Risadas e Cervejas escrita por Laris Neal


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Escrever um novo conto? Escrevi. Se está bom? Não faço ideia. Escrevi ouvindo "Body Talk" de Dimitri Vegas.



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No momento em que eu ouvi sua risada, não consegui prestar atenção em mais nada, a não ser descobrir de quem era aquela voz. Não demorou muito para que meus olhos captassem a dona daquela gargalhada, especialmente quando ela parecia fazer questão de ser notada. Sentada a uma mesa de bar, rodeada de pessoas, sua personalidade se sobressaía. Não que sua beleza não fosse a primeira coisa encantadora nela, sem dúvida era. Provavelmente ela era o sonho de consumo de todos os homens ali da mesa, e de algumas mulheres, inclusive eu, no caso. Mas ela tinha algo além, algo a mais, e eu tinha certeza de que era algo que quase ninguém podia captar. Observando-a de longe, eu não podia dizer ao certo o que era, ainda mais quando suas risadas continuavam me tirando o foco. Todos riam junto com ela, pude perceber que era uma mulher engraçada. Ela gesticulava bastante conforme conversava, e eu desejava poder me sentar ao lado dela para poder rir também. Essa foi uma das primeiras coisas que me chamaram a atenção nela, o sorriso. A risada, que me dava vontade de rir junto. Seu corpo era espetacular, e conforme ela se mexia naquele vestido decotado, de salto alto, minha imaginação ia longe e eu dava graças a Deus por ninguém poder ler meus pensamentos.

Tão concentrada neles eu estava que nem percebi que sua risada cessara, e quando olhei novamente para a mesa, não a vi. Fiquei tristemente imaginando se ela tinha ido embora, e qual não foi a minha surpresa ao ouvir aquela voz potente quase ao meu lado. Ali estava ela, perto do bar, pedindo mais uma cerveja, e agora com um dos caras da mesa a tira colo. Sem jeito, eu tomava minha Coca-Cola fingindo desinteresse, mas sem conseguir tirar os olhos da sua figura marcante. O homem era bonito, alto, e parece que estava fazendo-a rir. Sua mão desceu pelas costas dela, até sua cintura, trazendo-a firmemente para perto, beijando-a intensamente. Eu assistia à cena com uma certa inveja, sem conseguir controlar o desejo e a intensidade com que meus olhos a observavam. Como eles estavam extremamente perto, não pude deixar de perceber que ele lhe falava algo no ouvido, mas como ela parecia não ceder, suas vozes aumentaram, e então eu pude ouvir sobre o que a conversa se tratava.

— Vem, deixa de doce... Só uma rapidinha... – ele piscou pra ela, voltando a apertar a cintura dela.

— Eu não sou mulher de rapidinha. – ela piscou de volta ao dizer com um sorriso preciso.

— Pode durar o quanto você quiser, gostosa... – ele beijou o pescoço dela, tentando fazê-la ceder.

— Então, gato, o negócio é o seguinte: com você, nem rapidinha, nem gozadinha, nem punhetinha. Não to afim. – ela respondeu com o mesmo sorriso sacana no rosto, deixando-o completamente sem reação.

— Você é sempre assim, direta? – ele perguntou confuso.

— Sim, direta e grossa. Eu já te falei que hoje não vai rolar nada além de uns beijos e uns pegas. Se quiser, é isso. Não quer, sai fora.

— Tudo bem, tudo bem... – ele suspirou e voltou a beijar o pescoço dela, depois puxando-a para um beijo nos lábios, mas dava para perceber que o clima esfriara.

Após alguns minutos e dois copos de cerveja gelada, eles voltaram para a mesa. Eu olhei no relógio do celular e percebi uma nova mensagem. Minha amiga desmarcando o encontro, problemas com a namorada. Não podia ter me avisado antes? Pensei em ir embora, mas já que eu estava ali, tomando alguma coisa, resolvi continuar observando aquela moça. Aos poucos, a mesa foi ficando vazia, e sobrara somente ela. Quando ela foi pagar a conta, eu imaginei, ela sentou-se no banco em frente ao bar e pediu mais uma cerveja. Com o celular em mãos, ela digitava rápido e voltava a rir. Era extremamente gostoso ouvir aquela risada tão perto de mim, e por um minuto, eu imaginava que ela ria para mim. Eu me sentia tão invisível ao seu lado, que perdi a vergonha e o pudor de olhá-la e observá-la. De repente, fui pega de surpresa por um par de olhos escuros intensos me encarando. Tomei um gole da minha Coca, quase engasgando, tentando olhar para os lados e fazer cara de paisagem.

— Perdeu alguma coisa aqui, linda? – ela se dirigiu a mim, agora me olhando nos olhos. Se houvesse um buraco ali, eu tinha me escondido.

— Oi?! Nada... – sorri amarelo, querendo de todas as formas possíveis voltar a ser invisível aos olhos dela.

— Tem certeza? Você me olhou a noite toda... – e frente à minha cara de espanto, ela voltou a falar. — Sim, eu percebi, eu analiso tudo. Eu observo tudo.

— É... Então... Tenho... Eu... – comecei a tropeçar nas palavras, completamente tonta, sem saber o que dizer, o que fazer.

— Lindo o cara que eu tava, não é? Gato... Eu pegava e fazia um estrago! – ela deu uma outra risada, seu nariz arrebitado, o sorriso largo... — Eu ia dar tanto pra ele... E to cheia de vontade de dar... Mas ô cara cafajeste, eu já disse que hoje não ia rolar e ele não pareceu entender.

— Sim, eu vi... – eu sinceramente não sabia o que responder a esse comentário.

— Coitada, te deixei sem reação. Sou assim mesmo, falo besteira... Eu gosto de sexo, eu gosto de dar...

— E eu não vejo nenhum problema nisso. – respondi rapidamente, fazendo com que ela parasse de falar subitamente. — Eu não estou escandalizada.

— Hum, interessante... – ela pegou a cerveja de cima da bancada e desceu do banco, dando alguns passos até mim e sentando-se na cadeira ao meu lado. — Então, mas você não respondeu a minha pergunta. Por que você me olhou a noite toda...? – aqueles olhos me olhavam intensamente enquanto eu a encarava, e eu me sentia puxada para dentro daquele mar de sentimentos dentro dela.

O que ela queria que eu dissesse? O quanto eu a desejava? Como eu queria aquela mulher na minha cama? O quanto eu queria que ela me dominasse por completo? Como eu queria ser arrastada por aquela tempestade que ela aparentava ser? Ou eu iria coseguir um tapa na cara, ou um olhar de desprezo, e isso eu não queria. Tentei pensar com a razão e responder-lhe.

— Porque você é extremamente linda e atraente, e interessante. – sim, por alguns segundos eu me perguntei o que me diferenciava daqueles homens que pareciam comê-la com os olhos.

— Obrigada pelos elogios, mas eu não curto mulher. Já experimentei, mas não gosto. – e diante daquela careta, todas as minhas fantasias caíram por terra.

— Uma pena você não gostar... – eu lhe respondi. — Pois eu casava com você fácil, fácil.

— E quem disse que eu quero casar, garota? Já fui casada, e no momento estou bem assim. No futuro? Com certeza. Agora? Só to a fim de conhecer um cara legal, dar uns pegas, uns amassos... – ela deu de ombro e cruzou as pernas, e imediatamente meus olhos acompanharam seus movimentos.

— Você é mulher pra casar. – respondi com um sorriso no rosto.

— Ah! Não começa, se for usar esse tipo de discurso de mulheres pra casar e mulheres pra ficar... Eu vou embora agora mesmo. – ela fechou a cara e segurou em sua bolsa, e eu rapidamente tive que desfazer o mal-entendido.

— Calma lá! Não foi isso que eu quis dizer. Não divido as mulheres entre dar e casar. O que eu quis dizer é que você é incrível e merece alguém ao seu lado que te valorize.

— Lá vem você com papo de valorizar... – ela revirou os olhos, e eu ri de nervoso.

— Dá para parar de levar tudo ao pé da letra? – perguntei levemente irritada.

— Olha, dar eu até dou, mas parar vai ser a última coisa que você vai querer que eu faça... – ela imediatamente soltou uma gargalhada, e meu rosto ficou mais vermelho que um pimentão. Novamente fiquei meio sem fala, o que a deixou ainda mais divertida. — Os homens costumam se assustar com esse meu jeito, essa minha personalidade... Eles gostam, acham divertido... Mas se intimidam.

— Eu sou meio tímida, mas você não me mete medo. – eu percebi em seus olhos a piada pronta que queria sair pela sua boca, mas no último segundo ela a segurou, somente rindo consigo mesma. — Eu adoro mulher mandona e intimidadora. – eu sorri de canto.

— Sério? Do que mais você gosta? – ela cruzou os braços em cima da mesa, olhando-me nos olhos, interessada no que eu ia dizer.

— Atitude... Uma mulher decidida... Madura... E loira, pra ser bem específica. – comentei a última parte rindo.

— Eu já fui loira, sabia? – ela sorriu passando os dedos com as unhas bem feitas pelo cabelo preto e curto na altura dos ombros.

— Jura? Seria o meu pacote completo... Mas eu não me incomodo com você morena, continua super gata. – pisquei para ela.

— É, seria, se eu gostasse de mulher, o que eu já lhe disse que não é o meu caso. – ela sorriu e voltou a olhar no visor do celular. Respondeu algumas mensagens, e finalmente disse: — Bem, preciso ir, estou de rolo com um cara aqui... Tensa a situação... – ela ficou séria de repente.

— Por quê? – eu perguntei curiosa.

— Eu sou fudidamente apaixonada por ele, mas eu não sou prioridade na vida dele. Ele some, fica sem me responder... Está sempre preocupado e ocupado com o trabalho...

— Complicado, hein?

— E o pior é que eu já disse que, por mim, eu me mudava pra casa dele e a gente ficava junto. Eu me sinto ótima quando estou com ele, sério. Ele diz que me ama, mas assim é difícil... – ela respondeu com um aceno de cabeça, o rosto sério, respondendo outra mensagem.

— Eu não tenho nada com isso... Mas você merece coisa melhor. – eu lhe disse.

— Já me disseram isso, mas eu gosto dele, cara. De verdade... Eu amo esse cara. – ela disse suspirando. Segurei em seu braço, encarando-a.

— Não, você merece mesmo alguém melhor. Alguém que vai te tratar bem, estar ao seu lado, cuidar de você e reconhecer esse mulherão que você é, essa pessoa incrível e fascinante que você é. Você é muito mais do que gostosa, moça. E merece alguém que enxergue tudo isso que você guarda aí dentro. – eu respondi com um sorriso.

— Obrigada... – ela me respondeu com os olhos intensos pregados nos meus, e um sorriso enorme no rosto. Era como se naquele momento nada mais existisse em volta. — Eu preciso mesmo ir, mas obrigada pela sua sinceridade, pelos seus elogios... Acho que eu estava precisando. – ela sorriu gentilmente e se levantou.

— Sempre que puder... – dei de ombros, sabendo que provavelmente nunca mais a veria.

— Até uma próxima... – ela se aproximou e deu-me um beijo no rosto, e eu pude sentir seu perfume. Se eu pudesse, teria feito o tempo parar naquele momento, naquele beijo, naquele sentimento. Mas infelizmente, o que é bom dura pouco.

Ela se afastou, pagou a conta do bar, e foi-se embora. Nunca desejei tanto ser um homem como naquele dia. Nunca desejei querer conhecer tanto alguém como eu desejei conhecê-la. Saber de sua história, sua vida... Poder estar perto dela... Poder tocá-la de todas as formas, fazer com que ela tivesse o melhor prazer de sua vida, tivesse amor e carinho, e principalmente, tivesse felicidade. Ela era basicamente tudo que eu sonhara em uma mulher, e dava um aperto no coração saber que possivelmente eu jamais teria chance com ela. Apesar dos meus sonhos e ilusões, eu realmente esperava o melhor para ela, que ela encontrasse alguém que fosse fazê-la feliz, ela merecia. E ainda que talvez eu nunca mais a visse, jamais esqueceria sua risada que iluminava o ambiente e me trazia alegria, e nem mesmo aquele olhar intenso que me fazia querer mergulhar e me afogar.


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