Hóspedes. escrita por Atoriei


Capítulo 1
A casa de tio Rodolfo.


Notas iniciais do capítulo

Espero que se divirtam lendo, da mesma maneira que eu me diverti escrevendo e pensando sobre o desfecho para isso tudo.

Enjoy.



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Meus pais foram demitidos do trabalho ao mesmo tempo. Acho que foi a maior sorte que já tivemos em nossas vidas. Claro que tinha que ser uma coisa pra foder com tudo o que prezávamos e cuidávamos. Claro que sim, né? Pra começar, assim que descobrimos, papai me disse que não conseguiríamos cuidar do nosso cão, Burke. Tudo bem. Burke foi dado para nosso vizinho. Então papai disse que teríamos de vender algumas coisas e, bem, sobraram dois ou três móveis na casa toda. Aceitei e continuei sorrindo, dando força para os dois. Então, mamãe adoeceu. Aí fodeu com tudo de vez.

Minha mãe descobriu um tumor nos seios. A porra do outubro rosa não adiantou de nada pra ela, né? Bom. Nós não tínhamos dinheiro, tínhamos perdido nosso plano de saúde e o SUS é demorado demais para fazer as coisas. Mamãe morreu um mês depois de descobrir o tumor. Papai entrou em depressão e não conseguia sair de casa nem para tentar achar um emprego.

Acontece que, nessa época, vivíamos de aluguel. Era uma casa grande e bonita, funcional. Tinha até uma horta. Mas com tudo o que aconteceu, papai não pagou o aluguel por muito tempo. Fomos despejados. Eu, meu pai e três móveis que ele tratou de vender assim que fomos despejados. Eu não sabia muito bem o que fazer com tudo isso, então liguei para meu “tio”.

Minha mãe era adotada, e minha avó era uma pessoa muito acolhedora. Todo o amigo que mamãe arrumara com o tempo, morou na casa da vovó, pelo menos por uma semana. Era algo que vovó não conseguia evitar. Meu “tio” era o melhor amigo de mamãe. Ele morou na casa de minha avó por quase cinco anos. E assim que terminou o ensino médio, arrumou um emprego e foi morar sozinho. Ele acolheu a mim e a meu pai com o maior sorriso do mundo, como se fossemos da família. Foi nos buscar na rodoviária e tal e tal.

Sua esposa, Emily, estava junto quando foram nos buscar. Tio Rodolfo, “Rô” para os íntimos, caminhou até nós sorrindo, quase como se não soubesse fazer mais nada que não sorrir. Abraçou-me com o mesmo carinho de sempre, a careca parecia brilhar mais a cada vez que nos víamos, e olhou para meu pai com aquela cara de “vou te ajudar em tudo o que precisar” antes de dar um abraço nele.

Meu tio era um daqueles caras que quando você vê, acha que vai num frango frito todos os dias do ano. Ele era bem gordo e careca. Devia ter algo em torno de 1 metro e 60 de altura e usava camisa de botão listrada em todas as ocasiões. Teus olhos azuis eram quase escondidos em meio as tuas sobrancelhas grossas. Já minha tia, era a mulher mais fitness do ano. Loira, alta e com olhos num tom de cinza muito bonito. Seu corpo era cheio de curvas dadas pelo esporte (ou academia) e seu sorriso era o mais branco e alegre que vai ver em anos.

“Quanto tempo acha que poderemos ficar, Titio?” Perguntei assim que pude, pensando em quanto tempo meu pai demoraria para superar a perda de minha mãe e voltar a ativa.

“Quanto tempo for necessário, Lucas.” Ele me olhou com aqueles olhos serenos, passando a tranquilidade que dizia que aquilo era mesmo verdade.

Abracei minha tia e caminhamos até o carro. Ela olhou em meu rosto e sorriu. “Como você cresceu, Lu! Nem parece mais aquele garoto que vinha brincar de esconde-esconde com o Lipe. Está com quantos anos? 16 ou 17?”

“Fiz 17 na semana passada” Sorri para ela. Eu havia me esquecido completamente de Felipe, o filho do casal. Meu “primo”.

“Adorei o teu cabelo. Acho que você deveria ter deixado ele crescer antes. Assim está bem melhor” Tia Emily passou a mão por meus cabelos, bagunçando-os.

“Obrigado, Tia. Eu cansei de ficar cortando, e simplesmente deixei crescer. Gostei bastante do resultado.” Chegamos ao carro e pedi para colocar as duas malas com as roupas restantes no porta-malas.

Após colocar as malas no lugar e me entrar no carro, encostei minha cabeça na janela, fechando os olhos e simplesmente me sentindo grato por tudo o que estava acontecendo.

Minha tia me acordou dizendo que havíamos chegado. O carro estava vazio, sobrando apenas eu e ela. Abri um sorriso e saí do carro olhando em volta. A casa combinava com meu tio. Digo. Ele era gordo e careca, a casa era grande e parecia brilhar. Tudo nos conformes, certo?

“O Rô levou as malas lá pra cima.” Ela me puxou, quase correndo. Eu adorava aquela energia que minha tia tinha. Ela parecia nunca ficar triste ou qualquer coisa do tipo.

Tia Emily me mostrou a casa toda, o quintal, com piscina e churrasqueira. O andar de baixo, escritório, biblioteca, cozinha, sala de estar, sala de jogos, sala de jantar. E o andar de cima, com todos os quartos. O quarto do Lipe era quase geek demais pra ser verdade. Vários pôsteres de Star Wars e Star Trek nas paredes. O teto era pintado de preto e com várias estrelas e planetas, naquela tinta que brilha no escuro. O quarto do casal era muito bonito também. Era todo decorado em tons de cinza. Contando todos, acho que dava uns 49 tons de cinza.

Emily me puxou de volta a sala de estar, onde estavam papai e meu tio, em frente a TV, assistindo à um jogo de basquete. Só o basquete conseguiria prender a atenção de papai.

“Meninos, Lucas está entregue a vocês. Vou fazer o jantar enquanto se divertem.” Ela sorriu, e caminhou para a cozinha.

“Titia, vou ajudar à senhora” Fui atrás dela, entrando na cozinha.

Minha tia me mandou sentar num dos bancos do balcão e ficar quietinho ali. Aparentemente, ela não queria ajuda.

“Mamãe, cheguei!” Uma voz masculina gritou de algum lugar na casa.

Minha tia sorriu e me arrastou para fora da cozinha, me levando até o quarto de Felipe.

“Olha quem vai ficar um tempo aqui em casa, Fê” Ela me empurrou pra dentro do quarto e quase tive vontade de matar minha tia. Então meus olhos pararam nele.

“E aí, sou o Lipe” Ele sorriu e me estendeu a mão. Tinha olhos cinza escuro e o sorriso mais lindo do mundo. O rosto era anguloso e os cabelos eram loiros, num tom meio castanho. Os fios chegavam até o meio das costas, em ondulações estonteantes. Ele usava óculos que quase escondiam teu nariz levemente arrebitado, com narinas parecendo uma tomada. Felipe estava usando uma camiseta preta simples com uma camisa xadrez de flanela por cima, jeans rasgados e tênis pretos.

Apertei tua mão, sentindo uma batida mais forte no meu coração.


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Notas finais do capítulo

Digam o que acharam, e acompanhem os outros dois capítulos pra saber o que rola.
Obrigado pela leitura.

See u



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