Suburbia escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 12
Capítulo 12 - Jantar




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Ao chegar na pequena escadaria até a porta, Virginia teve a ajuda de Hoyt para levar a cadeira de rodas até a porta, que Pixie abriu, fazendo um estrondo grande. Era uma porta velha.

Eles entraram em um cômodo velho, mal cheiroso e escuro. Havia duas escadas no meio e um lustre de vidro espatifado no chão. No entanto, todos se dirigiram para o corredor à direita, cheio de janelas altas, por onde entrava a luz da lua.

— Que lugar é esse? — perguntou Max, que começava a se recuperar da tontura. Talvez o efeito da droga estivesse passando.

— É a casa dela, sr. Walker — respondeu Pixie, sussurrando no ouvido dele.

— Casa de quem? — Ele tentou se soltar mais uma vez, nervoso.

— Você vai descobrir.

Eles logo chegaram no próximo cômodo, uma sala muito alta e sem móveis, apenas folhas e sujeira no piso quadriculado preto e branco. Havia uma pequena sacada para o primeiro andar e uma escada no canto. Era nas grades de madeira dessa sacada que estavam presas as correntes que prendiam as mãos de Henry, cujos pés tocavam o chão. Ele estava com um pano amarrado na boca e tentava se soltar.

Ao lado dele, o corpo de Sophia jazia amarrado pelo pescoço por uma corda, com boa parte dos cabelos suja de sangue, sinalizando um ferimento na cabeça.

Ela estava morta.

Ao ver Max, Henry tentou falar alguma coisa, gritar alguma coisa, mas não conseguiu.

Max também tentou se soltar, para talvez correr até ele, mas não obteu sucesso.

— Onze e cinquenta e cinco — disse Hoyt, olhando no seu relógio dourado por baixo das mangas compridas do seu elegante terno.

— Está quase na hora — falou Virginia, caminhando até a janela e olhando para o céu. — A noite está linda, não é?

Pixie riu.

— Nós quase não conseguimos desta vez — disse ela.

— Mas no fim deu tudo certo — falou Norma. — Eu nem consigo imaginar o que ela faria conosco se não tivéssemos conseguido.

— Você está muito quieto, sr. Walker — disse Virginia, caminhando até ele. — Está nervoso? — perguntou, se aproximando do ouvido dele.

— Não fique com medo — Norma disse. — Eve logo estará aqui, você não quer conhecê-la?

— Eve?

— Ela mora aqui — respondeu Pixie. — Mas passa a maior parte do tempo viajando, ela só volta em noites de lua cheia, e nós sempre temos que trazer um presente.

— Do que vocês estão falando? Esta casa parece abandonada há séculos!

— Eve não é uma pessoa comum — disse Virginia. — Na verdade... — ela sussurrou no ouvido dele. — Eve não é uma pessoa.

Aquela mulher parecia ficar cada vez mais louca.

Pixie, que estava ao seu lado, riu baixinho, como se debochasse.

— Onze e cinquenta e sete — disse Hoyt, olhando no relógio.

Norma olhou para o corpo de Sophia.

— Ela parecia ser uma boa garota — falou ela. — Uma pena que tenha sido tão desrespeitosa.

— A primeira regra por aqui — disse Hoyt, se aproximando dele, com uma voz baixa. — É não falar a verdade.

Pixie riu baixinho novamente.

Eles ouviram uma porta se abrir e olharam para o corredor. Max viu uma mulher ruiva de cabelos lisos e brilhosos. Ela usava um longo e elegante vestido preto e seu batom era escuro também. Evelyn, que agora parecia outra pessoa. Elegante e sombria.

Ela caminhou até eles.

— Eu perdi alguma coisa? — perguntou ela.

— Ela ainda não está aqui — respondeu Virginia.

Henry continuava tentando se soltar e falar. Pixie caminhou até ele e tirou o pano da sua boca. Ele parecia não ter mais o que dizer, estava respirando pesadamente e chorando.

— Onze e cinquenta e oito — disse Hoyt.

— Como se sente, sr. Walker? — perguntou Evelyn.

— Vadia dos infernos — ele respondeu, furioso.

Ela bateu com força na cara dele.

— Lave essa boca suja com sabão, sr. Walker.

Pixie continuava rindo baixinho, caçoando.

— Qual o motivo disso tudo? — perguntou Henry.

— Considere isso como um jantar de gala — Norma respondeu, caminhando até ele. Em seguida, tocou seu rosto. — E você é o prato principal.

Ele cuspiu em seu rosto e ela ficou furioso. Segurou o pescoço dele com força.

— Norma! — exclamou Virginia. — Você sabe que não podemos machucá-los.

Ela abaixou a mão e voltou para perto dos outros.

— Você tem razão, desculpa.

Pixie ofereceu um lenço e ela pegou, limpando o rosto.

— É uma pena que tenhamos que fazer isso — disse ela, rindo. — Dois homens tão lindos não deveriam servir de jantar... Ou melhor, deveriam ser o meu. — Ela se aproximou do ouvido de Max e colocou a mão entre as pernas dele, sorrindo maliciosamente. Ele ficou enojado.

— Sua puta — falou Evelyn.

— Não seja careta, só estou me divertindo.

— Meia-noite — disse Hoyt. Todos ficaram em silêncio, apreensivos.

A casa ficou mergulhada em um silêncio profundo. Max e Henry continuavam um pouco tontos e por isso estavam quietos. Mas sabiam que não adiantaria gritar. Além disso, também estavam assustados.

Quem era Eve?

Um barulho no andar de cima os assustou. Foi alto e assustador, como alguém pisando com força no piso de madeira, correndo com uma força avassaladora.

— Eve é sempre pontual — disse Pixie, com um sorriso.

Eles ficaram olhando para a entrada do corredor no andar de cima. Totalmente escuro. Não tinha nada, mas o barulho estava ficando cada vez mais próximo.

Henry e Max estavam muito nervosos. Os outros esperavam apreensivos. Também pareciam um pouco assustados e nervosos.

Finalmente puderam ver uma silhueta feminina surgindo na escuridão, com cabelos negros cobrindo o rosto e sem roupas.

Ela deu um passo à frente e parou, como se os observasse. Estava completamente sem roupas e seu corpo era pálido e escurecido como se estivesse podre, além de estar rodeado por moscas. Ela parecia um cadáver.

Eve caiu no chão de repente, como um boneco, e começou a se arrastar pelo chão como se estivesse sendo puxada. Mas não estava.

Ela chegou à escada e começou a descer, às vezes colocando as pernas na frente das mãos e andando como uma aranha.

Os outros deram alguns passos para trás, assustados. Sempre ficavam assim.

Max estava com os olhos arregalados, paralisado de medo. A criatura à sua frente rastejava em sua direção e ele não podia fazer nada, apenas tentar se soltar, sem conseguir.

— Nós trouxemos isso para você, Eve — disse Virginia. Era possível ouvir o tom de medo na sua voz.

Ela tocou as pernas de Max e se ergueu. Aproximou seu rosto dele, seu rosto coberto pelos cabelos negros. Max não podia ver seus olhos, apenas sentir sua respiração barulhenta, como estivesse roncando baixinho.

O odor de carne podre voltou a impregnar seu nariz.

Ele fechou os olhos esperando o próximo passos de Eve. Ela o deixou de lado e rastejou até Henry, que estava ainda mais aterrorizado.

Ela se ergueu com dificuldade e ficou de pé, de frente para ele.

— Por favor — disse ele, chorando.

Eve segurou o pescoço dele.

— Não! — exclamou Max. — Por favor, deixe-o em paz.

Os outros estavam apenas observando, não tão felizes quanto antes. Estavam com medo.

A criatura puxou a cabeça de Henry para trás e abriu uma boca cheia de dentes sujos e afiados, como os de um tubarão, liberando seu hálito podre. O cabelo continuava cobrindo boa parte do rosto. Ele fechou os olhos e chorou. Max também estava chorando.

Eve cravou seus dentes no pescoço dele e Henry gritou de dor. Ela puxou com força, rasgando a pele e deixando uma grande quantidade de sangue espirrar. Depois voltou a morder.

Ele não conseguia mais gritar, apenas engasgar com o próprio sangue. Max gritava, tentando se soltar, desesperado.

Eve soltou as correntes e deixou que o corpo de Henry caísse no chão, com as mãos no pescoço enquanto tossia e cuspia sangue.,

Ela rasgou a camisa dele e cravou os dentes em sua barriga, rasgando-a. Em seguida, colocou as mãos dentro e começou a puxar os órgãos. O rosto de Henry ficou paralisado. Os olhos abertos encarando o nada.

Morto.

Ela continuou devorando os órgãos dele, enquanto Max gritava e tentava se soltar.

— Façam alguma coisa! — gritou ele, em prantos, para os outros, que não estavam se sentindo tão bem sobre isso. Hoyt até saiu da sala e foi para o corredor, vomitar.

Evelyn observava com um olhar de medo, mas sua postura ainda era de autoridade. Virginia estava com os braços cruzados e uma expressão de horror no rosto. Pixie e Norma também estavam assustadas.

Quando ela terminou de comer os restos de Henry, virou o rosto e olhou para Max. Os olhos agora se revelavam, um olho totalmente esbranquiçado e o outro parecia um pedaço de carne vermelha e sangrenta.

Ela caminhou até ele, como uma aranha, e se ergueu. Sentiu o cheiro de medo. Max respirava ofegante, aterrorizado. Evitava olhar para o cadáver dilacerado de Henry.

Virginia e os outros começaram a caminhar para o corredor.

— Desculpa, sr. Walker — disse ela, sem a sua pontada de ironia.

— Voltem aqui! — ele gritou, desesperado. — Me tirem daqui!

Eve continuava cheirando seu corpo.

Hoyt abriu a porta e saiu.

Depois Norma.

Depois Evelyn.

Depois Pixie.

Depois Virginia, olhando para ele com um pouco de pena.

— Não!!! — ele gritou, quando ela fechou a porta.

Enquanto os cinco caminhavam em silêncio pela pequena estrada de pedra da mansão abandonada, ouviam de longe os gritos de dor de Max, enquanto tinha sua carne rasgada e devorada.

— Que desperdício — comentou Norma.

***

Em um domingo ensolarado, Kate e John desceram do carro depois das crianças e do cachorro, que correram para o jardim da bela casa para brincar. Emma e David, ambos deveriam ter menos de 10 anos.

O casal se beijou, alegre, enquanto os transportadores levavam as coisas do caminhão para dentro.

— Essa casa é maravilhosa — disse Kate.

— É mesmo — falou John.

— É aqui que começamos uma nova vida.

— Pois é. — Ele a beijou de novo.

Uma bela garota sorridente de cabelos loiros meio ondulados e olhos verdes se aproximou, com seu cachorro branco e felpudo na coleira.

— Então vocês são os novos vizinhos? — perguntou ela, sorrindo.

— Sim — respondeu Kate. — Eu sou Kate, esse é o John, meu marido.

— Ah, oi Kate e John, eu sou Pixie... Bem-vindos à vizinhança.


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