenas humana

E eu me arrebento e me desmonto

Suas palavras na minha cabeça, facas em meu coração

Você me bota lá em cima e depois eu caio aos pedaços

Pois sou apenas humana. -

Era isso que eu queria dizer… Que apesar de tentar parecer forte de me esforçar para parecer sentimental, eu tinha sentimentos, era humana e estava sangrando já fazia um longo tempo, e ninguém tinha se importado até reencontrar Willian e Michael e conhecer Maia.

– Posso ligar

Ser uma máquina boa

Posso segurar o peso de mundos

Se é isso que você precisa

Ser seu tudo

Posso fazer isso

Posso fazer isso

Eu superarei-

Talvez com eles eu pudesse recomeçar ser alguém de verdade, talvez eu não precisasse ser perfeita, eu poderia ser humana e ser cuidada por alguém, que me amaria independente do que eu fizesse.

– Mas sou apenas humana

E eu sangro quando caio

Sou apenas humana

E eu me arrebento e me desmonto

Suas palavras na minha cabeça, facas em meu coração

Você me bota lá em cima e depois eu caio aos pedaços

Pois sou apenas humana

Sou apenas humana

Sou apenas humana

Apena uma pequena humana

Eu só posso aguentar um tanto

Até ficar de saco cheio -

Sim, essa era a resposta, era totalmente humana e não tinha que aguentar ser tratada como qualquer uma, eu merecia respeito e amor. Era meu direito chorar, gritar, desabafar, me amar, odiar, ser feliz e ter amigos de verdade.

–Pois sou apenas humana

E eu sangro quando caio

Sou apenas humana

E eu me arrebento e me desmonto

Suas palavras na minha cabeça, facas em meu coração

Você me bota lá em cima e depois eu caio aos pedaços

Pois sou apenas humana. -

Eu não sofreria mais por quem não merece, na verdade, eu tinha que ser feliz! Lutar por tudo aquilo que eu queria e jamais me deixar abalar por más amizades.

Abri os olhos me focando em Maia e Isadora, as duas pareciam tocadas.

Eu não merecia me menosprezar porque os outros não acreditavam em mim, eu não podia me remoer pela culpa que não tinha. Agora chega! Era definitivamente minha hora, tinha passado tempo demais repleta de mágoa para perceber que eles nunca tinham retribuído meu esforço. De agora em adiante me doaria completamente a música.