Suburbia escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 9
Capítulo 09 - Enquanto Há Tempo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/658710/chapter/9

— Eu estou te dizendo — dizia Max, andando de um lado para outro na cozinha, enquanto Henry tomava uma xícara de café sentado ao balcão. — Eu pensei que ela fosse me matar!

— O quê?

— Aquela mulher é completamente insana, ela estava falando com um boneco.

— Você está me dizendo que ela é uma assassina?

— Talvez, na verdade isso é muito provável... Ela falou que a Sophia simplesmente foi embora, assim, de repente... Você não acha muita coincidência isso acontecer logo depois de ela ter nos contado aquilo?

— Talvez, olha...

— Não, Henry, chega de procurar respostas simples! E se nós realmente estivermos correndo perigo? E se Sophia tentou nos alertar e acabou sendo morta ou sei lá o quê?

— E se nada disso aconteceu?

Ele revirou os olhos e bufou.

— Você é um idiota — falou. — Está evidente que tem alguma coisa errada com esse lugar, por que você não quer enxergar?!

Henry respirou fundo e abaixou a cabeça.

— Sinceramente? Eu não sei mais no que acreditar.

— Então acredite em mim. — Max caminhou até ele e segurou sua mão. — Eu não estou ficando louco, você mesmo viu as pegadas de sangue, você ouviu a polícia, tinha uma mulher aqui.

— Você acha que ela tem algo a ver com tudo isso?

— Mais do que isso — falou ele. — Eu acho que ela pode ser a mãe daquele garoto.

Henry riu, sem acreditar.

— Você não pode estar pensando nisso.

— Tudo bem se você não acredita, você nunca acredita mesmo, mas eu acho que sei quem pode me dar a resposta.

Max o olhou, observando sua expressão de dúvida e medo no rosto. Talvez ele finalmente acreditasse. Talvez ele sempre tivesse acreditado.

***

Max tocou a campainha de Pixie alguns minutos depois. Ela atendeu quando ele estava a prestes a dar o segundo toque.

A garota abriu um sorriso ao vê-lo.

— Oi, vizinho — disse ela.

— Podemos conversar um minuto? — ele perguntou, seriamente, fazendo ela tirar o sorriso do rosto e ficar um pouco preocupada.

— Tudo bem, por favor, entre.

Ele entrou e sentou-se no sofá, como ela pediu.

Pixie estava no outro, de frente pra ele.

— O que houve? — ela perguntou.

— Sophia sumiu — ele disse, esperando que ela ficasse surpresa.

Mas ela não ficou. Pixie parecia estar ciente disso, mas ficou um pouco nervosa.

— Nós não podemos falar sobre isso, Max — disse ela.

— Por que não? Pixie, o que está acontecendo?

Ela abaixou a cabeça, pensando no que ia dizer. Era como se quisesse falar tudo de uma vez. Mas o que seria tudo?

— É melhor você esquecer tudo isso — ela falou. — Não cave mais ou vai acabar descobrindo o que não deve.

— Do que você está falando?

— Eu não posso dizer, Max, eu acabaria prejudicada.

— Pixie, pelo amor de Deus, o que está acontecendo aqui?

Ela se aproximou dele e sussurrou:

— Ela está ouvindo.

— O quê? Quem? Virginia?

— Não.

— Então quem?

— Eu não posso falar mais nada, por favor, não me pressione.

— Eu não consigo entender.

— Você não precisa entender, só aceitar. Não faça perguntas, não tente desvendar os segredos que você acha que existe, aja normalmente.

— Nós estamos em perigo?

— Não, claro que não — ela falou.

— Então eu realmente não consigo entender.

Ela se levantou e andou de um lado para o outro, preocupada.

— Max, volte para casa, fique com o Henry, não procure respostas, senão você vai conseguir.

— Mas eu quero conseguir.

— Não! Você não quer!

Ele ficou em silêncio, observando enquanto ela ficava cada vez mais nervosa.

— O que aconteceu com a família que morava na casa onde eu moro? — ele perguntou. Ela o olhou um pouco surpresa.

— Eles se mudaram, é claro.

— Você tem certeza?

— Por quê? O que você sabe?

— Eu achei um álbum de família no meu sótão — disse Max. — O filho mais novo da família é idêntico ao filho da sra. Shields.

Ela novamente não pareceu surpresa, mas ele já esperava isso.

— Eu vou perguntar mais uma vez — disse ele. — O que aconteceu com eles?

— Eu não sei — ela falou, claramente mentindo. Ele sabia.

— Tudo bem, então. — Max se levantou, frustrado, e caminhou até a porta.

Ele abriu a porta e saiu.

— Desculpa — disse ela, da porta, mas ele ignorou.

Irritado, Max caminhou pela rua olhando para o chão. Por isso acabou esbarrando com alguém.

— Ah, me desculpa — disse, levantando a cabeça e vendo que era Mason, seu vizinho.

— Tudo bem — falou ele.

Percebendo que Max estava nervoso, ele perguntou:

— Está tudo bem?

— Sim, eu só... Quer dizer, acho que você pode me ajudar.

— O que houve?

— Você tem um minuto?

— Ah, claro, tenho sim.

***

A casa de Mason era grande, com um sofá de couro na sala, paredes azul marinho e um belo lustre no centro.

— Você quer um café? Ou uísque?

— Não, obrigado.

— Então tá — ele disse, sentando no sofá. — Sente-se, por favor.

Max se sentou no outro sofá, tentando manter distância.

— Então, em que eu posso ajudar? — Mason perguntou.

— Você sabe alguma coisa sobre os moradores antigos da minha casa?

Ele respirou fundo.

— Infelizmente, sim.

— Como assim?

— Eles desapareceram, Max — falou Mason. — Toda a família sumiu de repente, assim como a família anterior e como muitos dos moradores desta rua.

— Eles nunca foram achados?

— Não, porque não há o que achar.

— Mas ninguém sabe o paradeiro de nenhum deles?

— Na verdade, todos sabem o paradeiro de um deles.

— O filho.

— Você fez sua lição de casa. — Ele sorriu.

Mason se levantou e caminhou até uma prateleira de madeira, de onde pegou um copo e uma garrafa de uísque.

— Tem certeza de que não quer? — ele perguntou.

— Não, obrigado.

Mason derramou o líquido marrom alaranjado no copo, enchendo mais do que o comum, e voltou a se sentar.

Ele deu um gole e respirou fundo mais uma vez.

— Evelyn desenvolveu um laço forte com o garoto, por isso resolveu criá-lo.

— Você acha que ela matou os pais dele?

— Pode ter matado, nunca subestime aquela louca.

Ele deu um pequeno gole no uísque.

— Sophia estava certa sobre o que disse, ela pode ser um pouco louca, mas estava certa — disse ele. — Você e seu marido estão correndo um grande perigo aqui.

Neste momento, as luzes começaram a piscar um pouco. Não apenas a da do lustre, mas também os abajures. Ele olhou para cima, como se aquilo o preocupasse.

— Por que ninguém pode me dar uma resposta concreta?

— Eu poderia, mas não daria tempo.

— Eu tenho muito tempo livre.

As luzes piscaram de novo.

— Mas eu não.

Mason bebeu o resto da bebida em um só gole e colocou o corpo sobre a mesinha de centro de madeira e vidro.

— Faça suas malas e vá embora o mais rápido possível, vocês são muito bons para esse lugar.

— Eu só preciso saber o que diabos está acontecendo por aqui? E o que vocês têm a ver com tudo isso?

— Eu não tenho tempo para te contar, mas posso te dar um conselho — ele falou. — Não tente responder suas perguntas, apenas se ajude vá embora.

As luzes piscaram novamente e depois começaram a ficar mais fortes, até as lâmpadas dos dois abajures explodirem.

Mason se levantou e subiu as escadas.

Max ficou tentando entender, com os olhos fixos no copo de uísque vazio.

Quando ouviu Mason descer, ele achou apropriado fazer uma última pergunta.

— O que aconteceu com Sophia? — ele perguntou, levantando a cabeça para olhar para o homem, que agora segurava um revólver de calibre 18.

Max se levantou, assustado, e levantou as mãos.

— O que está fazendo?

— Eu não posso mais fazer parte disso, Max — disse ele, colocando as balas dentro do compartimento circular.

— Não faça nada estúpido, cara.

Mason colocou a arma embaixo do queixo.

— Vá embora enquanto há tempo — disse ele, puxando o gatilho. O barulho foi extremamente alto e a quantidade de sangue voando pelos ares foi imensa. Algumas gotas sujaram Max no rosto.

Ele estava boquiaberto e tremendo, com os olhos arregalados. Seu corpo estava paralisado ali, enquanto ele olhava o corpo do homem cair no chão, com uma massa de sangue, cérebro e músculos no lugar da cabeça.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Suburbia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.