Ravena POV

Hoje é o tão esperado dia para todos, exceto para mim. Neste dia, Garfield Logan se casará. Há um ano, Gar e eu começamos a namorar. Uma relação maravilhosa, já que nossas personalidades distintas se complementavam. Tudo estava perfeito até o dia em que ele alegou não poder mais continuar enganando a si mesmo e simplesmente me deixou. Algumas semanas depois, Garfield apresentou aos Titãs sua nova namorada Mikayla Hill, que, alguns meses depois, se tornou sua noiva. O que mais me abalou foi o fato dele continuar me tratando como tratava antes do nosso breve relacionamento; me tratando como uma amiga.
Encaro-me no espelho de meu banheiro. Meus olhos vermelhos e inchados por conta de uma noite inteira chorando; a pele mais pálida do que de costume me faz parecer doente... Mas eu realmente estou doente; minha doença é um coração partido. Eu sabia no fundo de meu ser que não deveria ter ouvido minhas emocões e me permitido amar mais uma vez. Sabia que ele iria trair minha confiança e partir meu coração. Como Malchior fez. Solto um grunhido de frustação e rancor. Soco o espelho e ele se racha em vários pedaços. Uma lágrima salgada rola pela minha bochecha e vejo meus múltiplos reflexos doentios desabarem em prantos. Viro meu rosto para o lado. Um objeto reluz na minha prateleira; prateado e afiado. A pequena lâmina de, no máximo, dez centímetros tem suas bordas manchadas de sangue. Respiro profundamente e agarro-a.
Conforme a superfície plana e cortante rasga minha pele e o sangue começa a espalhar-se pelo meu pulso, algo em mim parece suspirar de alívio. Recostada na parede branca de azulejos do banheiro, continuo a me mutilar. É uma forma de expressar toda minha dor interior em meu corpo. Quando termino, levanto-me e lavo tanto meus pulsos quanto a lâmina. Pego o vestido azul marinho que Koriand'r me obrigou a comprar e visto-o a contra gosto, calço os sapatos também azuis e coloco um cordão prateado com um pingente de lua em meu pescoço. Em seguida ouço batidas na porta de meu quarto e peço para a pessoa esperar. Coloco minha capa e subo o capuz dela, para que minha face não seja vista.
Abro a porta e dou de cara com Gar, sorrindo docemente para mim. Seus olhos estão brilhando tanto quanto as estrelas numa noite de céu limpo. Ele está feliz e eu o odeio por isso.

-Oi, Rae!

-Olá, Garfield. -digo seca, tentando fazer com que essa conversa dure o menos possível.

-Você não vai com a Kory e a Karen se arrumar para o meu casamento? -sinto como se uma mão invisível me socasse no estômago e controlo a respiração.

-Não. -respondo e tento fechar a porta, mas sou impedida pelo transmorfo, que a segura. Velhos hábitos são difíceis de largar.

-Ah, Rae, vamos lá! Tenho certeza de que no fundo do seu coração você quer ir.

-No fundo do meu coração eu quero chutar seus testículos! Agora, me deixa em paz! -mais uma vez sou impedida de fechar a porta por conta de Garfield, que agarra meus pulsos ainda ardentes e me puxa para fora do meu quarto.

Ele olha para mim e parece quase implorar para que eu vá, segurando-me um pouco mais forte. Faço uma careta de dor e Logan encara meus pulsos, sangue escarlate rolando por seus dedos verdes como uma cachoeira. O rapaz me encara incrédulo.

-Você se mutilou? Por qual razão você se mutilou?! -indagou aumentando o tom de voz.

-Não lhe interessa, intrometido! -respondo no mesmo tom.

Dick, Victor, Wally, Karen, Donna e Jinx aparecem rapidamente, confusos pelos gritos. Richard é o primeiro a se pronunciar:

-O que houve?

-Ravena está se mutilando. -ele responde. Todos me encaram apreensivos.

-E no que isso te importa? -indago agressiva.

-Eu sou seu amigo. Eu me importo com você, Rae.

Rae. Aquilo dói tanto. Lembrar de quando estávamos juntos é algo que me dá vontade de chorar. Por um momento, esqueço-me de todos os meus ensinamentos para reprimir minhas emoções e me permito sentir. Raiva, tristeza e decepção me dominam. E, pela primeira vez, não me importo se Trigon dominar a Terra.

-NÃO ME CHAME ASSIM NUNCA MAIS, LOGAN! -grito. Meu capuz cai e revela minha face cadavérica.

Ele me encara preocupado, tristeza estapada em sua face.

-Ravena, o quê houve com você? -ele questiona preocupado.

-VOCÊ ACONTECEU, SEU INÚTIL. -e, dizendo isso, me transporto para o quarto de Kory.

Desabo na cama e logo Koriander aparece. Os cabelos ruivos presos em um coque e usando um vestido lilás de renda. Ao me olhar em um estado deplorável e atípico meu, ela corre em minha direção, a preocupação estampada em seu olhar.

-X'hal! O que aconteceu, Ravena? -ela pergunta me levantando da cama e indo pegar curativos.

-Eu me mutilei.

Ela suspira.

-De novo. Por quê?

-Porque hoje é o casamento dele, Kory. Eu n-nã-o te-n-nho estr-trutura para pe-erdê-lo para s-sempre. -choro desamparada.

-Oh, Ravena. Pense pelo lado bom; pelo menos vocês estão vivos...

-Preferia que não estivéssemos... -resmungo enquanto ela limpa meus pulsos e coloca gaze, fazendo com que eu solte um gritinho.

-Perdão. Ora, não seja boba. Se não foi para ser com Garfield, você certamente encontrará alguém certo. -rio seca e me viro para ela.

-Quem seria louco o suficiente para me amar? Apenas Garfield foi e me largou.

-Ravena, você é uma mulher forte e auto-suficiente. Você vai melhorar. -ela limpa minhas lágrimas. -Levante o capuz e vamos subir. Tudo vai ficar bem, minha amiga. -ela me abraça e subimos para o telhado.

O telhado era o nosso lugar favorito. Acordávamos cedo para ver o nascer do sol e dormiamos tarde fazendo amor sob a luz do luar. Muito romântico. Mas não passa de uma lembrança.
Várias pessoas estão presente, nossos conhecidos e os dela. Sento-me na primeira fileira, guardada para os Titãs, enquanto Kory sobe para ficar no lado das madrinhas junto com Donna, Karen e Cassie. Os meninos já estão enfileirados ao lado de Gar.
Ouço a marcha nupcial e a noiva entra. Era para ser eu. Eu deveria estar indo em direção ao altar, eu deveria sorrir para Garfield enquanto dizemos os votos, eu deveria usar a aliança com seu nome, eu deveria ser aquela a ser beijada por ele e começar a ser chamada de senhora Logan. Era para ser o meu casamento.
O pastor começa a falar e eu apenas encaro o homem que partiu meu coração.

-Se alguém tiver algo contra essa cerimônia, que fale agora ou cale-se para sempre...

Todos me encaram disfarçadamente, preocupados que eu possa me opôr. Mas não o faço. Foi sua escolha, ele disse os votos. Apenas viro meu rosto e levanto-me em direção às escadas do telhado.

-Eu vos declaro marido e mulher, pode beijar a noiva.

Fecho meus olhos com força e obrigo-me a pensar que tudo é apenas um pesadelo, mas, no fundo, sei que não é.

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Todos dançam e se divertem, tirando inúmeras fotos para o álbum de casamento. Estou trancada em meu quarto desde antes da festa começar. Há alguns minutos, fiz cortes fundos em meus pulsos e minha visão começa a embaçar. Estou a espera do anjo da morte.
Ouço minha porta abrir e um grito penetrante me incomoda. Kory. Vários vultos aparecem ao redor da porta, mas um borrão preto e verde me chama a atenção.

-Rae, por favor, não. Você vai, você vai ficar bem. Vamos te levar para o hospital e eles vão cuidar de você. Por favor, fica comigo... Fica comigo. Por favor, por favor, por favor... Você é uma guerreira, a minha guerreira... Você vai melhorar.

Com muito esforço assinto.

-Sim, eu sou uma guerreira... E você não poderá me machucar novamente... -sussurro aquelas palavras e vejo suas lágrimas caindo em meus lábios.

Naquele momento tudo ficou preto. E eu calei-me para sempre.