O Bosque escrita por KyonLau


Capítulo 4
Pré-contato


Notas iniciais do capítulo

Errr.... Oi gente x.x
Primeiramente, eu lamento MUITO a demora absurda para postar esse último capítulo. Eu estive viajando por quase um mês e quando volto ainda tinha que lidar com algumas coisas da faculdade.
Mas vamos encarar isso como um presente de natal e não linchar a pobre e descuidada autora? *-*
Enfim, esse é o último capítulo do que seria uma one-shot e eu espero realmente que tenham gostado de ler tanto quanto eu gostei de escrever.
Boa leitura :3



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Um par de olhos castanhos vivos que ainda não tiveram a chance de ver muitas coisas encarava com grande interesse o pequeno filhote de passarinho caído em meio às raízes das árvores. O pequeno piava agonizado, nem penas tinha ainda, contorcendo-se e esticando o pescoço enquanto sofria. Era realmente feio, pensara Vitoria enquanto o fitava, sem piscar.

A garotinha jogou o pescoço para trás para poder olhar os galhos acima de sua cabeça. Bem em meio às folhas, se ela apertasse os olhos com força, era possível ver o ninho de onde o pequenino havia caído. Não sabia, no entanto, se havia mais algum filhote lá.

Vitória suspirou, sem saber bem o que fazer a seguir. Não queria voltar ainda. Aquele piquenique era exatamente o contrário do que sua mãe lhe fizera acreditar. Não havia uma única criança, além dela e suas tias não paravam de apertá-la como se fosse uma boneca. Não. Ela não iria voltar.

Decidida, a menina levantou-se e, espanando a terra de suas meias e vestido brancos, deu as costas ao passarinho, agora silencioso, e continuou a marchar pelo estreito caminho de terra que as árvores formavam.

Um trovão ressoou e não muito tempo depois Vitória sentiu as primeiras gotas geladas acertarem suas mãos e seu rosto. Ela estacou. Se antes aquele bosque estava silencioso, agora parecia morto. Ela observou com apreensão a lama grudar em seus sapatos engraxados. Sabia que sua mãe lhe daria uma bronca por aquilo, mais tarde. Dando um passo inseguro, ela sentiu o pé afundar na terra á sua frente. Deu mais um passo. Depois de sentir que estava segura, prosseguiu sua marcha pelo Bosque da Solidão.

Em seu caminho encontrou vários bichinhos, tais como formigas, uma lagarta e um besouro enorme e reluzente que ia subindo tranquilamente o tronco de sua árvore. O besouro a atraiu e ela esticou sua mãozinha em sua direção, com a intenção de tirá-lo de lá para olhar melhor, mas antes que pudesse tocá-lo um estalido alto se fez ouvir, como um galho enorme sendo partido ao meio. O barulho ecoou em meio ao silêncio, machucando os ouvidos de Vitória e fazendo com que ela recuasse, assustada.

Primeiro pensou que sua mãe finalmente a havia encontrado, mas vendo que a sua enorme figura não aparecia por entre os arbustos e sua voz esbravejando não se fazia ouvir em lugar algum, ela logo abandonou essa ideia. Ela olhou em volta, procurando a origem do barulho, mas não havia nada. No chão, próximo às folhas molhadas havia algumas penas brancas que lembravam muito as dos gansos na fazenda da sua avó.

No entanto elas estavam quebradas e sujas.

— Hmmmm?

Uma voz profunda e gutural quebrou o silêncio sobrenatural, fazendo Vitória se assustar e cair sentada no chão.

Acima dela havia a figura enorme de um... Bom, ela não sabia o que era. Era esguio, seus membros bem maiores que os de seu pai ou avô. Estava vestido em farrapos manchados de um líquido vermelho que a fazia lembrar do machucado que conseguira ao ralar o joelho na areia do parque. Mas por baixo dava para ver sua pele branca como papel. Atrás dele duas asas enormes se balançavam, soltando penas para todo lado. Parecia com o passarinho quebrado que encontrara mais cedo.

Vitória deu um pequeno passinho para trás, mas a criatura se manteve onde estava, meio escondido entre os galhos e folhas.

— Uma humana... — sua voz parecia ecoar dentro dos ouvidos da pequena, que sentiu um enorme impulso de coçar violentamente as orelhas para tirar o som de lá de dentro.

O monstro, vendo o gesto, sorriu. Ou parecer sorrir, pois um dos lados de sua boca estava rasgado até desaparecer por entre um chumaço ralo e asqueroso de cabelos pretos. Um de seus olhos estava escondido atrás desse mesmo chumaço, mas o outro era bem visível, e assustava mais do que qualquer outra coisa. Era enorme e redondo e mantinha-se esbugalhado o tempo todo, sem piscar. Vitória até achou que ele talvez nem pálpebra tivesse. O olho tinha uma pequena pupila que mantinha-se presa no rosto da garotinha, e o resto era cheio de veias vermelhas como as teias de uma aranha.

— Está perdida, menina? — perguntou a criatura com um inconfundível ar de zombaria.

Vitória fez que não.

— O que é você? — ela finalmente perguntou, sua voz esganiçada sofrendo grande contraste contra a voz do monstro.

Se é que era possível, o monstro sorriu ainda mais.

— Um anjo — disse simplesmente — que caiu do céu.

Vitória olhou novamente para a figura. Já ouvira falar dos tais anjos uma vez, mas não com muita atenção. Mas se ele estivesse dizendo a verdade, ela concluía que não tinha muita certeza se gostava realmente de anjos.

O anjo fez um pequeno movimento, esticando o braço molemente, como se estivesse tentando alcançar a garotinha, mas sabendo que não ia conseguir, e logo em seguida deixou o braço pender novamente ao lado do corpo.

Curiosa, Vitória tentou dar uma espiada melhor.

— Você está preso — constatou.

As enormes asas do anjo estavam presas aos galhos das árvores atrás dele. Os galhos as perfuravam e envolviam-nas num forte aperto, como se realmente estivessem tentando segurá-lo ali.

— Você é esperta — respondeu o anjo — Para uma garota de quatro anos — ele a examinava incomodamente — Quatro anos... Um coração intocado...

— O que disse? — perguntou a menina, pois ele falara muito baixinho.

— Disse que seu coração é puro.

Vitória não sabia como reagir a isso. Estava começando a ficar nervosa. Talvez devesse voltar logo para sua mãe e pedir desculpas por ter fugido...

— Agora é tarde — disse o anjo quase como se lesse os pensamentos dela, surpreendendo a garota — Você não gosta de mim.

Seu tom de voz transbordava uma falsa tristeza. Vitória confirmou o que dizia com a cabeça, fazendo-o grunhir.

— Então que tal você me ajudar a sair daqui? — aquela voz era realmente incômoda — Eu vou para bem longe assim que conseguir.

A garotinha tremeu. Tinha a leve impressão de que talvez ele estivesse onde deveria estar.

— E se eu não ajudar?

O anjo exibiu os dentes afiados e amarelos como se estivesse se divertido como nunca.

— Então todos que moram aqui perto sofrerão — disse — Só você pode fazer isso, Vitória... Só você pode salvar a todos...

A garota piscou, meio zonza. Não conseguia tirar os olhos do anjo. Sua expressão era a mesma da de um leão faminto que vira em um livro de gravuras que seu avô possuía. Seu coraçãozinho bateu mais rápido e, por algum motivo, a garota sentiu uma espécie de... Prazer. Da mesma forma quando sua mãe lhe dava algum doce quando se comportava bem. Mas foi algo como uma estrela piscando. Logo em seguida esse prazer se apagou e ela se sentiu amedrontada novamente.

— Promete que vai embora? — perguntou, insegura.

— Claro. É o que eu mais quero.

Vitória mexia nos dedos, nervosa. Não se sentira tão perdida quando só vagueava pelo bosque, mas agora era algo que beirava ao insuportável.

Ela respirou fundo, enchendo seus pequenos pulmões de ar frio e úmido.

— Qual o seu nome? — perguntou por fim, tornando a olhar para ele.

A besta abriu um sorriso maldoso e cheio de dentes.

— Meu nome — disse — é Tera.


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Notas finais do capítulo

E é isso, obrigada por terem acompanhado minha historinha, fico muito feliz.
Novamente, me desculpem pelo atraso... *morta de vergonha*
E é isso! Bye bye~



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