Percy Jackson Filmes escrita por JkTorçani


Capítulo 44
O Topo da Montanha




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Ponto de Vista de Thalia

Eu tenho medo de altura. Simples.

Várias pessoas têm esse tipo de fobia. Não é porque eu sou filha do deus dos Céus que eu vou acolher a altitude como uma velha amiga. Qual é? Não vamos julgar, não é mesmo?

Bem, de qualquer forma, eu não estava em um dos meus melhores momentos. Sobrevoar por toda Nevada nas costas de um Pégaso não deixou minha viagem mais fácil.

Percy estava alinhado comigo, voando entre as nuvens para que os mortais não pudessem nos enxergar, enquanto Grover e Zoë voavam um pouco mais baixo, praticamente engolindo a torrente de neblina matinal.

— Passaremos por São Francisco em menos de uma hora! – Percy gritou por cima do som das rajadas de vento. Ele parecia quase feliz, como se andar em um cavalo voador fosse tão incrível que fazia com que os problemas desaparecessem por completo. Não era incrível e definitivamente meus problemas ainda estavam aqui, atormentando cada forma de pensamento.

Primeiro, imaginei como Annabeth estaria agora. Se ela estivesse com Luke, estaria mal. E se não estivesse com ele, estaria mal de qualquer forma.

Segundo, imaginei como Luke estaria agora. Eu queria surrá-lo. Supondo que ele estivesse vivo, é claro.

Era de se esperar que se alguém estivesse se rebelando contra os deuses, teria um dedo de Luke no meio. Ou Luke era o meio.

Era frustrante pensar naquele filho de Hermes imbecil.

— Pessoal! Acho que aquela é a ponte Golden Gate! – Grover gritou.

Eu não conseguia enxergar nada com a neblina, mas também não ousaria descer. O que nos levava até a grande questão:

— Onde vamos pousar!? E como!? – perguntei aos três. Zoë nivelou sua altura com a minha e a de Percy. Grover fez o mesmo.

— Não podemos simplesmente parar em cima de um prédio! – Percy gritou.

Zoë olhou para ele, negando com a cabeça.

— E nem vagar pelo espaço aéreo californiano por muito tempo! – repliquei.

Zoë negou novamente.

— Vamos direto! – a Caçadora gesticulou para frente, como se apontasse à um lugar bem distante – Desceremos nas montanhas de Marin County, e subiremos até o Monte Otris...

Ela parou e olhou para nós.

— ...desculpem, Monte Tamalpais. É a força do hábito!

— Ah, que alivio! Fez tanta diferença – ironizei.

— Beleza, e o que faremos em seguida!? – Percy perguntou.

Zoë não se pronunciou. Ninguém se pronunciou, na verdade.

— Sem plano!? – Percy exclamou, mas segundos depois assumiu uma expressão conformada. Ele provavelmente sabia como era enfrentar uma situação com a ausência do mínimo planejamento.

— Apenas... fiquem atentos – Zoë advertiu.

— É, muito atentos! – Grover reforçou em tom de agouro.

Olhamos para ele.

— Há tantos monstros aqui que a onda de cheiros está mais mixada do que coquetel – o sátiro explicou.

Respirei fundo. Já não bastava eu estar em cima de um pégaso há quilômetros de distância do solo.

Zoë apontou de súbito para a parte mais alta de uma montanha abaixo.

— Lá! – ela exclamou – É exatamente o lugar onde não vamos pousar!

— Mas então...

— Apenas me sigam – Zoë me interrompeu.

— Nunca fiquei tão feliz de estar em terra firme antes! – aliviei.

— Eu não diria firme— Zoë murmurou enquanto olhava ao longe, para o topo da montanha que teríamos de subir. Ela havia nos feito pousar justamente na parte de baixo do monte Tamalpais, onde só poderíamos continuar seguindo por uma estreita trilha de terra.

— Tem que estar brincando! – Percy exclamou – seria mais fácil subir com os pégasos.

Discordei bastante, mentalmente. Mas olhando para o que parecia ser o final do pico da montanha, eu queria saber em quanto tempo alguém perdia o medo de altura...

— Temos que subir a pé – Zoë avisou – e muito sutilmente. Eles não podem nos ver. Pelo menos, ainda não.

Eles quem? – Percy perguntou.

Zoë lançou um olhar sombrio para ele, como se fosse contar uma história de terror.

— Aqueles que se uniram ao General dos Titãs.

— General? – Grover perguntou – Isso é realmente um título para um Titã?

Zoë começou a caminhar rapidamente em direção ao topo da montanha, e tivemos que nos apressar para acompanha-la.

— Não é tão perto de Rei dos Titãs, mas pelo menos não é como ser empregado dos próprios irmãos, os Titãs – Zoë explicou.

— Fala como se tivesse respeito por esse tal General – observei.

Zoë esperou, enquanto o único som era o das pedras se afundando sob nossos pés.

— Ouve uma época em que eu o respeitava. Isso mudou agora, é claro.

Processei.

— Você? – apontei para ela, enquanto caminhávamos lado-a-lado – Você tinha respeito por um titã?

Algum brilho de ofensa pessoal passou pela expressão de Zoë, mas ela se tornou neutra tão rápido que não tive certeza.

— As coisas eram diferentes... – ela murmurou, mais para si mesma do que para nós.

— Diferentes? O que...

— Esqueça! Não é hora para isso – Zoë interrompeu – Nunca será hora para isso.

E ela voltou ao seu estado normal: antipática e imbecil.

Continuamos subindo, olhando em volta para qualquer ameaça. Se algo rompesse de trás das árvores, seria difícil não despachá-la para o Mundo Inferior sem antes perguntar se tratavam-se de ninfas ou monstros.

— Mais alguns minutos... mais alguns minutos... – Zoë sussurrava, em tom palpitante. Achei ela ansiosa demais para alguém que está tentando salvar sua deusa.

— Grover, algum cheiro suspeito? – Percy perguntou.

— Muitos – Grover confessou, a nota de medo evidente em sua voz.

— Então deixem suas armas de prontidão – aconselhei.

— Aquilo são luzes – Percy observou, enquanto tomava a frente do grupo. Havíamos caminhado por minutos quando Grover começou a nos alertar de uma certa claridade que não deveria estar ali, em meio àquela escuridão. No começo, ignoramos. Mas, passado algum tempo, era impossível de não notar.

— Parece... um pequeno acampamento – analisei. Não ficaria surpresa se encontrássemos barracas armadas. Talvez ficasse surpresa com o que pudesse estar dentro das barracas...

— Ok, abordagem sutil ou...? – indagou Percy, clicando sua caneta, transformando-a em espada.

Zoë preparou uma flecha em seu arco, conforme Grover sacava seu par de sais. Puxei para fora do bolso minha adaga de prata, combinando-a com o antigo escudo dourado de Luke, que se abriu em espiral quando acionei seu mecanismo interno. Eu não sabia o que me levou à apropriar-me de tal objeto, sendo ele um constante lembrete da traição de Luke. Bem, talvez lá no fundo do meu subconsciente, eu desejava dar com ele na cabeça de meu ex-amigo. Caso eu o encontrasse.

— Abordagem direta – Zoë determinou, mas sua voz tremeu, como se ela não tivesse certeza. Todavia, ela avançou, a flecha retesada no arco.

O pequeno aglomerado de luzes se tornou mais nítido a cada passo, e foi quando comecei a distinguir formas. Um trailer escuro chamava a atenção há alguns metros de um amontoado de brasas, que deveria ter sido uma fogueira há poucos minutos atrás. As luzes do trailer estavam acesas, afetadas por o que poderiam ser grossas cortinas.

— Acham que tem alguém ali dentro? – perguntei ao grupo, me direcionando para perto da entrada do trailer. Percy se colocou ao meu lado.

— Vamos descobrir – ele incitou.

Grover se colocou um pouco atrás de nós, os sais apontados para a porta metálica do trailer. Zoë se manteve afastada, mas com o arco preparado.

Empurrei a porta com cautela, de forma que a primeira coisa que entrasse fosse a espada de Percy, e logo depois o dono dela. Entrei atrás de Percy, alerta a qualquer movimento. Grover ficou parado na porta.

Limpo. Quer dizer, literalmente limpo. Além de inabitado, o interior do trailer estava um brilho, como se fossemos os primeiros seres a entrar naquele lugar. À não ser pelo par de pratos acima de uma mesa quadrada.

— Não tem ninguém! – bradei para que Zoë e Grover ouvissem.

— Então vamos continuar! – mandou a Caçadora, do lado de fora – Temos que subir lá em cima.

E depois deste pleonasmo, descemos do trailer, e voltamos a seguir Zoë, desviando de árvores, morros de pedra enegrecida. O topo não parecia tão longe agora.

Eu sabia que quanto mais subíssemos, mais frio o clima ficaria, mas esperava que fosse apenas impressão minha quando uma espécie de neblina densa e escura começou a rodear nosso grupo. Ou realmente havíamos encontrado o maior nevoeiro já presenciado.

— Não se incomodem com isso – Zoë começou - Um local sombrio para tempos sombrios. Esse lugar mudou bastante em alguns aspectos, mas sempre fora... sufocante, de certa forma.

Percy olhou de relance para ela.

— Já esteve aqui muitas vezes? – ele perguntou.

Zoë bufou, mas não em tom de graça.

— Se surpreenderia com a minha idade, rapaz.

Eu preferia não desvendar o mistério do quão arcaica Zoë poderia ser, mas isso chamou minha atenção.

— Espere aí, então... você conhecia os titãs, quer dizer... tipo, você convivia com eles?

Zoë pareceu recuar na resposta.

— Já morei aqui com minhas irmãs – ela respondeu depois de um tempo – Mesmo depois da Titanomaquia. Espero não ter que encontrá-las novamente, não seria uma reunião saudosa.

Ela assassinou o assunto. Mas as perguntas ainda se formavam na minha cabeça.

— Se Artémis estiver acorrentada... isso seria de longe, algo péssimo, não seria? – expressou Grover, depois de um tempo.

— Se péssimo for teu melhor eufemismo... – murmurou Zoë.

— Quero dizer... vamos enfrentar algo que derrotou uma deusa! – Grover finalizou.

— Agora não tem volta – a Caçadora avisou.

Percy avançou na frente, apontando para uma fraca fonte de claridade no topo da montanha. Ele começou a se apressar, sem se importar muito se emitia, ou não, barulho.

Achei que ao menos poderíamos ter nos escondido como ninjas por trás das rochas, saltado com plena confiança e... ah sei lá! Arremessado shurikens talvez.

Mas eu travei apenas ao vê-lo de costas. Quem? Luke, é claro.

Era incrível o quão crescido ele estava. E despreocupado. Mesmo após chegarmos, ele continuou de costas, as mãos afundadas nos bolsos do casaco de couro, assoviando notas orquestrais. A lua cheia assomava no céu, iluminando as partes expostas da montanha, modelando um cenário surreal no cume do Monte Tamalpais.

Percy colocou a espada à frente do corpo, como se estivesse iniciando um confronto. Sua posição corporal era plenamente hostil, mas eu sabia que ele era nobre demais para atacar um oponente pela retaguarda.

— Eu daria boas-vindas, mas receio que essa vinda não tenha nada de boa – a voz era gélida, tanto quanto seu olhar ao se virar. Tive que prender a respiração enquanto tentava de alguma forma manter a expressão impassível em meu rosto – Aliás... – ele olhou diretamente para mim, um sorriso de escárnio na face – olá, Thalia.

Eu deixei todo meu autocontrole sucumbir, e a ira tomar conta. Avancei na direção dele, porém Zoë e Grover me detiveram. Luke não se demonstrou ameaçado, muito pelo contrário, ele até parecia estar se divertindo.

— Onde está Artémis? – Zoë perguntou.

— Onde está Annabeth!? – explodiu Percy, dando passos na direção do filho de Hermes – você a trouxe para cá!?

Luke olhou de um para o outro, escolhendo qual pergunta responder primeiro.

— Vocês vão encontra-las, não se preocupem. Posso leva-los até elas, se quiserem...

— É mesmo!? – zombei, impaciente – e por que não as traz aqui?

Luke bufou em uma espécie de sorriso presunçoso.

— Porque isso não é uma negociação – ele se virou de costas e começou a se afastar, sua silhueta ia desaparecendo em meio ao nevoeiro.

Zoë e Percy se adiantaram para a frente, com medo de perder Luke de vista. E tudo o que eu queria era perde-lo de vista, para nunca mais precisar vê-lo. Eu continuaria em busca de Annabeth, mas se isso significasse derrubar Luke Castellan em um abismo de esquecimento... era o que eu faria.

Grover tocou meu ombro para que continuássemos.

— Estou bem atrás de você – murmurei para ninguém em particular.

Esbarrei em Zoë no caminho, o olhar dela estava fixo em algo esparramado pelo chão, abaixo de uma nuvem escura que se deslocava em espiral. Demorei éons para perceber que não se tratava de algo, mas de alguém.

— Senhora Artémis! – a Caçadora correu para a deusa.

— Acho melhor não – Luke se colocou na frente de Zoë – Não é uma boa ideia.

— Zoë! Se afaste! – Artémis vociferou, dor evidente em seu tom.

— Ouça sua deusa – uma nova voz emitiu. Era grave, fria e impetuosa. E bem masculina.

Me virei na direção do recém-chegado.

Subindo a trilha que antes havíamos seguido, chegava um homem em terno escuro, a expressão rígida como uma pedra, o cabelo curto em um corte militar, a barba rala e escura bem modelada, os olhos pareciam brilhar na pouca claridade. Ao lado dele...

— Annabeth! – exclamou Percy. Ele se adiantou para frente, aliviado e ao mesmo tempo alerta pela aparência da namorada.

Annabeth estava com os pulsos amarrados na frente do corpo, o rosto pálido com olheiras abaixo dos olhos, como se não dormisse há dias, o cabelo recém tingido lhe descia por um dos ombros. Exceto pelo casaco azul de brim, ela estava com as mesmas roupas do momento em que caíra do penhasco. Seu olhar recaiu instantaneamente em Percy, uma mensagem clara em sua expressão: “você não deveria estar aqui”.

— Solte-a! – ordenei ao sujeito, ainda que eu não soubesse sua identidade.

Os cantos da boca dele se ergueram em um sorriso cruel.

— Nem precisaria pedir – ele colocou a mão sobre o ombro de Annabeth, e a forçou a ir para frente. Ela se apressou para chegar até Percy, que abraçou-a e lhe deu beijos no rosto quando a alcançou.

Notei Luke franzir a testa em confusão para a cena, de forma que parecia só agora tomar conhecimento da relação de Annabeth e Percy.

— Você está bem? – Percy sussurrou para ela, analisando-a para saber se não estava ferida. Annabeth o abraçou forte, apoiando a cabeça em seu ombro.

Eu também queria abraça-la, mas precisava terminar outro assunto antes. Voltei minha atenção ao sujeito.

— E quanto Artémis? O que está fazendo com ela?

— Gosta de fardos, filha de Zeus? Artémis está suportando o meu neste exato momento – disse ele.

— O que quer dizer?

— Que ela deve estar agonizando sob o peso do céu.

Era péssimo, mas os fatos foram jogados na minha cara.

— Você é... Atlas? O Titã? – perguntei.

— O próprio. – respondeu Luke, um sorriso vitorioso no rosto, ele olhou para o titã – Gostaria que eu perguntasse à eles?

— Faça as honras – permitiu Atlas.

Percy puxou Annabeth para mais perto, em uma espécie de modo protetor, com Grover ao seu lado esquerdo.

— Do que está falando, Luke? – perguntou o filho de Poseidon.

— Meu senhor quer dar a vocês uma última chance: Juntem-se a nós, na luta contra os deuses do Olimpo ou morram se opondo – Luke se direcionou à mim – Não vamos poupar ninguém.

— Você e um titã contra todos os olimpianos? – não pude evitar um mínimo riso.

— Meus companheiros estão se reerguendo, aos poucos. Quando a guerra finalmente chegar, é melhor escolherem o lado certo – Atlas caminhou para perto de Artémis, passando por Zoë, que estava imóvel, como se tivesse congelado no lugar. Ela fitava o chão, perto de onde a deusa da Caça jazia ajoelhada.

O titã olhou diretamente para ela, um lado do rosto totalmente oculto pela sombra da nuvem escura que representava o céu. Aquilo o fazia parecer, ainda mais, cruel.

— Vai ficar do meu lado... minha filha?

Zoë puxou o arco para cima em um segundo, a flecha apontada para o rosto de Atlas.

— Não me chame de filha! – ela disse entre dentes – Você me baniu da minha própria família!

 


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