Soul Gems escrita por Yukimura


Capítulo 2
Eu beijei quem?




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— Você os conhece Lia? – disse Benjamin saindo do transe da situação anterior.

— Esse foi o idiota que causou o acidente em que meio que me envolvi ontem – tentou falar baixo para o idiota em questão não escutar, mas parecia que ele tinha uma super audição.

— COMO ASSIM EU CAUSEI E VOCÊ MEIO QUE SE ENVOLVEU E IDIOTA?? – gritou o garoto sem se preocupar com a confusão que criava.

— Markus você não precisa gritar. – disse o garoto mais alto do grupo, ele tinha uma expressão calma e usava um jaleco que mostrava claramente que era da faculdade de medicina.

— Obviamente se uma garota que não o conhece te chama de idiota, ela está mais do que certa. – falou o mais musculoso dos quatro.

— Olha Diego, ninguém quer saber a opinião do menino nota cinco. – e aquilo começou uma enorme discussão entre os dois homens que só se calaram quando o quarto garoto, que até o momento só escutava, falou finalmente.

— A única coisa que é certeza é que vocês precisam perceber que aqui não é nenhum dos bares que vocês freqüentam. – a voz era firme e transpassava a mesma sensação de juízo de seu dono.

— Mais do que certo Frederick. – concordou o garoto loiro de jaleco. – Não é hora nem lugar para as brigas banais de vocês dois. E – agora o que dizia era direcionado a garota ruiva – o sangue contido na jaqueta do meu amigo ontem a noite deve ser seu, e eu sinto muito por ele, – ouvia-se o garoto em questão reclamar sobre como alguém se desculpava por ele. – Ouvi que você não quis ir a um hospital, no entanto eu não acho que seja uma escolha sensata.

Thália suspirou, aquele era um grupo difícil.

— Por que o seu sangue estava na jaqueta dele afinal!? – perguntou o já estressado Benjamin.

— A questão é que não foi nada demais, - e um olhar assustador foi lançado ao seu quase assassino – apesar do susto, eu estou ótima e ninguém precisa mais se preocupar ou se desculpar, ok?

Todos assentiram apesar de nem todo mundo concordar.

No resto do caminho pra biblioteca, Thália teve de explicar a história toda a Benjamin, que como esperado compreendeu, e ficou preocupado com a amiga.

— Certo, então cuida bem dessa mão. – e deu-se por vencido.

Enquanto terminavam de pegar todas as referências, o celular da menina começou a vibrar, mas não era uma chamada, eram mensagens, várias na verdade, e ela sabia bem de quem. Mas como a biblioteca tinha regras explícitas sobre aparelhos celulares (afinal eram uma praga esses dias), esperou até que ela e Benji estivessem no corredor para checar o aparelho.

“-Você não vai acreditar! Os veteranos vão dar uma festa hoje a noite e qualquer pessoa que ficar sabendo dela está convidado!” – dizia a mensagem de Lucca, seu melhor amigo de sexualidade duvidosa.

“- Você precisa ir Marrie! Por favor me ajude a levar a Anna e Kaitlyn!”

“- Você vai me ajudar, não vai?”

“ – NE?”

“- Eu preciso da sua ajuda!”

“- Porque você não está respondendo?”

“- THALIA MARRIE EU PRECISO QUE VOCÊ CONFIRME DIO MIO!”

A menina suspirou começando a digitar a única mensagem que mandaria para o amigo escandaloso.

“-Ok, eu ajudo.”

Thália Marrie Lamartini era uma caloura no curso de Publicidade do Diamond College, uma faculdade de classe alta que tinha alguns requisitos para aceitar seus estudantes considerados não muito difíceis de cumprir para a maioria: Você poderia ter habilidades espetaculares, ou ser muito inteligente, ou poderia simplesmente ser muito rico ou muito influente.

Lia, não se encaixava em nenhum desses grupos “não muito difíceis”, tinha sido pelo caminho mais complicado mesmo, aquele que escolhia a minoria dos alunos. Era uma estudante esforçada e tinha potencial, foi escolhida depois de uma longa seleção e apenas acreditava que tinha tido sorte.

A cidade de Portland era agradável, e a casa que dividia com suas duas amigas era perfeita, tinha espaço pra tudo e ainda sobrava, amava seus pais, mas ter seu próprio lugar era a melhor parte dessa coisa toda de estudar em outro continente.

Anna e Kaitlyn eram ótimas companhias; Anna era estrangeira como ela, vinha de Londres, já Kaitlyn era da região, e a casa havia sido presente de seus pais por conseguir entrar na tão sonhada universidade. Eram ambas amigas incríveis, e ela as sabia convencer como ninguém.

Ao chegar a casa, levou todas as suas coisas para seu quarto, onde poderia deixá-las espalhadas. Procurou pelas amigas na cozinha, exatamente o lugar perfeito para encontrá-las numa sexta feira à noite.

— Posso saber se alguma das donzelas tem planos? – perguntou ao mesmo tempo em que entrava e se sentava no balcão na cozinha, apenas alguns metros de distancia das amigas que faziam algum doce no fogão.

— O de sempre, comer porcaria e discutir sobre como meu professor de história deve sair com garotos menores que o Lucky. – disse Kaitlyn, preparando morangos e outras frutas em um prato .

— Como se tivesse muitos garotos menores que o Lucky na faculdade – resmungou Anna, mexendo a panela de chocolate derretido.

— É isso mesmo que eu to falando! – exclamou Kaitlyn e todas as três gargalharam.

— Você é a pior por ficar pensando coisas assim do pobre Sr.Juarez. – completou Anna zombeteira, fazendo com que rissem mais uma vez.

Recostada sobre o balcão, Lia não pensava muito no que diria pra convencer as amigas, na verdade começou a passar os dedos sobre os detalhes do mármore e então já estava falando:

— Falando no Lucky, ele me mandou uma mensagem pra falar de uma festa que ia ter hoje a noite.

As amigas nada responderam, já tinham escutado e lido sobre essa festa.

— Ele disse que saber da existência dela já é a mesma coisa de estar convidado a ela... Vocês não querem ir? – e olhou para as amigas que já traziam os pratos de doces para o balcão e lhe lançavam olhares questionadores.

— Você quer ir? Ou é só porque o Lucky entupiu seu celular de mensagens? – perguntou Kaitlyn, muito direta como sempre.

— Eu... Bem... – estava hesitante, não queria ir mesmo, mas também não gostava da idéia de passar a noite de sexta feira em casa.

— Tem homem nisso aí. – concluiu a amiga morena – De que curso ele é? Quantos anos ele tem? E em quanto está avaliado a herança dele hein?

Por um momento enquanto ria da acusação da amiga, pensou no estranho que a atropelara e que era incrivelmente bonito, e que estudava na mesma faculdade que elas e ainda por cima era incrivelmente bonito.

“Que besteira Thália, que você nunca mais encontre ele!” repreendeu-se mentalmente.

— Deve ter alguns por lá Kaitlyn, e você pode perguntar diretamente aos que te interessarem – acompanhou os movimentos de Anna até a pia para lavar as mãos. – e você Anna, não quer ir averiguar também?

A amiga suspirou. Não era um gesto positivo quando se tratava de Anna

— Claro que nenhuma das duas esqueceu sobre aquela conversa de príncipe encantado não é? – e elas se seguraram para não rir diante da amiga ingênua – podem rir, eu sei que vocês querem.

Thália e Kaitlyn murmuram um “não, que isso”.

— Bem... Aquele garoto do acampamento... Eu não contei pra vocês antes, mas já que vocês realmente vão querer ir nessa festa... Ele é um dos veteranos que está dando essa festa, e eu meio que tenho escapado de ser reconhecida por ele faz bastante tempo, então... – ela estava tensa, tanto por ter escondido esse fato das amigas, quanto por revelá-lo a elas.

As duas ficaram pensativas, mas foi Kaitlyn quem sugeriu a solução:

— Sabe, a Lia não consegue decidir se quer ir ou não nessa festa, e por mim, iríamos mesmo, afinal já to começando a ficar cansada de passar as noites de sexta fofocando enquanto poderia estar curtindo um pouco em outro lugar, - e colocou as mãos no ombro da amiga loira – e você, se consegue dividir o mesmo campus que ele sem ser reconhecida, essa festa vai ser o de menos, quem garante que vão se encontrar e vão estar sóbrios o suficiente para reconhecer rostos de 5 ou 6 anos atrás?

E assim decidiram guardar os morangos para o pós festa, e trataram de se arrumar. Uma grande festa as aguardava.

— Vocês demoraram um século e meio pra chegar! – gritava o minúsculo rapaz aloirado na calçada enquanto as meninas desciam do taxi.

— Não precisa começar o show tão cedo Lucky – reclamou Thália.

— Olha aqui, eu quem escolho quando começa o show amor. – e saiu andando e rebolando pelo enorme portão da mansão onde seria a festa.

O lugar parecia um castelo, parecia mesmo, até a arquitetura lembrava uma era passada. Thália adorava aquilo e as cores, agora sombrias graças a noite, deveriam ser realmente deslumbrante durante o dia, todas aquelas flores e adereços que provavelmente eram amplificadas com a luz do sol.

Caminharam pela grama do jardim até a piscina, lugar onde a aglomeração de estudantes bêbados era maior. Mal tinham encontrado um espaço para si, Lucky já havia lhe arrumado drinks.

— Você sabe o que tem nisso? – perguntou Anna, desconfiada.

— Você acha que tem alguma droga nisso? Então sim, deve ter várias, mas o sabor eu não faço a menor idéia, acho melhor provar. – disse o sorridente garoto virando o próprio copo em um gole só.

Depois disso as meninas decidiram que já que estavam lá, não desperdiçariam aqueles drinks tão enfeitados. Alguns copos mais tarde, estavam todas as três tão alegres que já dançavam sem ao menos saber se havia alguma música realmente tocando. Kaitlyn foi a primeira a acabar nos braços de alguém como sempre, e logo sumira deixando as duas amigas já tontas sozinhas.

O barulho das pessoas e a música sobressaíam até os pensamentos que tentavam organizar, e nenhuma das duas percebeu um certo grupo se aproximar.

— Se não é a ruivinha de hoje cedo. - e ao ouvir a voz familiar e sua mente já anestesiada associar o fato de que ela era a ruiva em questão, sorriu ao homem alto, musculoso e bronzeado que vinha acompanhado de mais dois garotos bem parecidos com ele.

— Olááá – disse a alegre Thália – você é o menino nota cinco né? – e riu com Anna que não sabia bem porque estava rindo.

Definitivamente elas não tinham uma boa resistência ao álcool, ou já tinham bebido demais. Os garotos riram todos juntos, e Diego aproximou-se de Thália, passando o braço pela cintura da ruiva em uma proximidade mais que desnecessária.

— Sabe ruivinha, posso te mostrar algo em que sou nota dez – sussurrou ele com o sorriso mais sacana que ela já tinha visto; e apesar do absurdo, ela simplesmente tentou se afastar e retirar o braço dele de si, mas ele era mais forte.

— Olha que eu duvido muito, pra mim você não consegue sair do cinco – deixou que o álcool falasse por si e conseguiu escapar graças ao choque momentâneo em que o homem egocêntrico encontrava-se.

Deu alguns passos para trás, agora segurando Anna pelo braço e com um riso tenso, ele parecia alterado e ela era uma formiga perto de um dos músculos dele, no entanto, não se afastou muito, pois logo trombou em algo sólido, firme e bem mais alto que ela.

— Que porra, até aqui? – reclamou Markus segurando a menina para que não caísse, afinal seu equilíbrio não estava lá essas coisas.

Diego olhou para o conhecido e sorriu dissimulado:

— Pode soltar o que é meu. – e Markus não fez outra coisa se não gargalhar da ousadia do idiota.

— Essa menina é realmente muito estúpida e tal, mas – pontuou ele colocando as garotas nas suas costas. – você com certeza vai achar umas mais burras ainda, então, v a i.

Alguns olhares tensos foram trocados antes dos rapazes se afastarem, e Anna quase tremia graças a situação.

— Acho melhor irmos pra casa e esperar a Kaitlyn por lá. – falou próxima a amiga, pensando em um jeito em sair logo daquele lugar, ela sabia que não deveria ter dado ouvidos à conversa da amiga atirada.

— Não é necessário, nosso Don Quixote apareceu! – berrou ela, mais que alterada pelo álcool.

Markus passou a mão pelo cabelo, deixando obvio que era um hábito de quando ficava nervoso principalmente.

— Embora o doido aqui seja você! – berrou ele de volta – Olha garota, não sei qual a razão de você estar me perseguind- dizia ele quando levou um soco no peito, não doeu de verdade, mas levou um belo susto.

A garota ruiva tinha os longos cabelos que em algum momento estavam enrolados, agora em uma grande bagunça e o rosto pálido estava corado, gargalhava em puro deboche, as orbes escuras pareciam quase sem foco.

— EU... O QUE... VOCÊ... COMO? – As palavras saíam entre a risada e a respiração agora fora de ritmo da garota.

— Acho realmente que deveríamos ir pra casa – tentou Anna mais uma vez frente ao descontrole da amiga.

— Você não consegue negar que está louca por mim. – disse Markus com um sorriso pouco simpático. Afinal tinha alguma coisa muito errada com aquela garota.

E de repente ela estava próxima demais, as mãos dela chegaram ao seu pescoço e ela se içava até que alcançou sua boca roubando do rapaz embasbacado um beijo que deixou algumas pessoas em volta mais embasbacadas ainda.

— Se eu estivesse mesmo, não conseguiria fazer isso sem sentir nada. – disse ela com um sorriso torto antes de vomitar no sapato aparentemente muito caro dele.


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