100 Dias com Oliver Queen escrita por daisyantera


Capítulo 15
Playboy


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, gostaria de agradecer (NOVAMENTE) a leitora nqueen pela recomendação que me deixou de queixo caído. Foram poucas palavras, mas com grandes significados. Amei ♥

Agora sobre o capítulo....Não tá legal. E eu tô falando sério. Não. Tá. Legal.
CAPÍTULO OBVIAMENTE NÃO REVISADO
HÁ UMA PEGADINHA NELE



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Felicity's  Pov

Eu estava de luto.

Estava de luto pelo o meu cérebro que havia parado de funcionar da maneira correta. De luto mais ainda, pela a minha alma injustiçada e o meu orgulho estilhaçado. Luto, era a palavra correta para nomear o meu estado atual.

Quero dizer, quão idiota pode ser a pessoa para...para...Argh!

Olhei pra frente, diretamente para os ombros largos do Queen. Ele estava fazendo o check-in no hotel cinco estrelas que no momento, nos encontrávamos dentro. Acho que eu teria de vender o meu rim, juntamente com o meu cabelo NATURAL, para pagar minha estadia ali. Porém, felizmente, tudo iria sair pela conta do Queen. O que era estranho.

Pensava que mais uma vez, iríamos nos encontrar com algum conhecido dele e se hospedar com o tal conhecido, mas aquilo parecia longe de acontecer. E eu definitivamente não conseguia decidir se isso era bom ou ruim. Não sabia se eu estava preparada para enfrentar um Akio 2.0 ou quem sabe, uma versão má do Exterminador do Futuro.

Nos últimos tempos, havia notado que os amigos do sádico, eram um tanto quanto antiquados. Primeiro tinha Tommy, o corno. Segundo, Slade, a versão real do Exterminador do Futuro. Agora, eu só rezava para não encontrar alguma versão peculiar de Darth Vader no seu círculo social de amizades estranhas.

― Felicity?

Acordei do meu torpor, com Oliver balançado a mão rente ao meu rosto, tentando chamar minha atenção. Engoli em seco, sabendo que havia ficado com a minha cara de babaca olhando pra ele por mais tempo que o permitido.

Ah, valeu. Sutil, Felicity. Continue assim mesmo.

Forcei um sorriso.

― Hm???

Não confiava na minha boca.

― Dois.

Idiota!

Respirei fundo, tentando juntar paciência e coragem para deixar escapar alguma coisa da minha abençoada boca, sabendo da tragédia que eu poderia acarretar ao meu orgulho. Um passo em falso e o Queen sacaria tudo.

Eu preferia levar um tiro, à ter que admitir, em voz alta que eu estava...Que eu estava caída pelo Queen dentro de um poço sem fim e retorno. Eu estava atolada na merda, a cada dia mais.

― Você pode repetir o que estava me dizendo, por favor? ― Pedi o mais educada possível, tentando não deixar óbvio minha vontade insana de sair correndo dali e me enfiar numa igreja, implorando para todos os deuses me livrar daquela...coisa que eu estava...vomitando por dentro, pelo Queen.

Ele parou na minha frente, inclinando-se levemente na minha direção e eu usei todo o meu auto controle para continuar me mantendo firme no mesmo lugar. Foi impossível não me sentir intimidada com àquelas lazúlis me olhando tão de perto.

Oliver era charmosamente intimidante.

― Você tem certeza que não comeu nada que Akio te ofereceu, não? ― Perguntou, parecendo genuinamente preocupado com o meu estado.

― Akio não me ofereceu nada. ― Respondi, tentando desviar os olhos do seu rosto, entretanto, eu não conseguia executar aquela mera função. Eu parecia até hipnotizada pelo o sádico.

E a cada minuto, eu tinha mais certeza que ele tinha parte com o demônio. Não era possível uma pessoa me causar tantos...sentimentos — e todos, muito contraditórios - naquele curto espaço de tempo.

Oliver Queen, decididamente, era um demônio e o meu pior - e melhor — pesadelo.

Ele cerrou os olhos, obstinado.

― Você está estranha.

Sua observação me deixou em alerta e foi como se eu tivesse acabado de levar um tremendo soco na barriga. Internamente, eu comecei a me desesperar; Externamente, eu comecei a piscar os olhos furiosamente, pensando num jeito de sair daquela situação. O meu plano de não dar bandeira para o Queen, parecia falhar miseravelmente e eu não conseguia entender o que eu havia dito ou feito, que o estava fazendo desconfiar.

Novamente, tentei agir normalmente. O que quer que seja o meu normal.

― Eu já sou estranha, Queen. ― Falei, revirando os olhos de maneira teatral e esperando que aquela encenação surtisse o efeito desejado.

Mas, para o meu total azar, o sádico-mor me olhou ainda mais desconfiado.

Legal, era agora ou depois que eu me jogava de algum prédio?

― Definitivamente estranha.

Soltei uma respiração nasalada, entrando em alerta máximo.

Onde diabos eu estava errando? Resolvi solucionar aquele enigma pela raiz:

― Por que você acha que agora, de todos os momentos, eu estou estranha?

Ainda inclinado na minha direção, notei quando os seus olhos adotou uma expressão zombeteira e para completar, seus lábios se curvaram num sorriso sardônico - e eu vergonhosamente não conseguia desviar os olhos daquela área. Hm, aquela boca...

― Porque até agora, você não me chamou de idiota. ― Foi a sua resposta e imediatamente, desviei os olhos de sua boca e dei um pulo para trás. Desde quando estivemos tão perigosamente próximos assim?

Respirei fundo, pensando na sua resposta. Era como se o Queen tivesse acabado de puxar o tapete debaixo dos meus pés.

Ele tinha razão! Eu não o havia chamado, como religiosamente todos os dias o chamo, de idiota. E aquela era uma atitude atípica minha, principalmente quando estávamos tendo evidentemente, uma mini discussão.

O olhei, sentindo a tensão se apoderar do meu corpo.

― Você quer que eu o chame? ― Retruquei e logo me senti estúpida demais por ter soltado especialmente aquilo.

Eu, obviamente, estava o dando a chance de escolher. E aquilo definitivamente não era normal.

― Eu quero? ― Um brilho travesso cruzou os seus olhos. Puta merda, aqueles olhos seriam a minha ruína, constatei pesarosa.

Engoli em seco.

― Isso foi uma pergunta retórica? ― Quis saber, apesar de desconfiar que sim, havia sido uma pergunta retórica carregada de sarcasmo desnecessário.

O Queen elevou mais a sobrancelha, enquanto um sorriso lento se formava no seu rosto. Inevitavelmente, senti a temperatura subir consideravelmente e não precisava estar com um espelho para saber que as minhas bochechas começavam a atingir um tom rosado.

M-E-R-D-A.

― Será que foi?

Mais uma vez, ele havia transformado a situação em um dos seus joguinhos de palavras e eu havia caído miseravelmente. Porém, felizmente, dessa vez Diggle chegou para interromper a queda iminente do meu orgulho:

― Já podemos ir para o quarto? Terminei de falar com Lyla. ― Comunicou, alheio ao que acabara de acontecer.

Como num passe de mágica, o Queen se afastou ligeiramente de mim e dedicou da sua total atenção a Diggle.

― Lyla está bem? ― Perguntou suavemente e eu presumi logo que Lyla ou era esposa de Diggle, ou alguma ex-namorada-mas-atual-amiga do Queen. Aquele pensamento foi o suficiente para me fazer bufar, consternada.

O idiota deveria ter ex-namoradas espalhadas pelo planeta inteiro! Não me impressionaria durante uma invasão alienígena, uma ET dizer que já havia namorado o sádico-mor.

Infelizmente, aquela minha pequena atitude, voltou a chamar atenção do Queen.

― Algum problema, Felicity? ― Virou na minha direção, com as sobrancelhas levantadas.

― Devo começar a listar por ordem alfabética ou numérica? ― Repliquei, num ímpeto de rebeldia e para a minha total desgraça, ele abriu um sorriso afetado.

― Ah, essa sim é a Felicity Smoak que eu conheço...

 Não tinha certeza se queria descobrir o significado por trás daquelas palavras.

(...)

Mais uma vez, em menos de 72 horas, me via na mesma posição: Fitando o teto, enquanto xingava todos os Deuses internamente, por terem me enfiado num mesmo quarto que Oliver Queen e John Diggle - com a sua preciosa e inseparável arma, é claro. E para completar a tragédia, eu era a linguiça daquele sanduíche humano!

O Queen havia escolhido um quarto com três camas e a minha era logo a que ficava no meio - segundo Diggle, aquela seria a maneira mais fácil de me protegerem, caso algo viesse à acontecer. Mas eu duvidava veemente que ele falasse pelo o Queen. Oliver, obviamente, seria o primeiro a me deixar para trás numa situação ou até mesmo me usar como escudo humano.

E mesmo assim...Mesmo sabendo de todas essas atrocidades, eu me via virtualmente perturbada pela presença daquele ser a uma pequena distância de mim. Especificamente da minha cama.

Puta merda, Oliver Queen estava na cama ao lado! Não sabia se era pior ou melhor do que estar na cama abaixo. Fechei os olhos com força, esperando que daquele jeito, acabasse dormindo.

― Perturbada com alguma coisa, Srta. Smoak?

Filho da mãe!

Abri os olhos e encarei o gesso do teto, entretanto, sentia minhas terminações nervosas vibrarem ao som debochado daquela voz. Eu só poderia ser doente por ter...Por ter caído por um homem como aquele! Tá que o cretino tinha uma ótima aparência, uns bíceps de atiçar qualquer um e uns olhos capaz de fazer subir labaredas, sem contar, com a sua provável espada de greyskull. Mas, sua personalidade era o seu pior e maior defeito.

Portanto, não havia outra explicação além de eu estar doida de pedra. Assim que chegasse em Star City, sairia a procura de algum médico.

Não. ― Respondi, depois de algum tempo e esperando que o assunto se encerrasse. Não gostaria de repetir o mesmo episódio de Lian Yu onde o cretino havia me mantido acordada praticamente quase a madrugada inteira, para trocar farpas comigo.

Após alguns minutos de silêncio, concluí que o sádico também não gostaria de repetir a experiência e com uma desconcertante decepção, acabei adormecendo.

Maldito Queen com os seus genes de grego!

(...)

Iria fazer exatamente 14 horas e 12 minutos, que havíamos colocado os pés na Rússia e que eu ainda não fazia ideia do que merda a gente tava em solo russo. Estava absolutamente consciente da existência de uma subsidiária da QC na Rússia, porém, minha intuição dizia que o Queen não estava ali a trabalho.

O que era extremamente preocupante.

Tomei mais um gole do meu suco, relanceando um olhar no Queen sentado na minha frente. Felizmente, estávamos tomando o nosso café da manhã numa área aberta, então tentativas para me matar ou me jogar em algum lugar, foram descartadas rapidamente.

― Felicity, sabe no que eu estava pensando?

Pulei no meu lugar, ao ouvir aquela voz naturalmente debochada se dirigir a minha pessoa. Olhei pra cima e não fiquei nada impressionada por o encontrar sorrindo para mim, aproveitando-se de uma piada interna.

Não, eu ainda não desenvolvi poderes psíquicos. E mesmo se houvesse, não iria me arriscar a dar um passeio na sua mente perturbada.

― Não Oliver, no que? ― Perguntei, com um sorriso falso.

Seus olhos pareciam rir de mim.

― Sabe, para assassinar um assassino, temos que contratar outro para fazer o serviço.

Puta que pariu! Lunático desgraçado! Ele ia me levar pro buraco daquele jeito, se não sossegasse o facho!

Não falei nada, apenas encarei aquelas duas luas brilhantes, pensando o quão interessante seria se elas se transformassem nas minhas próximas bolinhas de gudes.

E olha que eu nem gostava dessas merdas. To falando das bolinhas.

E dos olhos desse idiota também.

― Felicity.

Ele chamou novamente e eu ensaiei um sorriso e uma voz amável.

― Sim, Oliver?

― No que você está pensando?

No quão belo seus olhos ficariam na minha coleção de bolinhas de gudes inexistentes.

― Nessas torradas maravilhosas. ― Respondi e como só para reforçar, peguei uma torrada e a enfiei na minha boca. De modo que assim, eu não terminasse falando algo estúpido demais.

As bolinhas de gudes brilharam e cresceram um pouco mais. Havia um sorriso quase imperceptível no seu rosto.

Mentirosa.

Pisquei, atenta.

― Não estou mentindo. ― Falei com certa dificuldade, por estar de boca cheia. A cena deveria ser hilária.

― Você tá fazendo aquela coisa com os olhos quando mente. ― Ele apontou, tomando um gole da sua própria bebida e eu engoli com mais força a minha refeição.

Puta merda, o lunático me analisava nas horas vagas?!

― Você me analisou? ― Perguntei incrédula e ele me lançou um olhar cheio de ofensa.

― Óbvio que não, eu só olhei.

Cerrei os olhos, desconfiada.

― Para um playboy você é muito esperto. ― Não estava mentindo ― Tem certeza que é um playboy?

Não era como se houvesse uma lei onde dizia que todos os playboys deveriam ser...lerdos. Mas Oliver era aterrorizantemente perspicaz. Surpreendentemente, ele foi o primeiro a desviar o olhar e se ocupar em beber seu suco, num silencio aterrador.

Bem, aparentemente, eu havia feito uma manobra um tanto arriscada perguntando aquilo.

― O que era aquilo sobre assassinos que você falou? ― Questionei, tentando consertar a situação e logo em seguida, quis me estapear por isso.

Por que eu queria consertar aquela situação? A resposta era a mesma do dia anterior. Eu havia me jogado de um precipício pelo Queen.

Merda! O pensamento era enervante, e mais ainda o sentimento intruso.

Com uma calma deliberada, ele terminou o seu suco, para finalmente me responder:

― Estava falando apenas um fato, Srta. Smoak. Que outra maneira, além de contratar um assassino, para se livrar de outro?

Apertei o meu copo com mais força. Ele falava de uma maneira tão natural, que quase me fazia acreditar que não havia nada de errado nisso. Quase.

― Talvez com a ajuda da polícia?

Ele balançou as mãos de um lado para o outro, de um modo desinteressado.

― Besteira. Envolver a polícia na história só complicaria mais ainda as coisas. Como eu explicaria a história da minha pequena chantagem com Isabel?

― Mentindo, talvez? ― Tentei mais uma vez, porém com menos entusiasmo. O sádico parecia ter um ponto ali.

Ele revirou os olhos.

― Srta. Smoak, eu não sei se você percebeu, mas eu não minto. ― Apoiou os braços na mesa e adotou um olhar apático ― Não costumo ter todo esse trabalho por ninguém, nem mesmo por mim.

Fiquei tensa no meu lugar, imaginando como ele agiria ao descobrir as inúmeras mentiras que eu havia contado até agora para conseguir manter minha posição na QC.

― Você não quer me fazer acreditar que você nunca mentiu, né? ― O olhei cética. Quem ele achava que eu era? Alguma virgem inocente que nada conhecia do mundo para cair naquela?

Ele revirou os olhos ― Óbvio que eu já soltei alguma mentirazinha aqui e ali. Mas... ― Parou me olhando atentamente ―...você sabe como a minha honestidade pode ser mortal, às vezes.

Oh, sim! Oliver tinha a tendência de falar tudo que queria e quando bem entendia - diferente da minha característica que não apenas falava o que NÃO queria, como também acabava soltando comentários inconvenientes em lugares que eu NÃO deveria. De alguma forma, nós dois éramos parecidos em certos aspectos.

― Sim, conheço bem essa sua natureza honesta. ― Resmunguei numa careta ― Mas, isso não muda a minha opinião. Se meter com assassinos só nos afundará mais ainda na merda.

Um sorriso lento começou a se formar no seu rosto ― Devo concordar contigo, mas é inegável que tornaria as coisas mais divertidas.

Não. Brinca.

― Não, tudo ficaria muito mais perigoso. ― Discordei prontamente, tentando colocar algum senso naquela cabeça perturbada.

― Tudo perigoso é mais divertido. ― Me lançou uma piscadela e eu me senti hiperventilar. Viado, mentira!

Como aquele tarado se atrevia a fazer uma coisa dessas, quando eu estava tão...tão...Deus, que inferno! Havia sido o maior erro da minha vida ter pisado na QC.

― Pare de querer se meter em confusão, Queen. ― Disse, séria ― Você poderá usar eu e Diggle como álibi caso for a polícia.

Seus olhos brilharam daquele jeito alarmante que geralmente me colocava em problemas.

― Você seria capaz de cometer perjúrio por mim?

Senti minha boca secar e inconscientemente, levei o meu copo até os meus lábios secos. Se eu cometeria perjúrio por ele? Queria jogar a minha cabeça para trás, enquanto soltava uma sonora gargalhada. Eu tinha certeza que não faria aquilo por ele e sim muitas outras coisas. Que incluíam quatro paredes e uma cama. Ou só quatro paredes mesmo...Àquela altura do campeonato, já não havia nada que eu acreditasse não poder fazer pelo o Queen.

Maldito seja!

― Bem, não seria necessariamente por você. Eu também estou na mira de um assassino e mais do que ninguém quero ver Isabel e o amante dela presos. ― Explicava ― Por isso, acho prudente deixarmos isso tudo nas mãos da polícia.

― Não imaginava, mas você parece uma mulher sensata, srta. Smoak. ― Murmurou, com um sorrisinho satisfeito que me faria ficar de pernas bambas caso eu estivesse em pé. Graças a Deus eu estou sentada! ― Mas, há uma falha aí.

Óbvio que ele não iria só me elogiar. Oliver nunca me elogiava.

Cruzei os braços e me joguei um pouco na cadeira, esperando a explicação fenomenal dele.

― E qual seria?

― A polícia não irá fazer nada porque ninguém nos fez nada até agora. Você recebeu alguma ameaça? Eu recebi alguma ameaça? Posso provar isso? Certamente que não. Portanto, até que o nosso querido inimigo faça um movimento contra nós, a polícia não irá intervir.

Seu argumento fora feito com tanta maestria que acabei ficando por alguns segundos sem fala. Oliver não era um playboy nada comum e isso eu já deveria ter notado há tempos.

― Estamos na mira de um assassino, eu tenho certeza que eles iriam considerar a nossa denúncia, caso falássemos o nome do tinhoso. ― Protestei, não querendo dar o braço a torcer. Geralmente, eu só discutia longamente com Curtis, mas o Queen se provava cada vez mais um adversário excelente naquela arte.

― É claro que eles considerariam. Mas...

Eu tinha a impressão que sempre haveria um "mas" com Oliver.

―....mas, nós não temos a localização dele. Provavelmente iriam pensar que nossa denúncia não passa de mais uma brincadeira do playboy irresponsável e entediado. ― Completou, com aquele sorriso presunçoso de quem sabia que havia ganhado. 

Touché.

Era irritante como ele sempre parecia estar com a razão.

― Ainda não justifica a iniciativa de querer contratar assassinos. ― Rebati, sentindo tremores perpassando pelo o meu corpo, só com a ideia de me aliar a algum assassino.

Oliver inclinou a cabeça para trás e pôs-se a rir. E feito uma babaca, eu fiquei admirando o som daquela risada debochada. Puta que pariu, eu estava perdida! Onde já se viu apreciar uma risada debochada? Levei minha mão até minha testa, procurando saber se eu já me encontrava febril.

Mas eu sabia bem que o meu problema não era febre.

Quando ele finalmente se recuperou, me olhou fixamente ainda com um brilho divertido nos olhos e eu torci para que o meu olhar de babaca já tivesse ido embora.

― Felicity, eu não vou contratar assassinos. Isso só foi um teste.

Filho da puta desgraçado com tendência de fazer testes de confiança! Ou ele gostava muito de me irritar, ou ele tinha um sério problema em confiar nas pessoas. Eu ia na primeira opção.

Descruzei os braços.

― E então, passei no teste? ― Perguntei, nitidamente interessada. Eu não queria mas simplesmente aconteceu assim e notei quando um vinco se formou entre suas sobrancelhas.

― Deus, qual é o seu problema? ― Ele parecia agoniado e eu não entendi nada.

― Do que você tá falando? ― O olhei aturdida. Tava mais perdida que Curtis em balada hétero.

― Você não me chamou de idiota. De novo.

Ê Felicity, lá vai você dando mole novamente! Loira burra!

A melhor forma de sair de uma situação embaraçosa é se fazendo de idiota e foi exatamente o que eu fiz:

― Você por um acaso tem um fetiche? Parece até que gosta quando eu te ofendo! ― Soltei uma risadinha, que tardiamente, notei que fora uma risada nervosa. Legal, Felicity, tá sabendo disfarçar muito bem!

O Queen me olhou engraçado.

― Se eu tenho um fetiche, com certeza não é com você me chamando de idiota. Acredite. ― Acrescentou, com uma piscadela descarada. E o meu coração deu um salto.

Maldito. Queen.

― Onde está Diggle? ― Mudei de assunto rapidamente, com medo das minhas futuras ações caso continuássemos naquele tópico. O sádico estava perto demais para eu resolver jogar o meu orgulho para o quinto dos infernos e o agarrar ali mesmo. 

Eu estava me sentindo tentada.

― Bem ali. ― Apontou com o queixo, algum ponto atrás de minha cabeça e para comprovar, eu virei. Diggle caminhava na nossa direção ao lado de um homem com olhar de pervertido. Imediatamente, virei para o Queen e perguntei:

― Quem é aquele homem com ele?

― Um amigo meu.

Tradução: Mais um maníaco que eu conheço e chamo de amigo. Aliás, você tá ferrada.

― Eu odeio os seus amigos. ― Deixei escapar sem querer e quando notei, foi tarde demais.

― Engraçado, eles te adoram. ― Falou, com um olhar de advertência. ― Cuidado com o que você fala perto de Anatoly, ele é sensível.

Aquilo queria dizer o que? Que o cara de pervertido era gay?

Sem mais delongas o Queen se levantou do seu assento e eu imitei o gesto, pronta para cumprimentar o pervertido-sensível que já abria um sorriso na nossa direção.

Até o sorriso dele era de pervertido. Esperava que não houvesse alguma escola por perto.

― Oliver, há quanto tempo! ― O pervertido o saudou com um abraço, de praxe assim como o Exterminador do Futuro, ele também parecia feliz por ver o sádico-mor. E eu nem me dignaria de fritar os neurônios imaginando por que diabos alguém ficaria feliz de ver Oliver, uma vez que...Eu havia caído pelo estúpido lunático. Não estava em posição de julgar ninguém, infelizmente.

― Sim Anatoly, faz muito tempo. ― O lunático concordou, separando-se do abraço do pervertido. ― Essa é a minha secretária, Felicity Smoak. ― Apontou para mim e sem pensar duas vezes, ofereci a minha mão. Ainda achava aquele homem com cara de pervertido demais, para lhe dar algum abraço amigável.

Anatoly me olhou dos pés a cabeça e depois desviou os olhos para Oliver.

― Ela não faz o seu tipo, garoto. ― Declarou com aquele seu sotaque russo e eu só quis pegar a jarra de suco mais próxima, e quebrá-la na sua cabeça.

― Pelo amor de Deus, por quanto tempo eu vou ter que ouvir isso? ― Gritei, exasperada. Eu estava exausta de todos falarem exatamente isso!

Por que eu não podia fazer o tipo do Queen? Aquilo me parecia injusto!

Lentamente, Oliver virou na minha direção, com um sorrisinho cafajeste no rosto. Era agora ou depois que eu me jogava em cima dele?

― Oras, você parece irritada com isso, Felicity. ― Comentou ― Interessante.

Interessante mesmo seria eu conseguir um filtro na minha boca. Instantaneamente, senti o meu rosto esquentar de vergonha. Quanto tempo levaria para o idiota do Queen perceber que eu estava...caidinha por ele? Eu esperava que muito. Talvez uns dez anos. Ou uma eternidade. Poderia trabalhar com as duas alternativas.

― Claro que eu estou irritada com isso! Eu sou a sua secretária, que aliás, não tem nenhum interesse em você. Ou no seus bíceps. Ou em saber se você tem uma estrutura grega para comprovar os seus genes gregos. E também s- Me interrompi, ao perceber o sorriso do lunático se ampliar cada vez mais. Ele estava se divertindo com a minha falta de tato em conduzir aquela situação a meu favor. Engoli em seco, tentando prosseguir. ― Na verdade, nossa relação é estritamente profissional e não sexual. Não existe nenhum teor sexual aqui. ― Sibilei, esperando causar algum efeito ― Por isso, me irrita ver que as pessoas pensam o contrário.

― É claro que é por isso que você está irritada. ― Desdenhou, desmanchando o sorriso e virando-se para Anatoly, que assistia tudo em silêncio ― Agora, por favor, vamos tratar logo o que temos que tratar.

― Srta. Smoak, gostaria de me acompanhar num passeio? ― Diggle perguntou, finalmente abrindo a boca e oferecendo o seu braço para mim.

Franzi o cenho, achando aquela atitude estranha. E depois de refletir por alguns segundos, saquei que ele só queria me manter longe - com certeza seguindo ordens - do Queen e do cara de pervertido. Seja o que fosse que iriam tratar, não gostariam que eu ficasse sabendo sobre.

Meu lado rebelde quis soltar um sonoro "Não, muito obrigada!", mas eu tinha a incrível suspeita que Oliver acabaria com a minha raça, caso eu fizesse uma cena. Portanto, me limitei a aceitar o braço - e que braços! - de Diggle e sair imediatamente do radar daquele pervertido. E não tô falando do Oliver.

(...)

― Então... ― comecei casualmente, como quem não quer nada ―...qual é o motivo de estarmos na Rússia?

Eu e Diggle havíamos nos afastado consideravelmente do sádico e do pervertido, porém ainda tínhamos uma boa visão dos dois sentados conversando seja-o-que-for-que-estivessem-conversando. Presumi que o motivo daquilo, era porque Diggle não queria perder o Queen de vista, afinal, ele era o seu guarda-costas.

Diggle me encarou.

― Oliver acha que seus contatos podem conseguir alguma vantagem para ele, contra Ra's Al Ghul.

Eu sabia! Eu sabia que o Queen estava atrás de problemas.

― Ele é bastante persistente. ― Murmurei, olhando de soslaio o lunático. Diggle assentiu com a cabeça, concordando.

― E irritante. ― Acrescentou, com um sorriso e foi a minha vez de balançar a cabeça, em acordo.

― E irritante.

― Mas você gosta dele.

― Mas eu gost-O QUE? ― Gritei alarmada, largando o braço dele e dando um pulo para longe. Ele só poderia estar de sacanagem com a minha cara!

Ele abriu a boca, pronto para me retrucar, quando o som inconfundível de tiros irrompeu o ambiente. Num piscar de olhos, Diggle estava me puxando pelo braço, em direção ao sádico, numa velocidade quase impossível para eu acompanhar, já que usava saltos.

― CACETE, CACETE, A GENTE VAI MORRER! ― Eu gritava desesperada, ainda ouvindo os tiros. Se eu não estivesse tão nervosa, já teria começado a caçar rotas de fugas há muito tempo, mas o negócio era: Eu estava nervosa pra cacete, correndo de saltos no meio de um tiroteio e ainda tinha que me preocupar com o meu chefinho.

A vida é ótima!

De modo surpreendente, Oliver em questões de segundos conseguiu encurtar a distância que o separava de nós. Do seu lado, encontrava-se um Anatoly ofegante e eu até faria piada da situação, caso eu também não estivesse ofegante por aquela curta corrida. Ser sedentária dá nisso, pensei, fazendo careta.

― Eu não acredito que estavam me seguindo! ― Ouvi a exclamação indignada do pervertido sedentário, seu rosto estava vermelho ― Pior, eu não acredito que conseguiram derrubar os meus homens!

Derrubar os meus homens? Além de pervertido, era um promiscuo! Eu deveria mesmo desconfiar das amizades do Queen...

― Anatoly, isso não importa mais! ― O meu Queen exclamou zangado ― O importante é chegarmos com vida até a sede da Bratva!

Bratva? Aquilo era uma sede gay? Bem, se era ou não, tudo que me importava era a minha segurança e aparentemente, aquele lugar era seguro. Só para reforçar a declaração do Queen, começamos a ouvir tiros e automaticamente, me joguei no chão, com Diggle em cima de mim tentando se transformar num tipo de escudo.

Olhei para o lado e dei de cara com o Queen. Ele também estava no chão, ao lado de Anatoly que parecia soltar algumas maldições em russo.

Senti o meu coração batendo dolorosamente contra o meu peito. E se aquele fosse o meu fim? E se todos ali morressem? A realidade dos acontecimentos começou a pesar e o terror começou a se apossar do meu corpo, fechando a minha garganta e nublando a minha visão.

Eu estava fodidamente fodida.

― Felicity, se você começar a surtar agora, eu juro que eu mesmo te dou um tiro.

Ouvi a voz do meu Queen, ele tinha o olhar fixo no meu rosto e eu poderia facilmente comparar seus olhos com de um falcão. De um falcão raivoso.

Soltei uma risada, incrédula.

― É assim que você espera me tranquilizar? Lamento Queen, mas está falhando.

― Que bom, pois não é isso que eu estou tentando fazer aqui. ― Seu olhar era cortante ― Quero que você entenda o perigo da situação. Se você fazer algo de errado, não vai ser a única a acabar morta aqui. Será que você pode me entender?

No lugar de medo, uma raiva sem precedentes me preencheu. Com quem aquele idiota pensava que estava falando? Com uma criança de sete anos?

― Acho que seria melhor que você escrevesse tudo isso em um papel. ― Foi a minha resposta malcriada. Eu queria tanto me levantar dali e o estapear!

― Não me provoque. ― Ele rosnou na minha direção e eu rosnei de volta. Parecia até dois cães raivosos.

Você, não me provoque!

Quando, a gente sair daqui, você vai ver o que é provocação. ― Ele prometeu, me olhando feroz. E eu arqueei uma sobrancelha, imitando o seu gesto arrogante.

Se, a gente sair daqui, eu te prometo um soco na cara!

― É incrível como vocês arranjam tempo para discutir até no meio de um tiroteio. ― Ouvi a voz irritada de Diggle e só aí me toquei que eu e o Queen estávamos fazendo um papel ridículo, num momento de alta tensão.

― Foi ele quem começou! ― Eu tentei justificar o injustificável. E ouvi quando o amigo pervertido do lunático, soltou uma gargalhada alta. Ótimo, se ainda não tinham nos localizado, agora com certeza haviam.

― Eles são sempre assim? ― O pervertido dirigiu a pergunta para Diggle, que lentamente começou a se levantar, estudando o perímetro. Os sons de tiros haviam cessado, mas não queria dizer que ainda estávamos seguros. Ao contrário.

― Sempre. ― Respondeu, fazendo sinal para que nós nos levantássemos ― Por diversas vezes me vi tentado à matá-los, eu mesmo. ― Acrescentou, lançando um olhar de aviso para eu e o Queen.

Lentamente me levantei e sem esperar que a oportunidade me escapasse, corri na direção do Queen, pronta para lhe dar o tapa prometido. Entretanto, só foi eu chegar perto o suficiente e levantar a mão para acertar aquela carinha bonita, que o tiroteio recomeçou.

― Puta merda! ― Eu xinguei, voltando a me abaixar e começando minha missão de me livrar daqueles saltos malditos. Não cometeria o mesmo erro de TENTAR fugir os usando. Eu era loira, mas não era burra.

Pelo canto dos olhos, notei quando Anatoly saiu correndo, com Diggle e Oliver no seu encalço, enquanto eu ficava para trás, me livrando da maldita sandália. Ah, meus heróis!

― Malditas! ― Xinguei as sandálias, que magicamente pareciam presas aos meus pés e não queriam sair de jeito nenhum.

Senti alguém me cutucando e quando olhei pra cima, dei de cara com o olhar irritado de Oliver.

― Que diabos você está fazendo? Não tá vendo que estamos no meio de um tiroteio? Corra!

Uh-oh, o Queen havia voltado por mim! Mesmo que fosse só para me dar ordens...Típico.

Fechei a cara, também começando a ficar irritada. Será que ele não notava o tamanhão dos meus saltos para eu sair correndo adoidada por aí?!

― Se eu quero sobreviver, preciso me livrar desses saltos. ― Falava alto, tentando fazer com que a minha voz se sobressaísse ao som das balas e apontei para os meus pés.

O Queen seguiu o meu olhar e começou a soltar dezenas de palavras inteligíveis para os meus ouvidos, até tomar uma atitude completamente inesperada.

― QUE MERDA VOCÊ TÁ FAZENDO? ― Gritei, pendurada no ombro do Queen, feito um saco de batatas. Tinha a visão privilegiada do seu traseiro, naquela calça colada.

― Te salvando. ― Retrucou ― E pare de por a mão na minha bunda!

― Eu não tô botando a mão na sua bunda!

Mentira, eu tava sim!

― Se é assim, direito iguais à todos.

Após sua declaração, o descarado deu um leve tapa na minha bunda e eu devolvi o tapa na dele. Estava gostando daquele jogo.

― Por que eu tenho impressão que ao invés de te irritar, eu estou te divertindo?

PORQUE VOCÊ ESTÁ!

― Me divertindo? ― Fingi um tom ofendido ― Sou eu quem está com a bunda para cima, não vejo como isso possa ser divertido!

Ah, mas estava sendo divertido sim...Eu podia já até ouvir o Queen revirando os olhos, com aquele ar de desaprovação.

― Algo me diz que você é uma criaturinha incorrigível, srta. Smoak. ― O seu tom era inexpressivo, deixando claro que aquilo não era uma coisa boa.

Foi a minha vez de revirar os olhos e lhe dar um sonoro tapa na traseira.

― Obrigada pelo elogio, Sr. Queen!

― Felicity, bata novamente assim em mim, que irei revidar! ― Ele grunhiu irado, me apertando um pouco mais. ― E isso não foi um elogio.

Não achei mesmo que fosse.

― Não estou mais ouvindo tiros. ― Comentei, achando aquele silêncio estranho. Só podia ouvir as passadas de perna apressadas do Queen e a minha própria respiração batendo difícil, uma vez que eu estava parcialmente de cabeça para baixo.

― Isso é porque eu nos tirei da faixa de gaza. ― Explicou arrogantemente, começando a desacelerar os passos. Bufei com aquela sua confiança.

― Você tem um ego e tanto, Sr. Queen.

― E você uma boca e tanto.

Por que eu sentia um duplo sentido ali?

De repente, ele parou sua trajetória e habilmente arrancou as sandálias dos meus pés e me colocou no chão. E foi impossível não me perguntar internamente quantas vezes ele já havia feito o mesmo movimento com alguma outra mulher.

Bastardo!

― Agora, srta. Smoak, eu gostaria que por gentileza, você começasse a correr. ― Pediu suavemente, com um ar risonho.

Pisquei os olhos, atordoada.

Hein?

― Você não tinha dito que já havíamos saído da faixa de gaza? ― Questionei, confusa.

― Presumo que não.

E ele não precisou abrir a boca nem duas vezes, para eu sair correndo ao ouvir a bala comer. Puta merda!

― QUE INFERNO DE LUGAR VOCÊ ME ENFIOU, QUEEN? ― Eu berrava, enquanto corria ao seu lado.

― Não te enfiei nada, Felicity. Ainda. ― Respondeu sem parar de correr, e mesmo eu não podendo parar para analisar tudo aquilo que estava acontecendo, eu sabia que ele estava se divertindo.

Só o Queen mesmo para se divertir no meio de um tiroteio.

― ONDE ESTÁ DIGGLE? ― Quis saber, desesperada. Naquela situação, ele seria o meu único bote salva vidas.

― Nos esperando! ― Retrucou o Queen, acelerando a corrida e me deixando para trás.

― EI MALDITO, ME ESPERE!

Entramos numa viela e eu quase me ajoelhei ali mesmo, querendo agradecer Deus e a todos os envolvidos, por finalmente avistar Diggle. Ele e Anatoly estavam escondidos perto de uma lixeira, fazendo sinais para que eu e o sádico-mor nos aproximássemos.

― Por que demoraram tanto? Eu pensei que alguma coisa havia acontecido! ― Ralhava conosco, como se fosse o nosso pai. Mas eu nem reclamei, estava preocupada demais para fazer aquilo.

― E aconteceu mesmo.

Como sempre, o Queen desconhecia da palavra limites. Diggle o olhou interrogativamente e como resposta, o Queen exibiu minhas sandálias, com um sorriso zombeteiro.

Diggle teve a sua resposta e Oliver teria cedo ou tarde, um chute no traseiro, caso continuasse a me provocar daquela maneira.

― Por que estavam nos atacando? ― Perguntei de repente, enviando olhares nada amigáveis para o amigo pervertido do lunático. Sabia que era por culpa de Anatoly, mas gostaria de ter algum esclarecimento no assunto.

― Não estavam nos atacando. ― Oliver falou ― Estavam atacando Anatoly.

Não me parecia justo morrer por culpa de um pervertido.

― Tá, mas você ainda não me explicou o porquê.

Oliver me olhou azedo.

― E nem vou.

Maldito!

Em silêncio, observamos quando homens armados do tamanho de Hércules passaram em frente à viela. Não precisava ser um gênio para sacar que eles estavam nos procurando - ou melhor, procurando o pervertido promíscuo que no momento, não estava dando um pio, com as bolas borradas demais para isso.

Depois que os Hércules armados saíram de vista, Anatoly começou a praguejar e jogar ameaças pelos quatro ventos, como se fosse um cara muito valente.

Para um covarde, ele sabia fazer uma cena e tanto.

Mais uma vez, em completo silêncio, saímos do nosso esconderijo e começamos a pegar uma caminho estranho e estreito, mas que eu julgava que nos levaríamos até a tal sede Bratva. Apenas rezava que lá tivesse muito álcool para eu poder esquecer esse dia traumatizante.

(...)

O lugar não era nada que eu imaginava. E muito menos as pessoas. Os caras ali não me pareciam nada sensíveis ou covardes, ao contrário.

― Tem certeza que estamos no lugar certo? ― Perguntei baixinho para Diggle, que era o único ao meu lado no momento. Anatoly e Oliver, haviam sumido para dentro de uma saleta, para fazer-Deus-sabe-o-quê.

Diggle assentiu.

― Absoluta.

Dei de ombros. Certo, se Diggle falava que era, então era. O lugar fedia a cigarro, sexo e álcool. E só havia homens ao redor, todos tão ou mais grandes que os Hércules armados que estavam atrás de nós, minutos atrás.

Senti um leve tremor, mas descartei logo a possibilidade de estar em perigo, afinal...Eu estava numa porra de uma sede gay! Gays eram legais! Eu me dava bem com os gays.

Localizei o bar naquele lugar e imediatamente senti a necessidade de entornar algum álcool goela abaixo, após todos os traumas dos últimos dias.

― Legal, vou no bar pedir alguma bebida. ― Falei, começando andar ao meu destino, até Diggle puxar o meu braço suavemente.

― Não acho essa uma boa ideia. ― Ele lançava olhares para a gay troncuda no bar, como se ela fosse se tornar alguma ameaça a minha saúde.

Girei os olhos, tirando a mão de Diggle do meu braço.

― Relaxa DigBoy, eu sei o que eu tô fazendo.

Não sabia não, mas o meu lado cachaceira tava falando mais alto. E a expectativa de repetir a mesma cena com o Queen, na última vez que eu havia bebido ao seu redor, também.

― Geralmente, as pessoas costumam falar o mesmo, quando não sabem o que estão fazendo.

Em segundos ele já estava ao meu lado, me acompanhando até o bar e recebendo olhares das gays troncudas.

― Ual, você tá arrasando ein! ― O congratulei, dando um tapinha leve no seu braço.

Ele me encarou, sem entender.

― Do que você tá falando?

E eu aqui pensando que Diggle não fazia charminho...Revirei os olhos.

― Por favor, não faça charminho.

― Felicity, eu realmen-

― AAAAA DIGBOY, PARA DE FINGIR QUE ESSAS GAYS NÃO QUEREM TE PEGAR! ― Emputeci de vez, libertando o meu lado 'casamenteira' para as gays troncudas que estavam quase caindo em cima do meu amigo.

Foi como se eu acabasse de gritar que era filha de Hittler. Todos pararam de fazer tudo que estavam fazendo, para nos olhar. E os olhares que nós dois recebíamos não era nada agradável.

E foi aí, que a minha ficha caiu. Os troncudos não eram gays!

― Merda! ― Ouvi Diggle xingar pertinho de mim, olhando bestificado aqueles marmanjos que eu tinha certeza: Queriam o nosso sangue. ― Eu não acredito que você acabou de xingar metade da máfia russa!

EU FIZ O QUE? Se pudessem, meus olhos saltariam para fora da minha face, de tão horrorizada que eu me encontrava. Eu estava ao redor da máfia russa? Pior, eu havia ofendido aqueles mercenários? Puta que pariu, puta que pariu!

― Comece a orar, Felicity. ― Diggle sussurrou ao meu lado, colocando uma mão protetora no meu braço. Imediatamente, fechei os olhos e juntei as mãos, pronta para pedir perdão por todos os meus pecados que já havia cometido e pelos outros que iria cometer no futuro. Claro, caso eu ainda tivesse um futuro.

― Pai nosso que estás no céu, santi-

Diggle me interrompeu:

― Eu disse para você orar, Felicity!

Abri um olho, não entendendo mais merda nenhuma. Será que eu havia batido a cabeça e tudo aquilo não se passava de uma ilusão?

― E eu tô! ― Respondi exasperada.

― Segundo sua ficha, você é crente. ― Contrapôs, com um olhar de censura.

Ah, a maldita ficha! Lembrava-me nitidamente nos primeiros dias na QC, de ter preenchido uma ficha ridícula onde perguntavam minha religião - para evitar algum futuro transtorno. Segundo a moça do RH, aquilo era primordial para conseguir manter a harmonia entre os funcionários. Afinal, nem queria ofender ninguém, não é mesmo? Nahhh.

Na época pensei que se eu colocasse alguma religião, o Queen não iria me demitir imediatamente com medo da fúria de Deus. Obviamente, eu não o conhecia o suficiente para saber que ele não temia nada e nem ninguém.

Aquela era mais outra mentira que preenchia o meu repertório.

― O que tem? ― O olhei desconfiada, finalmente abrindo o outro olho também.

― Você está rezando...

Ah, ah! Bati a mão contra a minha testa, percebendo minha gafe. Eu deveria orar...Mas como se fazia isso? Merda!

― Não tenho preconceitos. ― Falei rápida, voltando a fechar os olhos e juntar as minhas mãos. O burburinho se intensificava cada vez mais e eu já podia farejar o cheiro do MEU SANGUE servindo de Suvinil para pintar as paredes daquele lugar.

Eu e a minha maldita boca finalmente encontraríamos o nosso fim.

― O que está acontecendo aqui?

Abri os olhos e me deparei com uma cena um tanto quanto animadora...Ou não. Anatoly estava parado no meio do salão, com as mãos na cintura e olhando cada ser vivo ali presente. Tinha o semblante irritado e só para completar o quadro, Oliver estava ao seu lado, de braços cruzados encarando todos com um olhar muito sério.

Será que ele não sabia que estava encarando olho no olho, assassinos? É claro que ele sabia, veio uma vozinha impertinente na minha mente, me repreender. Seria ingenuidade demais minha, pensar que o Queen estava alheio aos serviços ilícitos que o amigo parecia exercer.

Após a sua pergunta, um total alvoroço se formou, onde todos aqueles marmanjos falavam alto enquanto apontavam um dedo acusador na minha direção. Eu não entendia nada que eles falavam, mas não precisava ser uma expert em Russo para saber que a minha batata ali estava assando.  

Quando um silêncio caiu de repente no lugar e Anatoly me encarou, percebi que era a minha vez de me explicar. Falando em direitos iguais à todos...

― FOI CULPA DO QUEEN! ― Apontei na direção do sádico, que agora me olhava num misto de surpresa e...Diversão? O que ele sempre achava divertido ao meu redor? Era estressante.

― Minha culpa? ― Ele começou a abrir um sorriso lento ― Srta. Smoak, como eu tenho haver com você ter chamado metade dos membros da Bratva, de gays?

Endireitei os ombros, mantendo a minha postura. O amigo pervertido dele relanceava olhares entre nós dois, parecendo apreciar aquela discussão.

― Foi você quem começou dizendo que Anatoly era uma pessoa sensível e me deixou interpretar isso da maneira que eu quisesse. ― Foi a minha resposta ridícula demais até para os meus ouvidos. Mas era inegável que aquela minha confusão mental havia acontecido por culpa do Queen há muito, muito tempo.

Ou seja, era responsabilidade dele e daquelas suas...bolinhas de gudes debochadas, meu cérebro sempre parecer atrofiado. Quer dizer, meu cérebro virava gelatina perto do Queen e a minha capacidade de interpretar algo direito se reduzia a zero. E isso era tão fodidamente injusto! Ele não era suposto ter aquele efeito sobre mim, mas ali estava ele, em toda a sua glória me desconcentrando e me fazendo despejar bosta pela boca.

― Então, você está querendo dizer que eu deixei você interpretar as coisas erradas? ― Comprimiu os lábios e me contemplou por alguns instantes, até abrir um sorriso divertido. ― Isso é engraçado, srta. Smoak. Não sabia que podia fazer você, interpretar as coisas erradas. Devo ter algum poder sobre o seu cérebro, uh? ― Ele pôs a mãos dentro dos bolsos da calça, fazendo uma pose casual.

Notoriamente, ele estava debochando da minha pessoa.

Abri a boca, pronta para o retrucar, quando a risada escandalosa de Anatoly roubou toda a minha concentração.

― Garoto, onde você arranjou ela? ― Anatoly olhava Oliver, com os olhos brilhantes. Ainda havia resquícios de risada no seu rosto, quando ele voltou a me fitar ― Srta. Smoak, alguém já lhe disse que você é uma coisinha preciosa?

Isso foi um flerte? Franzi o cenho.

― Não...Ninguém nunc- Me interrompi, percebendo que eu estava perdendo o foco ali ― Espera, isso quer dizer que ninguém vai me matar aqui e depois me usar de suvinil?

Anatoly explodiu numa risada novamente e eu interpretei aquela atitude como uma resposta positiva. Eu não estava morrendo hoje. Bom.

(...)

Era fim de tarde quando voltamos a pisar num avião, prontos para ir pra casa. Por mais insano que fosse, eu estava excitada para contar a Curtis minha tour na máfia russa - que Anatoly fez questão, após aquele episódios das gays troncudas. Não sabia o motivo, mas ele parecia bastante deslumbrado com a minha presença. Diferente dos seus amigos mercenários que a cada oportunidade, me lançavam olhares assassinos.

Não queria admitir, mas...Foi agradável, na medida do possível, minha breve estadia na máfia russa. Apesar de não fazer ideia de como Oliver conhecia aqueles caras, com quem ele parecia se sentir bastante confortável.

Mais uma vez, tive a ligeira impressão que Oliver Queen seria uma eterna incógnita na minha vida. Eternamente impossível de se entender e quase inalcançável para as mãos de meros mortais.

Apoiei minha mão no queixo, o olhando de esguelha sentado ao meu lado. Ele tinha os olhos fechados, mas eu podia dizer que estava acordado. Seu pomo de adão trabalhava furiosamente e havia um vinco entre suas sobrancelhas, querendo dizer que ele estava pensando em algo. Algo que muito provavelmente iria me meter em mais problemas.

Cansei de fingir que ele não estava do meu lado e o cutuquei.

― O que você está pensando em aprontar agora?

Preguiçosamente, o Queen abriu os olhos para me olhar e não importava quantas vezes eu tivesse que ver aquele bastardo, ele sempre faria com que eu ficasse sem fôlego com aquela visão.

Malditos Deuses do Olimpo!

― Por que você acha que eu estou aprontando alguma coisa? ― Perguntou cinicamente e eu revirei os olhos.

― Estamos velhos demais para ficar nesse joguinho.

Falou a velha!

― Bem, eu não estou velho demais para os meus joguinhos...E você também não me parece velha para eles. ― Meditou ― Mas sim, você está certa. Estive pensando aqui em algumas coisas e...Eu tenho um plano.

Gemi, me afundando no meu lugar. Eu odiava quando Oliver tinha um plano!

Diante a minha reação, ele riu alto.

― Você tem razão de estar tenebrosa. ― Não era isso que eu queria ouvir. ― Você será o grande destaque desse novo plano. ― Continuou, ignorando completamente o meu olhar desesperado. Eu não queria fazer parte de nenhum plano mirabolante! Com agilidade, ele tirou uma revista de dentro da sua mochila que estava aos seus pés e exibiu a capa para mim ― Você vai seduzir esse homem.

EU VOU O QUE?

Tomei a revista da mão daquele sádico e li o nome do homem na capa. Em letras maiúsculas e berrantes, eu podia ler perfeitamente bem Ray Palmer.

Oliver queria que eu seduzisse Ray Palmer. E eu só queria saltar para fora daquele avião.

AQUELE BASTARDO INÚTIL ESTAVA FICANDO LOUCO?

― Eu não vou fazer isso. ― Declarei, jogando a revista para bem longe.

― Você vai sim.

― Vai se ferrar, eu não vou não! ― Cruzei os braços e adotei um olhar resoluto.

― Eu não sabia que você era uma covarde, Felicity.

Se ele não sabia aquilo até agora, era porque não me conhecia mesmo.

― Eu não sou uma covarde. ― Menti ― É que eu não sei como seduzir alguém, portanto, desista desse seu plano. Eu não vou seduzir Ray Palmer! ― Pausa ― Mas pra que eu precisaria seduzir ele?

Estava com a pulga atrás da orelha agora. Tá que eu não iria seduzir o Palmer, afinal, não estava mentindo quando disse que não sabia seduzir ninguém...Mas a curiosidade começava a falar mais alto.

Ele arqueou uma sobrancelha sardônica. ― Querida, eu ainda preciso fechar o contrato de bilhões que você estragou. Isabel pode estar fora da jogada, porém percebi que Palmer Tech pode ser uma boa saída de mestre para os meus empreendimentos. Se eu conseguir fechar aquele maldito contrato com Ray, estarei salvo e você também...Entendeu, querida? ― Completou, com uma falsa doçura na voz mas com aço nos olhos.

E eu só quis o estapear até que o maldito entrasse em coma.

Torci a boca.

― Eu não sei seduzir ninguém.

Seus olhos se estreitaram. ― Não se preocupe, eu vou te ajudar nisso.

Hein?

― Que? Me ajudar como? ― Pisquei os olhos, transtornada. Minha mente começava a criar diversos cenários e nenhum deles acabavam bem. Dependendo do ângulo, é claro.

Ele me deu um olhar irônico.

― Vou te ajudar a seduzir um homem, Felicity. Que outra ajuda eu poderia te dar?

Puta merda! Eu prendi a minha respiração. Ele perguntava que outra ajuda poderia me dar? Que tal, por hora, uma máscara de oxigênio? Porque eu tinha a certeza absoluta que o meu coração havia parado de bater por um minuto inteiro.

A realização do que iria acontecer de repente me bateu forte, fazendo-me ofegar. Oliver Queen me daria lições de sedução e eu não poderia estar mais perdida!


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Notas finais do capítulo

NÃO ME RESPONSABILIZO PELA A PEGADINHA QUE HÁ NESSE CAPÍTULO! (E vocês só irão sacar essa pegadinha no próximo capítulo...Mas quem sacar nesse, já quero comprar uma pulseira de bffs mais um cartão de loteria e pedir para dita cuja jogar comigo)


Hm-uhum, sobre o capítulo...Nunca pensei que chegaria um dia em que eu diria isso: EU QUERIA TANTO FAZER O POV DO OLIVER AO INVÉS DA FELICITY! Meu humor estava horrível (mais) para fazer POV da Felicity, por isso que o capítulo ficou assim, meio perdido, sem rumo. Pelo menos eu achei sem rumo, mas já que era uma coisa que eu tinha planejado há tempos e não podia fazer vocês esperarem mais apagando todo o capítulo e recriando outro (Um vez que a metade desse aqui já estava digitada) tive que me conformar. Mas prometo que o próximo vai ser mais legal, menos zzzz, vai fazer mais sentido, ter mais descrição das coisas. Traduzindo: Vai ter pé e cabeça.
E se tudo sair conforme o planejado...UM PERSONAGEM MORTO FARÁ O SEU DEBUT AQUI badumz

Agora vamos comentar sobre o capítulo rapidinho: Oliver não sabe a hora de parar. John Diggle está cansado das brigas entre o nosso casal. Felicity chamou o sádico duas vezes de "MEU QUEEN", apesar de logo em seguida tentar jogá-los na mão da Bratva. Anatoly adotou Felicity Smoak como a pessoa favorita dele do planeta. Metade da Bratva odeia Felicity Smoak. Os planos do Oliver são horríveis sempre para a Felicity. E tá mais que óbvio que Felicity Smoak faria qualquer coisa pelo sádico...Até correr no meio de um tiroteio. O xingando. Mas correndo.

E EU NÃO TINHA DITO ANTES QUE EU SOU IGUAL HOMEM GOSTOSO EM FESTA FAMILIAR??????? Tardo, mas chego. Tô aqui pessoal. Já podem largar o meu boneco de vodu. Apesar que hoje eu vou deixar vocês me apedrejarem - mas só um pouco - pela a demora dessa persona non grata aqui de att a fic. Mas só aceito pedra de praia na cara, e de preferência, aquelas minúsculas. Muito obrigada, de nada.

PS: Eu tento não fazer textão ENEM nas notas, mas é impossível. Tagarelice já virou um osso meu.
De qualquer jeito, muito obrigada pela atenção, peço desculpas pela a demora dos infernos - aposto que estão pedindo pro capeta me levar - sejam bem vindas as leitoras novas, continuem leais as leitoras que vem me acompanhando desde o início ou desde o capítulo anterior...E nossa gente, muito obrigada mesmo pelo carinho. Leio os reviews de vocês com o mesmo olhar de babaca que a Felicity faz quando tá olhando o Oliver.
Mas enfim né...Mil beijos queridas e até a próxima att! ♥♥♥

PS2: Apostas para quem será o personagem morto que vai aparecer aqui na fic?
PS3: E quanto tempo vocês acham até o Oliver descobrir que a Felicity tá "caidinha" (palavras dela, não minhas) por ele? Ou será que já percebeu e não quer falar nada? Façam as suas apostas. E palpites. Ouço todo o tipo de opinião.