Um ano depois do início do treinamento de Luffy, estávamos descansando, coisa bem rara. O dia era ameno e agradável. Até uma pergunta me pegar desprevenido.

– Você conheceu a mãe do Ace?

Olhei-o atentamente, e só vi uma inocente curiosidade.

– Sim. Conheci Portgas D Rouge.

– Como ela era?

– Ela era... – procurei uma palavra adequada para usar como adjetivo – Como uma tempestade. A mulher mais corajosa que já conheci em toda a minha vida.

E assim, comecei a contar, perdido em minhas lembranças.

Lembro até hoje, com nitidez sobrenatural, a primeira vez que a vi, sentada em frente à Roger parecendo tão fora do lugar quanto poderia. Séria, encantadora, com aparência de uma rainha, que acabou se tornando de verdade por ser a mulher do rei dos piratas. Nem mesmo o vento, batendo em seus cabelos dourados, parecia ir contra ela, e sim acaricia-la. Naquele momento era apenas o início do furacão que viria a se tornar.

Aos poucos foi se soltando, sem perder aquela graça. As paredes em volta de seu coração foram quebradas, e todos morreriam por ela. Não que ela deixasse que a protegessem, caíra tantas vezes e se levantou de todas. Absorvia tudo o que podia, até tarefas menores que, como princesa, nunca havia feito antes. A força da alma daquela mulher não podia ser medida, e mesmo pisoteada várias vezes, nunca quebrou.

E assim a mágica aconteceu. Toda vez que nosso capitão lhe dirigia o olhar com orgulho, sua face parecia brilhar. E o carinho visto nos olhos dele não passara desapercebido por ninguém. Era uma atração magnética. Sem alarde, eles tornaram seu relacionamento público, apenas sendo naturalmente vistos uma hora ou outra entre um beijo ou um abraço. E ela nunca pareceu tão feliz, realizada. Sua voz de sirena encantava todos durante a manhã enquanto cuidava de suas flores vermelhas, com sempre uma no cabelo, enfeitando a bela obra de arte. Havia perdido o medo de ser feliz, através da sua ânsia por liberdade. E realmente, os dois foram os seres mais livres de todo o mar. Tempestades aconteciam e ela dançava sorridente.

Quando engravidou de Ace, para enganar a marinha, aguentou ficar 20 meses com ele na barriga. A dor que aquilo custou, além de sua própria vida, não poderia ser medida. No entanto ficou firme, pois queria que o filho experimentasse da liberdade que ela se esbanjou depois de ter conhecido Roger.

– Incrível. – disse Luffy com olhos vidrados – Ela era demais. E por causa dela pude ter o Ace comigo como meu irmão. – riu – Você a amava, não?

Fiquei surpreso novamente com aquele tipo de pergunta vindo logo dele. Mas respondi:

– Como uma grande amiga, sim. A admirava muito. Só como isso. – esclareci.

Ele coçou a cabeça confuso.

– De que outra forma poderia ter sido? Ela era a mulher do seu melhor amigo.

E ali estava, mais uma semelhança com Roger.