Suburbia escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 5
Capítulo 05 - O Sótão




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/658710/chapter/5

O documento no notebook de Max estava em branco. Ele havia excluído tudo o que já havia feito para recomeçar do zero com outro tema.

Mas não conseguia pensar em nada.

Deu um longo suspiro e esfregou as têmporas, depois olhou para os lados e tentou voltar a se concentrar em algo. Minimizou o documento e pesquisou "receitas de doces". Aquilo era o cúmulo do tédio e falta de ideias.

A campainha tocou, interrompendo-o. Ele se levantou e saiu do escritório, caminhando até a porta e se aproximando do olho mágico para ver quem era.

Sentiu seu estômago embrulhar um pouco ao ver que era o vizinho, o que ele vira pela janela há algumas noites.

Ele tocou novamente. Atendo ou não? Max se perguntava mentalmente.

Colocou um — muito — pequeno sorriso no rosto e abriu. O homem sorriu ao vê-lo.

— Pois não — disse ele.

— A sua garagem está aberta — o homem falou.

— O quê?

— É, ela está aberta. — Ele riu e Max ficou envergonhado.

— Oh, Deus, não acredito que esqueci.

— Mason — disse ele, estendendo a mão.

Max relutou um pouco, mas segurou sua mão e sorriu simpaticamente.

— Max... Hm, olha, sobre aquela noite — disse ele, nervoso. — Desculpa, é que eu estava passando pela janela e acabei vendo, eu não queria... Quer dizer, espero que você não tenha pensado nada estranho.

— Ah, eu? Não, não, eu não pensei... Quer dizer, você é muito atraente, mas é casado, eu respeito isso.

Aquilo pareceu relaxá-lo um pouco. Ele definitivamente não queria nada, mas tinha medo de que ele não entendesse. Ele amava apenas um homem. Henry.

— Isso me deixa aliviado. — Max soltou uma risadinha nervosa.

Houve um breve silêncio. Mason ficou o encarando com seu sorriso branco no rosto.

— Ah, a garagem — disse Max, lembrando-se. — Obrigado por avisar.

— Não há de quê — ele falou.

Mais um breve silêncio.

— Tchau, Max.

— Tchau.

Mason virou-se e foi embora. Max o observou por alguns segundos e depois foi até a garagem fechá-la. Em seguida voltou ao escritório e se sentou, voltando para seu passatempo de procurar receitas.

***

Os mercados naquele bairro eram enormes. Altos, espaçosos e bem iluminados, ao contrário dos apertados e pequenos estabelecimentos que Max frequentava antes. Definitivamente, essa era uma das melhores coisas em se morar nos subúrbios.

Empurrando um carrinho de metal, ele entrou pelas portas automáticas da entrada e olhou ao redor, admirando o tamanho do local. Tinha vários corredores com grandes prateleiras. O piso era branco, assim como o teto muito alto. Era tudo muito iluminado.

A maioria das pessoas que compravam ali eram famílias. Ele caminhou até a seção de enlatados e começou por lá as suas pequenas compras.

Enquanto empurrava o carrinho pelo corredor, observava atentamente os produtos nas prateleiras, mas perdeu o foco quando percebeu que havia alguém no início do corredor. Ele olhou para trás e a pessoa rapidamente se virou. Era uma mulher, usando um lenço cobrindo a cabeça e óculos escuros. Ela usava um sobretudo bege e sapatos verde-água sem salto. Parecia ansiosa.

Mesmo estranhando a situação, ele ignorou e continuou caminhando, olhando de soslaio a cada vinte segundos. A mulher andava um pouco e parava sempre que ele olhava. Como se o estivesse seguindo. Ele parou e virou para trás, percebendo então que o carrinho dela estava vazio.

Ignorou novamente, mas um pouco preocupado. Começou a colocar as compras no carrinho, mas sempre olhando para trás discretamente. A mulher foi na direção oposta e sumiu.

Ele continuou. Instantes depois, passou para outro corredor, mas antes de entrar, percebeu que a mulher estava a alguns metros, olhando para ele. Ela virou o rosto bem quando ele olhou. Max não a reconheceu.

Ele então resolveu tirar satisfações. Empurrou o carrinho na direção dela e a mulher sumiu dentro de outro corredor. Max a seguiu.

— Ei! — disse ele. Ela apressou os passos.

Max deixou para lá e voltou a fazer as compras.

Alguns minutos depois, talvez meia hora, ele saiu do supermercado com as sacolas dentro do carrinho. Dirigiu-se até o seu carro e viu uma mulher dois veículos depois, depositando suas compras dentro do seu carro. Ela usava um vestido florido até os joelhos e um sapato verde-água.

Ele viu que ela tinha cabelos castanhos claros e curtos e se aproximou. Quando a mulher se virou, ele percebeu que era Virginia.

Ela abriu um sorriso ao vê-lo.

— Max — disse ela, simpática como sempre. — Você por aqui?

— Comprando algumas coisas que faltavam — ele respondeu, olhando para os sapatos dela. — Era você que estava me seguindo?

Ela fez uma cara de estranheza.

— Não estou entendo.

— Nada, nada, deixa pra lá — disse ele.

— Você parece tenso — ela falou, colocando mais uma sacola no banco de trás do seu Mercedes branco antigo. — Aconteceu alguma coisa?

— Ah, não, não, é só... Não é nada.

Ela sorriu e fechou a porta depois que terminou.

— Então, nos vemos por aí? — ela falou, caminhando até a porta do motorista.

— Claro — Max respondeu, ainda confuso.

Quando ela deu ré, ele pôde ver, no banco da frente, ao lado dela, um sobretudo bege.

Virginia buzinou e foi embora. E ele ficou tentando entender por que diabos ela estaria o seguindo.

***

A noite já tinha caído e Max estava sozinho em casa. Henry saiu do trabalho direto para algum bar a convite do seu chefe. Ele não podia recusar e insistiu que Max fosse, mas ele recusou.

Ele estava sentado em sua cama, encostado à cabeceira, lendo um livro. O resto da casa estava mergulhado em um silêncio ensurdecedor, que logo foi quebrado por um barulho alto no teto.

Max olhou para cima. De novo?

Esperou alguns segundos, encarando o teto, depois voltou a ler, porém, não conseguia mais se concentrar. Fechou o livro e colocou no criado-mudo. Deitou a cabeça no travesseiro e tirou os óculos, piscando intensamente com os olhos umas duas vezes, para acostumá-los. Colocou o objeto sobre o criado-mudo sem ver, deixando os óculos caírem no chão.

— Droga — disse ele, colocando a mão no chão para pegá-lo. Quando sentiu o vidro de uma das lentes, puxou de volta, mas sentiu algo segurando seu braço. Algo frio e úmido. E estava segurando com força.

Ele se soltou rápido, deixando os óculos no chão, e seu coração acelerou. Max rapidamente olhou para o chão. Os óculos não estavam mais lá.

Olhou seu braço e viu que haviam marcas avermelhadas. Eram de dedos. E as marcas vermelhas eram sangue, um sangue escuro.

Ele se deitou com a barriga para baixo e apoiou as mãos no chão. Moveu sua cabeça lentamente para baixo, para ver o que havia embaixo da cama. Estava morrendo de medo, é claro.

Quando o topo da sua cabeça encostou no chão, ele viu os óculos ali, um pouco longe, no meio da cama. Não havia mais nada, só os óculos. Ele estendeu sua mão para tentar alcançá-lo, mas seu coração quase parou quando ele viu que havia alguém parado na porta aberta.

Max só conseguia ver as duas pernas de carne podre e unhas enormes e sujas. Deveria ser uma mulher, pois usava um longo vestido branco, com respingos de sangue.

Ele voltou para cima da cama, aterrorizado, e olhou para a porta. Estava aberta, mas não tinha ninguém.

Max se levantou e correu para o corredor. Não tinha mais ninguém, apenas pegadas de sangue no piso de madeira. Ele as seguiu lentamente, com o coração quase saindo pela boca.

Quando virou o corredor, deparou-se com a porta do sótão aberta. As pegadas estavam na escada, seguindo até o interior do cômodo.

Um enorme ruído veio de lá, como uma caixa sendo derrubada. Ele se apressou em subir as pequenas escadas, com cuidado para não pisar nas pegadas de sangue.

Subiu no sótão e acendeu a luz. Havia uma caixa derrubada, com várias coisas espalhadas no chão. Ele não se atreveu a ir recolher, apenas saiu e fechou a porta.

Com o coração acelerado e tremendo de medo, voltou para o seu quarto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Suburbia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.