Cidade das Portas Celestiais escrita por heeyCarol


Capítulo 8
O Instituto de Los Angeles


Notas iniciais do capítulo

Carol, você está realmente postando um capítulo curto???
Esse capítulo na verdade é uma pequena parte do capítulo 7 original (que possui 11 páginas), então achei melhor dividir em dois pra leitura fluir mais, já que de certa forma ele já estava dividido entre a narrativa do Caleb e da Mack, e essa é a parte dela, espero que gostem!
Bom capítulo, nos vemos no final!



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7

Espero que se sinta confortável, escolhi o que achei que faria você se sentir um pouco mais normal depois das coisas que aconteceram. Aguarde até que Caleb venha buscá-la, quero conhecê-la!

Tessa Gray

Em cima do criado-mudo um moletom verde escuro e jeans limpos se encontravam perfeitamente dobrados, e, no chão, um par de coturnos pretos milimetricamente alinhados. As mãos de Mack apertavam o recado com força, sem conseguir soltá-lo, molhando-o com os dedos que pingavam por causa do banho que tomara. Teria sorrido com o gesto, porém tudo o que sentiu foi o nervosismo pesando como chumbo. Essa mulher seria quem auxiliaria Magnus a vasculhar sua mente, e por mais gentil que aparentasse ser em suas palavras não poderia depositar sua confiança nela. Precisava falar com Magnus. Não, Magnus faria o feitiço de qualquer jeito, precisava de Caleb.

O cômodo em que estava tinha um tamanho médio e era sóbrio, com paredes brancas e móveis de madeira clara, porém a luz que passava pelo vitral da janela coloria o ambiente com vermelho, amarelo e laranja; os tons de um pôr-do-sol. Não se importaria em passar o dia todo ali, mas de certa forma seu corpo queria que levantasse, ansioso para andar e percorrer cada sala daquele lugar.

Virou para o criado-mudo novamente, desta vez jogando o papel sobre a cama.

As roupas deslizaram por seu corpo como uma luva, e, exceto pela calça um pouco larga na parte de trás do joelho e dobrada na barra, pareciam ter sido feitas para ela. Penteou os cabelos brancos com os dedos entreabertos do melhor jeito que pôde, sem fazer questão de se olhar no espelho; sua aparência ainda era algo com o qual teria de se acostumar, porém esta era apenas uma questão latente agora.

Não esperaria por Caleb. Queria ter tempo para conversar com ele e explicar o que estava acontecendo. Se acreditava em sua inocência como dissera noite passada com certeza a ajudaria agora, e a quantidade de vezes que a salvou na semana conseguia muito bem compensar a facada em sua coxa e a desconfiança que alimentara com tanto vigor no começo.

Não poderia contar tudo, mas o suficiente já bastava.

Abrindo a porta que dava para o corredor Mack reparou no quanto o Instituto era imenso. Ao que parecia, era uma igreja gótica, com muitas janelas e arcos; no teto, um afresco retratava nuvens dos mesmos tons que o vitral de seu quarto, cálidas e convidativas, com querubins rechonchudos rindo e murmurando segredos entre eles. Era tão exagerado que não sabia para onde olhar. A moldura dos arcos tinha desenhos em relevo imitando caracóis, e cada porta lhe parecia mais misteriosa do que a outra, e igualmente curiosa. O lugar era tão grande que poderia fingir que estava sozinha, por mais que soubesse que estava bem longe de ser verdade.

— Achei que depois do que aconteceu ontem teria desistido de fugir… — falou uma voz masculina. Mack recordava-se dela muito mais furiosa, enquanto morria no beco no que pareciam ter sido anos antes. O Caçador, Jaime talvez, a fitava com os olhos cinzas, inegavelmente bonitos e perturbados.

— Sabe onde está Caleb? — inquiriu no mesmo tom.

— O que tanto conversa com ele? O conhece a menos de três dias…

— É inglês? — interrompeu. Mack não demorou mais que alguns segundos para captar o sotaque suave, assim como o escárnio em seu tom de voz. Não conversava com Caleb o suficiente para parecer suspeito, mas mesmo assim as poucas palavras que confidenciou a ele e o fato dele conhecer seus pesadelos tornava aquilo algo secreto e as vezes lhe causava arrepios por ter depositado tanta confiança em alguém.

— Sim — assumiu sem qualquer calor na voz — e você? De onde vem? O que faz aqui?

— Algo me diz que você não ouviu o que Magnus disse, eu…

— Não acredito em você. — o sangue de Mack gelou com a frase, por mais previsível que fosse. Ele não se esforçava para fingir que a considerava muito mais que uma pedra em seu caminho de “salvador do mundo”, mas não sabia se isso o tornava apenas menos…ou mais perigoso.

— Mas no fim isso não muda o fato de que mal lembro meu nome, não é? — respondeu tentando manter a calma. Cruzou os braços para não mostrar o quanto as mãos tremiam com o medo de poder ser lida.

O baque fez sua cabeça latejar, o Caçador subitamente a prensando contra a parede; suas mãos imobilizavam seus braços e seus dedos se enrolaram como uma corda em seus pulsos, enquanto o joelho conseguia pressionar sua coxa esquerda contra a parede.

— Não me desafie… — sibilou como uma cobra. Seu nariz fino roçava em sua bochecha enquanto falava, o leve encostar da pele fazendo com que eletricidade percorresse seu corpo, deixando-a alerta. Moveu em vão a perna livre, sem sequer conseguir se mexer. — seja lá o que estiver planejando, vou acabar com você antes disso.

Mack inevitavelmente deixou escapar uma gargalhada nervosa.

— Como tentou fazer da última vez? Já reparei o quanto é covarde… — instintivamente o encarou. Seu corpo parecia completamente eletrificado, mas não pelo medo, sabia que o que estava falando era verdade — finge que é forte, tenta se comparar aos outros Nephilim mas a sua arrogância não deixa. — seus olhos cinzas vacilaram por alguns segundos, perfeito. — qualquer respeito que poderia ter por você morre se encostar um dedo em mim.

Ele ficou em silêncio, mas suas mãos afrouxaram aos poucos, deixando que ela deslizasse pela parede até colocar os pés no chão novamente. Mack conteve o impulso de se curvar e respirar uma longa tragada de ar.

— Não me importo com o seu respeito. Mas se estiver envolvida nisso juro que a mando para o inferno — declarou, saindo a passos largos pelo final do corredor. Não era louca para seguir na mesma direção, não agora com essa declaração clara de ódio. Sua cabeça latejava, a ponta de seus dedos ainda formigando, a sensação era familiar de alguma forma mas tinha medo de pensar em qualquer coisa de seu passado.

Depois de virar em alguns corredores igualmente vazios, encontrou uma porta entreaberta. Empurrou-a suavemente, pronta para fechar caso encontrasse alguém, mas estava vazia.

— Uma sala de música… — murmurou, um tanto surpresa e…bem, não sabia descrever o aperto no coração ao ver o violoncelo no canto, encostado na parede como se a chamasse. Aquilo era nostálgico, perturbador, lindo e triste ao mesmo tempo, causando uma confusão na boca de seu estômago; olhou para o corredor com receio, mas não seria o primeiro lugar para o qual um Caçador de Sombras correria, certo?

Aquela sala não tinha um vitral, mas as pequeninas janelas redondas no topo demarcavam círculos de luz pelo chão, pequenos focos para uma orquestra que nunca existiria ali. Passou os dedos pelas cordas levemente empoeiradas de seu instrumento; olhando para os pinos, sabia que a terceira corda estava levemente desafinada, um tom mais aguda. O que não daria agora pelos gritos da Senhora Harttman…

— Sabe tocar? — perguntou alguém, não sem assustá-la. Ele deveria estar em seus trinta anos, todo cabelos castanhos e olhos grandes, que pousaram em seu rosto de forma tão delicada e calma quanto uma borboleta o faria. Era bonito sem dúvida, e a fitava de forma curiosa, não acusatória.

— Eu… não sei mais. — olhou de relance para os dedos pálidos e macios. Aqueles não eram os dedos de que se lembrava, nem os que usara para tocar por todo aquele tempo.

— Eu tenho mais de cem anos… — ele andou até o centro da sala, onde algumas partituras jaziam arrumadas em um suporte. Passou os dedos por elas com avidez, até finalmente erguer uma, que por alguns segundos ficou semitransparente por causa do foco de luz. — e sei que, não importa o que aconteça, dificilmente esquecemos algo que aprendemos e praticamos.

— Como andar de bicicleta? — sorriu, mas ele não esboçou reação — Aquela coisa com duas rodas e um guidão, sabe?

— Eu disse mais de cem anos, não cem mil anos. — ele entregou o papel para uma Mack corada e envergonhada. — Não se constranja, elas realmente eram mais estranhas na minha época.

Mack resolveu ler a partitura em vez de dizer mais alguma bobagem. Nunca conheceu aquela música, mas juntando as notas em sua mente, conseguiu imaginar a melodia suave e alegre.

— Que peça é essa? — perguntou. A cada nota sentia mais vontade de tocá-la; talvez fosse apenas saudade de fazer algo normal naqueles últimos tempos.

— É uma das poucas músicas festivas dos Caçadores de Sombras. Já a toquei no violino, mas foi originalmente composta para ser tocada por um violoncelo.

— Nunca tentou?

Ele negou.

— Já considerei, mas não tinha com quem aprender, e digamos que depois de certos incidentes que me permitiram finalmente voltar para minha família não quero passar muito tempo longe dela.

Família...Mack tentou rever seus conceitos de família, recuperá-los de algum lugar do inconsciente. Será que a verdadeira Mackenzie amava sua família? Será que era amada?

Se tivesse uma família eles me procurariam … certo?

— É um instrumento bem específico…— murmurou para ignorar os pensamentos.

— Sim, é verdade. — ele suspirou — São poucos os Caçadores de Sombras que se dedicam a alguma arte. Os Carstairs já tiveram gerações e gerações de violinistas, por exemplo, por isso algumas de nossas composições antigas se tornaram tradicionais agora. Caleb é um Herondale, mas seu talento artístico vem da família Fairchild, sem dúvida, no entanto des...

— Você acha que… se eu toco, é por causa da minha família? Minha verdadeira família, quero dizer. — interrompeu.

O Caçador ficou sem responder por um tempo, mas então a olhou novamente, de forma quase triste, com o fantasma de um meio sorriso.

— Seria uma forma mais fácil de rastrear, sem dúvida alguma, mas… veja Emma, por exemplo.

Mack piscou, sem saber ao certo o que dizer.

— Ah, claro, conhecerá ela em breve. Ela é uma habilidosa Carstairs, mas nunca se dedicou ao instrumento, mesmo com o pai tocando para ela.

— O pai dela está aqui também? Talvez ele possa ter alguma inf…

— Não. — respondeu ele, num volume mais baixo do que esperava. Mack reparou tarde demais que havia tocado em um assunto delicado. Não sabia se devia pedir desculpas, afinal não sabia com o que estava lidando, então voltou a olhar para a partitura silenciosamente. — A última Guerra de alguma forma abalou todos os jovens. Nunca presenciaram algo tão sanguinário, nem os adultos, se quer saber. Todos, de uma forma ou de outra, mudaram; os agora adultos e adolescentes se tornaram quase inumanos, mecânicos. Tudo o que pensam é a vingança pelos que morreram e evitar que aquilo aconteça novamente.

— Paranoia. — concluiu Mack. — Pude perceber isso em Caleb, algo perturba ele.

— Caleb nasceu anos após a Guerra. Não sofre o mesmo que a maioria.

— Mas então o que o deixou tão atormentado?

Suspirou.

— Compreendo e aprecio sua curiosidade Mackenzie. Me lembra uma pessoa que conheci há muito tempo… mas eu quero que entenda que não cabe a mim responder.

Mack assentiu, agora mais curiosa do que decepcionada. Caleb lhe parecia cada vez mais interessante… e humano.

— Você está aqui! — Miccaela a olhou de forma quase acusatória, parada no meio da porta da sala — Deveria ter esperado no quarto como o bilhete dizia.

— Não acho que seja justo mantê-la presa, não é uma criminosa…

— Veremos Jem.

O corpo de Mack gelou com o tom.

— Como assim, veremos?

— Uma visita nada agradável veio por você.

— Ninguém pode entrar nesse Instituto. Se souberem de todos vocês, Julien e Emma terão de responder pela espada. — apressou-se Jem.

— Digamos que ela tem imunidade diplomática — Miccaela se voltou para ela — a rainha Seelie quer vê-la, e disse saber de coisas sobre você. Que o Anjo tenha piedade, nada do que vem daquela fada é bom!

 

 


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Notas finais do capítulo

Então, esse foi o capítulo curtinho que deixei pra vocês. Desculpe se parece meio sem sentido (já que ele está pela metade) e por qualquer erro gramatical, faz tanto tempo que tenho esse capítulo pronto que provavelmente fiz uma revisão um pouquinho mais descuidada, mas vocês sempre podem mandar comentários, sabe, aquelas frases curtinhas que dizem se você gostou ou não. Eu não ando recebendo muitos ultimamente (e isso é um eufemismo para absolutamente nenhum), e a proporção entre visualização e comentários é imensa o que mostra que várias pessoas leem, mas não comentam.
Mas tudo bem, eu sobrevivo, afinal, apenas o fato de você estar lendo prova que a história não é de todo ruim! kk Não vou mais implorar, eu prometo.
Bjos e até o próximo!
XOXO



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