Secrets escrita por Kikonsam


Capítulo 6
Funeral.


Notas iniciais do capítulo

Oiee, desculpem a demora, mas as provas da escola acabaram comigo por uma semana... Mas estou de volta! Agora, vamos ao capítulo...



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Estar morto é como assistir um filme, se é que você me entende. Você vê tudo ao redor, fica agoniado, tenso, pensando o que irá acontecer naquela próxima cena. A única diferença é que é vida real. Mas a vida real várias vezes assemelha-se com um filme.

Foi o caso do menino que minha amiga Natália mantém preso no porão, o Gabriel. Naquela tarde de terça-feira, Natália estava Juliana, ambas indo para o cinema para ver o filme de Atividade Paranormal 5. Naquela tarde, Gabriel estava no porão com o prato de comida que minha amiga Natália deixara para ele. Gabriel sabia que a comida era boa, mas não queria dar aquela satisfação para Natália, ver que depende dela.

E foi aí que Gabriel percebeu que junca sairia dali. Ninguém jamais iria saber onde ele está, a avó retardada de Natália estava assistindo televisão na Sessão da Tarde, e jamais desconfiara que havia um menino no seu porão, afinal, ela mal se lembrava do nome de sua própria neta.

E aí Gabriel viu que para viver assim, era melhor nem viver.

Aquele prato de comida em sua frente finalmente fora tocado depois de hora entregue ás baratas e formigas no chão imundo do porão. Só que nã fora usado para comer com os talheres de plástico que Natália deixara para ele. Claro, ela achava que ele iria se matar com os talheres. Mas Gabriel é mais esperto que isso.

Ele pegou o prato do chão, erguendo-o á sua altura e jogando-o, despedaçando-o. Assim, pegou um dos pedaços do prato, e sem pensar, cortara sua própria garganta, deixando o sangue escorrer pelo seu corpo sem camisa. Gabriel ficara ali, com as mãos algemadas, sangrando aos poucos, até perder sua consciência.

É, Gabriel juntara-se a mim. Não pude falar com ele, ainda. Mas parece ser um cara legal.

Naquela mesma noite, minha amiga Natália chegara em casa e fora direto para o porão visitar seu amado. Mas ao invés disso, achou-o morto no chão imundo, com uma poça de sangue ao seu redor. Natália não aguentou. Ajoelhou-se naquele piso imundo e gritou enquanto deixava as lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Sua avó não ouviu seus gritos, pois estava muito ocupada vendo a novela na qual ela nem se lembrava do último capítulo.

– Gabriel! - falou Natália, aproximando-se do corpo de seu amado. - Gabriel! Por favor...

Minha amiga levanta a cabeça de Gabriel e vê o corte em sua garganta, vendo o que ele fez. Aí Natália percebe: Gabriel se suicidou.

Isso é muito para minha amiga. Ah, me lembro como se fosse hoje como ela era emotiva. Apenas a mais simples piada a fazia cair na risada e apenas o mais simples ato ruim a fazia cair no choro. É, isso a destrói. Sabia que Gabriel planejava isso, mas achava ela que havia tomado todas as precauções para que ele não se matasse e eles dois pudessem ficar juntos para sempre.

Natália passa a noite ali, ao lado de seu amor. Adormece ao seu lado enquanto as lágrimas escorrem de seus olhos. Ao acordar, Natália vê que já são 10:00 e ela está coberta de sangue.

Naquele dia, Natália tomou um banho demorado, colocou uma roupa normal que não era sua farda de escola e saiu de casa.

Não sabia para onde ir. Não sabia qual caminho seguir. Apenas pegou o pouco dinheiro que tinha em sua bolsa para pegar um metrô para Copacabana. Só queria sair daquele lugar, e ter um lugar para pensar.

Ao chegar na incrível praia de Copacabana, Natália jogou sua bolsa de lado e sentou-se na areia enquanto contemplava o mar, imaginando os milhares de rumos que sua vida poderia ter dali para frente. Naquela manhã de quarta-feira ensolarada, Natália viu um vendedor de cigarros passando e comprou uma cartela inteira. Tinha que descontar aquilo em algum lugar.

Depois de fumar quase 10 cigarros, minha amiga Natália pensou agora de uma forma realista: o que ela, então, faria com o corpo do homem que ama? Ela simplesmente não sabia o que fazer. Não sabia como reagir. Apenas deixava as lágrimas escorrerem de seus olhos.

Devo dizer que fiquei com pena dela nessa hora. Eu de fato entendia tudo que ela fazia. De um jeito esquisito, ela realmente amava Gabriel e aquela era a única maneira que ela via de ter ele junto dela. É, eu sinto pena de minha amiga. Mas também sei que ela tem que resolver a questão do corpo logo.

Naquele momento, Natália enxugou suas lágrimas e foi pegar um ônibus para nosso colégio, onde ela começaria a operação para se livrar do corpo.

Ás 12:30 os meus amigos saíram pelo portão da frente da escola, e Natália estava ali, escondida atrás do muro do prédio á frente apenas observando cada um que saia da escola, até ver meu amigo Luan. Sabia o caminho que Luan pegava, sabia qual parada ele pegava, e sabia que no exato local onde ela está Luan passará.

Escondendo-se mais ainda no muro, esperou ter a visão do corpo enorme de Luan passar por sua frente, até ela agarrar seu braço de puros músculos.

– Natália?! - pergunta Luan, assustado. - Você faltou hoje.

– É. É sobre isso que eu quero falar com você. - fala Natália, olhando ao redor para ver se alguém não aparece.

– Está tudo bem? Parece que está num daqueles filmes de suspense ou naqueles filmes de comédia que tiram onda com os filmes de suspense clichês. - fala meu amigo Luan, rindo.

Natália não ri, apenas espera Luan parar de rir sem graça para que ela possa falar:

– Você está me devendo um favor. - fala Natália, lembrando o favor que Luan deve á ela.

Ah, eu me lembro bem desse favor. Eu estava no meio, como em tudo que eu achava estar com meus amigos. No início do ano, em uma festa á fantasia organizada pelo colégio vizinho, eu testemunhei meu amigo Luan levar Natália para um esquema de minha amiga embebedar uma menina para Luan poder transar com ela. Algo que deu muito certo, com aquela menina e mais quatro naquela mesma noite. É, e eu achando que esse era o segredo mais obscuro que meus amigos poderiam ter.

– Você quer cobrar agora? - pergunta meu amigo.

– Agora é o momento perfeito. - fala Natália. - Você consegue um carro? Por que vamos precisar.

– Que tipo de favor você quer de mim? - pergunta Luan, desconfiado.

– Não se preocupe, por que não tem nada a ver com estupro. - fala Natália, com um rosto sério.

– Ei! Fala mais baixo! - fala Luan, sussurrando.

– Você vai me ajudar. Tem como arrumar um carro? - pergunta Natália, estressada.

Luan, apesar de desconfiado, sabia que teria que fazer aquilo. Trato é trato. E ele de fato deve um favor á Natália.

– Está bem. - fala Luan. - Eu pego o de Orangotango.

Orangotango excitou antes de dar seu carro para Luan, mas no final fora convencido. O caminho para casa de Natália fora muito silencioso, apenas com a voz de minha amiga indicando os caminhos que Luan deveria tomar até chegar naquela casa velha do subúrbio carioca.

– Você nunca trouxe ninguém na sua casa antes. - fala Luan, saindo do carro junto com Natália.

– Tenho meus motivos. - fala Natália, pegando a chave de sua bolsa e abrindo o portão, deixando meu amigo passar junto á ela.

Ao entrar na casa velha e malcuidada, meu amigo Luan vê tudo com espanto. Nunca pensara que minha amiga Natália poderia ser tão certinha e viver em um chiqueiro como esse. E também estava receoso sobre o que ele estaria fazendo ali.

– Essa é a parte que você me conta o que estamos fazendo aqui? - pergunta Luan, seguindo Natália até a porta do porão no corredor.

– Acho melhor você ver. - fala Natália, abrindo a porta do porão e descendo as escadas.

Luan desce as escadas junto á Natália, ainda mais receoso quando ele sente um cheiro horrível vindo do porão. E quase desmaia ao ver a cena já descrita por mim.

– Não se apavore. - fala Natália, segurando o braço de Luan. - Só quero sua ajuda para me livrar do corpo.

– O que? E você acha que eu não vou perguntar nada? - pergunta Luan, ainda espantado com o que vê. - Um homem algemado e morto em seu porão é algo a ser discutido, não acha?

– Podemos passar os próximos 15 minutos conversando sobre isso, ou você me ajuda a colocar o corpo na mala do carro, enterramos-o na beira da estrada, e no caminho, no carro, eu explico tudo. - fala Natália, suplicando para Luan aceitar o que ela diz.

Meu amigo Luan fica receoso em aceitar o que Natália diz. Mas se tem algo que eu preso em Luan é sua habilidade em ver o melhor de tudo, e acreditar em seus amigos, acreditar que eles são verdadeiros com ele, apesar de ele próprio não ser com seus amigos. Mas que escolha ele tem se não sair dessa situação logo? Natália não vai contar nem tão cedo, e quanto antes eles saírem da cena do crime, antes eles irão acabar com isso.

– Enrole ele naquele tapete. E ache duas pás. - fala Luan, apontando para o tapete encardido e empoeirado no canto do porão. - Eu o pego pelos ombros e você os pés.

Minha amiga Natália ficou extasiada ao ver que Luan aceitou o que ela falou. E foi isso que fez. Pegou as chaves para as algemas, abriu as correntes e com ajuda de Luan enrolou o corpo de Gabriel no tapete encardido. Não deu para nota-los saindo com o tapete. Foram rápidos e discretos. Jogaram o corpo na mala do carro velho de Orangotango e Luan saiu dirigindo para longe dali.

Natália não sabia o que fazer durante o trajeto. E não sabia como iria contar tudo para Luan. Só sabia que teria que contar. Por isso tirou um cigarro da bolsa, acendendo-o com o isqueiro que achou na cozinha de sua casa e começou a fumar com o vidro aberto enquanto ela e Luan pegavam a estrada.

Luan não disse nada. Apenas ficava imaginando nas milhares de possibilidades para aquilo poder ter acontecido. Por que a mais certinha entre nós faria algo tão ruim daquele tipo?

– Aposto que você está contando os segundos para que eu conte tudo, não é? - fala Natália, logo depois de dar mais um tragada no cigarro. - Ah, foda-se. Vamos falar logo.

– Estou esperando. - fala Luan, instigando Natália á contar.

Natália olha para o mato da estrada naquele meio de tarde enquanto começa a recapitular em sua cabeça o que acontecera, e falando em voz alta:

– Se lembra de como no início do ano eu, Karine e Juliana ficávamos babando Gabriel? Ah, eu era obcecada por ele. Ficava stalkeando ele no Facebook, Twitter, Instagram... Segui ele várias vezes para casa só para vê-lo dormir. Eu me apaixonei. Me apaixonei por um menino que nunca havia falado na vida, e que provavelmente nem sabia de minha existência. Mas eu sabia da dele, ah se eu sabia. Sabia que não havia comida que ele gostasse mais do que batata frita com cheddar e bacon. Sabia que ele tinha uma irmã lésbica que foi tentar a vida como atriz em Nova York, mas que acabou virando atendente do McDonald's. Sabia que ele teve uma avó que morreu de câncer no útero, que ele nem gostava dela por que ela batia nele quando criança. É, eu o amava. Mas eu queria tê-lo para mim. Eu tinha que tê-lo para mim. Ninguém mais podia. Então, há 3 meses, numa noite quando ninguém além dele estava em sua casa, eu apareci com um buquê de suas flores favoritas: lírios, e disse que o amava e que queria ficar com ele pelo resto de minha vida. Ele riu descaradamente na minha cara. Aquilo me irritou muito, tanto que eu peguei um vaso de flores que havia do lado da porta dele e o quebrei em sua cabeça, fazendo-o desmaiar. Sabia que eu teria que fazê-lo me amar. Não pensava direito. Então, naquela madrugada, eu o trouxe para minha casa e fiz aquilo com ele. Perdi minha virgindade com ele, e ele não valorizou tudo que eu fiz por ele, pois ele preferiu cortar sua própria garganta ao ficar comigo. Então, foi isso que aconteceu. E aqui estamos nós.

Luan ficou chocado com o que ouviu, mas sabia que não poderia denunciar Natália, pois sabia que ela provavelmente seria diagnosticada com psicose e ele sabia que sua amiga era uma pessoa boa. É, Luan sabia o que era ter um segredo obscuro. E se Natália soubesse de seu segredo obscuro, provavelmente acharia que o dela não tem nada demais. Ele iria ajudar Natália.

Naquele momento, sem avisar, ele entrou com o carro em uma rua de terra no meio da floresta ao lado da estrada que levaria até São Paulo.

– Aonde estamos indo? - pergunta Natália, assustada com a súbita mudança de caminho de Luan.

– Temos que enterra-lo em um lugar que ninguém o ache. Na beira da estrada é algo muito fácil. Vamos colocá-lo no meio da mata. - fala Luan, adentrando ainda mais com o carro na mata.

Natália não sabe o que ela fez para merecer um amigo tão bom, e com sua alta emotividade, ela se debruça em lágrimas. Lágrimas por Gabriel, lágrimas por Luan, lágrimas pela situação.

Depois de muito adentro na Mata Atlântica, meus amigos saíram do carro, pegaram as duas pás que eles levaram e entraram uns 100 metros na floresta, longe da discreta estrada de terra que cortava as matas.

E cavaram. Cavaram, cavaram, cavaram por horas. Já havia anoitecido quando eles chegaram a uma profundidade no mínimo aceitável. Ainda bem que Natália conseguia ser a esperta de nós e levou água com eles, pois nunca que iriam conseguir acabar aquilo sem água.

Jogaram o corpo de Gabriel enrolado no tapete empoeirado naquele buraco, colocando a terra de volta acima dele. Assim, Gabriel teve seu enterro. Um enterro terminado á muito choro de Natália e Luan a consolando, enquanto controlava o horário para poder dar tempo de voltar para casa, se trocar, e virar o Branco de Neve da noite das boates gays cariocas, além de pegar seus pacotes de drogas para vender lá dentro.

É, é horrível quando as coisas saem do controle. Natália aprendeu isso da pior forma, assim como eu. Ela teve a decência de pensar antes de agir, pelo menos. É, eu não tive essa calma, preferi enfiar uma bala em minha cabeça a pensar em como resolver coisas que saem do controle. Ainda bem que meus amigos sabem não apelar para o que eu fiz. Por enquanto.


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Notas finais do capítulo

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