O Bosque escrita por KyonLau


Capítulo 1
Primeiro Contato


Notas iniciais do capítulo

Bom, aí está minha primeira fanfic focada em terror!
Antes de tudo, preciso pedir desculpas. Quando planejei essa história disse a mim mesma que seria uma one-shot e mantive esse pensamento fixo na cabeça até mais ou menos ontem à noite, quando eu comecei a escrever de fato. Aí percebi que não tinha planejado absolutamente nada!
Quando dei por mim, eu já tinha chegado á 1.500 palavras e só estava terminando a primeira parte da história. Como eu sou uma pessoa que não gosta de ultrapassar as 4.000 palavras por capítulo e ainda não estava nem na metade, achei que seria melhor dividir.
Então, já aviso aqui que essa história terá exatos 4 capítulos e eu espero de coração que vocês aproveitem! Boa leitura! :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/658685/chapter/1

Existe uma certa rua, ladrilhada de pedras.

E nessa rua existe um bosque com árvores frondosas e caminhos estreitos.

Esse bosque foi apelidado pelos moradores de "Solidão". Eles dizem que é por que, quando o sol se põe, é como se ele prendesse a respiração e mergulhasse no mais barulhento silêncio. E se você está passando por ele nesse horário, não importa se está ou não acompanhado, você começa a se sentir a pessoa mais solitária do mundo.

Mas o que eles não sabem é que nesse bosque mora um anjo.

Um anjo que precisava de um coração...

***

Um guarda noturno passeava para lá e para cá na entrada do velho bosque da cidadezinha absolutamente entediado. Tirando um gato vira-lata aqui e algumas mariposas que rodeavam o lampião mais próximo, estava tudo escuro e silencioso. A pequena igreja que ficava não muito longe dali, subindo a rua ladrilhada de pedras, era apenas um vulto escuro contra a enorme lua que se escondia atrás de uma ou outra nuvem negra.

Um pequeno barulho, como o de folhas sendo pisadas, veio de um ponto mais distante, mas o homem fardado não pensou em verificar. Certamente era apenas um outro gato ou cachorro perdido. Não valia a pena sair dali só para isso. Dessa forma, o pequeno grupo de três crianças conseguiu passar incógnita pelo buraquinho na cerca que existia a uns 5 metros do portão onde o guarda fazia sua vigília.

Eles passaram em fila indiana e permaneceram agachados até atingirem a proteção das primeiras árvores.

Uma coruja parda, empoleirada em um dos galhos mais altos da árvore onde os três pararam, encarou com seus enormes olhos alaranjados o garoto mais alto, de cabelos cortados em forma de cuia, empurrar a garota loira de cabelos cacheados contra o tronco grosso atrás dela. Ela, no entanto, não esboçou reação alguma contra esse movimento brusco.

—Pronto, estamos aqui — falou o garoto com cabelo de cuia num sussurro misturado à raiva — e é bom você não estar mentindo, Vitória, ou faço você comer terra de novo!

— Não é mentira — retrucou Vitória, finalmente se soltando do aperto do garoto e, erguendo o braço fino, apontou para o meio das árvores que iam sendo engolidas pelas sombras — É por ali. Nós temos que ir até lá para vê-lo...

O outro garoto, menor e mais rechonchudo, pegou o maior galho que conseguiu encontrar em meio ao mato e arbustos e cutucou Vitória com força entre as costelas.

— Pois vá na frente — disse.

Sem sequer tentar protestar, a garota virou-se e começou a andar, obrigando os dois garotos a apertarem o passo. Aos poucos as árvores começaram a se juntar mais e mais, e como nenhum deles conseguia ver um palmo à frente, pois as folhagens tampavam o pálido brilho da lua acima do bosque, isso resultou em vários tropeços por entre o ajuntamento de raízes, folhas e pedras soltas.

Vitória era a única que não tropeçava, pois conhecia o caminho. Mas não tentava diminuir o passo quando um dos outros dois se esborrachava no chão, e eles correram o risco de perdê-la de vista mais de uma vez.

— Carlinhos, você acha mesmo que ela conhece um anjo? — perguntou o garoto que ainda segurava o pedaço de galho como uma espécie de amuleto.

Carlinhos negou com a cabeça, a expressão séria tentando esconder o medo e a tensão. Aquele bosque estava mortalmente escuro. E a falta de vida noturna era incomoda aos seus ouvidos. Não havia um grilo cantando. A coruja que viram na entrada há muito desaparecera e uma crescente paranoia zumbia em sua mente.

Engoliu em seco antes de responder rispidamente.

— Claro que não, Caio! E vamos castigá-la bastante para que ela nunca mais resolva zombar das pessoas dizendo que não sabemos como um anjo é de verdade!

Aquela última frase foi dita mais alta, rompendo com o silêncio por um breve segundo, como uma lâmpada piscando no breu e morrendo logo depois. Foi dita com a intenção de assustar Vitória, que seguia à frente, absolutamente tranquila. Ela sequer se virou para responder.

— Estamos chegando — sua voz soou distante nos ouvidos assustados dos garotos.

Por algum motivo, o coração de Carlinhos começou a martelar contra o peito.

De repente, um berro cortou o silêncio massacrante como uma faca, e mesmo isso foi sufocado pelas árvores que os cercavam, quase como que repreendendo-os: "fiquem quietos!".

Sentindo os pés cederem ligeiramente, Carlinhos virou-se a tempo de ver Caio agachado no chão, as mãos tapando os ouvidos e os olhos fortemente fechados, com uma ou duas lágrimas escorrendo por suas bochechas gordas. O galho jazia no chão, inofensivo.

— Chega! — choramingou ele — Quero ir para casa! Detesto isso aqui!

Carlinhos correu até o companheiro.

— Caio! O que aconteceu?

— E-eu não sei! — falou o outro entre soluços — Eu estava com a sensação de que tinha algo atrás de mim, m-mas ignorei! Então eu senti algo raspar no meu pescoço! — ele ainda chorava alto e tremia — Eu juro! Era afiado e passou fazendo cócegas, e me arrepiou!

— Deve ter sido algum inseto... —balbuciou Carlinhos, sentindo o estômago afundar alguns centímetros — Vamos, levante-se. Não foi nada...

— Não! Eu quero sair daqui! — teimou o outro — Por favor...

Carlinhos bufou. Não queria passar como medroso na frente daquela garota imbecil, mas não conseguia segurar o impulso de querer sair dali o mais depressa possível. Virou-se, tentando reunir o pouco de dignidade que ainda lhe restava, para mandar Vitória levá-los de volta. Afinal, ele nem entendia o motivo de ter que ir até aquele maldito bosque de noite. Se o anjo morava ali, como a garota havia insistido tanto, eles poderiam visitá-lo a qualquer hora do dia. Mas quando deu por si, a garota havia sumido. Provavelmente continuara andando, como sempre estivera fazendo, e abandonou-os ali.

— Droga! — disse, tentando controlar a sensação de medo crescente — Caio, vamos voltar sozinhos. Se continuarmos andando, devemos achar um dos caminhos com as placas de sinalização...

Virou-se.

Seus olhos se arregalaram, recusando-se a acreditar no que viam enquanto sua garganta ia se fechando, impedindo-o de emitir qualquer som. O coração disparou e ele começou a suar. Lá no fundo de sua mente, um grito débil se fez ouvir: "corra!". Ignorando a tremedeira repentina das pernas, Carlinhos virou as costas para Caio e o vulto que estava logo acima dele e correu. Correu como um rato assustado, as lágrimas turvando-lhe a visão e fazendo-o tropeçar mais do que nunca agora.

Ao longe, o berro de Caio cortou por entre as árvores uma segunda vez, mas Carlinhos não parou, nem olhou para trás.

Ele estava justamente tentando descobrir o que faria quando bateu de frente com Vitória. Com o impacto, os dois caíram no chão de terra e rolaram, debatendo-se um contra o outro por alguns breves instantes. Quando finalmente conseguiu ficar por cima, pois era muito mais forte que a garota, ele prendeu-a ao chão pelos pulsos, o olhar irado brilhando como um farol.

— Que droga era aquela?! — esganiçou-se, ainda tremendo — Que-droga-era-aquela?! — repetiu, dessa vez apertando tanto Vitória que chegava a espremer todo o ar de seus pulmões.

— Droga? — repetiu ela calmamente, inclinando a cabeça ligeiramente para o lado, sem entender direito — Que droga?

— Aquela... Coisa! — explodiu o garoto — Aquela que assustou Caio... Ele... Aquilo o atacou!

Um clarão de compreensão perpassou pelo rosto da menina.

— Você fala do Tera?

Carlinhos sentiu como se uma mão forte e gelada tivesse lhe envolvido o coração e agora apertasse ele dolorosamente. Repentinamente ficou tonto.

— Tera? — repetiu.

Vitória anuiu com simplicidade, ainda bem presa contra o chão.

— Você disse que queria vê-lo, não é?

— M-mas... Tera... Tera não é nome de anjo — gaguejou o outro lentamente.

— Não é — concordou Vitória — É que ele esqueceu o nome dele. Já faz muito tempo, entende? — ela agora olhava para algum ponto às costas de Carlinhos — Olha, aí vem ele!

Como se um buraco sem fundo se abrisse bem debaixo dele, Carlinhos virou-se, novas lágrimas brotando-lhe aos olhos.

Era uma figura alta, talvez uns dois metros, que se movia lenta e mecanicamente, quase como um boneco de dar corda. Seus membros eram longos como os de um espantalho desajeitado, e à medida que ia chegando mais perto, seus dedos pontudos como agulhas foram se tornando visíveis enquanto a criatura os flexionava sem parar, como se tivesse se esquecido de como se moviam. A pele parecia couro velho repuxado contra os ossos finos. Em sua cabeça haviam apenas dois rasgos aparentes: um no lugar da boca, que ia de uma orelha à outra, formando um sorriso permanente e pingando um líquido vermelho como uma espécie de maquiagem sinistra; e o outro no lugar de seu olho esquerdo. Ambos eram negros como o ébano e pareciam servir para absorver o menor raio de luz.

Atrás de si ele arrastava duas coisas que lembravam um murcho par de asas em completa decomposição, numa imitação grotesca dos anjos pintados nos vitrais da igrejinha não muito longe dali. Ele foi se aproximando enquanto executava seus movimentos exagerados, esbarrando numa árvore aqui e ali, mas sem nunca parar.

— Viu só? — a voz de Vitória soou em algum lugar às costas do garoto, agora paralisado pelo medo — Eu disse a verdade. Um anjo de verdade é assim!

Carlinhos olhou para cima para ver o rosto sorridente e fragmentado a milímetros do seu próprio.

Uma gota de sangue pingou em sua bochecha.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Falei que nem pobre na chuva nas notas iniciais, perdão! De qualquer forma, o que acharam? Aceito críticas construtivas! *w*