Rain escrita por LyaraCR


Capítulo 1
Capítulo Um


Notas iniciais do capítulo

Começando minha primeira longfic de Tokio Hotel. Espero que gostem, como eu estou gostando de escrevê-la...



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Chovia do lado de fora. Estava cercado de papéis, escritos todos em caneta vermelha, sua letra, suas marcas. Estava desesperado. Nos últimos dias, as coisas tinham se tornado um mar revolto em sua vida docemente perfeita. Não sabia se era certo ou errado, e pra falar a verdade, nem fazia questão de descobrir. Sabia que todos tinham dias ruins em suas vidas, e que nem sempre se desanimavam tão facilmente com obstáculos, mas ele era apenas um garoto e estava se sentindo fraco demais para lidar com toda aquela tormenta de sentimentos que assolava seu pobre ser.

Precisava colocar a cabeça no lugar, parar de tentar juntar os motivos de sua crise de insanidade em pedaços de papel e dar um jeito de se ver como um ser mais instável que dinamites... Podia explodir a qualquer momento, esquecer propositalmente de se controlar, e isso causaria um terremoto em toda a sua vida, além de provavelmente devastar com a dele também...

Isso, precisava esfriar a cabeça. Precisava de uma boa música e de um banho bem demorado.

Deixou que seus pés descalços o levassem até o banheiro do corredor, parando ante o espelho gigantesco. Estava uma verdadeira bagunça.

Ligou o som que já praticamente morava no banheiro e sintonizou uma estação qualquer, abrindo o chuveiro enquanto se despia aos poucos. Ao primeiro contato, sentiu-se seguro o bastante para esquecer por hora dos problemas... Parecia tão certo sentir isso por uma pessoa com quem compartilhara toda a sua vida! Por que tinha que esconder? Se recriminar até mesmo quando queria sorrir de outro modo, mais sugestivo para ele? Doía. Muito. Doía principalmente o fato de ter vinte anos e estar compartilhando um maldito apartamento com ele. Era uma tarefa completamente árdua, vinte e quatro horas por dia, se controlando, se podando... Às vezes, queria ainda morar com sua mãe. Pelo menos dentro de casa, tinha certeza que seria mais fácil se guardar longe disso tudo, de todas essas fraquezas, todas as emoções...

Às vezes se pegava observando cada gesto, braços fortes, sorrisos... Estava sentindo-se um verdadeiro louco, maníaco compulsivo pela presença do outro. Sabia que o amor que sentiam um pelo outro, há muito havia deixado de ser aquela coisa pura... E... podia ser coisa de sua cabeça, mas ele parecia provocar! Incitar seu comportamento ambíguo...

— Ah, que droga!

Praguejou alto, dando um soco no azulejo frio. Era melhor terminar logo seu banho. Talvez conseguisse dormir antes de ele chegar.

---

Tudo parecia estar mudado à sua volta na medida em que os dias passavam. Sabia que estava jogando demais, experimentando coisas que não devia cada vez mais constantemente, brincando com pecados que podiam acabar com toda uma vida perfeitamente segura e feliz... Só esperava que aquilo que sentia jamais viesse ao conhecimento do outro... Sentia-se mal por saber nutrir esse tipo de coisa por alguém tão inocente nesse aspecto, tão puro, tão... amável.

Sabia-se culpado desde o início. Culpado por dizer palavras doces demais, por se aproximar demais, mesmo sabendo que não deveria tanto, culpado por sempre prendê-lo em seus braços, sempre que possível, culpado por dormir com ele, no sofá, em seu quarto, no dele... Até mesmo um filme de terror, mesmo que adolescentes, servia-lhe de desculpa para esquivar-se de madrugada até aquele quarto que tanto almejava passar uma noite inteira dentro, consumando seus sonhos mais impuros e pecaminosos...

— Por quê? Por que eu tenho que ser tão ruim? Tão sujo, impuro?

Questionou-se, travando o alarme do carro. Nem mesmo havia ido ao encontro daquela fã, nem mesmo havia saído do maldito bairro... Sua mente estava como um labirinto, e a única saída, era o mar de insanidade, do qual se aproximava cada vez mais sem relutar, sem tentar mudar o rumo das coisas; Certo que o amava, mas havia deixado aquele sentimento tomar um rumo mais que indevido.. E aquilo era bom demais, divertido demais... perigoso e valioso demais, tanto para ele quanto, sabia, para seu gêmeo mais novo. Sabia que ele estava gostando de brincar daquele modo, mesmo que no fundo não fosse de todo brincadeira, mas.. Enfim: Não tinha como explicar, não no momento. Mal sabia explicar as coisas que vinha fazendo nas últimas semanas, então quem diria um sentimento...

Só deu por si quando o elevador parou no décimo quinto. Seu apartamento. Apartamento dele. Onde passavam bons e maus momentos juntos, onde se provocavam, onde davam festas para os mais chegados, onde dormiam juntos quase todas as noites...

Suspirou. Tinha que entrar. Ele já devia estar preocupado o bastante por sua demora, o que menos queria, era vê-lo com raiva, irritado, porque no fim, isso era tão quente, tão adorável! Podia parecer masoquismo, mas gostava de vê-lo furioso, para poder contê-lo, segurar seus braços finos, acolhê-lo contra seu peito e no fim de tudo, escutá-lo chorar baixinho por algum tempo, confortá-lo...

Abriu a porta da sala, entrou e a trancou. Perdeu-se em passos, procurando-o durante algum tempo. A tristeza lhe abateu ao escutar uma música que vinha do banheiro... A melodia era tão.. Triste... Tá, isso era óbvio. Suspirou e deixou-se ir onde seus pés queriam levá-lo.

Caminhou pelo corredor e acabou por parar em frente à porta daquele quarto... A cama bagunçada, muitos papéis, caneta vermelha e muitas folhas escritas. Adentrou, assentando-se na cama em seguida. Observou os papéis.. A grafia dele era tão doce... Assim como sua personalidade, como sua voz, palavras...

Atreveu-se a pegar um daqueles rascunhos e ler algumas linhas...

“Eu não sei se deveria estar revelando isso, mesmo que em um pedaço de papel que provavelmente jamais irá até as mãos de alguém, mas não posso mais guardar pra mim... É meu coração.. Está doente. De amor.. E isso é tão ruim! Tenho medo... Medo de perdê-lo se ousar contar, ou mesmo imaginar e acabar olhando demais, mas está muito difícil.. Eu não posso mais me controlar, e anseio à cada mísero segundo que me toca, que se aproxima, que de um modo ou de outro, cedo ou tarde, eu possa esquecer tudo isso, ou ao menos... Não, nunca vai acontecer... Ele não.. é capaz de se sujar com algo tão baixo... E sim, digo que é baixo... Mesmo amor, é pecado... E sim, eu sei que meu Tomi não seria capaz de pecar, jamais... Mesmo que eu diga que quero seus beijos, seus toques... Oh Deus, não deveria estar escrevendo isso e... chorando.. Pareço uma garota.. Tão infantil... E por mais confusas que essas palavras pareçam, eu juro, isso é a coisa que eu estou sentindo comer meu peito, meu ser, pouco à pouco...”

Lhe bastou. Não precisava ler mais nada, e mesmo que precisasse, não conseguiria.. Seu peito estava uma zona! Seu coração disparado, sua respiração descompassada... Oh Deus, não estava acreditando! Estava...

— Isso é tão surreal!

Sussurrou para si mesmo, largando o papel sobre a cama e saindo do quarto, antes que resolvesse ler os outros e acabasse mais louco e perturbado do que já estava...

Seus passos foram lentos e desinteressados até o meio do corredor, onde deparou-se com seu gêmeo, autor de tantas palavras, saindo do banheiro com apenas um roupão branco, felpudo, fechado preguiçosamente.

— T-Tom? — ele perguntou, assustando-se um pouco com a presença do mais velho — O que faz em casa tão cedo?

Sentiu-se acalmar aos poucos.

— O que são aquelas coisas? Por que nunca me disse?

Sua voz era forte, determinada, mas no fundo, se sentia como uma garota, colegial, fragilizada pela descoberta de seu primeiro amor não-platônico. Pôde ver Bill variar do pálido-susto até o vermelho-vergonha e ponderar por um momento antes de abrir e fechar a boca, tentando falar por algumas vezes e enfim conseguindo...

— Q-que coisas?

Era sua única chance de escapar daquela situação. Seu coração estava acelerado demais. Podia jurar que morreria se Tom insistisse em saber mais.

— Não finja que não entendeu.. Que merda é aquela sobre sua cama? Todas aquelas palavras? E porque me privou todo esse tempo?

Bill estava tremendo, e nem mesmo relutou quando foi puxado pelo mais velho até seu próprio quarto. Não conseguiria impedi-lo de nada no momento... E então, Tom pegou o mesmo papel que havia lido, fazendo-o em alto e bom tom para o mais novo.

— Sabe como isso dói, Bill? Sabe como eu me sinto desde os treze? Com tantas coisas assim no peito, na mente? Sabe como tem sido difícil dividir o mesmo teto com você pensando que me mataria se soubesse disso? Sabe o quanto eu sofri, ou ao menos quantas noites eu chorei?

— N-não!

O mais novo já tinha os olhos marejados, tanto de felicidade como de medo. Temia que, agora, depois de descobrir, Tom fosse abandoná-lo à própria sorte por não tê-lo contado antes... Mas o que veio em seguida, foi o que jamais passaria por sua mente...

— Eu te amo Bill! Droga! E desse mesmo jeito que você diz aqui, me amar...

Puxou o mais novo contra o peito. Seus olhos também estavam marejados. Tudo o que precisava era mantê-lo ali, sentir seu corpo... Era o que mais queria, desde sempre, e agora sabia que não ia precisar mais esconder...

— Por que não me disse antes sobre isso? Porque não me deixou saber, pra te beijar, te amar, cuidar de você?

Apenas sussurros, o mais novo ouvia, chorando baixinho, face contra a camisa do gêmeo, esperando algo mesmo sem saber do que se tratava.

E então os dedos de Tom tocaram seu queixo, fazendo com que sua face molhada pelas lágrimas fosse exposta, ficando frente à frente com aquela que era como seu reflexo... Os olhos se travaram uns nos outros, mesma cor, mesmo brilho, mesmo desejo refletido... Ah, como se amavam... E sabiam, por mais difícil que fosse dalí pra frente, para ambos, valeria mais que toda uma vida...

O que veio em seguida, fez com que ambos sentissem o mundo parar, o momento ficar eternizado, lábios nos lábios, numa espécie de carícia que podia mostrar todo o sentimento escondido, guardado por anos e toneladas de motivos, e agora, livre, perfeito... pronto para ser exposto e curtido por ambos...

Podia até parecer pecado aos olhos dos outros, mas para eles, era mais puro e cristalino até mesmo que um diamante lapidado... Se amavam, e no fim, isso era o que lhes bastava. O que importava.


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Notas finais do capítulo

Continua...