Até que a morte os una - (EM REVISÃO) escrita por SillyNina


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

OLÁ SERES HUMANOIDES MEIO-ANIMAIS!
Hoje trago a vocês mais um capítulo da novela das nove- pera, não é isso.
Bom, vou começar (como sempre) pedindo desculpas, sei que demorei e bastante, mas creio que o número de palavras compensará um pouco isso, né non?
ATÉ PORQUE TEM PALAVRA PARA CARAI AQUI, ENTÃO ME DESCULPEM POR ESTAR TÃO GRANDE ESSA BAGAÇA TAMBÉM, eu não tive culpa, e sim eu dividi de novo, isso é tipo a metade do que eu deveria escrever neste capítulo :p fazer o que, já podem me apedrejar.
Mas, bem CHEGA de pedir perdão trocentas vezes e vamos a algumas explicações básicas sobre este capítulo: caso alguém fique confuso durante a leitura eu gostaria de esclarecer aqui que existem três Foxys, sim TRÊS Foxys em cena, são eles:
—O Foxy animatrônico ainda sem espírito ‘’desse tempo’’, que é completamente visível para todos. Inclusive a partir de um determinado momento as falas dele vão ser demarcadas por ‘’~’’ tils, ok?
— O ‘’nosso’’ Foxy, o que está vivenciando tudo desde o inicio (mas revelar por que ele está revendo tudo isso novamente seria spoiler do próximo capítulo, então teorias gente) e não é visível para ninguém, mas vocês logo entenderam o porquê.
— O Alex, o espírito que se apossou do animatrônico Foxy, ainda está vivo e é completamente visível para os outros também.
Espero que tenha ficado bem explicadinho povo , na real eu meio que só fiz isso pra ninguém ficar confuso, porque até que tá bem explícito no capítulo, mas enfim.
Por último eu recomendo as seguintes músicas para vocês (sim, agora eu vou fazer isso, inclusive a maioria eu escutei para escrever o capítulo), joguem no Youtube que tem tudo lá:
The Weeknd - The Hills
Begin Again – Purity Ring
The Neighbourhood – Wires
A Bitter End | Five Nights at Freddy's Song | Groundbreaking
Sthepen – Crossfire
Ouçam na hora e momento que quiserem, eu particularmente os ouvia aleatoriamente, apesar de cada uma se encaixar quase perfeitamente em uma cena específica, pelo menos pra mim hehe.
Mas enfim, é só isso gente, mais uma vez me desculpem a demora, mas esse capítulo realmente exigiu bastante de mim, ou às vezes fui só eu que exagerei mesmo.
Sem mais delongas, boa leitura!



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Não era só pelas cores, não era apenas pelo tom de voz, não era somente pelas roupas ou o microfone notavelmente mais antigo do que o que deveria lhe pertencer, quanto muito menos pela personalidade transtornada e o comportamento diferenciado.

O que lhe causava verdadeiros arrepios e lhe provocava arroubos e vertigens súbitos simplesmente inconcebíveis, eram aquelas duas joias arroxeadas conturbadas fixas em si, escondidas secretamente sob os globos oculares do misterioso animatrônico dourado.

.

Não respondeu, continuando parado inquieto junto do tronco de sua mãe que ainda o confortava delicadamente com seu afeto materno puramente expresso.

—Vamos Lance, responda! Seja educado com o senhor Freddy! – ordenou calmamente, porém de maneira enérgica, reprimindo a falta de resposta do garoto e lançando um olhar cúmplice para a figura suspeita.

Lance se manteve imóvel, encarando o personagem misterioso com uma expressão surpresa e um tanto temerosa, por que ele o fazia se sentir tão estranho? Era como se seu estômago estivesse se revirando impiedosamente diante de uma imagem retorcida que lhe provocava ímpetos de recuo.

Aninhou-se mais a figura materna que lhe segurava nos braços, desviando o próprio rosto e escondendo-o sobre o ombro da mulher de cabelos loiros esverdeados assim como si, ocultando a expressão desconcertada e desconfortável que se apossara de sua face.  

Sua mãe olhou-o com feições fracas de preocupação e certa decepção, doando um olhar de maneira discreta para o animatrônico dourado em seguida, como que dizendo um simples ‘’depois’’ com as pupilas semicerradas. 

A figura assentiu ainda sorrindo descontraído, e em seguia querendo se aproximar do garoto afagou-o os cabelos gentilmente, fazendo o pequeno se assustar de leve percebendo que aquele não era o toque dócil de sua mãe. 

Não reagiu, apenas retorceu-se ainda mais e cerrou as próprias pálpebras com força, esperando com que ele se afasta-se logo de si.   

Bom garoto... cedo ou tarde virá brincar conosco, não se preocupe mamãe... – comentou se dirigindo a moça a qual tranquilizava a pequena criatura tímida nos braços, a mulher aparentando ser mais jovem do que realmente era.

Piscou cúmplice para esta e saiu andando lentamente, chegando perto de cantarolar no curto trajeto, ainda sendo seguido pelo olhar do pequeno irmão moreno do aniversariante enquanto se posicionava mais ao meio do salão.

Súbito, uma voz rouca e entrecortada por gaguejos característicos de sua voz falhada e já desgastada cortou o salão, se sobrepondo as vozes de todos, o tom aparentemente gravado pertencente a certo animatrônico que antes se escondia por detrás de um pequeno palco com cortinas arroxeadas em um canto do grande salão de atrações.

Olá pequenos piratas! Está na hora de limparmos o convés e partimos para uma viajem em alto mar! Estão preparados?! – bradou entusiasmado a grande atração especial ao fundo.

O grande pirata raposo se pôs visível finalmente, fazendo a grande maioria das crianças darem-no atenção e se esquecerem do anterior Freddy estranhamente modificado, todas correndo para escutarem mais uma história do famoso pirata da perna de ferro imediatamente.

Com a grande debandada, o campo de visão de Frederick se reduziu drasticamente, tornando-a preenchida somente por vultos sinuosos de crianças que corriam de um lado para o outro em desordem, algumas chegando bem perto de atropelá-lo e o derrubarem no chão, porém ele conseguira firmar-se no lugar.

Quando foi perceber já havia perdido aquela figura sinistra de vista, estranhamente esta já desaparecendo dentre a multidão que raramente se formava naquele estabelecimento, não deixando sequer algum rastro de sua existência para trás.

Amaldiçoou-se internamente de leve, rangendo os dentes descontente, queria realmente descobrir quem ou o que era aquele animatrônico e de onde havia surgido, agora teria de ficar com aquela questão martelando na cabeça até uma resposta vir à tona.

Suspirou, não deveria se martirizar por algo tão bobo apesar de tudo, deveria estar dando atenção a seu irmão e aproveitando a festa com seus amigos ao invés de perseguir mentalmente um sósia mal feito de Freddy, apesar de ser um tanto perturbador, não deveria se incomodar com aquilo.  

Por hora.

—Hey! Frederick, por que ainda está parado aí?! Não ouviu?! Foxy acabou de começar a sua apresentação cara! Vamos logo! – o ruivo destacou quase alvoroçado, enquanto quase pulava em cima de Frederick de tanta animação, agarrando-lhe o pescoço e ao lhe alertar e gesticular nervosamente tomando à dianteira e indo a frente do resto do pequeno grupo, deixando o moreno com uma cara de quem simplesmente não o entendia para trás.

—Espere por mim Alex! – gritou um pouco mais para trás Brian, passando por Frederick sem lhe dar tanta atenção, enquanto era seguido de Amy.

—Vai ficar aí parado mesmo?! Você vai perder a história! – afirmou a loira para o pequeno garoto de olhar azul, chegando quase ao ponto de ter que lhe puxar junto de si.

— Provavelmente ele vai cantar alguma música primeiro, tenho ainda que pegar Lance para ele vir assistir senão ficará com mamãe até o final da festa... – justificou enquanto olhava discretamente para sua genitora enquanto ela ainda balançava o diminuto loiro nos braços.

— Bom você que sabe, mas eu não perderia essa música... – disse serena e em seguida saiu correndo na direção do pequeno palco da atração do momento.

— Bem, mas vou perder – disse para o nada, em seguida se aproximando calmamente de sua mãe que o olhou enternecida.

— Por que não quis ir com as outras crianças ver Foxy? – perguntou um tanto confusa.

— E deixar Lance praticamente dormir durante a festa dele inteira? Não mesmo – declarou quase ironicamente, enquanto esticava os braços na direção de senhora de feições semelhantes a suas próprias – pode me dar ele, por favor, mãe? – pediu sutilmente, a mais velha se encantando com a dedicação que ele expressava para com o irmão mais novo.

Sorriu admirada.

—Claro filho – respondeu simplesmente, entregando o diminuto corpo infantil semiadormecido para seu primogênito com carinho, colocando-o com a cabeça sobre os ombros do garoto e o tronco e membros deste enroscados no outro pela frente – tome cuidado, ele não é tão menor do que você querido – preveniu-o ao se agachar para afagar-lhes ambos os cabelos, doando-lhes o olhar ternamente.     

— Não se preocupe mãe, apesar de tudo Lance ainda é bastante leve – disse sem expressar muita preocupação, e depois de receber um leve selinho na testa de sua amável responsável seguiu calmamente até onde todas as outras crianças estavam localizadas no salão.

— Eu sei que não está dormindo Lance – falou ao estarem suficientemente afastados da genitora de ambos.

O pequeno loiro apenas se remexeu inquieto no colo de seu irmão como resposta. 

—Ele era estranho, não era? – indagou quase como num sussurro que secretava uma informação crucial para os dois garotos de ligações sanguíneas.

O loiro abriu minimamente os olhos e segurou com mais força as costas do mais velho, agarrando-lhe a camiseta por trás e passando a estremecer imaginando a figura daquela criatura estranha novamente diante de si, parecendo lhe intimidar sem motivo aparente.

Sentiu todas as reações de seu semelhante diante da pergunta, de repente se arrependeu de fazê-la para ele.

—Desculpe, não falarei mais disso – disse com uma carga desgastante de culpa na voz, acomodando a seguir o mais novo em uma posição um pouco mais confortável em seu colo.

—Tudo bem – confortou com a voz suave ainda um tanto perturbado – ele... realmente... não era como Freddy – afirmou arrastado enquanto Frederick concentrava-se em ouvir suas palavras apesar do alvoroço mais a frente – eu não sei porque...era...muito...muito assustador Frederick...– concluiu timidamente com o olhar deturpado – ele me dava... medo – confessou quase choroso.

O mais velho suspirou pesadamente, sentindo-se cada vez mais envolvido por alguma espécie de sensação ruim dentro de seu peito.

—A mim também.

Fazer o que quiser, porque um pirata é livre! Você é um pirata!— ouviram o coro acompanhando a voz robótica do humanoide raposa, enquanto este quase dançava acima do palco com suas vestes de capitão pirata, o chapéu negro com uma caveira junto de ossos cruzados em sua cabeça acentuando ainda mais essa imagem, a perna de ferro o permitindo fazer movimentos insanos enquanto a sua canção mais conhecida até então se desenrolava animadamente por todo o salão.

Yar har, fiddle dee di! Ser um pirata é certo pra mim — cantarolava entusiasmado com seu sotaque rouco, praticamente todas as crianças o acompanhando sem delongas, inclusive uma delas quase a ponto de subir no pequeno palco de tanto que saltitava eufórico com a presença do animatrônico humanoide, sendo este Alex, que a cada cinco segundos precisava ser segurado quase desesperadamente por Brian pelos braços para não se alvoroçar a um nível extremo e pular em cima da atração especial.

Enquanto isso, um segundo ruivo permanecia estático ao fundo, observando atônito o seu próprio ‘’corpo’’ atual divertir e alegrar as crianças presentes no local, uma sensação incomoda o invadindo sem o seu consentimento e sua mente ficando um tanto confusa com a sua situação atual.

De uma maneira estranha, achava aquilo normal, apesar de seu eu quando ainda vivo estar dançando quase sem controle ao som da sua própria música mais conhecida, que era cantada no momento por sua estrutura física atual na qual seu espirito residia, porém aparentemente esta sendo a que era visível para as outras pessoas, possivelmente o Foxy daquele tempo, ainda assim não conseguia encontrar algo supostamente fora do comum naquilo, era um sentimento realmente caótico.

Teria viajado no tempo?

Estava sonhando?

Delirando?

Revivendo alguma memoria que perdera depois de que lhe tiraram a vida?

Estava presenciando aquele momento novamente por algum motivo especial?

Não sabia dizer qual das hipóteses era a que se encaixava mais em sua situação, mas sabia que não adiantaria de muito se questionar sobre a questão, não encontraria uma resposta mesmo se tentasse realmente a compreender.

Estreitou os olhos sentindo uma onda forte de dor de cabeça o atingir em cheio, enquanto continuava presenciando o desenrolar dos fatos apenas como um telespectador que não interagia com a cena sob nenhuma circunstância. 

Ao notar a aproximação de Frederick e Lance, a pequena e um tanto rechonchuda Amy logo acenara para estes os fazendo localizarem-se rapidamente perto da loira que acabara ficando mais atrás de Brian e Alex, pois estes acabaram se embrenhando espantosamente a frente de todos de uma hora para outra.

— Ficou para trás não? – indagou um tanto irônico o moreno, tentando dialogar com a garota sem ter que gritar para ser escutado.

— Você também senhor irmão coruja – retrucou com um sorriso zombeteiro a de olhar arroxeado, enquanto cruzava os braços com um olhar confiante.

O moreno esboçou um leve sorriso com o comentário, enquanto remexia-se levemente junto de Lance ao soar da música fantasiosa que alcançava todo o salão.

Você é um pirata! Começamos com um mapa, para nos levar a caixa escondida, que está trancada por cadeados e enterrada bem longe!— as crianças entonavam em um volume maior sempre as palavras que viam por último nas frases, praticamente todas participando da canção infantil e meio que dançando desengonçadamente.

— Vamos dançar um pouco Lance? – indagou carinhosamente o mais velho ao irmão.

— Tudo bem – respondeu simples.

Em seguida o moreno colocou o menor no chão com cuidado para não desequilibrá-lo enquanto este se firmava de pé, logo lhe dando as mãos e o guiando sutilmente nos passos com os dois braços e lhe puxando para lá e para cá para se movimentar mais e fazer toda aquela sonolência lhe abandonar.

— LANCE!!! – gritou ao longe Alex, correndo desesperadamente na direção dos três amigos que a pouco acompanhavam a música com o próprio corpo, sendo seguido de Brian que já desistira de tentar conter sua ansiedade com praticamente tudo.     

— Eu – respondeu neutro o dito cujo, mais uma vez ficando levemente pasmado com a surpreendente euforia costumeira do ruivo sardento. Frederick apena observava já supondo do que o pequeno sósia de Foxy falaria com seu semelhante.     

— Você ainda não escolheu quem vai pegar o primeiro pedaço do bolo, né? – indagou o de olhar dourado ainda com o volume da voz bem mais alto que o comum, enquanto segurava e chacoalhava nervosamente os ombros de Lance, que permanecia um tanto atônito.

— Eh... Não, é verdade, todo mundo saiu correndo quando Foxy apareceu então eu nem prestei atenção – respondeu arregalando minimamente as íris azuladas, se nem ele havia lembrado daquilo, Alex lembrar era porque queria mesmo aquela primeira fatia de bolo, ou porque era muito faminto mesmo.

— Então... – iniciou a fala com um olhar de confiança, estando este levemente cerrado - Eu, Alex, sou seu grande amigão do peito, que sempre te ajuda e... – dizia com o tórax estufado, porém fora cortado pelo menor sem cerimônias.

—Pode pegar Alex, eu não ligo – retrucou antes que o outro tentasse lhe bajular um pouco mais, não dando tanta importância para quem tomasse o inaugural pedaço para si.

— Sério?! – por um momento sua íris dourada pareceu brilhar de tanta felicidade por Lance lhe conceder aquele pedido indireto – Obrigado cara! – gritou entusiasmado, tomando o menor nos braços e o apertando como se ele fosse um animal de pelúcia, este na realidade não modificando tanto a expressão mesmo estando quase a ponto de ser sufocado.

— Ok, ok chega Alex, você vai matar o lance de tanto apertar ele – repreendeu Brian já cansado de chamar a atenção do ruivo por tudo que ele fazia, separando a seguir o loiro do mais velho e o puxando junto de si pela bochecha.

— Ah! Tá bem, tá bem eu consigo andar sozinho! – reclamou desesperadamente, sentindo o músculo exterior de sua boca ser esticado sem delicadeza alguma, enquanto era literalmente arrastado até as mesas de guloseimas.

Amy tapou a boca com uma das mãos para conter a risada, Freddy apenas olhou para a dupla como se aquilo fosse o verdadeiro cúmulo da estupidez dos dois, logo desferindo um tapa sobre a própria testa sentindo uma imensa vergonha alheia pelos amigos e Lance continuou um tanto indiferente apesar de esboçar um mínimo sorriso diante da cena certamente cômica.

Depois de estarem suficientemente próximos dos pratos caraterísticos de aniversários, o arroxeado suspirou não suportando mais as lamúrias de dor de Alex, que implorava para ele o soltar, a seguir o liberando do aperto na bochecha, fazendo-o já cair no chão resmungando de maneira lamentável enquanto massageava o músculo dolorido.

— Você mereceu! Não para quieto um segundo! – disse impaciente, enquanto cruzava os braços, autoritário.   

— Credo, você está parecendo o meu pai Brian! – reclamou quase a ponto de chorar de dor.

— Eu não precisaria fazer isso se você não estivesse se comportando como um descontrolado! – justificou ainda com um tanto de raiva do outro.

— O que eu posso fazer se as músicas do Foxy me deixam assim? – indagou se achando injustiçado – aliás, você é um pirata!!!! – cantarolou em uma altura surreal, acompanhando a música que ainda soava ao fundo, fazendo Brian quase cair pra trás estando a centímetros de diferença do garoto de tapa olho médico.

— Já acabou? – indagou com um tom ameaçador, o pequeno pirata podendo quase enxergar uma aura negra envolvendo o amigo de madeixas roxas.

— Já, agora vamos pedir pra tia Camélia cortar dois pedaços do bolo para nós – disse e logo tomou a dianteira, andando pouquíssimos passos até estar diante do simples bolo rústico de chantilly, Brian estando logo ao seu lado.

— Oi tia Camélia! – cumprimentaram em uníssono a senhorita de míseros vinte e sete anos de idade, um olhando para o outro em seguida estranhando a sincronia com a qual falaram, fazendo a senhorita mais velha rir das expressões supressas que eles fizeram no momento em que esta se virara para os pequenos, podendo visualizar as feições cômicas.

— Brian! Alex! – respondeu ao cumprimento ainda rindo levemente – o que vocês precisam? Ah! Deixem-me adivinhar... Vocês querem um pedaço do bolo, não? Eu mesma nem me lembrei de cortá-lo – adivinhou perspicazmente, não era difícil supor o porquê de os dois garotos estarem ali.

— Sim! – novamente responderam em conjunto, desta vez não dando tanta importância para a harmonia verbal com a qual se pronunciaram.

— Como adivinhou tia? – indagou curioso e inocente o de madeixas arroxeadas, a dita cuja estando à busca de uma faca para poder cortar o bolo para as duas crianças.  

— Não é óbvio Brian? – perguntou um tanto irônico o ruivo enquanto cutucava o mais novo com o cotovelo sutilmente – pense: nós somos crianças, tem um bolo bem ali que ninguém comeu ainda... Hum? – tentou guiar os pensamentos do outro ao mesmo tempo em que gesticulava de acordo com a fala em questão – pensei que era você o senhor espertalhão – provocou em tom de escárnio, podendo jurar mais tarde que naquele momento vira uma veia pulsante se destacando aos poucos na testa do mais novo enquanto este lhe lançava um olhar ameaçador. 

— Desculpe por uma única vez não seguir a sua linha de raciocínio, seu chato! – retrucou quase a ponto de bater no de íris dourada.

— Hey, hey desculpe – levantou as mãos em rendição antes que o arroxeado tentasse lhe desferir um soco ou coisa pior – eu só estou brincando – justificou ainda com um ar brincalhão.

— Aqui crianças! – a loira à frente deles os chamou a atenção, já com dois consideravelmente grandes pedaços de bolo sobre cada uma das mãos, juntos de pequenos pratos de plástico e dois garfos de mesmo material, em seguida os levando na direção da diminuta dupla.

— Valeu tia! – desta vez Alex se adiantou, agradecendo rapidamente a mãe de seu amigo enquanto pegava uma das fatias em mãos.

— Idem – disse o mais novo, se igualando ao outro nos atos.

— Por nada meninos, agora vão se divertir! Tenho certeza que daqui a pouco Foxy irá contar mais uma de suas histórias – sorriu atenciosa vendo a educação genuína das crianças, lembrando-se em seguida do que a atração pirata faria logo pelo cronograma que lhe informaram quando contratou aquele estabelecimento para realizar o aniversário de seu filho.

— Sabemos tia, até mais! – respondeu de maneira rápida o ruivo, logo puxando calmamente o companheiro com a mão desocupada, envolvendo-a na palma alheia, levando o outro junto de si para um lugar onde pudessem se sentar e aproveitar confortavelmente os doces que carregavam.

Brian não disse nada, apenas deixou-se ser guiado logo depois de acenar em despedida para a moça mais velha que os atendera, não demorando muito para indagar algo que lhe deixara em dúvida durante o curto trajeto.

‘’Contar mais uma de suas histórias’’? Não entendi Alex, pensei que Foxy só cantava – citou a fala da mãe de seu amigo para retomar a questão, se sentindo um tanto confuso com a situação.

— Hehe, é verdade, você só veio aqui uma vez e justo no dia em que Foxy não se apresentava, foi mal, os dias que ele se apresenta são mais caros e nessa época que meu pai e eu te trouxemos, o dinheiro lá em casa estava apertado já que quem nos bancava na maioria era... – iniciou a fala sorridente, porém de repente parara percebendo quem ele quase mencionara, seu olhar ficando um tanto estático a seguir e o garoto abaixando a cabeça, enquanto continha o lábio em uma pressão momentânea, sentindo quase uma vertigem o abater e um sentimento que ele vinha tentando esconder e disfarçar a meses vindo à toda mais uma vez sem a sua permissão.

— A sua mãe... – completou tristonho e quase em murmúrio o mais novo, arregalando minimamente os olhos e sentindo-se culpado por fazer seu companheiro lembrar-se do ocorrido, desejando que uma vala pudesse se abrir por debaixo de seus pés para que pudesse esconder seu constrangimento por tocar no assunto.

Como estava com as mãos ocupadas para levar uma delas até o ombro do outro, apenas deitou a própria cabeça ao lado do pescoço do companheiro, este que agora esboçava uma expressão vazia, o de íris rubis esperando que o ato pudesse confortar o amigo nem que somente um pouco.  

— Me desculpe, eu não sabia disso – lamentou com o tom de voz tentando soar ao máximo possível reconfortante, ao final se pronunciando num volume em que só o outro pudesse lhe ouvir, como se ambos fossem verdadeiros confidentes de sentimentos um do outro.

Sentiu verdadeiro arrepio quando o amigo repousara a cabeça sobre seu ombro, mas permaneceu silencioso, apenas aproveitando aquela sensação boa que ele lhe transmitia sempre que tentava lhe melhorar o animo com algum contato físico do tipo, fosse tocando-lhe as mãos, descansando a cabeça sobre si, ou afetivamente e simplesmente lhe abraçando ternamente como muitas vezes fazia, mesmo todas sendo ações pequenas e quase insignificantes, elas ainda assim valiam de muito para o pequeno ruivo.

Abriu um mínimo sorriso, apesar de tudo sabia que não deveria abaixar a cabeça e nem se lamentar por aquilo, tinha tanto para encarar ainda em sua vida no futuro, não poderia viver preso à partida trágica de sua mãe para sempre, se sentindo quase abandonado toda vez que se recordava do ocorrido, tinha que simplesmente selar aquele sentimento depreciativo dentro de seu coração e não tocá-lo nunca mais, para poder ao menos atingir alguma serenidade na vida sem a imagem daquele acidente horrível lhe vindo à mente. 

Fitou o outro curioso e com o olhar praticamente perdido na coloração incomum e visualmente viciante das madeixas púrpuras, a pálpebra semicerrada permitindo com que o mínimo olhar perceptível pudesse transpassar seus próprios limites e se fixasse na face culpada e tristonha do garoto mais novo com uma espécie de brilho indefinível preenchendo o único globo de ouro não escondido pelo tapa olho médico. A expressão pueril do rosto alheio o hipnotizando por longos segundos.     

Sem pensar muito, calmamente deitou seu próprio rosto sobre os cabelos arroxeados e macios de Brian, cerrando o mínimo olhar que ainda se mantia aberto e se embriagando no aroma enigmático de lavanda que aquelas madeixas emanavam, fazendo o menor se surpreender de leve, mas não quebrar o contato que de certa forma também o confortava, apenas se aninhando um pouco mais ao corpo do companheiro, ambos há pouco tempo tendo parando no meio do caminho que faziam para um assento aleatório em um dos cantos do salão, mas sequer percebendo que o haviam feito.

— Tudo bem Brian – iniciou o dialeto serenamente, apaziguando levemente o âmago culpado do outro – afinal, minha mãe pode ter ido para aonde as estrelas moram, mas um dia eu irei ver ela de novo... - desvencilhou a própria mão da do amigo para afagar-lhe os cabelos lentamente - E até lá... Eu tenho meu pai, meus amigos e...  – levantou brevemente o rosto e em seguida puxou o queixo do pequeno em sua direção com delicadeza, fazendo ambos os olhares se cruzarem intensamente -... Você – pronunciou mais demoradamente.

Brian sentiu rapidamente o rubor fluir por suas bochechas, seu olhar se arregalou surpreendido com as palavras de Alex e seus dois rubis tremeluziram inexplicavelmente, depois de alguns instantes processando cada fala do ruivo, um sorriso sincero se ampliando em suas feições e suas íris fechando-se fortemente enquanto uma pequena risada suave soava por seus lábios, o arroxeado encantando mais uma vez o ruivo.

— Tonto – disse o mais novo, ainda com aquele sútil curvar de lábios bailando em sua face infantil, em seguida este dando um leve soco no ombro do companheiro com a mão livre, mas ainda se sentindo um tanto emocionado com as frases simples, porém incrivelmente comoventes do amigo de longa data. 

Alex sorriu abertamente, logo unindo sua palma enfaixada com a mão antes gélida de Brian novamente e o levando junto de si até um pequeno banco de madeira que havia na lateral do salão, desta vez andando mais vagarosamente, para poder aproveitar aquele calor momentâneo e sempre agradável que suas palmas geravam quando unidas.

— É apenas a verdade Brian – pronunciou em um momento aleatório – realmente, eu esqueço rapidamente dos meus problemas quando estou junto com você, quem me dera ter essa sensação pra sempre, eu esqueceria de todas as coisas que me incomodam sempre que quisesse – disse todo o discurso com ar inocente, não percebendo o impacto que gerara repentinamente no arroxeado, mais uma vez. Era curioso como as palavras daquele ruivo sardento tinham um efeito tão estranho em Brian, às vezes ele sentia até raiva do fato de ser tão vulnerável s às falas de outra pessoa.

— V-você quer dizer... que quer ficar comigo pra s-sempre? – indagou timidamente e ainda com o rosto levemente ruborizado o de tiara de orelhas de coelho, desviando o olhar o máximo possível do mais velho.

— Hum... – parou para pensar durante alguns segundos – é... acho que é isso que eu quero! – respondeu convicto e alegremente, já diante do assento para duas pessoas que vinham buscando, em seguida se sentando em uma das pontas e convidando com um gesto rápido o amigo para se juntar a si.

Brian hesitou por um momento graças ao constrangimento que o abalara de repente, mas logo se sentou ao lado do companheiro de toques e palavras incrivelmente deleitáveis, abaixando o olhar reluzente rapidamente para o farto pedaço de bolo e em seguida o beliscando ansioso com o garfo de plástico que viera junto da fatia, logo levando a pequena porção que cortara do transbordante chantilly à boca distraidamente, saboreando o doce assim como o ruivo a seu lado, que fizera o mesmo.

Concentrado em seus próprios pensamentos o arroxeado mal percebera que era observado de soslaio pelo companheiro sardento, este que reparara com maestria na certa vergonha que se recaíra sobre as feições divagantes do garoto de madeixas incomuns, o diminuto sósia de Foxy mirando a maneira como o outro mastigava inconscientemente, se mostrando um tanto atento demais para algo tão irrelevante da parte do comportamento de Brian.

Parou de comer de repente, repousando a seguir a mão enfaixada sobre o ombro do amigo, fazendo-o lhe encarar curioso, como que indagando o suposto porque do tal ato em um momento tão aleatório, o de sardas apenas sorrindo em contentamento, a seguir esticando a palma fechada para o outro, porém desta vez unicamente com o dedo mindinho despontado no punho fechado, fazendo o mais novo encarar-lhe interrogativo.

Descerrou os lábios para fazer soar aquela fatídica frase.

— Que tal uma promessa? – sugeriu com aquele sorriso que deixava um de seus caninos incrivelmente a mostra.

— Uma... Promessa? – repetiu vagarosamente a fala dele.

—Sim! – respondeu entusiasmado, logo deixando aquela fatia de bolo de lado, colocando-a no lado oposto do banco, permitindo com que sua outra mão ficasse livre para encaminhar-se as bochechas ainda levemente coradas do arroxeado, fazendo-lhes suave carinho com os dedos em seguida – uma promessa... A promessa de que nunca vamos nos separar, não importa o que aconteça! Ou quem tente nos separar... – profetizou finalmente a sentença tão indescritível para o ouvinte que a recolhera com tanto apreço em seu próprio âmago – você promete? – indagou em sussurro enquanto encostava ambas as testas infantis uma na outra, tornando a troca de olhares ainda mais penetrante.

—Eu... – estranhamente as palavras pareciam-lhe alcançar a mente, mas não a voz, porém aquele momento fazia-o se sentir tão bem que simplesmente não poderia sequer hesitar com aquela resposta, simplesmente não queria e não deveria – eu prometo Alex – finalmente foram pronunciadas, timidamente, mas ainda assim preenchidas fortemente daquela confiança no tom masculino ainda não amadurecido, sentenciando desta vez para sempre aquele laço sentimental que agora seria a jura que os manteria juntos sob qualquer circunstância dali para frente.

Alex riu conformado, sentindo-se satisfeito com aquela única frase.

— Eu também.

Logo estendeu novamente o dedo mindinho para o outro, praticamente dizendo-lhe o que aquilo significava apenas com o olhar dourado, este que inclusive remexia-se inquieto esperando a resposta física vir a seguir, o outro garoto ao compreender a situação rapidamente envolvendo o seu menor dedo da mão esquerda no do companheiro e esperando ele falar-lhe mais uma vez.

— Essa será uma promessa para o resto da vida, você tem certeza que quer me aguentar até eu estar velhinho e carrancudo? – perguntou irônico com uma mirada sugestiva.

— Idiota, mas é claro que sim, afinal, você também vai ter que me aguentar não? – retrucou o arroxeado no mesmo tom zombeteiro, após girar os dedos entrelaçados em uma mesma direção, como que selando o acordo.

— Bem é verdade, estamos na mesma no final das contas – devolveu ainda com certo olhar convencido, em seguida encerrando com todos os toques no corpo alheio, não sem antes uma troca intensa de luzes tremeluzentes se decorrer entre as joias dourada e avermelhadas enquanto as testas se desencostavam, revelando o pequeno desalinhamento que provocara em ambos os cabelos.

Ao separar-se do amigo lentamente, o ruivo levou a fatia de massa doce de volta a seu próprio colo, se preparando para saboreá-la novamente depois de uma breve pausa para um genuíno ato de promessa, o qual ele não fazia ideia do tamanho de importância emocional que teria em seu trágico futuro.

Depois de alguns longos instantes se recompondo internamente do momento intenso e ao mesmo tempo singelo, o arroxeado pôs-se a refletir enquanto também desfrutava do aperitivo adocicado, ambos os garotos distraídos com o silêncio que se estabelecera entre eles, o único som que ousava penetrar a privacidade momentânea dos dois sendo a música de Foxy ao fundo, incorporada por diversas crianças, a melodia infantil já alcançando as suas derradeiras notas, o ruivo cantarolando mansamente, apenas aproveitando o embalo da canção.

Ao longe, a dupla logo percebeu Amy se afastando da pequena multidão da onde se encontrava anteriormente, deixando Frederick e Lance para trás e indo quase saltitante em direção as mesas de doces, um delicado sorriso bailando em seu rosto feminino sutilmente.

Ao estar próxima o suficiente a garota prontamente cumprimentou a amável mãe de seu amigo mais novo que estava a atender as crianças que desejavam algo dentre as variedades açucaradas. Os dois garotos puderam perceber ela trocando palavras rapidamente com a senhorita mais velha, o dialogo não sendo audível para nenhum deles, mas ainda assim podendo ambos supor o que elas diziam pelo movimentos que as bocas exerciam.

Viram-na pegando alguns brigadeiros em mãos, carregando o máximo que conseguia nos braços esguios e em seguida se despedindo da moça antes de encaminhar-se novamente para o local da onde viera, porém ao revirar os olhos por todo o salão, parecendo procurar por algo com as íris arroxeadas ela pareceu avistá-los e com algum esforço acenou para os companheiros de cabelos de cores no mínimo chamativas, que responderam a gesticulação dificultosa da amiga superficialmente.

A loira logo tratou de se aproximar da dupla de garotos com passos rápidos.

— Você pegou tudo isso de uma vez Amy? – indagou o ruivo com certo ar supresso – que eu saiba você fica sempre beliscando e roubando os brigadeiros quando ninguém tá olhando... – relembrou com tom de escárnio e olhar sugestivo.

— Bom, é – revirou os olhos não se deixando abalar e nem dando muita importância para a acusação zombeteira de Alex – mas eu pensei que fosse uma boa ideia pegar vários de uma vez, daqui a pouco Foxy vai contar uma história e eu não quero ter que levantar e perder alguma parte só para buscar um brigadeiro, então é bom pegar vários, para durar mais – justificou calmamente a loira, esbanjando sua alegria costumeira tanto em suas feições estonteantes quanto em suas ações e comportamento elétrico – e também... Freddy queria que eu pegasse alguns pro Lance, eu não poderia recusar levando em conta que Lance usou aquele olhar pidão dele – acrescentou enquanto fazia beicinho e desviava o olhar um tanto constrangida de ter sido persuadida tão facilmente por um simples par de safiras brilhantes.

— Freddy? Sabe que Frederick detesta quando usamos esse apelido com ele Amy, não sabe? – perguntou o arroxeado enquanto deixava uma risada leve escapar de seus lábios por descuido, lembrando o quão irritado o amigo ficava quando utilizavam a diminuição de seu nome, o comparado descaradamente com o animatrônico vocalista da pizzaria.

— É eu sei que o Mr. Resmungam não gosta, mas eu uso mesmo assim, pra mim o nome dele é muito grande pra ser falado toda vez – retrucou um tanto impaciente a garota, relembrando o quão chato o moreno era com algumas questões praticamente insignificantes – e também... convenhamos, alguns vezes ele realmente parece o Freddy – admitiu um tanto irónica - é só por uma gravata e uma cartola que ninguém percebe a diferença – sussurrou secretamente para os  dois garotos ainda com ar de zombaria, caçoando do ‘’papai’’ do grupo despretensiosamente.

Os dois tentaram conter a risada, mas fora realmente difícil, para eles Amy era a que fazia os melhores comentários possíveis, e sempre de sua maneira descarada.

— Bem, agora a sua rainha tem que retornar para seu local de diversão – disse com tom egocêntrico fingido, esvoaçando os cabelos de propósito ao remexer um pouco a cabeça - e não demorem, tenho certeza que você é o que mais está ansioso para a história Alex – supôs enquanto apontava para o ruivo de maneira quase acusatória, como uma pequenina vingança pelo momento anterior – até logo!

— Até – responderam em uníssono, enquanto a garota se distanciava ainda um tanto apressada.

— Olhos azuis hein... – murmurou o ruivo com a voz um tanto arrastada, estreitando o olhar e observando analítico a figura da menina se deslocando para longe de si e de seu companheiro.

— Hum...? – murmurou desentendido o mais novo, enquanto arqueava uma das sobrancelhas fitando confuso o amigo.

— Ah... Nada – respondeu com um sorriso de quem encontrara um brinquedo novo para garantir sua diversão duvidosamente saudável, o garoto não encontrando necessidade de comentar com Brian sobre seu pensamento súbito.     

— Hum... Ok, né – concordou desviando olhar estranhando o comportamento alheio. 

Finalmente a melodia de Foxy ao fundo se dera como encerrada, criando uma atmosfera talvez ainda mais agitada do que a sua antecessora no local, várias crianças aplaudindo a música ou permanecendo a cantarolarem mesmo depois de terminada, parecendo mais agitadas e eufóricas do que antes, algumas poucas se dispersando pelo salão buscando por bebidas, salgados ou simplesmente doces, outras procurando por espaços mais amplos para brincarem de pega-pega ou qualquer outra atividade recorrente no momento, e a grande maioria se sentando em rodinhas ao redor do pequeno palco da raposa pirata, aguardando ansiosamente pela história que seria contada a seguir pelo grande ídolo de várias das mentes infantis ali presentes.

Bom trabalho crianças! Ah! Mas vejam só...! Toda essa cantoria me lembrou de uma das histórias que meus companheiros costumavam contar nos convés das embarcações piratas, vocês querem que eu a conte para vocês?! – anunciou o pequeno comentário junto da indagação desnecessária, já que o faria de qualquer maneira mesmo se todos o negassem, afinal era programado para isso. A figura humanoide com apenas duas partes de seu corpo advindas de animais – as orelhas e a extensa cauda - parecendo incrivelmente entusiasmado com a presença das criaturas imaturas no ambiente, este gesticulando quase em forma de ataque com seu gancho um tanto enferrujado enquanto sua expressão confiante se transformava no grande foco dos olhares ao redor e dos holofotes desgastados.

Praticamente todas as crianças no salão responderam positivamente, fazendo o robô pirata sorrir alegremente deixando seus caninos ainda mais proeminentes que os do próprio garoto piranha – apelido que Alex adquirira na escola, graças aos seus dentes mais pontudos que os da maioria – se fazerem visíveis sem cerimônia, exibindo a capacidade dentária quase assustadora da criatura robótica.

Então se preparem! Pois logo estarei de volta! Irei contar algo surpreendente para vocês!— alertou ainda extremante sorridente e vibrante com a situação, logo jogando as cortinas arroxeadas sobre si com maestria, escondendo sua figura rapidamente, que sumira por detrás das mesmas franjas púrpuras de estrelas como adornos que o escondiam anteriormente, a dupla de garotos arroxeado e ruivo em seguida conseguindo apenas ouvir Amy gritar rapidamente algo como: ‘’ENTÃO EU PEGUEI ESSES BRIGADEIROS MAIS CEDO QUE OS OUTROS POR NADA?!’’, fazendo boa parte das pessoas a encararem assustadas enquanto esta praticamente arrancava os próprios cabelos, levando um sermão de Frederick em seguida que respondera coisas do tipo: ‘’NÃO GRITE DO NADA IDIOTA!’’ na mesma altura que a outra.

— MAS VOCÊ TAMBÉM ESTÁ GRITANDO SEU INSÉNSIVEL!

— NÃO TÔ NÃO!

Eles discutiram por mais alguns minutos até Brian e Alex estarem quase praticamente rolando no chão de tanto rirem descaradamente, o curioso era que Lance apenas encara a todos com um olhar que implorava para que alguém interferisse na situação e parece logo com aquela coisa desnecessária.     

— Então, hehehe, vamos até lá? – indagou ainda tentando segurar o riso com uma das mãos o arroxeado.

— Ainda não – respondeu com uma expressão astuta enquanto sua íris dourada se comprimia observadora, aquele sorriso vago não abandonando seu rosto, suas pernas diminutas balançando para frente e para trás penduradas no banco de madeira que apesar de segundo o público-alvo do restaurante ter de corresponder a sua estatura, ainda assim era feito para alguém possuidor sem dúvidas de uma estatura maior que a sua.   

Arqueou uma das sobrancelhas confuso.

— Você está muito cheio de segredinhos hoje! E agora porque não quer ir até lá? Você não estava surtando pelo Foxy um tempo atrás? – indagou levemente irritado e surpreendido, estranhando o ar de mistério que o outro vinha fazendo ultimamente. 

—Estava – retrucou admitindo suas crises anteriores – mas você acha que é só Frederick que planeja as coisas antes de fazer algo? – apontou um dos dedos para a região do cérebro enquanto prosseguia na fala - Eu já vim aqui outras vezes e... fiquei observando da janela no lado de fora, eu não tinha dinheiro para pagar a entrada nem a comida, então fiquei espiando as outras crianças se divertindo... – por um momento Brian acreditara que ela havia tido uma recaída emocional novamente, mas logo o outro levantou a cabeça permanecendo a sorrir confiante – e eu percebi uma coisa – falou perspicaz.

— Que coisa?

— Tá vendo aquela piscina de bolinhas? – apontou para o canto onde o dito cujo brinquedo se localizava.

—Estou – respondeu neutramente.

— Pois é. O funcionário que checa essa piscina só abre ela quando todos estão distraídos com Foxy, ou seja, quando ele está contando uma história, e também eu sei lá porque aquele tio só aparece nesse horário no restaurante, deve ser preguiçoso – explicou e concluiu a observação que vinha fazendo nos últimos tempos para o colega que tentava processar a informação e entender porque o outro estava lhe contando aquilo.

— Certo e... – tentou adiantá-lo.

— Você não entendeu ainda? Se ela só abre depois de Foxy começar a contar uma história significava que ela só vai estar sem fila até o momento que todos perceberem que ela abriu, ou seja... quando Foxy terminar completamente sua apresentação! – explicou agora explicitamente para o companheiro, descrente de sua leiguice no momento. 

— Ah, tá, então você pretende não ouvir Foxy contando uma de suas histórias só pra poder chegar primeiro na fila da piscina de bolinhas? – indagou incrédulo o arroxeado. Alex, a pessoa que mais se dizia fã da raposa não querendo interagir com ele justamente por um motivo banal como aquele? Não mesmo.

— Acha que eu também não pensei nisso? – perguntou retoricamente – a história que Foxy vai contar agora eu já ouvi uma vez, foi no meu aniversário desse ano se lembra? Foi há uns meses atrás, você estava em uma fazenda, não sei se vai se lembrar... – tentou recordá-lo, entristecendo-se um pouco porque tivera de ficar sozinho na data com seu pai no restaurante, sem um amigo para confortar-lhe e fazer companhia, pois o de íris rubis aparentemente havia sido levado pelo próprio pai para ficar em sua fazenda durante um tempo, ele e a esposa estavam em processo de divórcio e nenhum dos dois se decidia com quem o fruto do já morto amor de ambos deveria ficar em respectivas semanas, e a mãe do garoto também não queria deixar mais o filho perto daquele homem um tanto aterrador que escolhera como marido, fazendo o ex-companheiro quase se enfurecer e querer a todo custo levar o menor junto de si.    

— Eu... lembro... – desviou o olhar se sentindo constrangido por ter deixado o amigo sozinho naquele dia tão especial para ele, mas não tivera escolha, seu pai estava quase processando sua mãe ou algo assim se ela não o deixasse ficar alguns dias consigo, as datas apenas infelizmente se coincidiram.

— Bem, pois então, eu pedi para ele me contar várias vezes a história... – levou a mão ao pescoço e fez uma massagem neste inconscientemente, tentando não fitar as íris carmesins, aquela sensação incomoda de encabulamento lhe dominando rapidamente graça ao fato de ter recordado tanto a si como a seu parceiro do corrido - para eu não me sentir tão sozinho... sabe? – justificou vagarosamente, o tom de voz aproximando-se de um fio fino de palavras vagas de volume não audível.

— Entendo – abaixou o olhar, a fala soando baixa e um tanto deprimente.

— Não é como se eu não gostasse das histórias de Foxy, mas se eu ouvir aquela mesma de novo vou me lembrar mais ainda da... solidão que eu fiquei aquele dia – tentou soar compassivo, mas a sensação incomoda ainda reinava sobre si, fazendo a voz imatura soar amargamente desolada, o globo áureo sequer tendo a ousadia de tentar invadir o campo de visão dos rubis – sem...sem você aqui, sabe? – completou tristonho, fazendo o arroxeado quase arrebatar-se diante da afirmação, indagando-se até que ponto a si mesmo teria de importância e valor para o ruivo.

Em um ímpeto impensado juntamente da motivação gritante e da comoção por aquela frase simples, apenas jogou-se nos braços do outro sem aviso prévio, o impacto gerando uma expressão de surpresa no mais velho, este demorando em corresponder o consolo e indireta súplica de perdão do mais novo pela velocidade como ele viera até si, fazendo-se o arroxeado presente ali em seus braços para compensar o momento essencial em que não o estivera, querendo consertar algo que sequer era sua culpa.

As íris rubras esconderam-se junto do rosto de mesma coloração no peito do mais velho, abafando a respiração levemente irregular e mascarando a expressão culpada que a assolava as feições infantis, as pequeninas mãos agarrando-se com urgência no tecido listrado da camiseta que revestia o tronco do ruivo por trás, o de parte das mãos enfaixadas logo suavizando a expressão lastimada de antes e dando lugar para um sorriso encantado, encantado com a sensibilidade que Brian tinha para com os sentimentos dos outros, sempre tão compreensível apesar de tudo...

Retribuiu o abraço rapidamente, ambos se demorando naquela ação afetiva, até a voz dócil míseros meses mais nova quebrar o silêncio entre eles, aquele simples sussurro um tanto tímido quebrar aquela quietação que os exilara de todo o resto do mundo com perspicácia, tornando tudo em volta inexistente, parecendo existir somente os dois.  

— Me desculpe Alex... – murmurou ressentido, esperando passivamente a resposta do amigo.

— Tudo bem Brian, não é culpa sua... – retrucou em tom amável, tentando confortar e consolar o companheiro enquanto massageava-lhe novamente os cabelos de maneira inconsciente, buscando o desvincular da sua insegurança e culpabilidade desmedidas.  

— M-mas, era seu aniversário! Eu deveria estar aqui nesse dia! – devolveu em aflição, quase impaciente consigo mesmo, colocando em evidência a sua falta de presença ao lado do outro naquele dia especial para ele, simplesmente não podia ter faltado com o outro justo naquela data.

Sabia que o ruivo não havia ficado com mais ninguém, até porque todos tiveram imprevistos de última hora, Frederick e Lance também não estavam na cidade na época e Amy tivera de estudar para recuperar suas notas na escola que iam piorando aos poucos, e por isso tivera de deixar toda e qualquer festa de um amigo fora de cogitação até que voltasse a ser aplicada nos estudos do estabelecimento de ensino que frequentava quase todos os dias. 

O que resultara no ruivo solitário, na época em que sua mãe ainda lhe fazia muita falta.

— Escuta, não tinha como saber que seu pai tinha vindo pra cidade ok? Não tinha como saber que ele iria te levar embora! Não foi culpa sua, então para de se culpar por isso agora! – segurou nos ombros esguios com firmeza, olhado fixo desta vez para os rubis enquanto ditava as palavras em um tom que pudesse afetar significativamente o arroxeado e convencê-lo a deixar aquele sentimento de penitência de lado em seu intimo – afinal – abrandou a expressão - você voltou pra mim depois não voltou? Isso é o que importa pra mim, é o suficiente pra mim – ditou com a voz mais suave, comprimindo o espaço de seu globo dourado ao deixar as palavras soarem por seus lábios, mais uma vez confortando o mais novo imensamente somente com suas falas sinceras.    

‘’Isso é o que importa pra mim, é o suficiente pra mim’’.  

Guardou a frase como um presente a ser relembrado e revisto várias vezes em sua mente, colocando-a carinhosamente em um local exclusivo para que o repetisse quando e quanto quisesse.

Novamente seu olhar carmesim tremeluziu, o dono destas agradecendo a todos os deuses já cogitados na humanidade internamente por ter aquele garoto abobalhado como amigo e companheiro, que estava sempre ao seu lado em todos os momentos, tanto nos bons como nos ruins, exclusivamente nos em que mais precisava de seu auxílio e apoio emocional, físico e psicológico, este que ainda por cima não se importava se falhasse consigo, pois sempre estaria lá com os braços abertos para recebê-lo de volta de novo e de novo sucessivamente sem perder a paciência um só instante, era incrível.   

Não entendia a relação que havia entre ambos, e mesmo se tentasse provavelmente não descobriria a natureza dos sentimentos que os dois compartilhavam mutuamente, talvez simplesmente não tivesse maturidade para compreender ou algo do tipo, apenas sabia que amava aquele relacionamento que tinha com o outro, mesmo não tendo conhecimento sobre a espécie dessa mesma relação.

Sorriu satisfeito e finalmente convencido de sua inocência na questão.

— Obrigado Alex – agradeceu-o com uma gentileza visível na voz, o tom que se aproximava de um sussurro parecendo desestabilizar o menino sardento por alguns instantes perante as feições quase angelicais do mais novo, ambos corando levemente por algo que talvez só eles soubessem.

Olhares se mesclavam incógnitos, sem poderem se desvencilhar um do outro sob hipótese alguma, o que resultou na aproximação vagarosa inconsciente das faces, o de orelhas roxas de coelho postiças levando os lábios na direção da testa coberta pelas madeixas de fogo logo ao cerrar o olhar, quebrando o contato visual para ditar fisicamente sua próxima demonstração de carinho e gratidão pelo companheiro a sua frente, sua mão puxando os cabelos avermelhados para o lado lentamente para que sua boca alcançasse a região próxima as sobrancelhas minimamente ruivas, depositando ali um pequeno beijo terno e simples, fazendo o receptor do gesto sentir ainda mais o sangue fluir por suas bochechas incrivelmente quentes, de tons semelhantes ao carmesim que invadia também o rosto de Brian. 

Encararam-se durante algum tempo embriagados pela sensação que os tomava, hipnotizados um pelo outro de maneira viciante, de repente sorriram mutuamente e começaram a rir gostosamente, achando graça de seus comportamentos mais uma vez naquele dia.

—O que foi isso agora? – indagou o ruivo ainda rindo levemente, nem um pouco surpreso com a ação anterior do colega.

—Nem eu sei, mas me deu vontade, então fiz – respondeu simplesmente, também com aquele curvar de lábios ainda bailando em suas feições – considere como... um pedido de desculpas – completou apaziguado, sorrindo mais abertamente e desta vez com os dentes. 

Admirou-se novamente, afinal não era todo dia que ele lhe oferecia um sorriso tão sincero.

De repente o funcionário que citara anteriormente que somente aparecia no período em que Foxy se apresentava atravessou a porta de entrada da frente com uma expressão de cansaço em seu rosto já levemente envelhecido, o homem colocando seus pertences sobre uma bancada aos fundos que era destinada aos empregados que trabalhavam de dia, para que tivessem um lugar para se sentarem e observarem completamente o salão, cuidando da segurança do local.

Ou talvez nem tanto quanto deveriam.

Rapidamente Alex chamara a atenção do amigo, o puxando para perto e sussurrando em seu ouvido com certa ansiedade.

— É aquele cara Brian! – apontou de maneira discreta para o senhor mais velho, mostrando para o outro de quem se tratava o funcionário que mencionara outrora – agora sim...! Uma pena que ele só vai abrir a piscina de bolinhas depois que Foxy aparecer – murmurou amargurado sentindo-se quase agonizar de tanta impaciência para adentrar logo o brinquedo - mas a gente ainda pode entrar na fila agora! – sugeriu mudando de humor rapidamente, diriam que era bipolar não fosse o fato de ser uma criança extremamente enérgica, em um minuto triste, no outro entusiasmado, assim o fora desde que o mais novo o conhecera.

— Pode ser, mas antes eu queria um ponche, tem uma tigela enorme em cima daquela mesa perto dos fundos do palco – lembrou-se o arroxeado e assim como o ruivo apontou para a direção do objeto ao qual se referia, estando este em um canto um tanto mais afastado do salão.

— Oh, eu vou querer também! Faz tempo desde a última vez que tomei um desses – retrucou ainda brandamente eufórico.

— Ok, você vai entrando na piscina agora, que eu vou pegar ponche e a gente bebe por lá mesmo, ok? – indagou pouco entusiasmado, se importava mais com a companhia do amigo do que com se divertir naquela pequena atração já desgastada como todas as outras.

— Certo! - respondeu contente, levantando um dos punhos na direção do arroxeado, estendendo-o para este, que olhara para a mão cerrada apreendendo depois de poucos instantes o cumprimento o qual o amigo queria fazer, antes de responder o pequeno Hi-five com razoável ânimo revirando os globos rubros ainda sorrindo, achando graça internamente do entusiasmo excessivo que o outro expressava por quaisquer coisas que lhe agradassem nem que minimamente.

Ambos levantaram-se ao mesmo tempo, dando pequeno salto para irem em direção ao chão, os dois apenas trocando pequenos olhares antes de separarem-se indo a trajetos diferentes cada um, porém antes que a visão do ruivo se desfocasse completamente do de íris de cor de sangue, ainda pôde ver de soslaio um vulto quase surreal, ou até mesmo imaginário, invadindo- lhe pequenino espaço da retina, logo o curioso vulto sumindo tão rápido quanto viera, parecia que havia traspassado o espaço de maneira fantasmagórica, essa estranha quase alucinação de sua parte provocando um espasmo de nervosismo em si e temor repentino sem explicação pelo companheiro, pois a sombra desconhecida e um tanto assustadora vinha do pequeno espaço ao qual ele estava se dirigindo.

Em um ímpeto quase instintivo, segurou o braço alheio com firmeza, enrolando nos dedos enfaixados perfeitamente o braço esguio que ao sentir o aperto parara completamente o movimento do corpo a que pertencia, para que não fosse ao chão com a brusca interrupção de seus perpétuos passos, o arroxeado levando o olhar espremido em preocupação e surpresa até a face de leve pavor inconsciente do mais velho. Não compreendia porque ele havia feito aquilo tão repentinamente e a expressão em seu rosto quase o fez apavorar-se junto a este por aparente motivo nenhum.

Esperou paciente o sardento dar alguma explicação, mas ele permaneceu calado e parecia em estado de inércia, afundado nos próprios pensamentos, então Brian logo tomou a iniciativa:

— O que foi? Aconteceu alguma coisa? – indagou em tom de preocupação ainda fitando a expressão incógnita e divagante do ruivo, não se movendo um só milímetro desde que fora interrompido em sua pequena caminhada.

— Ah... – murmurou, parecendo finalmente voltar à realidade – AH! Desculpe! – soltou o outro com velocidade assim que reparara na situação, decerto o havia feito de maneira instintiva e não percebera, levantando os braços energicamente em seguida aos lados da cabeça como que em movimento de rendição ou algo do tipo. 

— Tudo bem. – apaziguou o companheiro, ainda estranhando os elementos e circunstância que haviam envolvido o ato anterior, logo massageando inconscientemente o pulso que ainda sentia certo formigamento pelo forte aperto – o que foi isso? Por que apertou meu pulso do nada? – perguntou curioso ainda com a situação.

— Ah... eu... eu sei lá – falou arrastado, se atrapalhado nas próprias palavras enquanto levava a mão a parte de trás do pescoço massageando-o nervosamente – eu... só pensei ter visto algo, mas com certeza não era nada! – omitiu boa parte, dando um sorriso desconcertado, não acreditava que havia sido apenas sua mente lhe pregando peças, mas apreensivo preferiu não revelar aquilo para o mais novo.  

— Ok, né – concordou simplesmente, arqueando uma das sobrancelhas apesar de ter resolvido ignorar a questão - vou indo, então, ande logo – alertou-o quase impassível apesar de expressar serenidade nas feições. 

— Certo! – respondeu o ruivo e logo correu alegremente e ansioso na direção do velho brinquedo, parando em frente à pequena porta de entrada feita de fios de náilon vermelho trançados e esperando eufórico pelo funcionário que se aproximava fitando-o estranhado, decerto se perguntava por que o garoto como todas as outras crianças não fosse ver Foxy primeiro ao invés de invadir a piscina de bolinhas antecipadamente.   

Alex não prestando atenção no olhar do mais velho para si, apenas o viu reparar rapidamente no broche de convidado da festa em sua camiseta que declarava que ele tinha direito gratuito a todas as atrações do local, o senhor de meia-idade em seguida desanimadamente abriu a diminuta entrada para dar passagem ao pirata-mirim que entusiasmado e quase alheio a tudo ao redor pulou dentro do mar de bolas plásticas coloridas, indiferente ao mau-humor do homem.

Enquanto isso a figura de Foxy que esboça diferentes tons de vermelho e derivados vivos, reapareceu como mágica dentre as cortinas arroxeadas novamente, suas roupas características das figuras imponentes dos capitães piratas da idade média destacando-se junto de tantos outros elementos que roubavam os olharem das crianças que o deslumbrassem, como os espalhafatosos cabelos ruivos um tanto extensos, o chapéu preto com uma caveira acompanhada de ossos cruzados, e até mesmo seus dentes absurdamente proeminentes que ficavam ainda mais visíveis quando o personagem sorria abertamente de maneira que aparentava confiança, mas que para o Foxy que o vislumbrava ao fundo, que anteriormente espionava a si e a seu amigo quando ainda eram vivos, não demonstrava nada além da artificialidade daquele curvar de lábios estonteante, completamente falso e sem sentimento, até porque ele era apenas uma máquina na época, ainda não havia sido apossado pelo espírito de um criança falecida, então como denotaria as mesmas demonstrações e sensações de um ser humano?     

Logo a voz robótica e quase forçadamente rouca soara pelo salão impiedosa. 

Olá marujos! Eu retornei! Todos prontos para ouvir a história?— indagou enérgico, como sempre gesticulando sem nenhuma prudência o seu gancho para todos os lados, esperando pela fala tão eufórica quanto a sua, vinda das crianças.

‘’Sim!’’ praticamente todas responderam em quase coro simultâneo não planejado, as que estavam mais afastadas do palco do pirata logo se acomodando rapidamente e com quase desespero em algum canto em volta do local aonde a raposa se apresentava, com exceção de Alex e Brian que alheios a isso tudo estavam em posições diferentes no espaço amplo, cada qual efetuando ações diferentes. 

Muito bem! Vamos começar! – exclamou assim que a maioria já estivesse próxima de si, logo se ajoelhando no chão para tentar ao menos se igualar as diminutas crianças ou simplesmente não aparentar ser uma figura tão superior a elas ou que gerasse pavor pelo seu tamanho quase de um adulto, apesar de suas feições terem ar absurdamente adolescente mesmo com a cicatriz evidente que transpassava seu olho coberto pelo tapa-olho, que não conseguia esconder completamente a marca gerada suspostamente por um ‘’kraken’’.

Dobrou as duas pernas e sentou-se da mesma maneira de um índio, apoiando os braços sobre as coxas cobertas pela calça revestida de coro marrom, encarando com suspense as criaturas infantis que o fitavam ansiosas e em expectativa, esperando pela história que lhes seria transmitida através de sua voz de sotaque típico de um viajor dos mares.    

Descerrou os lábios e iniciou o longo dialeto:

Esta, é a história de um menino de rua, que tinha mais ou menos a idade de vocês...— começou com a voz serena, deixando o olhar dourado levemente cerrado enquanto encarava as expressões imaturas, dando-lhe atenção silenciosamente.

Brian ouvira um pouco da fala do pirata apesar da distância que se encontrava deste, aguçando a audição em seguida para que pudesse escutar de maneira melhor e apreendesse as palavras que seu melhor amigo supostamente tanto receava ouvir novamente, encarando com desinteresse a bacia cheia de ponche em variáveis tons de sangue assim como seus olhos, que se refletiam na bebida como se pertencesse a esta. O garoto mesmo um tanto fascinado com a visão, ainda assim não parecendo modificar a sua expressão neutra, que logo desviou do pote de vidro de tamanho considerável buscando por um recipiente portátil onde pudesse despejar o líquido para bebê-lo, pegando em mãos rapidamente um copo de plástico ironicamente roxo, levando uma colher com formato de concha cheia de ponche até o mesmo, parecendo distraído enquanto seus pensamentos vagavam para longe dali. Logo levou o copo aos lábios, apreciando a bebida lentamente ao mesmo tempo em que a voz animatrônica de Foxy soava ao fundo.  

~

Como nunca tinha o que comer e não tinha pais, o garoto andava sempre por perto do porto onde atracavam as tripulações de meus companheiros e a minha também, roubando comida onde quer que encontrasse, e por isso muitas pessoas não gostavam dele, por ele roubar seus alimentos, mas um dia algo estranho aconteceu... – fez ar de mistério, como se quisesse provocar ainda mais alarde dentre as crianças que o observavam e ouviam.    

~

Tomou apenas pequeno gole do líquido artificial e logo separou os lábios vagarosamente do entorno da boca do pequeno copo e sem parente motivo observou todo o salão com olhar beirando a uma súbita sonolência, enquanto mantinha a bebida em mãos.   

Ei garotinhooo...— subitamente em sua distração quase não ouvira o sussurro arrastado que soara próximo de si, que ao alcançar seus ouvidos provocara uma vertigem momentânea por todo o seu corpo, que pareceu entorpecer levemente só com o tom sinistro que oscilava entre a voz programada e desgastada dos velhos animatrônicos e uma voz propriamente humana, fazendo o garoto assustado procurar a origem de tal som incomum ao seu redor, seu olhar expandido pairando sobre a figura dourada envolta pelos resquícios das sombras negras do corredor aonde ele espreitava, estando o vulto desconhecido com apenas parte de seu tronco exposto para o garoto arroxeado, a observá-lo em uma espécie de porta que havia muita próxima do menino. 

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Ele estava como de costume andando pelo porto procurando por um café da manhã para si, havia se separado de seus outros companheiros de sua idade, o que era muito difícil porque eles sempre andavam juntos, mas daquela vez precisaram que cada um do bando fosse dar uma olhada em um diferente lugar da cidade, para ver quem encontrava mais comida, até porque era assim que o mundo deles funcionava, só sobreviviam os mais espertos ou mais fortes. 

~

Fitou-o curioso e temeroso como que analisando seu entorno, e pode logo reconhecê-lo pelos tons variados de ouro presentes no terno que envolvia em boa parte sua corpulência esguia e pela cartola e gravata borboleta rochas, semelhantes à cor dos cabelos do garoto, porém em tonalidades muito mais desgastadas, o sorriso macabro e convidativo bailando de maneira medonha em seu rosto muito semelhante ao de Freddy, talvez até mesmo idêntico. Sim, com certeza era aquela mesma criatura que aparecera e sumira misteriosamente durante o parabéns de Lance.    

Tentou disfarçar a estranheza apesar de tudo, um curvar de lábios amarelado surgindo à custa em sua expressão claramente insegura como que para despistar o olhar arroxeado da outra criatura que o analisava e cima a baixo sem nenhum pudor. Sentiu o suor descer em escalas muito maiores por sua testa, enquanto ambas as suas mãos tremiam segurando ainda o copo plástico que estava tendo sua bebida remexida graças aos movimentos involuntários das pequeninas palmas. Procurou manter-se silencioso.

Olá... hehehe... Se lembra de mim? – indagou em voz baixa enquanto cínicas risadas escapavam de seus lábios aparentemente de maneira inconsciente, a figura parecendo querer demonstrar uma imagem agradável e atrativa para o menino de madeixas incomuns, mas somente conseguindo aparentar instabilidade mental e psicológica com o sorriso quase insano que lhe preenchia em boa parte a face.

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Então ele andou por vários lugares onde costumava procurar comida, mas todos já não tinham mais nada, haviam vendido tudo, o que era raro naquela época do ano, então ele ficou triste, pensando que não iria comer nada e resolveu mesmo com a barriga roncando, voltar para o abrigo onde morava junto com seus amigos.       

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Para Brian, ele se assemelhava mais a um talvez antagonista medonho de um daqueles filmes que de vez em vez ele tentava assistir com Alex, mas sempre acabavam tendo pesadelos durante uma semana com os mesmo acontecimentos do longa-metragem de terror em questão, não se livrando do medo tão cedo depois de gravarem as memórias fictícias em suas mentes deliberadamente imaginativas.

Mas aquele ser a sua frente agora não era fictício, pelo menos não aparentava ser, parecia bem real para si.

Não respondeu estando quase estagnado no mesmo lugar.

E ele não fora o único a notar a presença da nova criatura no ressinto novamente, um certo pirata de cabelos ruivos e gancho no lugar de uma das mãos também percebeu o reaparecimento daquele ser, justamente uma certa raposa que observara tudo desde o início aos fundos, até o momento sem ser perceptível a ninguém, mas que analisava e observava tudo, hora com frieza calculada, hora com comoção absurda, e que naquele momento denunciara sua estranheza mais uma vez através das feições ao vislumbrar aquele rosto que lhe soava familiar, mas que não lhe era totalmente visível devido à bruma negra que o envolvia, porém que após uma análise mais detalhada e forçada o pirata logo pôde reconhecer a quem pertencia aqueles traços suaves e sua expressão rapidamente se contorceu em espanto.       

Eu tenho vários nomes, mas pode me chamar de Golden Freddy se quiser, sou tipo um substituto do Freddy, sabe? – ditou brincalhão, rindo discretamente de quase tudo que falava, tentando dialogar normalmente com a pequena criança que se conservava calada, o encarando um tanto amedrontada mesmo que a figura tentasse esboçar feições serenas e em deleite de pura felicidade.

— V-você... é... aquele animatrônico que apareceu no parabéns de Lance – balbuciou encarando fixamente a figura com um misto incógnito de temor, apreensão e curiosidade no olhar. Realmente tinha vontade de descobrir quem ou o que aquela criatura era e de onde surgira, já que a explicação rasa que este lhe dera era simplesmente insuficiente para cessar o seu desejo de desvendar as origens do próprio.

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Porém, no caminho enquanto andava desanimado, ele viu uma loja diferente, uma loja nova, que ele nunca havia visto antes, e tinha a certeza disso graças ao fato de conhecer de cór todas as barracas e lugares que vendiam comida naquela região, então de primeira ele estranhou e pensou em quem teria aberto aquele lugar da noite para o dia, e como era muito curioso resolveu dar uma olhada no lugar, só para ver como era por dentro.           

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Enquanto isso o olhar de Foxy - que estava ao fundo encostado à parede perto do brinquedo aonde Alex brincava – se dilatou extraordinariamente ao mesmo tempo em que tremeluzia incrédulo, se não estivesse sentado com certeza teria ido ao chão, já que seu corpo inteiro parecia não mais suportar o próprio peso, uma vertigem atingindo-lhe em cheio, conturbando-lhe a vista e desorientando seu raciocínio lógico que já não mais discernia tudo claramente, a dor de cabeça sentida outrora retornando impactante, impedindo com que ele processasse a situação com rapidez.         

A criança inocente e pura ouviu mais uma risada divertida soar da direção daquele ser enigmático.

Hehehe, acertou! Parece ter boa memória pequena berinjela— retrucou com seus notáveis trejeitos um tanto desajustados, como a maneira expressiva com a qual dilatava ou exprimia suas duas Ametistas com as pálpebras de maneira nem um pouco sútil ou o alargamento completamente incontido de seus lábios, que insistiam em deixar seus dentes à vista, a hilaridade quase a beira da insanidade não perceptível por qualquer outra criança além daquela a sua frente que brincava desorientada em suas feições significantemente maduras.      

‘’Berinjela?’’ indagou-se mentalmente o garoto, questionando- se se o outro estava tirando graça com seus cabelos incomuns e estranhamente roxos ou se fez o comentário sem a intenção de integrar o teor ácido da ofensa em seu dialeto transtornado, mal sabendo que aquilo era uma referência a um apelido de infância do indivíduo escondido por de trás da roupa dourada. 

Mas, enfim, por que não está ouvindo a história de Foxy como as outras crianças? Não lhe interessa esse tipo de coisa? Prefere algo mais ‘’excitante’’? Ou... simplesmente está desistindo deste privilégio por um amigo... talvez?—instigou o menino descaradamente com sua expressão cheia de perversidade, levando à tona todas as perguntas de uma vez que levariam um assunto ao outro de qualquer maneira, não dando tempo para o pequeno responder entre uma ou outra, além do que, a criança havia praticamente estagnado ali em pé mirando o nada em particular, fazendo- se espantar com o conhecimento que o outro apresentara sobre si, logo se virando novamente na direção da figura sinistra para lançar-lhe as íris rubras ainda mais interessadas em suas palavras que aparentavam por mais estranho que parecesse ter o estudado a fundo, incluindo cada mínimo detalhe de sua vida.

— Eu... – murmurou sem ter o que dizer, a voz parecia ter morrido em sua garganta.

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Ele entrou no lugar escondido, conseguindo fazer com que ninguém o visse passeando por entre os carregamentos de comida vindos de outras cidades e ilhas. Viu que havia apenas um homem velho no lugar inteiro, e ele estava analisando os alimentos recém-chegados calmamente.

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Sentindo-se quase a ponto de desmaiar, Foxy observava ainda descrente a imagem a sua frente, aquele era realmente Golden Freddy? Aquele que não deveriam conjurar o nome jamais? Ou melhor... aquele que foram proibidos por Freddy a citar a nomeação bizarra e genérica? O que estava acontecendo? Ele não deveria estar supostamente ainda abandonado em uma sala secreta?

Mil indagações passavam por sua mente ao mesmo tempo, estava seriamente cogitando a ideia de bater a própria cabeça contra a parede atrás de si tamanha a dor que o invadia, somente para diminuir a sensação horrível de impotência nem que apenas em insignificante quantidade, unicamente para tornar mais transparentes as concepções embaralhadas em seu íntimo confuso. 

Oh, entendo, então você é capaz de tudo por esse seu amigo?— indagou mais uma vez, induzindo o menino a seguir a sua linha de raciocínio, o conduzindo a um diálogo sem retorno, não deixando espaço para que ele o respondesse.

Apenas o encarou de maneira mais firme, com suas pupilas em conjunto com as íris amargamente carmesim tremeluzindo quase ao ponto de lacrimejarem, a questão martelando em sua cabeça, que tipo de conversa era aquela? Por que aquela criatura bizarra estava lhe fazendo aquelas perguntas, e por que ele sabia tanto sobre si? Por acaso brotara de algum filme de terror e suspense clichê?  

Era capaz de tudo por Alex? 

Com a indagação mental repentina, espantou-se de leve por estar realmente refletindo sobre as falas da criatura dourada a sua frente, o garoto arroxeado rendendo-se a questão e resolvendo observar atentamente o seu melhor amigo se divertir no brinquedo antigo e adorado naquele longo instante. 

Apenas se abdicara do direito de ouvir os contos de Foxy, mas não era nenhuma mentira que ele estimava o amigo a um ponto que talvez fosse capaz de fazer algo assim, mas o que significava fazer tudo por ele? Sacrificar-se para vê-lo livre? Martirizar-se para velo feliz? Enclausurar-se para vislumbrá-lo longe de todo o mal que o mundo poderia fazer recair sobre ele? Desistir de tudo por ele? 

Tantos significados, mas se tudo se resumisse em dar proveitos para o sardento não lhe parecia uma ideia tão ruim assim, sentia falta da verdadeira felicidade que o companheiro costumava exibir antes de ter sua mãe ser tirada de si, sentia saudades de muita coisa que simplesmente se desprendera da personalidade do mini pirata, mas ainda assim gostava dele com ou sem essas mesmas qualidades e defeitos que lhe agradassem a alma empática e possivelmente altruísta - nunca estivera em uma situação do tipo para saber se realmente o era, então apenas naquele momento pela primeira vez a situação, a questão lhe viera à tona, perturbando- lhe incansavelmente a mente para lhe dar logo uma resposta.                 

E com o ar adentrando fortemente os pulmões, tornando o peito estufado e a confiança brilhando no admirável olhar avermelhado apesar da incerteza e de um sentimento incrivelmente apunhalador nas costas esguias foi que deixou com que as palavras simplesmente fluíssem:

— S-sim, eu faria de tudo por ele... – retrucou finalmente, ainda estranhando o comportamento medianamente desajustado do outro ser, este que o mirou com ar mais sério em seguida, deixando em parte o sorriso escancarado de lado por um momento.                  

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— Vendo que o outro homem provavelmente não o notaria, ele tirou um pedaço grande de tecido marrom de um dos bolsos que sempre carregava e começou a pegar alguns alimentos que haviam em barris do dobro de seu tamanho no local, mas antes que conseguisse pegar mais do que três frutas, o homem que ainda observava aparentemente distraído algumas mercadorias falou para ele sem encará-lo: O que faz aí garoto? 

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—Você tem alguma ideia do poder das palavras garoto? Do poder de um juramento? – indagou com expressão de seriedade, parecendo desta vez um adulto com consciência plena das consequências de certas coisas, essas mesmas feições provocando calafrios instantâneos no arroxeado, que tentou desviar os globos cor de sangue para qualquer outro ponto do salão, o outro apenas sorriu novamente de leve – você realmente entende o que está dizendo? Você entende que isso também pode significar... sacrífico? – prolongou a pergunta enquanto o garoto a sua frente se encolhia discretamente como se pudesse esconder-se daquele dialeto um tanto rigoroso para sua mente infantil naquele momento. 

— T-talvez eu não saiba realmente... meu pai sempre diz que crianças como eu não sabem de nada – respondeu cabisbaixo, enquanto brincava distraidamente com os dedos das mãos junto com o copo de plástico - m-mas... eu... eu daria tudo pra ver Alex feliz, e nós fizemos um juramento há alguns minutos também, e talvez... talvez eu não saiba qual é o verdadeiro significado de sacrífico, m-mas se for algo que faça Alex feliz de novo de verdade e o não o faça sofrer..., eu me sacrificaria por ele! – apesar dos gaguejos insistentes de uma quase declaração de lealdade inconteste pelo companheiro, o arroxeado aparentava confiança e a certeza de que o dizia era o que pretendia e sentia, fazendo o ser de tons vibrantes encará-lo com um sorriso ainda mais aberto na face degrada pelo tempo.   

O que Brian estava fazendo? Dialogando com aquela criatura inusitada? O que diabos eles estariam dizendo um para o outro? Eles sequer tinham algo para conversar?! Indagava-se mentalmente perplexo o pirata ao fundo, que se continha em observar tudo em puro silêncio, ainda se sentindo sem forças até mesmo para pôr-se de pé.  

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— O garoto se assustou, achando ter sido pego, então começou a rezar em pensamento, esperando que aparecesse uma oportunidade para fugir ou esperando que aquele senhor o castigasse de maneira cruel por roubo.   

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Muito bem— aproximou-se de leve dele, tocando-lhe o ombro discretamente em uma posição que não fosse visível para o resto do salão, para que as sombras lhe cobrissem a imagem intimidadora – é aquele garoto, não é?— indagou mansamente ao apontar para a atração onde o pequeno ruivo se divertia, distraído ao ponto de não estranhar a demora do amigo.       

Mais uma vez Brian surpreendeu-se com o possível instinto intuitivo do animatrônico humanoide, ou talvez seu estranho e de origem desconhecida conhecimento sobre si, ou seu poder de observação além da maioria, sinceramente não sabia deduzir qual das opções era a mais plausível, talvez se estivesse com Frederick ali, poderia indagar-lhe sobre tal, já que o moreno era um tanto mais sensato do que a si naquele tipo de questões.

Apenas acenou positivo fitando o amigo com uma emoção contida no olhar de certa maneira, era tão boa a sensação de vê-lo se divertindo nem que somente durante poucos segundos depois de tanto tempo sem ele esboçar uma expressão de felicidade verdadeira, apenas encenações que o mais novo conseguia discernir com precisão se eram artificiais ou genuínas, pois o conhecia o suficiente para dizer o que estava sentindo realmente. 

Mas, sentia-se satisfeito apesar de tudo, pois naquele dia, ao menos naquele dia, não havia encontrado grandes sinais de sentimentos inverdadeiros no outro, pelo menos não nos momentos em que ele estava junto consigo, pois sabia que para si o ruivo não mentiria, e se o fizesse era quase sempre em função de não magoá-lo ou de lhe omitir uma verdade cruel.

Quase sempre.

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Mas, ao contrário do que pensava o homem não ficou furioso consigo, sequer olhou para si, na verdade ele continuou calmo e não ligou muito para o fato de ter uma criança ladra em sua loja. O garoto estranhou aquilo.

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Acertei de novo, não é? Hehehe— comentou risonho de uma maneira um tanto alterada – mas enfim, acredito que você sinta falta de o ver feliz com mais frequência pelo que me disse, mas... agora ele me parece feliz, mas você quer continuar o vendo assim, não?— pronunciou em tom lento, como que lendo e enxergando através dos dois garotos, não deixando nenhum detalhe do relacionamento entre ambos passar despercebido por seus olhos púrpuros – eu acho que tenho a coisa certa pra você, é um brinquedo que eu não uso faz muito tempo, mas creio que serviria para você melhorar a autoestima do seu amigo... o que me diz? — indagou devagar, levantando uma das sobrancelhas sugestivamente, persuadindo com plena paciência a mente caridosa, infantil e imatura do menino inocente — Afinal acredito que ele gostaria de um gancho exclusivo do Foxy, não?— estendia as ofertas aos poucos tentando atrair o arroxeado para sua armadilha ardilosamente planejada, fazendo oferecimentos que sua recusa significaria o menosprezo por parte do pequeno de olhar rubro para com as necessidades suas e de seu companheiro tão novo e já tão abatido emocionalmente.        

O garoto pareceu pensar seriamente no assunto, visto que seus olhos se cerraram brevemente e seu corpo parecia tremer de repente, estava silencioso, aparentava relutância de certa forma, afinal, quando sua intuição o dizia para não fazer algo, ele nunca fazia, e isso sempre funcionara, mas agora... não era somente sobre ele a situação em si, mas sim sobre seu amigo, seu companheiro inseparável e risonho, e não poderia perder uma oportunidade daquela magnitude apenas por egoísmo e covardia.     

Certo?

Tudo bem era só um brinquedo, mas sabia que algo, mesmo material, sendo daquele tipo agradaria imensamente Alex, que estava fora de condições financeiras de obter qualquer objeto ou situação de entretenimento não fosse por intermédio de outras pessoas, que o convidavam para festas ou que lhe presenteassem. E também não era do feitio de Brian se recusar a fazer algo por um amigo, só porque isto lhe traria alguma consequência negativa ou o colocaria em circunstâncias duvidosamente seguras.

Tudo o que queria era ver novamente Alex feliz verdadeiramente em seu cotidiano e convívio consigo e com as outras pessoas, aquilo era pedir demais?

Mordeu o lábio inferior e tentou conformar-se internamente, talvez fosse apenas coisa de sua cabeça, ou a iluminação do local que transtornavam a figura do animatrônico dourado ao ponto que ele aparentasse uma aura negra e semblante psicótico, possivelmente não seria nada e sua maneira exagerada de enxergar coisas sutis estivesse modificando radicalmente a imagem do que deveria ser um gentil e amigável robô.               

Virou-se na direção da outra criatura ainda sentindo aquela sensação de insegurança, hesitação e amedrontamento adentrar-lhe o âmago sem permissão, encarou-o com uma firmeza apenas aparente nas íris cortinadas por espesso tom de sangue, descerrando os lábios quase brancos de temor interior contido para simplesmente deixar fluir aquelas palavras de que um dia tanto se arrependeria.

— Ok, eu vou querer o gancho... – respondeu simplesmente e com as palavras quase se prendendo em sua garganta e não querendo se expressar, fazendo o tom de voz do estudante soar tímido e manso.              

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O garoto olhou o senhor mais velho e perguntou aos gaguejos: ‘’você não vai fazer nada comigo?’’ O homem acenou a cabeça para os lados, dizendo indiretamente um ‘’não’’ para o menino, que respondeu: ‘’o que pretende então? Alguém normal já teria me matado aqui mesmo!‘’A pobre criança mesmo temendo por sua vida, não entendia porque então aquele vendedor não fazia nada no mínimo para o ferir, estava tão distraído com o fato que nem pensou em uma maneira de fugir o mais depressa possível. O homem respondeu: ‘’não vejo porque matá-lo ou fazer-lhe mal, já que olhando de perto, na verdade, você me traria vantagens, já que tem potencial’’.        

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O sorriso sádico não discernível para o menino se ampliou assustadoramente no rosto pálido do animatrônico que agia de maneira inusitada e desajustada, o tal rindo internamente da inocência e ingenuidades esplendidas do outro que o proporcionavam o seu engano fácil, um tique momentâneo estabelecendo-se em seu olho esquerdo, mas logo sendo controlado pelo ser que não fazia tanta questão de manter as aparências no momento, mas que precisava ao menos denotar descrição para fugir dos olhares pouco atentos, porém curiosos das outras pessoas no salão.      

Tentou controlar-se e conter a excitação que o tomou, então se recompôs rapidamente e chamou o menor num gesto com um dos dedos que representava uma espécie de pedido para que ele viesse junto de si.

Ok, então, siga-me...pediu com voz rouca e despretensiosa, as pálpebras levemente fechadas, tendo suas íris pouco visíveis evidenciando um intenso borrão arroxeado, em um tom quase morto, como que encoberto por espessa camada de neblina acinzentada, não deixando qualquer resquício de brilho para trás.                                                                                                                                                                                                                                                                                 

’Siga-me’’

As pupilas embrumadas já de dissabor se reduziram drasticamente, tornando-se dois pontos negros minúsculos, que pareciam remexer-se descontroladamente dentro do olhar de intenso pavor que logo se encheu de lágrimas, os globos dourados se arregalando assustadoramente e fortes marcas de expressão se formando ao redor destes, porém a reação drástica se perdendo em questão de segundos, a dor de cabeça que a pouco o atingia se intensificando de maneira quase insuportável, censurando qualquer outro tipo de sentimento além do sofrimento mental e físico na face emoldurada por cabelos ruivos, enquanto aquele brado sem quaisquer limites de volume atingia sua garganta e em seguida sua voz em desespero e aflição, a única mão restante e o gancho extremamente afiado indo em direção à parte superior de seu crânio, pressionando fortemente a área como que para interromper com a tortura desumana, seu corpo se estirando no chão, encolhido em posição fetal, ainda com a água quente e de pura angústia desabando em grande quantidade pelos globos dominadores de íris áureas, escorrendo através do piso ladrilhado de quadrados pretos e brancos como que num jogo de xadrez, e no caso, ele era o cavalo negro, torturado lamentavelmente pelas ações do inimigo sobre seus próprios companheiros de equipe, imponentes e fracos diante das jogadas estratégicas e terrivelmente tentadoras do adversário do outro lado do tabuleiro da vida.

Remexia-se nervosamente, parecia a ponto de ter uma convulsão, as memórias haviam vindo todas de uma vez, em uma magnitude tão extrema que talvez a raposa sequer suportasse tamanha carga mental e sentimental em seu ser tão repentinamente, fazendo toda sua região craniana agonizar dolorosamente, e o desespero o dominar sem pudor algum. Aquela mesma palavra revivida no mesmo tom de antes a provocar-lhe espasmos de terror e horror, aquela voz rouca alcançando seus ouvidos novamente apesar da distância.

Sem dúvida alguma, era ele.

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— O garoto o olhou admirado e então perguntou: ‘’e-eu...? Tenho... potencial?’’. O senhor acenou positivamente mais uma vez e disse: ‘’um garoto esperto e astuto como você não se vê todo dia...’’. Os olhos da criança brilharam ´´sabe, penso que você teria mais utilidade vivo para mim... o que acha de trabalhar aqui? Eu posso lhe dar comida todos os dias, posso lhe dar roupas e oferecer um abrigo decente, e se você tiver amigos melhor ainda!  

~       

O menino arroxeado sentiu um arrepio subir-lhe pela espinha, mas tentou esconder as reações que tinha a cada pequeno movimento ou fala do outro ser, contentando-se em estremecer involuntariamente e sem perceber automaticamente fazendo a bebida vermelha ainda contida dentro do copo que carregava com as duas mãos se remexer devido à tremedeira de seu próprio corpo. 

Na realidade, se alguém o perguntasse por que estava sentindo tanto medo completamente inexplicável, nem ele próprio saberia responder, simplesmente parecia não ter uma fundação exata os seus sentimentos. Havia várias possiblidades, talvez o temor que tinha daquele corredor onde agora eles adentrariam ou a apreensão pelo visual pouco comum e usual do robô de animação e entretenimento para outras crianças, a aparência de algo antigo e enferrujado lhe doando aspecto de contorcer qualquer um em amedrontamento.

Mirou uma última vez Alex com quase abalo emocional renovado nas pupilas negras como o manto que sempre encobria o céu à noite, repensando por um instante naquilo e hesitando por breve momento, porém em seguida logo se enchendo de coragem e mentalizando como um mantra que tudo aquilo seria por ele, por seu companheiro já infeliz há tempo demais para seu gosto.

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—‘’De verdade?’’ perguntou com esperança de encontrar um lar o menino. E o senhor respondeu: ‘’sim, afinal nós dois sairemos ganhando em um acordo assim, você me ajuda na loja e eu te dou tudo que você precisar para sobreviver! Que tal? E se você tiver companheiros, o que eu acho que tem já que vocês normalmente andam em grupos, você poderia os trazer para cá também, ajudaria eles, a mim e a você. ‘’

~         

Foxy olhou-o pasmado, cerrando os dentes devido às dores inabaláveis que atingiam seu corpo sucessivamente, já que apesar de ser um animatrônico, ainda sentia a grande maioria das sensações e percepções humanas, mas não sabia a que isso se devia, se era algum dom inusitado ou algo do tipo, a questão é que naquele momento ter os mesmos sentidos de quando ainda era vivo, não estava lhe proporcionando nenhuma vantagem ou domínio sobre a situação e sim simplesmente a tortura.   

Gritou abismado e aos prantos para o garoto arroxeado não seguir aquela figura assustadora e que lhe causava pesadelos, mas é claro que absolutamente ninguém pôde escutar as suas lamúrias incessantes, fazendo o desespero domar-lhe definitivamente, guiando seus instintos de maneira decisiva o obrigando então a passar a arrastar-se com apenas um dos braços na direção da dupla incompatível, já que todos os seus outros membros pareciam anestesiados pela dor e sem a menor capacidade de serem utilizados.        

’De novo não, DE NOVO NÃO!’’    

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—Por alguns segundos, o garoto realmente acreditou naquilo, mas logo depois, sua ficha caiu, aquele senhor era um vendedor possivelmente rico da região, por que diabos ele acolheria uma criança ladra, pobre e órfã? Mesmo que ele ganhasse alguma vantagem com aquilo, não vinha motivo suficiente para aquele homem o abrigar, então passou a desconfiar do outro e perguntou: ‘’Você está brincando comigo por acaso só porque eu sou uma criança?! Eu não sou tonto! Me diga a verdade!’’ exigiu.  

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Tirando uma iniciativa de sabe-se lá onde, o mais novo seguiu silencioso o animatrônico que adentrara calmamente o corredor escuro, iluminado somente por uma fraca lâmpada precisamente ao meio como se fosse pequeno holofote prestes a testemunhar a cena seguir, sua doação de luminosidade escassa na verdade só tornando tudo mais intimidador para a figura diminuta do de orelhas arroxeadas postiças, que enxergava sombras sinuosas em todos os cantos e percebia temeroso a adrenalina viajando por todo o seu corpo desconsertadamente, o pequeno tentando focar seu olhar somente no copo plástico que ainda mantinha em mãos, seu reflexo contorcido sendo novamente refletido sobre o líquido rubro.       

Percebeu depois de mínima observação uma porta estreita no final do corredor, e concluiu rapidamente, segundo seu pouco conhecimento do vocabulário de sua língua, na placa que adornava morbidamente a entrada havia escrita a frase: ‘’partes e serviços’’ estando no alto da abertura apertada para o outro lado certamente enferrujada devido ao desgaste dos anos sem reparos como quase tudo naquele lugar.      

Algumas vezes ouvira boatos sobre aquela sala, as crianças zombeteiras, brincalhonas e amantes do terror de sua rua insistiam em recontar a macabra lenda de que os animatrônicos daquele lugar ganhavam vida à noite, escondendo os corpos das crianças mortas em um lugar secreto do restaurante e não contanto para ninguém jamais.        

Engoliu em seco, ainda estremecia de maneira absurda, parecia que seu coração iria pular pela boca, e sua respiração de uma hora para outra havia ficado estranhamente pesada, fazendo o menino respirar e expirar o já escasso oxigênio com dificuldade, a sua fraca inspiração que aparentava ar inocente estando descompassada, sendo um dos poucos sons que tinham a coragem de penetrar o corredor obscuro além dos passos lentos e concebidos em cadeia do próprio garoto e da figura que caminhava calmamente a sua frente.

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Oras se eu não te quisesse de verdade já poderia ter me livrado de você garoto. Vamos, confie em mim! Sou diferente dos outros. ’’ Ele afirmou com firmeza na voz, dando um pouco de segurança para o garoto incerto se aceitava sua ajuda ou não. ‘’Para provar, por que não vem comigo até os fundos? Podemos conversar calmamente ali, e tenho certeza que você me dará um pouco de confiança se o fizermos. ’’     

O menino o olhou com estranheza, apertando um pouco os olhos para analisá-lo melhor, mas ao final, saiu detrás do grande barril andando lentamente até onde o homem falara, sendo seguido dele depois.          

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A figura ruiva não visível estava quase a ponto de convulsar, arrastando-se de maneira dificultosa e dolorosa até o companheiro em estado de eminente perigo, para ao menos tentar como último recurso e última esperança alertar-lhe sobre o que ocorreria a seguir se continuasse com aquele trajeto, e que na realidade estava migrando para o preciso corte traidor de sua própria vida meninil e ainda tão pura.                     

Assim que Foxy alcançou o corredor e parte de seu corpo já se encontrava para dentro deste, ainda caído ao chão, encarou a imagem de seu companheiro com lágrimas nos olhos, que se nublaram instantaneamente, lamentava tanto, tanto, por suspostamente não poder fazer nada por ele e mais uma vez o ter deixado caminhar até a própria morte sem ter feito absolutamente nada para impedi-lo, simplesmente não lhe dando a devida atenção e deixando com que sua existência rompesse suas relações com o mundo físico tão facilmente.     

E num último apelo para tentar sanar com seu desespero e sua culpa impiedosa e pelo menos um dia poder dizer a si mesmo que não ficara apenas parado diante do que interrompera tanto a sua própria vida quanto a de seus companheiros, deixou com que sua voz desatinasse em chamamentos insistentes em desconsolação, em volumes exorbitantes a exaltarem-se em pânico. 

— BRIAN!!! – as íris douradas se expandiram completamente inconsoláveis, as pérolas lacrimosas teimando a não abandonar seu rosto corado e desemparado de nenhuma forma.

Impressionantemente e sem explicação aparente ou plausível, o garoto arroxeado sentiu um arrepio atravessar sua espinha e passar por todo o seu diminuto corpo após o brado ressoar por todo o espaço, este que apesar do fato de que não deveria ser audível para si, ainda assim conseguira fazer com que todos os seus sentidos entrassem em estado de alerta e aguçassem-se quase de maneira involuntária, seus olhos arregalando-se consideravelmente.   

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O garoto sentou-se no chão de uma pequena sala nos fundos, esperando o que o homem atrás de si teria para lhe dizer. ‘’Então primeiro quero que me diga se tens companheiros, para eu poder te ajudar de maneira adequada’’ falou calmo, o menino hesitou um pouco e pensou seriamente se deveria entregar seus companheiros, mas acreditando que aquilo fosse melhorar suas vidas apenas respondeu ingênuo: ‘’sim...nós vivemos em uma igreja abandonada há anos, hoje saímos separados para buscar comida, já que vem ficando difícil arrumar comida nos últimos tempos´´.     

O homem sorriu e em seguida lhe entregou um pedaço de pergaminho junto de uma pobre pena e depois de procurar um pouco, encontrou um pequeno pote com tinta preta e disse: ´´poderia então me desenhar um mapa para eu saber onde encontrar cada um de seus amigos?´´ perguntou gentil, o menino não podendo recusar desenhou rapidamente os lugares onde eles costumavam ficar e em seguida devolvendo ao senhor.    

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Parou a caminhada com velocidade e virou-se para trás um tanto assustado, poderia jurar que haviam clamado seu nome há poucos instantes, então direcionou o olhar para todos os cantos mal iluminados para tentar localizar a possível origem do chamado, e para sua infelicidade mesmo após fria análise não avistara nada além do breu hipnotizante e desconfortável, porém mesmo assim não desfez a postura de defesa e atenção a quaisquer movimentações ao redor.

Ei, garoto?— perguntou quase impaciente a figura do animatrônico dourado ainda um tanto a frente da criança confusa, o ser mais velho também havia interrompido seus próprios passos sinuosos para vislumbrar o que teria chamado a atenção do arroxeado ao ponto dele se assustar e virar-se bruscamente, porém a decepção ficara clara em sua expressão ao não constatar um absoluto nada, sequer uma modificação no cenário exterior – por que parou?— indagou enquanto se encostava a uma das paredes do corredor, se apoiando nesta e cruzando os braços, mantendo as feições de desagrado em seu rosto, junto de seus olhos que analisavam friamente tanto o ambiente em volta quanto as ações repentinas e arrebatadas do menino. 

Foxy assistia a tudo ainda estirado ao chão, quase perdendo a batalha para a sua própria inconsciência, esta estando prestes a se tornar completamente dominante sobre si mesmo que o líquido transparente e salgado ainda escorresse pelo canto de seus globos oculares dourados, uma minúscula chama de esperança reacendendo em seu coração ao ver a relutância do pequeno arroxeado finalmente se manifestar diante da presente situação, somente isto o permitindo e dando forças para permanecer acordado.    

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— ‘’Muito bem, no final, você até que é um bom menino’’ falou o homem, que em seguida guardou no bolso do seu jaleco de couro o mapa que o menino havia feito, ‘’ agora quero que você faça uma última coisa para mim, tudo bem?´´ pediu ‘’poderia, por favor, me esperar por aqui? Tenho que buscar algo em uma loja vizinha que chegará agora, então se importa de esperar nessa sala?´´ perguntou enquanto apontava para uma porta estreita que havia em uma das paredes da sala onde eles estavam, o menino estranhou novamente, mas obedeceu depois de alguns segundos pensando nisso, só estava fazendo aquilo por seus amigos afinal, se fosse somente ele, já teria corrido dali.

~    

O garoto engoliu em seco, a fisionomia quase séria do outro o fazendo temer severamente a sua figura intimidadora com mais intensidade. Levou o olhar aterrorizado ao chão e relutou fortemente, chegando a dar passos na direção contrária a qual estava se dirigindo anteriormente, afastando-se da criatura a sua frente lentamente, seus dedos fechando-se rigidamente em volta do copo de plástico ainda em posse de suas delicadas mãos enquanto repensava com o resquício de noção de lógica que possuía naquilo mais uma vez. Estava realmente arriscando-se daquela maneira, esgueirando-se junto a um animatrônico desconhecido e assustador dentre um corredor escuro e sombrio da onde surgiam tantos rumores detestáveis, apenas por um brinquedo que supostamente e segundo aquele outro ser persuasivo era a resposta para a ressurreição do antigo comportamento confortavelmente e às vezes até mesmo exageradamente alegre de seu companheiro em outros tempos?     

Tinha realmente concordado com aquilo? Afinal, o que estava fazendo? Quem disse que ele precisava de algo material que trazia entretenimento a maioria das crianças para alegrar e contentar verdadeiramente o seu amigo de longa data? Quem disse que ele precisava daquilo para fazer a felicidade do outro novamente sendo que a si mesmo poderia simplesmente permanecer ao     lado do ruivo e realizar tudo que estivesse ao seu alcance para fazê-lo radiante e um nato esbanjador de sorrisos conquistadores mais uma vez?  

‘’Você voltou pra mim depois não voltou? Isso é o que importa pra mim, é o suficiente pra mim.’’

O que ele era? Um idiota? Lembrava-se tão perfeitamente das palavras anteriores de seu companheiro e mesmo assim estava seguindo com aquela coisa boba e desnecessária, ele já lhe falara uma vez que sua presença lhe era suficiente, o que diabos estava pretendendo com aquilo então? Além de colocar-se numa situação clara de risco, sabia que coisas materiais nunca tiveram muito significado para o ruivo, sabia que ele não menosprezaria um presente seu, mas a sua amizade incondicional pelo que aparentava era-lhe muito mais preciosa, portanto que razão haveria para dar como justificativa a isso tudo?           

Saberia fazer Alex feliz por si mesmo, não precisava de nenhum objeto superficial em mãos para agradá-lo e/ou fazer seu dia mais prazenteiro, o executaria sozinho, sabia com precisão tudo o que poderia trazer feições exultantes e eufóricas para o rosto sardento do ruivo, conhecia-o melhor que ele próprio.   

E foi com esse pensamento em mente que se virou para o animatrônico dourado novamente, tentando mirá-lo com firmeza e confiança apesar da tremedeira continua e clara de suas franzinas pernas quase bambas, enquanto suas íris desviavam receosas por vezes, temerosas de realizar um contato visual mais longo ou mais intenso com os globos meticulosamente analíticos arroxeados.

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— Porém, foi somente depois de ter entrado na armadilha que percebeu onde havia se metido, aquilo era uma jaula enorme! Tinha entrado numa jaula enorme! Como pudera ser enganado de tal forma pensava o menino, e quando tentou escapar, a porta feita também de pesadas barras de ferro já havia se fechado e aquele homem que lhe oferecera ajuda estava rindo de sua cara, enquanto dizia: Há! Que menino tolo! Caiu como patinho na minha armadilha seu ladrãozinho de uma figa! E agora você se tornara meu escravo para aprender a não roubar os outros!’’ gritou com a pobre criança, que ficava cada vez mais desesperada tentando sair dali ´´me tira daqui!’’ ele gritava, mas o homem não lhe dava ouvidos, apenas fez breve comentário antes de sair dali sem mais nem menos, ignorando o pânico do menino: ‘’ e muito obrigado pelo mapa, vou ter servos para mim por um bom tempo! Tchau, tchau.’’   

~

— E-eu... – piscou freneticamente, apenas depois de longos instantes fixando-se finalmente na silhueta de gravata e cartola roxas – eu... não quero continuar... e-eu... – cerrou o olhar com força e suspirou pesadamente, não gostava de fazer desfeita com outras pessoas, por mais que desta vez fosse apenas um animatrônico supostamente sem sentimentos - me desculpe senhor Golden Freddy, mas... eu não quero esse brinquedo... o gancho, sabe? Eu... eu sinto que posso fazer com que meu amigo fique mais contente, mas não com isso... na verdade, acho que eu deveria estar fazendo companhia pra ele neste exato momento... – ditou aos gaguejos, enquanto encarava de soslaio a abertura da onde haviam partido, que dava novamente para o salão, praticamente não disfarçando sua ansiedade para sair logo dali, estava a ponto de suar frio – e-então e-eu... vou voltar, tá? Me desculpe senhor Golden Freddy... Tenha que encontrar meu amigo... – disse-lhe um tanto temeroso instantes antes de virar-se com cautela e vagareza na direção a qual vislumbrava brevemente a poucos segundos, não esperando para testemunhar a reação do outro, caminhando lerdamente, tentando não aparentar tanta pressa em seus passos propositalmente lentos, esperando que o ser enferrujado não demonstrasse uma atitude negativa em resposta a sua decisão.        

~

‘’Não!’’ continuava gritando o garoto, agora ainda mais desesperado, pensando não só no fato de ter traído seus amigos, os entregando a aquele monstro, como pensando no fato de ter caído tão ingenuamente naquele truque simples. Segundo rumores de meus tripulantes, depois disso, ele viveu longos anos de sua vida trabalhando escravizado junto de seus companheiros para aquele homem, que era na verdade um incrível manipulador conhecido naquela área, até um dia o garoto ser morto por ter sido pego tentando escapar daquele lugar onde vivia preso. Fora morto por aquele mesmo senhor. – Foxy encerrou com olhar misterioso e sombrio, que chegara por alguns momentos a amedrontar as crianças a sua volta, surpreendidas com o final inusitado, porém previsível da história – e a grande moral disso tudo crianças, é a seguinte: jamais confiem em estranhos, e mais ainda... jamais se separem de seus amigos, pois eles são os únicos realmente dignos de sua confiança! Os únicos em que você pode confiar que não vão lhe fazer mal, caso você conte um grande segredo a eles...um segredo em que a sua vida e a de outras pessoas estará em jogo...

É, ou... talvez não?                   

~

O ruivo tombado ao solo, esboçou o maior sorriso que era capaz de demonstrar com o restante das forças que lhe sobrara, não acreditando que pudera realmente impedir com o próximo ato trágico que transformara sua vida num verdadeiro inferno, agora podendo vislumbrar as feições do menor tornando-se determinadas, possivelmente pelo fato de que a seguir teria de cumprir o que devia a seu próprio melhor amigo há bastante tempo.    

Porém, a expressão de alívio e satisfação logo murchou bruscamente, minguando de súbito até a face cansada contorcer-se em desespero, apreensão e pânico mais uma vez.         

Tarde demais.

Oh, na-na-ni-na-não, você não vai a lugar algum, Brian.

Antes que Brian pudesse ter qualquer reação, um pedaço extenso e grosso de arame farpado – nos mesmos moldes dos de grades - envolveu-se no seu frágil pescoço infantil com violência, seu corpo esguio sendo abruptamente puxado para trás enquanto os pulmões eram privados do ar graças ao enforcamento forçado pelo material espesso envolto em sua traqueia ao mesmo tempo em que as pontas soltas e afiadas do arame perfuravam seu pescoço com brutalidade e rigidez, fazendo o líquido carmesim bombeado por seu inocente coração escorrer pelas aberturas feitas na pele em exorbitante quantidade, escorrendo sobre a parte fronteira de seu peito e roupas junto de suas mãos, que seguravam firmemente o objeto grosseiro tentando ao menos diminuir a pressão deste em sua garganta -que era comprimida com cada vez mais velocidade-, o forçando para frente, mas de nada adiantava, aquilo só gerava mais dor em suas palmas e as manchava do vermelho de seu sangue. 

O grito que soara do fundo de sua alma fora abafado somente pela mão asquerosa de seu assassino, que também impedia com que os murmúrios e gemidos incontroláveis de dilacerante e terrível dor escapassem de seus lábios e alcançassem os ouvidos de qualquer alguém fora eles, todos os elementos torturantes culminando nas lágrimas de desespero e aflição que foram derramadas por suas íris rubras, de tom semelhante ao sangue que o coloria em boa parte, anéis rubis enublados pelo estarrecimento e desorientação extremos.

Curiosamente, aquele mesmo copo arroxeado que mantinha em mãos, tendo sido arremessado bruscamente ao chão, caindo no solo e rolando por intermináveis segundos sobre os ladrilhos monocromáticos já com considerável quantidade do líquido carmesim que o preenchia anteriormente escorrendo por entre as pequeninas valas que haviam naquele piso já manchado por tantas colorações de vermelho diferentes.          

Tão semelhante a sua própria situação.  

 

 

 

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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Deem suas opiniões, críticas (construtivas, por favor), elogios, apedrejamentos e entre outros à autora nos comentários, por favor! Digam o que estão achando do rumo da história e da minha escrita também e o que vocês acham que poderia melhorar.
Ah! Mais um detalhe, vocês devem ter percebido que o nome da Fanfic mudou né? Então, aquele primeiro nome simplesmente não condizia tanto com o que eu queria com relação à história e por isso eu mudei para um outro, que também não me agradou, mas ao final decidi que será definitivamente este que está agora (não me julguem pela minha falta de decisão please ;-;).
E também a qualquer momento eu posso mudar a capa, arrumei um editor decente graças à Kamisama 0w0
Obrigada a todos e todas que leram até aqui e tiveram paciência com minhas notas gigantescas.
Nos vemos nos comentários meus amores! Kissus!



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