Suburbia escrita por Eduardo Mauricio
— Eu estou te dizendo — dizia Max, andando de um lado para outro na cozinha, enquanto Henry tomava uma xícara de café sentado ao balcão. — Eu pensei que ela fosse me matar!
— O quê?
— Aquela mulher é completamente insana, ela estava falando com um boneco.
— Você está me dizendo que ela é uma assassina?
— Talvez, na verdade isso é muito provável... Ela falou que a Sophia simplesmente foi embora, assim, de repente... Você não acha muita coincidência isso acontecer logo depois de ela ter nos contado aquilo?
— Talvez, olha...
— Não, Henry, chega de procurar respostas simples! E se nós realmente estivermos correndo perigo? E se Sophia tentou nos alertar e acabou sendo morta ou sei lá o quê?
— E se nada disso aconteceu?
Ele revirou os olhos e bufou.
— Você é um idiota — falou. — Está evidente que tem alguma coisa errada com esse lugar, por que você não quer enxergar?!
Henry respirou fundo e abaixou a cabeça.
— Sinceramente? Eu não sei mais no que acreditar.
— Então acredite em mim. — Max caminhou até ele e segurou sua mão. — Eu não estou ficando louco, você mesmo viu as pegadas de sangue, você ouviu a polícia, tinha uma mulher aqui.
— Você acha que ela tem algo a ver com tudo isso?
— Mais do que isso — falou ele. — Eu acho que ela pode ser a mãe daquele garoto.
Henry riu, sem acreditar.
— Você não pode estar pensando nisso.
— Tudo bem se você não acredita, você nunca acredita mesmo, mas eu acho que sei quem pode me dar a resposta.
Max o olhou, observando sua expressão de dúvida e medo no rosto. Talvez ele finalmente acreditasse. Talvez ele sempre tivesse acreditado.
***
Max tocou a campainha de Pixie alguns minutos depois. Ela atendeu quando ele estava a prestes a dar o segundo toque.
A garota abriu um sorriso ao vê-lo.
— Oi, vizinho — disse ela.
— Podemos conversar um minuto? — ele perguntou, seriamente, fazendo ela tirar o sorriso do rosto e ficar um pouco preocupada.
— Tudo bem, por favor, entre.
Ele entrou e sentou-se no sofá, como ela pediu.
Pixie estava no outro, de frente pra ele.
— O que houve? — ela perguntou.
— Sophia sumiu — ele disse, esperando que ela ficasse surpresa.
Mas ela não ficou. Pixie parecia estar ciente disso, mas ficou um pouco nervosa.
— Nós não podemos falar sobre isso, Max — disse ela.
— Por que não? Pixie, o que está acontecendo?
Ela abaixou a cabeça, pensando no que ia dizer. Era como se quisesse falar tudo de uma vez. Mas o que seria tudo?
— É melhor você esquecer tudo isso — ela falou. — Não cave mais ou vai acabar descobrindo o que não deve.
— Do que você está falando?
— Eu não posso dizer, Max, eu acabaria prejudicada.
— Pixie, pelo amor de Deus, o que está acontecendo aqui?
Ela se aproximou dele e sussurrou:
— Ela está ouvindo.
— O quê? Quem? Virginia?
— Não.
— Então quem?
— Eu não posso falar mais nada, por favor, não me pressione.
— Eu não consigo entender.
— Você não precisa entender, só aceitar. Não faça perguntas, não tente desvendar os segredos que você acha que existe, aja normalmente.
— Nós estamos em perigo?
— Não, claro que não — ela falou.
— Então eu realmente não consigo entender.
Ela se levantou e andou de um lado para o outro, preocupada.
— Max, volte para casa, fique com o Henry, não procure respostas, senão você vai conseguir.
— Mas eu quero conseguir.
— Não! Você não quer!
Ele ficou em silêncio, observando enquanto ela ficava cada vez mais nervosa.
— O que aconteceu com a família que morava na casa onde eu moro? — ele perguntou. Ela o olhou um pouco surpresa.
— Eles se mudaram, é claro.
— Você tem certeza?
— Por quê? O que você sabe?
— Eu achei um álbum de família no meu sótão — disse Max. — O filho mais novo da família é idêntico ao filho da sra. Shields.
Ela novamente não pareceu surpresa, mas ele já esperava isso.
— Eu vou perguntar mais uma vez — disse ele. — O que aconteceu com eles?
— Eu não sei — ela falou, claramente mentindo. Ele sabia.
— Tudo bem, então. — Max se levantou, frustrado, e caminhou até a porta.
Ele abriu a porta e saiu.
— Desculpa — disse ela, da porta, mas ele ignorou.
Irritado, Max caminhou pela rua olhando para o chão. Por isso acabou esbarrando com alguém.
— Ah, me desculpa — disse, levantando a cabeça e vendo que era Mason, seu vizinho.
— Tudo bem — falou ele.
Percebendo que Max estava nervoso, ele perguntou:
— Está tudo bem?
— Sim, eu só... Quer dizer, acho que você pode me ajudar.
— O que houve?
— Você tem um minuto?
— Ah, claro, tenho sim.
***
A casa de Mason era grande, com um sofá de couro na sala, paredes azul marinho e um belo lustre no centro.
— Você quer um café? Ou uísque?
— Não, obrigado.
— Então tá — ele disse, sentando no sofá. — Sente-se, por favor.
Max se sentou no outro sofá, tentando manter distância.
— Então, em que eu posso ajudar? — Mason perguntou.
— Você sabe alguma coisa sobre os moradores antigos da minha casa?
Ele respirou fundo.
— Infelizmente, sim.
— Como assim?
— Eles desapareceram, Max — falou Mason. — Toda a família sumiu de repente, assim como a família anterior e como muitos dos moradores desta rua.
— Eles nunca foram achados?
— Não, porque não há o que achar.
— Mas ninguém sabe o paradeiro de nenhum deles?
— Na verdade, todos sabem o paradeiro de um deles.
— O filho.
— Você fez sua lição de casa. — Ele sorriu.
Mason se levantou e caminhou até uma prateleira de madeira, de onde pegou um copo e uma garrafa de uísque.
— Tem certeza de que não quer? — ele perguntou.
— Não, obrigado.
Mason derramou o líquido marrom alaranjado no copo, enchendo mais do que o comum, e voltou a se sentar.
Ele deu um gole e respirou fundo mais uma vez.
— Evelyn desenvolveu um laço forte com o garoto, por isso resolveu criá-lo.
— Você acha que ela matou os pais dele?
— Pode ter matado, nunca subestime aquela louca.
Ele deu um pequeno gole no uísque.
— Sophia estava certa sobre o que disse, ela pode ser um pouco louca, mas estava certa — disse ele. — Você e seu marido estão correndo um grande perigo aqui.
Neste momento, as luzes começaram a piscar um pouco. Não apenas a da do lustre, mas também os abajures. Ele olhou para cima, como se aquilo o preocupasse.
— Por que ninguém pode me dar uma resposta concreta?
— Eu poderia, mas não daria tempo.
— Eu tenho muito tempo livre.
As luzes piscaram de novo.
— Mas eu não.
Mason bebeu o resto da bebida em um só gole e colocou o corpo sobre a mesinha de centro de madeira e vidro.
— Faça suas malas e vá embora o mais rápido possível, vocês são muito bons para esse lugar.
— Eu só preciso saber o que diabos está acontecendo por aqui? E o que vocês têm a ver com tudo isso?
— Eu não tenho tempo para te contar, mas posso te dar um conselho — ele falou. — Não tente responder suas perguntas, apenas se ajude vá embora.
As luzes piscaram novamente e depois começaram a ficar mais fortes, até as lâmpadas dos dois abajures explodirem.
Mason se levantou e subiu as escadas.
Max ficou tentando entender, com os olhos fixos no copo de uísque vazio.
Quando ouviu Mason descer, ele achou apropriado fazer uma última pergunta.
— O que aconteceu com Sophia? — ele perguntou, levantando a cabeça para olhar para o homem, que agora segurava um revólver de calibre 18.
Max se levantou, assustado, e levantou as mãos.
— O que está fazendo?
— Eu não posso mais fazer parte disso, Max — disse ele, colocando as balas dentro do compartimento circular.
— Não faça nada estúpido, cara.
Mason colocou a arma embaixo do queixo.
— Vá embora enquanto há tempo — disse ele, puxando o gatilho. O barulho foi extremamente alto e a quantidade de sangue voando pelos ares foi imensa. Algumas gotas sujaram Max no rosto.
Ele estava boquiaberto e tremendo, com os olhos arregalados. Seu corpo estava paralisado ali, enquanto ele olhava o corpo do homem cair no chão, com uma massa de sangue, cérebro e músculos no lugar da cabeça.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!